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Teresa Leal Coelho recebeu o apoio de Manuela Ferreira Leite num pequeno-almoço na pastelaria Versailles, na Avenida da República. Seguiu-se uma arruada, que não foi bem uma arruada, até porque, avisou a ex-líder do PSD, é um tipo de ação de campanha que está fora de moda. A ex-líder do PSD mandou recados ao CDS. Identificou de onde vem a ameaça. Assunção Cristas andou de mota pela cidade para falar de mobilidade — e de uma corrida que é pelo primeiro lugar, mas se for pelo segundo também já sabe a vitória. Medina dedicou-se ao tema do ano: o turismo.
PS. Turismo descontrolado? Medina passa a bola ao Parlamento
A frase: “O PCP está a tentar criar uma fricção, criticando o PS e o CDS em simultâneo. Mas isso não bate com os factos”, disse, sobre a acusação comunista a Medina por estar a “acentuar efeito da lei das rendas”.
A promessa: “Das primeiras medidas que tomarei é falar com os vários grupos parlamentares e com o Governo pedindo urgência na aprovação desta legislação” sobre mercado de habitação.
O que correu mal: Quando o candidato começava a carburar nos contactos de rua — sobretudo depois dos mercados de sábado de manhã e domingo — a arruada da Avenida de Roma/Guerra Junqueiro foi um balde de água fria. Muito pouca gente para passar a palavra.
É uma das maiores críticas à gestão do município, vinda da oposição: o centro histórico de Lisboa está a ficar descaracterizado e ocupado por unidades hoteleiras. O candidato socialista e atual presidente da câmara responde com três soluções, mas duas delas dependem da Assembleia da República. “Para agir sobre a situação é preciso que o Parlamento cumpra o seu dever”, diz.
O problema que a invasão hoteleira dos bairros históricos traz aos residentes foi tema do dia do PCP que chegou mesmo (ver em baixo) a acusar Medina de estar a “acentuar o efeito da lei das rendas” em Lisboa. Na resposta, o candidato socialista garante que o que está a fazer é “contrariar o efeito da lei das rendas” e acusa os comunistas de estarem a tentar “criar uma frição, criticando o PS e o CDS em simultâneo. Mas isso não bate com os factos”, conclui.
– Mas existem ou não excessos na atividade turística, nomeadamente em matéria de habitação?
– É verdade que a cidade está a mudar. Há quatro anos essas zonas estavam todas desertificadas e estaria a fazer-me a pergunta sobre como a câmara iria reabilitar os bairros históricos da cidade.
O candidato socialista — que ao início da tarde tinha passado por um dos bairros históricos, o Bairro Alto —, evita falar em “excesso”, quando é abordado sobre o turismo, e contorna a questão sobre a criação de limites ao número de turistas que entra na cidade — “se me disser alguma cidade do mundo que tenha conseguido fazer isso…” — e atira com as medidas que tem em carteira, mas que na realidade não dependem de si.
- “Alterar a lei das rendas para permitir a bonificação significativa do arrendamento de longa duração, para estabilizar de novo o mercado da habitação em Lisboa” — a ideia é passar de 28,5% para 10% a tributação de contratos a mais de 10 anos;
- “Ter a Câmara a autorizar alojamento local mediante determinação de quotas”;
- Pôr no mercado casas da câmara, e aqui refere-se ao programa para a classe média a que dedicou boa parte do primeiro dia de campanha, na semana passada.
As duas primeiras medidas têm de passar pelo Parlamento, por isso o mais que o candidato à câmara está em condições e de prometer para responder a esta questão é isto: “Logo após as eleições, se for eleito, das primeiras medidas que tomarei é falar com os vários grupos parlamentares e com o Governo pedindo urgência na aprovação desta legislação”. Para isso, conta com “o peso político” que acredita ter.
Ao fim da tarde, o candidato socialista passou por Alvalade e Areeiro, numa arruada sem graça, sem gente, sem qualquer chama. O momento em que se sentiu maior entusiasmo ainda foi quando Medina olhou para cima, junto à torre onde se instala o Ministério do Trabalho (Praça de Londres), e tinha um grupo num andar do topo a acenar e a gritar. “Aquele é a equipa do Emprego”, dizia cá em baixo o socialista que no primeiro Governo de José Sócrates, entre 2005 e 2009, foi secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional.
