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Cerca de mil pessoas marcaram o 1.º de maio, com distanciamento social
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Cerca de mil pessoas marcaram o 1.º de maio, com distanciamento social

RUI CAVACO/OBSERVADOR

Cerca de mil pessoas marcaram o 1.º de maio, com distanciamento social

RUI CAVACO/OBSERVADOR

Do vermelho da CGTP ao verde da relva em 45 minutos. O 1.º de maio em modo acelerado

CGTP quis um evento simbólico, mas estiveram mais de mil na Alameda. Houve calor, cervejas, máscaras vermelhas e distanciamento social. Como se fez o 1.º de maio em menos de 45 minutos.

Mário Casal Ribeiro, quase 71 anos, reformado da construção civil, esteve no primeiro 1.º de maio em liberdade, há 46 anos. “Foi o maior de sempre, no estádio 1.º de maio, onde esteve o meu grande camarada e dirigente revolucionário Álvaro Cunhal, com Mário Soares e o Movimento das Forças Armadas no palco. Foi um grande dia, uma alegria.” Desde então, garante à Rádio Observador, não falhou nenhum desfile. Nem o de 2020, mesmo apesar de a organização ter apelado aos grupos de risco — nomeadamente as pessoas com mais de 70 anos — para que ficassem em casa. Mas, diz Mário Ribeiro, não podia deixar de vir — mesmo com as regras de distanciamento e a máscara que, enquanto fala com o Observador, está de lado porque lhe “faz comichão no nariz”, diz, entre risos.

“Sinto que continuo em luta. É um primeiro de maio de luta apesar do confinamento, dos vários impedimentos. Nós estamos aqui a cumprir a lei rigorosamente e estamos a participar como nunca deixaríamos de participar. Fosse de que maneira fosse”, afirma. O espírito crítico, mantém-no — nomeadamente para apontar o dedo aos “donos dos empórios nacionais e internacionais” que “andavam a bramar, a dizer, antes da pandemia, que o Estado não tem de se meter no mundo do trabalho, porque a iniciativa privada é a melhor. E agora vêm berrar, a pedir o apoio do estado”.

Manifestantes mantiveram distâncias de segurança entre 1 a 3 metros

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

À semelhança de Mário Ribeiro, cerca de 1.000 pessoas preencheram o relvado da Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, com o vermelho — das fitas que delimitavam filas (eram 72), nas quais cabiam entre 10 e 15 trabalhadores, com um distanciamento de, pelo menos, um metro; das máscaras distribuídas aos sindicalistas, feitas pela Voz do Operário, que também as fabrica para o SNS; das bandeiras (da CGTP e de sindicatos da inter); e dos cravos.

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Fotogaleria. Uma Alameda D. Afonso Henriques cheia, mas com distância de segurança: um Dia do Trabalhador histórico

Arménio Carlos sem máscara e cervejas ao sol

Arménio Carlos, ex-secretário-geral da CGTP, há vários anos que não assistia ao 1.º de maio longe das câmaras, dos microfones e dos discursos. “Não estou assim tão longe”, responde, em conversa com o Observador. Está à sombra de uma das árvores da Alameda, a acompanhar, sozinho, os discursos dos vários representantes sindicais, a cerca de 40-50 metros da nova secretária-geral, Isabel Camarinha, que espera a sua vez para se inaugurar em discursos do Dia do Trabalhador. Está sem máscara — “não é obrigatório, na CGTP estamos sempre protegidos”, brinca Arménio Carlos — e, embora já não esteja na liderança da Inter, o discurso continua a ser reivindicativo.

Arménio Carlos esteve sem máscara na ação da CGTP. Ao Observador, elogiou os profissionais de saúde e outros dos vários "serviços públicos que estão na linha da frente"

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Lembra os profissionais de saúde e outros dos vários “serviços públicos que estão na linha da frente” no combate à pandemia, para dizer que a Covid-19 tem mostrado a importância de todos estes trabalhadores, que “têm tido um papel incansável”. “É importante valorizar e recordar que estiveram sempre na linha da frente”. E, tal como sempre defendeu quando liderou a CGTP, voltou a pedir que o Governo assuma um “compromisso político de ativamente combater os despedimentos, a precariedade, os salários baixos”. “É um tempo de desafios, em que cada um tem de assumir as suas responsabilidades”.

A ação, com regras de distanciamento estabelecidas previamente, “corresponde àquilo que a CGTP disse que era necessário: fazer um 1.º de maio em segurança”. Este pedido foi várias vezes ouvido através dos altifalantes que a CGTP colocou em vários pontos da Alameda: “Este 1.º de maio é diferente dos outros. A regra de ouro da organização é o respeito pelo distanciamento social”. Poucos minutos depois, novo aviso: “Fiquem nos vossos lugares. A nossa disciplina é muito importante”. E ainda: “Mantenham as distâncias. É esse o apelo que faço”.

