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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Diário de Lisboa. Passos com Teresa: "PSD não está a lutar pela sua sobrevivência aqui em Lisboa"

Robles ouviu piropos. Medina dedicou o dia às startups com o ministro Centeno. Leal Coelho também teve companhia: Passos Coelho. Cristas diz que o Governo influencia mais Medina que o contrário.

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Fernando Medina teve o dia dedicado à economia e às startups, mas o ministro que convidou para estar a seu lado foi o das Finanças. Mário Centeno foi a estrela desta quinta-feira junto do presidente da câmara socialista. Mas a única. A campanha de Teresa Leal Coelho precisa de impulso, por isso, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, fez a segunda ação numa semana com a candidata que escolheu para a câmara de Lisboa. Assunção Cristas começou o dia na baixa, a visitar uma associação de apoio a idosos, e seguiu para uma arruada junto às Amoreiras. O bloquista Ricardo Robles esteve à tarde, no Jardim da Parada a ouvir piropos. João Ferreira, da CDU, fez uma arruada em Arroios, a partir do Campo Mártires da Pátria.

PSD. Passos em Lisboa: “PSD não está a lutar pela sua sobrevivência aqui em Lisboa”

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

A frase: “O PSD é um grande partido, tem uma grande implantação no país e em Lisboa também e, portanto, o PSD não está a lutar pela sua sobrevivência aqui em Lisboa”, disse Pedro Passos Coelho.

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O que ouviu: Violinos, o que pode não ser um bom presságio, a avaliar pelo filme Titanic. Mas também elogios: “A Teresa Leal Coelho é uma candidata capaz de fazer respirar e fazer inspirar Lisboa, é uma humanista que pode devolver o rosto humano a Lisboa”. O elogio foi de Paulo Rangel.

O que correu bem: O líder do PSD estava imparável, em modo campanha, como poucas vezes se via até nas campanhas para legislativas. Foi uma lufada de ar fresco na campanha sombria de Teresa Leal Coelho.

Pedro Passos Coelho está a fazer a volta do líder pelo país, mas a Lisboa já foi duas vezes para prestar apoio à candidata que escolheu para concorrer à capital. Esta quinta-feira esteve a visitar o bairro de São João de Brito e depois a descer a Avenida da Igreja, onde se mostrou bem disposto e saudosista. Com saudades de fazer campanhas, com saudades de ir ao restaurante Bons Amigos, como ia a altas horas da madrugada quando era jovem, e com saudades da conchanata familiar, um gelado que só havia em Alvalade e que não já come há muitos anos. Não foi só Passos que foi apoiar Teresa, também o eurodeputado Paulo Rangel marcou presença em Lisboa para atacar o “burocrata” Fernando Medina, e elogiar a “humanista” Teresa Leal Coelho, mas para deixar nas entrelinhas que depois do dia 1 de outubro é tempo de fazer leituras nacionais.

Passos Coelho, contudo, não quer antecipar cenários. Nem tão pouco diz que a responsabilidade de um mau resultado em Lisboa será sua. O PSD “não está a jogar a sobrevivência em Lisboa” é tudo quanto diz. “O PSD é um grande partido, tem uma grande implantação no país e em Lisboa também e, portanto, o PSD não está a lutar pela sua sobrevivência aqui em Lisboa. Quero é que os próximos quatro anos no município de Lisboa valham a pena e sejam diferentes”, defendeu o presidente do partido, ainda no bairro de São João de Brito.

Já em Alvalade, Paulo Rangel disse estar solidário com o partido e o seu líder e defendeu que o PSD “tem de apostar tudo até dia 1 de outubro”. Questionado se o resultado nacional será um teste à liderança de Pedro Passos Coelho, o eurodeputado – que já disputou com ele a presidência do PSD – respondeu: “Vim aqui falar sobre Lisboa, todos os resultados naturalmente terão leituras, isso é uma coisa para depois, a seguir”.