No início do trajeto ainda foi parado por um munícipe que trazia uma questão para o presidente da sâmara sobre… depósitos de pilhas usadas. Medina não se desenvencilhou sozinho: “É uma boa questão… Ó Duarte!”. E lá veio o vereador responsável pelo pelouro da Higiene Urbana explicar que há pontos verdes nos supermercados.
CDS. Cristas segue em alta velocidade de mota, à pendura do marido
A frase: “Vamos fazer isto em segurança, sem entrevistas em andamento, porque todos queremos uma campanha sem acidentes”. Assunção Cristas a propósito do passeio de motas pela cidade, esta manhã.
A provocação: Assunção Cristas anunciou hoje que vai ter uma “grande comício” na próxima quinta-feira. Onde? Na Praça do Município. Não tem de pedir autorização à câmara, porque é espaço público, tem apenas de comunicar as autoridades, coisa que já fez há algum tempo. Provocação? Sim, mas a mensagem é clara: o adversário da líder do CDS é o atual presidente da câmara.
O que correu bem: A concentração de motas tinha como objetivo começar em grande a última semana de campanha. E talvez tenha conseguido. Luís Pedro Mota Soares chamou-lhe a primeira “motovan” da campanha, e em matéria de malabarismos mediáticos, Assunção Cristas está de facto a inovar.
“Vamos fazer isto em segurança, sem entrevistas em andamento, porque todos queremos uma campanha sem acidentes”. Assunção Cristas dava o mote para aquela que é talvez a ação de campanha com mais movimento da cidade de Lisboa: um percurso de mota, desde as docas até ao Saldanha, com paragem na Praça do Município, o lugar onde Assunção Cristas ambiciona chegar no próximo dia 1 de outubro ou, quem sabe, daqui a quatro anos, nas próximas eleições.
Para já, a corrida é em velocidade, mas pode vir a ser uma corrida de fundo. O Observador, que viajava na comitiva à boleia do antigo presidente da câmara e atual mandatário Carmona Rodrigues, tenta perguntar à candidata qual das duas opções é mais válida, mas as condições não são as melhores para uma conversa em pleno eixo central.
O sinal fecha para vermelho e nova tentativa: “É uma corrida em velocidade ou é mais uma corrida até 2021?”. “Não oiço, não oiço”, responde a candidata. O marido, que ia a conduzir o motociclo, repete a pergunta. “Ah..!” Mas o sinal já estava verde e lá foi ela, a percorrer as estradas de Lisboa pela faixa bus, para mostrar o trabalho feito pelo vereador João Gonçalves Pereira, do CDS, que “conseguiu” que a câmara aceitasse incluir as motas na faixa prioritária do trânsito, que é cada vez mais complicado na “hora Medina”, que é como quem diz, a todas as horas.
“Hoje, o dia foi a pensar nos motociclistas, que é um meio de transporte mais barato e mais amigo do trânsito. Mas é preciso realçarmos a importância das formas de mobilidade complementares e resolver o problema da mobilidade passa pela articulação dos meios, desde o metro à Carris”, diz Assunção Cristas depois de parar as motas em seguranças. O objetivo era mostrar “obra feita” do CDS na vereação, mas também alertar para os problemas complementares: “Ainda agora vimos na praça do município os parques de estacionamento lotados”, comenta.
Carmona Rodrigues lembra-se bem de quando era presidente da câmara e estacionava a mota na entrada lateral do edifício. As histórias de funcionários que não o reconheciam de capacete debaixo do braço são muitas, e recorda-as com alguma nostalgia, enquanto segue em velocidade a agora candidata ao lugar que já foi seu.