O discurso de Isabel Camarinha no 1º de maio em cinco pontos

Entre cânticos de Abril e gritos de maio — “Maio está na rua! Abril continua!”, “O trabalho é um direito, sem ele nada feito!” — os sindicalistas que foram mobilizados (a organização apelou a que viessem apenas representantes sindicais) mantiveram-se no seu lugar, previamente fixado. “Cada fila tinha um responsável e já sabíamos para onde ir”, diz ao Observador Elisabete Santos, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP) — o sindicato que Isabel Camarinha liderou durante muitos anos — enquanto, juntamente com outros colegas, desinfeta as mãos com álcool, na fileira 6, relativamente perto do carro desdobrado em palco onde minutos antes tinha discursado a nova secretária-geral da CGTP. “Desinfetámos aos mãos quando chegámos e agora [no final]. E temos as máscaras também”, refere, notando que “apesar da situação, a malta tentou respeitar as regras”. “É uma data única. Não é sempre que se comemoram 130 anos do 1.º de maio”.

Na hora da desmobilização, cerca de uma dezena de sindicalistas juntou-se, com mais e menos distanciamento, à porta de um café-restaurante, que permitia o consumo de cerveja no exterior do edifício. “Fez calor e, com o sol, ficámos com sede”, atira, em conversa com o Observador Cristina Torres, do Sindicato de Trabalhadores da Administração Local (STAL). Não se surpreendeu com a duração da manifestação — cerca de 45 minutos, sem contar com a mobilização das pessoas por filas.

“É natural que seja curto. Ainda por cima não nos podemos abraçar, cumprimentar”. Também defende que “não podia deixar de celebrar o dia do trabalhador, sobretudo nestas circunstâncias, em que muitas pessoas estão a ser vítimas do desemprego, do layoff em empresas com lucros astronómicos, das desregulação de horários de trabalho”. Rui Pinheiro, também do STAL, acrescenta que as distâncias de segurança foram mantidas “dentro do possível”. “Há sempre alguém que não respeita tanto, mas é complicado não dar abraços. E quando ouvimos o hino… é sempre um momento mais emotivo, de alegria, mas tínhamos de estar afastados.”

Fotogaleria. “Abaixo o capitalismo”: No 1.º de Maio, os cânticos reivindicativos deram lugar às máscaras com mensagens

Célia Portela retira, com outras duas colegas do CESP, as fitas vermelhas e brancas que antes marcavam as distâncias. “Chegámos às 9h00 e com uma bitola, uma corda de cinco metros para medir as filas”, conta. O trabalho de “desimplantação”, como lhe chama, é mais rápido”. “Não podíamos deixar passar a data. Cumprimos as medidas, distribuímos máscaras. Fomos além das orientações da DGS, que atualmente só obriga o uso de máscara em espaços fechados. Mas quisemos dar o exemplo”.

Controlo das distâncias e a reprimenda a três jornalistas

E a PSP? Teve problemas com a manifestação, ou depois dela? Nada. Ou quase nada, não fossem os jornalistas do Observador que, sentados num banco ao computador não cumpriram as distâncias de segurança. “Têm de se afastar, estão três num banco, não estão a cumprir.” Nem os apelos de que os jornalistas estavam a fazer a cobertura do evento valeram. “Têm de se separar”. Resultado: um em cada lado do banco e o terceiro no chão.

Mas problemas sérios, nada. Pelo menos foi o que relataram ao Observador os homens encarregados de coordenar no local o dispositivo das forças de segurança. No topo dos relvados da Alameda D. Afonso Henriques estavam estacionadas quatro “ramonas” das Unidades Especiais de Polícia, neste caso para transportar o subgrupo do Corpo de Intervenção da PSP que estava de prevenção.

Ruas cortadas em alguns pontos – para deixar passar os autocarros fretados por sindicatos e que vinham de Setúbal, com um terço da capacidade cada um – mas nada de grades, nada de equipamento de proteção como a polícia costuma usar em manifestações mais “complicadas”: escudos, capacetes, cotoveleiras ou joelheiras. Nada. Ou quase nada, todos traziam equipamento para outro tipo de proteção: viseiras. Algumas com tiras de elástico grosso que deixavam marcas vermelhas no escalpe. Ossos do ofício de quem está habituado a pior.

Foram colocadas fitas para delimitar 72 filas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Não íamos trazer para aqui os ‘Robocops’”, contou ao Observador o superintendente Domingos Antunes. Isto porque se há uma previsão de que as pessoas envolvidas vão respeitar o que está previsto, não vale a pena estar a projetar força. “O ideal é mesmo fazermos o nosso trabalho sem que ninguém dê por nós”, sintetizou.

Se ninguém deu pela polícia, não foi por falta de efetivos. A PSP não revela números precisos, mas foi envolvida a a Divisão de Trânsito, a Divisão de Transportes Públicos, patrulhamento normal e, como já referimos, as unidades especiais de polícia. Mas também as equipas rápidas, as motas de escolta aos autocarros. A temer o pior que não se concretizou. No final de uma manifestação que durou menos de uma hora (sem contar com o tempo de ‘arrumar’ as pessoas nas respetivas filas), a PSP acompanhou à distância da desmobilização dos sindicalistas. Sem problemas.

“Foi um exercício de sociedade madura, que conviveu com as orientações da polícia”, disse o superintendente Domingos Antunes.

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