Passos Coelho e Paulo Rangel coincidiram na defesa das qualidades de Teresa Leal Coelho e na desvalorização de sondagens que colocam a candidata em terceiro lugar, atrás da líder do CDS, Assunção Cristas. “Acho que quando se está a fazer campanha a pior coisa que se pode fazer é perder tempo a comentar sondagens“, defendeu Passos Coelho, dizendo que nunca o fez no passado, “e bem”, porque muitas vezes os resultados foram diferentes dos estudos de opinião.

Para o líder do PSD, a preocupação dos candidatos tem de ser outra: “Chegar ao contacto com os seus eleitores, dizer ao que vêm”, defendendo que “cada eleição é um julgamento aos quatro anos que se findam”. “O mandato que se finda foi um mandato em que os lisboetas pagaram muito para a câmara e receberam pouco e era importante que os próximos quatro anos fossem diferentes”, disse. Reiterando que o objetivo “é ganhar as eleições” na capital, Passos Coelho recusou comentar outros cenários.

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Também Paulo Rangel – que tem feito campanha em vários concelhos do país – considerou que “o que se joga em Lisboa é uma aposta forte do PSD protagonizada por Teresa Leal Coelho”, uma “humanista”, que pode fazer frente a “um burocrata” que tem uma visão de “construtor civil” para a capital. “Há os burocratas de Bruxelas e há os burocratas de Chelas, é o caso de Medina, é um candidato do aparelho e do sistema, não inspira Lisboa”, disse enquanto a comitiva descia a Avenida da Igreja, em Alvalade.

Numa arruada muito mais concorrida do que os tímidos contactos com a população que Teresa Leal Coelho tem feito ao longo desta primeira semana de campanha, Pedro Passos Coelho fez um roteiro gastronómico pela avenida de Alvalade: entrou, sozinho, no Prego da Peixaria, cadeia de pregos aberta há três anos que o líder do PSD desconhecia, entrou na gelataria da sua juventude, onde prometeu voltar no fim da ação de campanha para levar para casa, entrou numa pizzaria cujo dono era nepalês, deu ares do seu inglês numa barbearia e ouviu imitações da sua própria voz. Pior pressário foi ter ouvido o famoso imitador de vozes João Canto e Castro a tocar violino. É que, a avaliar pelo Titanic, os violinos tocam quando o barco está a afundar…

Passos Coelho ouve Canto e Castro tocar violino e imitar a sua própria voz

*com Agência Lusa

PS. Centeno com Medina “para não olhar só para os números do défice”

José Sena Goulão/LUSA

A frase: “As relações dos autarcas com os ministros das Finanças, quaisquer que sejam as cores partidárias, passam por momentos mais fáceis e outros mais complexos”

O que ouviu: “Também fui jogador de rugby em Lisboa e portanto sei exatamente o que é resiliência e o espírito de combate justo que temos de ter”, disse Mário Centeno para Medina ouvir e não falar de Orçamento.

O que correu bem: Ter a presença de figuras nacionais com boa imagem e notoriedade é positivo para Fernando Medina e as coisas têm corrido bem ao ministro das Finanças. Para falar de economia escolheu Mário Centeno, ministro das Finanças, e não o quase desconhecido Caldeira Cabral, o ministro da pasta em causa.

O dia de campanha foi dedicado à economia da cidade, com visitas a startups e o elogio à inovação e empreendedorimo que se produz “de Lisboa para o mundo”, como afirma o candidato e presidente da Câmara. Por isso, houve uma presença especial, vinda do Governo central. O “tímido e talvez discreto de mais” — palavras de António Costa — ministro da Economia que até tutela esta área? Não estava. Quem apareceu na campanha de Fernando Medina foi o ministro das Finanças. “Um dos principais responsáveis por puxar a economia do país para a frente”, argumentava o autarca, ainda que o ministro preferisse outra vertente: “Mário Centeno está aqui enquanto lisboeta”.