Assunção Cristas começa a segunda semana de campanha a andar de moto pela cidade de Lisboa pic.twitter.com/TEK1SGax7k
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Não se trata de uma corrida, é certo, nem Assunção Cristas assume que está a lutar pelo segundo lugar. “O CDS trabalha para ter o máximo. Eu não me empenharia de corpo e alma se não pensasse que Lisboa merece o melhor, e o melhor é darmos tudo o que temos. Por isso me empenhei durante todo este tempo para construir um grande projeto e uma grande equipa”, diz. Até ao dia 1 há uma coisa que Cristas não admite: que haja vencedores antecipados. “E quem achava que ia ter a vida facilitada enganou-se. Mas sabemos que é difícil porque não estamos lá [na presidência da câmara], e quem está lá tem sempre vantagem”, sublinha, no entanto.
Não se trata de uma corrida, não, até porque para Assunção Cristas o segundo lugar já saberia a uma grande vitória.
PSD. Ferreira Leite avisa os que “pensam que podem ficar em segundo”, que PSD é muito maior que CDS
A frase: “Não tenho dúvidas que o PSD é o partido de maior expressão. Muito mais do que quem pensa que pode ficar em segundo lugar”, Manuela Ferreira Leite, ex-líder do PSD.
O que correu bem: O apoio de uma ex-líder, tendo mais dois confirmados para terça e quarta-feira (Marques Mendes e Santana Lopes) mostra que a campanha tem o apoio de notáveis e compensa o facto de, no domingo, Nuno Morais Sarmento ter faltado à chamada.
O que correu mal: O PSD não se está a dar bem na rua ao nível de empatia e contacto com a população, que é sofrível. Ferreira Leite diz que este tipo de ação de campanha está ultrapassado. Mas o que é certo é que são agendadas pela candidatura. Simplesmente não resultam.
Era um pequeno-almoço entre senhoras na pastelaria Versailles, em Lisboa. A “senhora Lisboa”, Teresa Leal Coelho, e a única “senhora” que liderou o PSD, Manuela Ferreira Leite — que assim era chamada pelo staff do PSD quando estava na S. Caetano à Lapa. Foi à campanha dar um apoio e meteu uma terceira mulher ao barulho, Assunção Cristas, avisando que “os que pensam que vão ficar em segundo” não têm a dimensão do PSD, nem “hipótese” contra a força do partido. Já lá vamos. À mesa da esplanada da pastelaria Versailles sentaram-se seis pessoas num pequeno-almoço sem história. Só para a imagem (aos jornalistas não foi permitido ouvir a conversa).
Manuela Ferreira Leite em arruada com Teresa Leal Coelho na Avenida da República após pequeno-almoço na Versailles. #Autarquicas2017 pic.twitter.com/ycw7zSFJeI
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E a história da imagem conta-se em poucas palavras, sem simbologias de última ceia. Oito pessoas à mesa da esplanada: João Pedro Costa (arquiteto, uma espécie de Salgado da lista do PSD e nº2 de Leal Coelho), em frente a Margarida Saavedra (candidata a vereadora). Seguia-se Manuela Ferreira Leite em frente a Teresa Leal Coelho; Pedro Proença (candidato à junta das Avenidas Novas) em frente a José Eduardo Martins (candidato à Asembleia Muncipal) e Marta Muckznick (mandatária para o diálogo interlcultural) em frente da blogger Carla Quevedo. O resto, é segredo.
Umas torradas, uns cafés e alguns bolinhos depois (a candidata optou por um queque), seguiu-se uma arruada até ao jardim do Arco do Cego. A atração era Ferreira Leite — a quem João Soares, o último socialista derrotado por um militante do PSD em Lisboa, chamou de “outra senhora” na campanha de 2009 — que seguia no mesmo passo vigoroso da restante comitiva.
“Vamos à casa do Medina”, ainda disse a brincar um dos elementos da comitiva laranja. Só a brincar. Até era perto. O percurso não incluía passagem pela Avenida Luís Bívar — onde está a casa que Fernando Medina não declarou corretamente ao Tribunal Constitucional — com a candidata a seguir a lógica de não aproveitar o caso na campanha. O Observador sabe que Leal Coelho tem falado várias vezes com Fernando Medina ao telefone e terão combinado não haver ataques pessoais na campanha. Na mesma rua de Medina mora Pedro Proença, o candidato do PSD à junta da zona, as Avenidas Novas, que acaba por ser, indiretamente, um dos fatores de divisão no PSD/Lisboa. A junta é PSD, mas — ao contrário das outras quatro juntas — o presidente da junta, Daniel Gonçalves (pai de Rodrigo Gonçalves) foi afastado da corrida pelo partido, dando início às hostilidades ente fações no PSD/Lisboa.
Voltando à campanha, a arruada não foi digna desse nome. Foi mais uma deslocação a pé até ao jardim do Arco do Cego. Bandeiras em baixo, um grito de “Teresa vai em frente” (de um “jotinha”, quase a medo) e duas tentativas falhadas de fazer campanha em lojas. Ferreira Leite e Leal Coelho ainda entraram numa farmácia e num café. A candidata distribuiu uns panfletos, e Ferreira Leite limitou-se a dar uns bons dias cordiais. Mais tarde explica que arruadas é uma coisa que já não se usa na política moderna. “Esta ideia de que como é que as pessoas são recebidas nos cafés, como a gente pensa que é o ambiente. Eu acho que isso faz parte de um tipo de campanha que já não existe”, diz Ferreira Leite. Acrescentando: “Não esperem que tenhamos pessoas atrás de nós aos gritos. Que haja comícios. Isso já não se usa, isso não já não existe.”
Teresa Leal Coelho confessou que lhe “soube muito bem” ter o apoio de Ferreira Leite, uma pessoasque considera “muitíssimo”, que tem “uma visão para a cidade de Lisboa e para o país” e que lhe deu “conselhos muito úteis.” Quais? Bem, esses, já estão “materializados no programa para Lisboa”. Ferreira Leite tem uma relação muito próxima com os netos, daí que seja pretexto para Leal Coelho lembrar que um dos objetivos do projeto é resolver o problema da habitação para “voltar a trazer os filhos e os netos para a cidade de Lisboa.”
Depois de Nuno Morais Sarmento ter faltado no domingo a uma ação de campanha, Teresa Leal Coelho considera que está “muito bem rodeada”. Lembrou que teve Moreira da Silva no domingo, já depois de ter tido Paulo Rangel, e anunciou mais dois “barões”: terça-feira, Marques Mendes; quarta-feira, Pedro Santana Lopes.
É fazendo o uso de notável, que Ferreira Leite aproveitou a ação para menorizar o peso do CDS, puxando os galões do PSD. “As sondagens são as sondagens e eu não tenho dúvidas que o PSD é o partido de maior expressão. Muito mais do que quem pensa que pode ficar em segundo lugar. A diferença de dimensão dos partidos… não tem qualquer hipótese. Esperemos é que também a Comunicação Social trabalhe nessa verdade.” Ou seja: que “todos os tempos e todas as visibilidades que são dados aos partidos não sejam influenciados pelas sondagens. Que sejam verdadeiramente igualitárias e que deem a verdadeira dimensão das campanhas.”
Sobre a candidata, Ferreira Leite destaca que é uma “pessoa com fortes convicções, muito trabalhadora, muito empenhada, muito competente”. A isso, considera, junta-se o facto de que “do ponto de vista pessoal, é muito agradável no seu convívio, o que é muito importante quando se trabalha em equipa.
Manuela Ferreira Leite, que se tem especializado nos últimos comentários político no tiro-ao-Passos, não quis desta vez falar de política nacional. “O que está em causa é Lisboa e a gestão de Lisboa”, atirou, acrescentando que não iria contribuir para “desviar as atenções com outro tipo de assuntos”. Isso só mais tarde: “Temos tempo para falar no assunto noutras circunstâncias e noutro tempo.”
A ação durou cerca de uma hora. O encontro de Ferreira Leite com Teresa Leal Coelho e o seu “muito amigo” (palavras da própria) José Eduardo Martins, longe dos olhares dos jornalistas.