Assim mesmo, na terceira pessoa, Centeno prevenia as perguntas dos jornalistas sobre as negociações do Orçamento, incontornáveis quando está o ministro das Finanças nesta altura do campeonato. Não é comum ver a figura que tutela a sempre delicada pasta das Finanças em ações de campanha, mas, ali nos escritórios da startup portuguesa Aptoide, Mário Centeno quis ser tudo menos esse ministro. “Lisboeta”, “jogador de rugby em Lisboa”, tudo para evitar falar do Orçamento, ou de economistas que propõem outra estratégia orçamental para o país ou do deputado do PS que diz que o que o Governo se prepara para fazer é “alquimia”.

Preferiu ficar-se por “testemunhar que o crescimento económico em Portugal também é feito de inovação tecnológica e jovens: os que felizmente não perdemos ao longo de quatro anos de saída de jovens do país”. Quanto ao crescimento económico, garante ser “uma obra enorme coletiva” e sobre as pressões da esquerda e do PS para ver essa folga transposta para um alívio orçamental: “Também fui jogador de rugby em Lisboa e portanto sei exatamente o que é resiliência e o espírito de combate justo que temos de ter”.

Já noutra ação de campanha, noutra startup, Medina havia de ser questionado pelo Observador sobre a importância daquela presença (e outras igualmente governamentais) em campanha: “É importante ter apoio das pessoas do PS”, contornava o autarca. “Foi bom mostrar a Mário Centeno” o desenvolvimento das startups portuguesas, para “ele não ter de olhar só para os números do défice”.

Também disse que “as relações dos autarcas com os ministros das Finanças, quaisquer que sejam as cores partidárias, passam por momentos mais fáceis e outros mais complexos”. Ri-se e não responde à pergunta: o que é que correu pior com este ministro em concreto? Mas já adivinha o que pode ser mais difícil no futuro próximo: “Não tenho dúvidas que várias questões em matéria de transportes vão ser de difícil gestão com o Governo central”. Sexta-feira terá o primeiro-ministro e líder do PS novamente me campanha, precisamente num dia dedicado aos transportes.

Sim, a campanha de Medina tem sido temática. Esta quinta-feira foi dia de economia e começou com visitas a duas startups diferentes: a primeira, a Aptoide, uma plataforma de aplicações móveis para o sistema androide; a segunda, a Indie Campers, transforma carrinhas de transporte em autocaravanas, que depois aluga. Na Aptoide, esteve Mário Centeno, na Indie Campers, a secretária de Estado do Turismo, Ana Mendes Godinho que também disse ao Observador estar ali enquanto “lisboeta e membro da comissão de honra” de Medina, ainda que admita que a sua função governativa também to justifica, já que ali estava uma startup — apoiada pelo programa Startup Lisboa — que é uma espécie de coqueluche nacional na capacidade de internacionalização.

Quando começou o dia, e ainda ao lado de Centeno, Medina puxou logo a si a quota parte da recuperação económica. “Nos últimos anos Lisboa tem estado na linha da frente da recuperação económica do país. Ainda o país estava mergulhado numa grande recessão, e Lisboa, por via dos jovens empreendedores, das universidades, do turismo, das empresas que exportam para o mundo, estava a puxar pela economia do país. E ainda esta hoje”. O candidato propõe-se a executar, num próximo mandato, “o programa de alargamento rápido de escritórios da cidade” e isto para “aproveitar a deslocalização que o Brexit está a causar”. Ao Observador, Medina diz que a Câmara “tem recebido muitos contactos de empresas”, sediadas no Reino Unido que estão a avaliar uma deslocalização para Lisboa, embora não revele nem quais nem quantas. Apenas garante que , no seu plano para os próximos quatro anos, está o alargamento do número de escritórios no centro da cidade: Praça de Espanha, António Augusto Aguiar, Entrecampos e José Malhoa.

CDS. Cristas não quer idosos desacompanhados em Lisboa. E diz que Governo leva Medina “ao colo”

A frase: “O Governo que leva-o ao colo [a Fernando Medina], mas só vejo fluxos de influências do Governo para Fernando Medina, não vejo Fernando Medina influenciar em nada o Governo para questões importantes para a cidade de Lisboa”.

A promessa: “O município tem de se empenhar a replicar este modelo, para que nenhum idoso fique desacompanhado”.