Nos matraquilhos, Teresa joga à defesa, dá “tudo por tudo”, chama os “barões do PSD”, mas perde. No fim, pede a “desforra”
Para a parte da tarde, a campanha de Teresa Leal Coelho tinha prevista uma “ação de rua para contacto direito com residentes e comerciantes” no Bairro Alto, com o candidato à junta da Misericórdia, o independente António Pinto de Abreu. Mas, mais uma vez sem a presença de qualquer órgão de comunicação social, à exceção do Observador, a ação de rua não teve tanto de contacto com a população mas teve uns toques de volleyball e um jogo de matraquilhos. Tudo porque apareceu a equipa de repórteres do programa da RTP 5 Para a Meia-Noite, que andou esta segunda-feira a pedir aos candidatos a Lisboa para alinharem num número de perguntas “fora da caixa”, e Teresa alinhou na hora.
“Ela é o máximo, as pessoas só têm de a conhecer”, comenta-se na comitiva, depois de o repórter da RTP ter dito que já tinha feito as mesmas perguntas a todos os candidatos e a candidata do PSD, a par de Fernando Medina, tinha sido a que se tinha “saído melhor”. O programa só vai para o ar na próxima quinta-feira, daí não podermos antecipar muito, mas envolveu toques numa bola de futebol — com as mãos, já que a candidata foi jogadora federada de volleyball –, e um desafio para um jogo de matraquilhos.
Teresa Leal Coelho encontra o 5 para a meia-noite e desafia para jogo de matrecos. Perdeu, mas foi "a melhor em campo". #autarquicas2017 pic.twitter.com/mewjSOBT8p
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) September 25, 2017
“Onde é que se joga matraquilhos por aqui?”, perguntaria Teresa Leal Coelho ao seu candidato à junta de freguesia, que conhece bem o Bairro Alto. António Pinto de Abreu, de apenas 26 anos, tinha a resposta na ponta da língua. O estabelecimento estava fechado ao público aquela hora da tarde, mas abriu para um pézinho de bola. Teresa Leal Coelho e António Pinto de Abreu do lado do Sporting, por incrível que pareça, e os repórteres do programa da RTP do lado do Benfica. “Foi uma grande defesa, repararam?”, diria Teresa, que jogava à defesa e conseguiria evitar uns quantos golos.
2-1, depois 2-2. A equipa dos candidatos do PSD estava em vias de perder, mas o jogo ainda não tinha acabado. “Ó António, vamos dar tudo por tudo. Vamos trazer os barões do PSD para darmos tudo por tudo, vamos?”. Teresa Leal Coelho queria ganhar, mas deixou entrar a última bola. O candidato à junta de freguesia ainda ironiza que “há quem seja primeiro-ministro sem ganhar”, mas a derrota foi assumida com fair play. “Perdemos mas fomos a melhor equipa em campo!”, diria depois a candidata do PSD ao Observador, sublinhando que iria pedir “a desforra”.
CDU. “Se calhar vai ser o último voto que tem meu porque vou ser corrido”
A frase: “A câmara está a agravar o efeito da lei das rendas”, disse João Ferreira não deixando Cristas isolada nas críticas desta manhã comunista.
O que o candidato ouviu: “Vou ser corrido daqui”, três encontros, três queixas à medida do que os comunistas precisam para firmar o seu ponto sobre os despejos nos bairros históricos.
A dica: “Connosco não há nada que enganar, é o girassol, a foice e o martelo. Vê aqui? É o que eu digo sempre à minha avó para ela não se enganar”, explicou Rita Rato a uma senhora que não sabia ler.
Não foi um ação de campanha vistosa, a desta manhã, ainda que houvesse a banda do costume a abrir o caminho ao candidato da CDU João Ferreira, mas foi certeira ao alvo. Não pela senhora do café “Parreirinha”, que mal viu a CDU cruzou os braços, não recebeu o panfleto e, perante o candidato comunista, jurou “fidelidade ao dr. Fernando Medina e ao dr. Miguel Coelho (candidato do PS à Junta)”. Em Santa Maria Maior, o que valeu muito à CDU foram as queixas “porta sim, porta sim”, por causa do despejos por ali.
Ia a subida pouco animada e com pouco mais do que um ou outro lojista à porta, quando João Ferreira é puxado uns passos mais atrás pela deputada do PCP Rita Rato. Patrícia empurrava a filha no carrinho de bebé e queixava-se de ainda ter dois anos de contrato de arrendamento e de o seu senhorio lhe estar a pedir para sair, ali do prédio mesmo atrás, no bairro histórico da Mouraria. “O senhorio já tem autorização da Câmara para fazer um hostel”, diz.