O que ouviu: Que a junta de freguesia socialista de Santa Maria Maior suporta um quarto dos custos do apoio aos 120 idosos, mas não chega para ter estabilidade financeira.

Faltam 10 dias para as eleições, e Assunção Cristas dedicou a manhã a visitar uma associação de apoio a idosos residentes na zona da Baixa de Lisboa e Mouraria. Reuniu com os dirigentes, com a comunicação social a assistir, e ouviu tudo sobre o modelo de funcionamento (e financiamento) do projeto Mais Proximidade, Melhor Vida, que trabalha com 35 voluntários e apoia 120 idosos, que vivem sozinhos ou com um outro idoso e que precisam de apoio para as tarefas do dia a dia. Cristas ouviu e prometeu ajudar, caso seja eleita, a replicar o modelo noutras freguesias no âmbito da “rede de cuidadores” que quer instituir.

Consigo levou mesmo a número três da lista, a independente Conceição Zagalo, que irá ocupar, caso for eleita, o lugar de vereadora da ação social. “O município tem de se empenhar a replicar este modelo, para que nenhum idoso fique desacompanhado”, disse, não se comprometendo, contudo, com mais apoio financeiro. Atualmente, segundo as dirigentes da associação, a junta de freguesia de Santa Maria Maior, liderada pelo socialista Miguel Coelho, suporta um quarto dos custos, mas, dizem, não chega para ter estabilidade financeira. “A câmara pode dar mais apoio sim, mas primeiro tem de chamar todos à mesma mesa para perceber o que pode ser feito“, disse a líder do CDS.

À saída da reunião, Cristas, que além de candidata a Lisboa também é líder do CDS, falou aos jornalistas sobre outros temas da atualidade, nomeadamente sobre a polémica alteração à lei da nacionalidade, que Passos Coelho tem trazido para a campanha e que o PSD já disse que iria querer revogar. Cristas reclama coerência nessa matéria, lembrando que o PSD se absteve nas alterações à lei e que o CDS “foi o único que votou contra”, e diz que vai propor o regresso à lei antiga. Segundo o Diário de Notícias, com as alterações, e simplificação no procedimento de entrada em Portugal, disparou o número de pessoas a requerer a entrada no país, passando de uma média de 300 por semana para mais de quatro mil.

“Certamente que o CDS convocará todos para reestabelecer o consenso que foi perdido, porque a verdade é que este consenso entre PSD, CDS e PS existia. Foi quebrado quando o PS acolheu propostas vindas das esquerdas mais radicais e o PSD absteve-se, creio que agora se terá apercebido de que não foi no bom caminho esta alteração”, disse. Por isso, segundo Assunção Cristas, o CDS irá apresentar na Assembleia da República uma proposta para repor a lei anterior, sem as alterações, tal como Passos Coelho assumiu que ia fazer.

“Governo leva Medina ao colo, mas Medina não influencia o Governo”

Assunção Cristas assume como prioridades da sua candidatura a ação social e a mobilidade, pelo que procura organizar o dia de campanha de forma a constatar com essas duas realidades. Se de manhã quis falar da rede de cuidadores para os idosos, ao início da tarde foi para as portas do centro comercial das Amoreiras (já que não se pode fazer campanha dentro de portas), para falar de trânsito e mobilidade — e de metro, que por enquanto não chega até ali.

Nem a propósito, os membros da juventude partidária que a costumam acompanhar nas ações de rua ficaram “presos na hora Medina”, que é como quem diz, presos no trânsito, “que agora é a toda a hora”. Cristas fez um compasso de espera mas depressa começou sozinha a distribuir panfletos — “não consigo estar parada”. Problema: ou as pessoas se assustavam com o aparato, ou não simpatizavam com a candidata, que recebeu muitas negas, ou, se simpatizavam, não votavam no concelho.

Num dia em que Fernando Medina levou o ministro das Finanças Mário Centeno para a sua campanha, Assunção Cristas quis deixar uma alfinetada à necessidade de o presidente da câmara levar pesos-pesados para a campanha local, e ao facto de as influências do Governo sobre Fernando Medina serem apenas unilaterais. “O Governo leva-o ao colo, mas só vejo fluxos de influências do Governo para Fernando Medina, não vejo Fernando Medina influenciar em nada o Governo para questões importantes para a cidade de Lisboa“, disse.