João Ferreira aproveita a deixa e explica: “É mais uma situação em que se invoca a necessidade de obras coercivas para correr com as pessoas”. E o comunista não demora em nomear a culpada, dizendo que “isto só acontece por causa da lei das rendas que foi aprovada pelo PSD e o CDS de Assunção Cristas”, também candidata à Câmara de Lisboa. Mas há outro culpado, para João Ferreira: “Até agora o PS não está disponível para revogar a lei das rendas, que é o que nós defendemos. E o PS na Câmara facilita o licenciamento de hosteis e alojamentos locais”.
Patrícia tem dois filhos na escola local, ela e o marido trabalham ambos do Hotel Mundial mesmo ali em baixo, pagam 400 euros de renda e não veem alternativa naquela zona. O candidato aconselha-a a ir a uma reunião pública de Câmara, “nas últimas quartas-feiras de cada mês. Tem só de se inscrever na semana antes”, detalha. Isto enquanto a candidata à Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Lurdes Pinheiro, repetia: “Não saiam, mantenham-se unidos. A câmara mais uma vez a não exercer o seu direito de preferência sobre estes prédios”, acrescentava.
Mais à frente no caminho (que aqui já ia estudado pelos comunistas da zona), Rui Pedro vê João Ferreira a entrar pela sua mercearia: “Gostei de o ouvir falar no debate”. O candidato pede-lhe o voto e ele acena que sim mas atira logo de seguida: “Se calhar vai ser o último voto que tem meu, porque vou ser corrido daqui. Nasci aqui há 46 anos e vou ter de sair”. O senhorio “alegou obras, mas a intenção é vender”, explica ao candidato que entretanto já pousou o maço de panfletos em cima do balcão da loja para dar toda a atenção ao homem. “Temos de sair até ao ano que vem, O meu filho estuda na Graça e vimos aqui casa em que pedem 900 euros ou 1.200” de renda. “Isto mete-me nojo!”, exclama a candidata a Junta.
João Ferreira arranca com o discurso da lei das renda e de Assunção Cristas e Rui Pedro dispara: “Não, essa nunca! Não a posso ver! E nem PS lá vou”. A pequena comitiva comunista sai da loja com o voto prometido por parte do merceeiro e Rita Rato vai desabafando que “isto é porta sim, porta sim”. Entram no café mesmo ao lado, já certos do que iam encontrar, mais uma vez. O senhor Zé já os conhece, “já aqui vieram”. Rita Rato começa: “Também vai ter de sair daqui?”. “Estamos à espera que seja vendido”, diz o senhor, “mas também temos os nossos argumentos jurídicos”. João Ferreira mete outra vez a quinta da lei das Rendas, mas mal fala de Assunção Cristas, o senhor Zé interrompe-o. “Já falou aí de uma pessoa que é muito arrogante. Um bocadinho é favor”. O candidato não tem de dizer mais nada, segue caminho até ao Jardim da Cerca da Graça.
Com vista sobre quatro andaimes que reabilitam prédios na zona histórica, João Ferreira garante que o problema não está só na lei passada, também está na forma como ela é gerida hoje. “A Câmara está a acentuar os efeitos da lei das rendas”, diz. E no direto que fez para o facebook do Observador, acrescenta que a Câmara se “demitiu de ter o papel regulador no desenvolvimento da cidade e da atividade turística em particular.”
Mas o turismo é mau? “Tem e terá um papel fundamental na vida da cidade, mas “ao deixar nas mão do mercado o desenvolvimento da atividade turística, sem qualquer regulação, estamos a comprometer as características que tornam a cidade atrativa para o próprio turismo”. Numa imagem:
“Corremos o risco de chegar a um ponto onde os turistas venham aqui como quem a um parque temático e fiquem a olhar uns para os outros”.
A CDU encontrou alguns pelo caminho que fotografam sobretudo a banda que vai à frente e incomoda a senhora que está a uma porta da Rua dos Cavaleiros. “Posso dar-lhe aqui as nossas propostas?”, pergunta-lhe o candidato. “Já tenho. Vocês podiam era arranjar uma música melhor”. O candidato diz que “ele vão mudando para agradar a todos”, mas não convence a ouvinte incomodada. Na porta seguinte mias alguém que se queixa: “Deviam era falar disto de não alugarem casas a pessoas, mas só a turistas”. O candidato pergunta-lhe se “acha bem” e a senhora responde: “Não, mas o Estado é que manda”. Os comunistas que ouvem aquilo atropelam-se em explicações, dizem que “a senhora também pode mandar, se votar no dia 1 de outubro”. “Eu sei, eu sei que é no 1 de outubro”, diz a interlocutora. Rita Rato estava atenta, sobretudo à parte em que a senhora disse que não sabia ler, quando recusou o panfleto do partido. “Connosco não há nada que enganar, é o girassol, a foice e o martelo. Vê aqui [no panfleto]? É o que eu digo sempre à minha avó para ela não se enganar”.
BE. “No turismo não há nenhuma regra para Medina”, acusa Robles
A frase: “Há um resort turístico a instalar-se no Parque de Monsanto por 2.600 euros por mês”.
A promessa: O candidato denunciou, mas só prometeu que vai insistir no pedido de explicações que nunca chegou de Fernando Medina.
O candidato do Bloco de Esquerda foi até Monsanto para uma ação de campanha focada num único ponto: a concessão pela Câmara de cinco edifícios do Parque Monsanto, entre os quais a casa de função do presidente da Câmara de Lisboa, a uma empresa, para atividade turística.
“Todos este espaço fica mais barato do que um T2 no centro de Lisboa”, disse Ricardo Robles na Quinta da Pimenteira, onde estão localizados os viveiros da CML, referindo-se aos valores que constam no contrato de concessão. O preço mensal a pagar por aquele espaço cedido pela autarquia por 30 anos vai ser de 2.600 euros mensais, sendo que vai ser feito um desconto nos primeiros três anos de contrato na ordem dos 50%, “como apoio ao investimento”. Ou seja, a empresa a quem já foi concessionada a Quinta pagará mil euros (mais IVA), de acordo com o que consta na parte do contrato distribuído pelo Bloco de Esquerda nesta ação de campanha.
Dois ou três quiosques na Avenida da Liberdade pagam mais do que este espaço aqui”
O partido também desconfia do concurso que antecedeu a concessão, onde houve apenas um concorrente, a MCO II Unipessoal, criada em agosto de 2014, com um capital social de 100 euros, “quando a Câmara tinha referido a necessidade de robustez financeira” da empresa que viesse a ficar com o espaço. Mas Ricardo Robles diz apenas que já pediu explicações na Assembleia Municipal (onde é deputado), para um “negócio que é lesivo para a cidade”, mas Fernando Medina não as deu: “Nunca quiseram explicar este negócio que não aceitamos e não compreendemos”. E ataca o presidente da Câmara e candidato pelo PS por promover uma “cidade sem regras para o turismo”: “Não há nenhuma regra para Fernando Medina no que se relaciona com o turismo”.
Da Quinta faz parte a casa de função do presidente da Câmara de Lisboa, que não tem estado a uso, o que faz o candidato do Bloco em Lisboa saltar para a comparação: “Era como o Presidente Marcelo concessionar o Palácio de Belém a um hotel de charme”. De acordo com o contrato de concessão, a concessionária fica obrigada à “reabilitação e recuperação de todos os edifícios e equipamentos que integram” a concessão: a casa do presidente da CML, duas vivendas onde vivem guardas florestais, o Moinho do Penedo e a Quinta da Pimenteira, mais de 50 mil m2. Ficou também definido que as obras feitas ficarão “por conta da concessionária”, mas sujeitas a “autorização expressa e prévia” da Câmara.
O candidato do BE em Lisboa defende que o espaço seja “aberto” e que sirva, por exemplo, para instalar “um centro de interpretação ambiental relacionado com o Monsanto e não com atividades privadas”. Robles considera que “há um resort turístico a instalar-se no Parque de Monsanto por 2.600 euros por mês” e que contribuirá também para “o agravamento ambiental”.