Assunção Cristas afirma que Fernando Medina se está a preparar para formar uma “geringonça” local se ganhar as eleições sem maioria, e é contra isso que quer lutar. “Não vale a pena continuarmos com um governo de esquerda em Lisboa, que se prepara para ser um governo das esquerdas unidas caso Medina vença as eleições”, disse ainda, antes de seguir rua abaixo, ao som dos tambores e do içar das bandeiras da Juventude Popular.

BE. O candidato “bonito demais para ser presidente” está disponível para ser muleta

Ricardo Robles a distribuir panfletos no Jardim da Parada e a ouvir piropos

A promessa: “Estamos disponíveis para uma viragem à esquerda em Lisboa”. É o mais longe que o candidato do BE vai ao estender a mão ao PS.

A frase: “Trouxeram águas?”, pergunta de um senhor sentando num banco do Jardim da Parada, a Robles e Mortágua depois de receber a propaganda do partido.

O que correu pior: O candidato está longe de ser uma cara reconhecida. Em Campo de Ourique, depois da sua passagem, chegou a ouvir-se: “Olha, aquela é a Mortágua”. Mais nada.

Às quatro da tarde, os bancos do Jardim da Parada, em Campo de Ourique, estão ocupados pelos mais velhos, à conversa, à sombra, a ver quem passa. Ricardo Robles entrava sem grande estrondo, interrompia as conversas timidamente: “Posso dar-lhe o jornal do BE para Lisboa?” A reação mais efusiva que recebeu foi das três senhoras que sentadas no banco pasmaram quando o homem que lhes distribuía um panfleto lhes disse que era candidato a presidente da Câmara: “Ah! É bonito demais para ser presidente”.

O candidato do Bloco de Esquerda em Lisboa seguiu caminho, à volta do jardim onde poucos recusaram a propaganda bloquista (só uns turistas: “Pas d’ici”) e onde quase todos dizem viver ali há mais anos do que o próprio tem de vida (39). “Mas há problemas” no bairro, disse depois Robles aos jornalistas apontando o dedo a Fernando Medina: “Esta é uma zona onde é agradável viver mas tem muitas dificuldades, de trânsito de transporte público, algumas famílias queixam-se de dificuldade no acesso aos equipamentos de ensino”.

E aqui entra a principal crítica que faz ao atual presidente da Câmara e recandidato ao cargo: “Ouvi Fernando Medina referir-se à manutenção das escolas do 2º e 3º ciclos, mas relembro Fernando Medina que ele já tem responsabilidade pelas creches, jardins de infância e escolas do primeiro ciclo e fez muito pouco”.

O candidato do Bloco de Esquerda faz mesmo balanço nesta matéria, dizendo que em 2009 o PS “prometeu 60 creches e fez 12. Assumiu que ia fazer obras em 48 escolas, fez em 18”. A tese de Ricardo Robles é que isto acontece por culpa das “maiorias absolutas do PS”. O Bloco empenhado em fazer parte da solução em Lisboa, como faz atualmente no país.

Ao seu lado, tinha uma figura que tem sido precisamente uma das faces mais visíveis no Bloco em rondas negociais com o Governo PS, tanto que já a apelidaram de ministra das Finanças: Mariana Mortágua. E é sem reservas que Robles vai repetindo a cada esquina, nestes dias de campanhas, que o Bloco “está disponível para uma viragem à esquerda em Lisboa”, que é a fórmula que escolheu (e da qual não se desvia) para abrir a porta a acordos de governação com Fernando Medina. Não pede, não fala em pelouros, não desafia, não é taxativo a estender a mão. Diz-se apenas disponível para uma “viragem”. E isto porque, segundo diz, “as maiorias absolutas não têm resolvido o que é mais importante na habitação nos transportes, na transparência”.

CDU. João Ferreira queixa-se de “silenciamento” por parte de “almas inquietas”

MANUEL DE ALMEIDA/LUSA

O que diz que ouviu: Segundo o candidato, “muita gente vem dizer que vai pela primeira vez votar na CDU”.

A frase: “Já só quero uma casinha em condições”, diz Maria Neves que há 20 anos concorre a uma casa da Câmara sem nunca o te conseguido.

Afectos: É tímido no trato, mas João Ferreira pára com tempo, põe a mão no ombro, escuta interessado quando algum eleitor lhe conta os seus problemas.

Maria Neves está sentada com algumas amigas no café do supermercado da Rua da Graça e apanha João Ferreira a jeito, que a ouve inclinado e com atenção. O candidato aproveita a história e dispara para a comunicação social: “Esta senhora há 20 anos que anda a concorrer para a habitação social da Câmara e não consegue. Medina diz que este é um assunto resolvido”.

O candidato comunista não tem meias palavras a pedir o voto na CDU, depois de concluir o raciocínio sobre aquele caso concreto: “Não há resposta, a menos que a 1 de outubro se faça uma mudança”. Maria Neves já desistiu dos concursos e diz ao Observador que agora foi o filho, invisual de 31 anos, que concorreu. Só sabe o resultado em outubro e ela já só espera poder ter “uma casinha em condições” e até adaptada às necessidade do filho que vive com ela. João Ferreira argumenta que este é um dos casos que fica no limbo entre as duas soluções de Medina para quem tem dificuldades no acesso à habitação: “São demasiado ricos para uma coisa (habitação social) e são demasiado pobres para a outra (a renda acessível, o programa destinado à classe média)”. O primeiro sistema é por pontos e para aceder ao segundo programa, uma família tem de conseguir suportar uma renda que representa entre 10% e 35% do seu rendimento.

Na arruada de Sapadores à Graça, o candidato foi saltando de um lado para o outro da estrada, entrou em todo o lado, distribui panfletos, autocolantes, deixou-se ficar dentro das lojas a ouvir. No fim, no mini-comício no Largo da Graça, revelou que o que mais ouviu foram estas queixas dos moradores sobre “como cada vez é mais difícil encontrar casa em Lisboa a preços que possam comportar”.

Mas nem só na habitação, também aponta “falta de vontade política e capacidade” da gestão de Medina para dar resposta aos problemas dos transportes e espaços verdes. E admite que foram aprovadas algumas das propostas do PCP, mas que não saíram do papel. Exemplo: os parques de estacionamento dissuasores gratuitos. É por tudo isto que pede o reforço da votação na CDU que, nas últimas autárquicas (as suas primeiras como cabeça de lista) elegeu dois vereadores: “Foi importante mas insuficiente para ter força para conseguir fazer mudanças”.

Quase a chegar ao fim da primeira semana de campanha, os comunistas têm uma queixa nova (nestas eleições): “O apoio crescente à CDU está a deixar algumas almas inquietas”. Quem? João Ferreira não especifica, nem no discurso do mini-comício, nem aos jornalistas mais tarde. Só diz que na noite anterior duas televisões (a RTP e a TVI) apresentaram peças sobre todas as candidaturas em Lisboa, exceto da CDU.

“Não se espera de uma televisão pública que tenha esse tipo de intervenção na campanha eleitoral”, disse depois quando foi confrontado com a suspeita dirigida a “almas inquietas”. Não diz quem, mas está convencido que a CDU foi vítima de “silenciamento por parte de duas televisões”.

A propósito, a coligação enviou esta quinta-feira um protesto para as televisões, a Entidade Rerguladora para a Comunicação Social e para a Comissão Nacional de Eleições, contra “um favorecimento deliberado das candidaturas apresentadas em prejuízo da candidatura da CDU”, que diz ter visto na reportagem da estação pública. Os comunistas dizem que vão acionar “os meios legais ao seu alcance para responsabilizar os responsáveis pela reportagem emitida”.

A campanha de ontem em Lisboa foi assim:

Diário de Lisboa. Medina vs Cristas e um triatlo do Bloco

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