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O ciclista de 26 anos conquistou a segunda medalha portuguesa em Paris, depois da judoca Patrícia Sampaio
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O ciclista de 26 anos conquistou a segunda medalha portuguesa em Paris, depois da judoca Patrícia Sampaio

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O ciclista de 26 anos conquistou a segunda medalha portuguesa em Paris, depois da judoca Patrícia Sampaio

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Dois sonhos no espaço de um ano: a história de Iuri Leitão, o medalha de prata que tem pai ciclista e cresceu a olhar para Contador

Tem pai ciclista, mas garante que nunca foi forçado. Aliás, até conta que teve de enganar o pai para começar a treinar. Um ano depois de ser campeão do mundo, Iuri Leitão é prata nos Jogos Olímpicos.

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Uma semana depois, mais uma medalha. Depois de Patrícia Sampaio ter inaugurado o medalheiro nacional na passada quinta-feira, foi a vez de Iuri Leitão acrescentar uma prata às contas de Portugal esta quinta-feira. O ciclista português ficou no segundo lugar do omnium, no ciclismo de pista, e confirmou as previsões que o apontavam como um dos candidatos ao pódio.

Aos 26 anos, o atleta natural de Viana de Castelo teve o dia mais feliz da carreira praticamente um ano depois de se sagrar campeão do mundo, em Glasgow — cumprindo os dois “sonhos” que há três anos tinha apontado numa entrevista ao Observador. Três vezes campeão europeu de scratch e vice-campeão do mundo de eliminação em 2021 antes de chegar ao ouro no omnium em 2023, só ficou atrás do francês Benjamin Thomas, novo campeão olímpico, e superou o belga Fabio Van den Bossche, que ficou com o bronze.

O ciclista português chegou a ficar perto do ouro, mas acabou por não conseguir chegar ao francês Benjamin Thomas

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O pai tinha sido ciclista na juventude, “aos 15 ou 16 anos”, mas não foi por isso que tentou forçar a paixão pelo ciclismo no filho. Essa nasceria de forma natural e gradual, sendo que no início da adolescência já Iuri Leitão sabia que queria fazer carreira num desporto que de certa forma já tinha no sangue. Aos 26 anos, o atleta de Viana do Castelo chegava aos Jogos Olímpicos já com várias medalhas no currículo — mas nenhuma tão importante como a prata conquistada esta quinta-feira em Paris.

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Apesar das boas prestações enquanto sprinter na estrada, depressa se percebeu que seria no ciclismo de pista que a carreira de Iuri Leitão iria tornar-se mais mediática, relevante e bem sucedida. Depois de ter sido vice-campeão do mundo de eliminação em 2021, em Roubaix, assumiu-se como um dos principais nomes da modalidade a nível internacional e somou títulos: foi campeão europeu de scratch em 2022 e já em 2024, depois de já o ter sido em 2020, e em 2023 sagrou-se mesmo campeão mundial de omnium em Glasgow em agosto do ano passado.

Ciclista Iúri Leitão conquista inédito terceiro título europeu de scratch

A ainda curta e já bem sucedida carreira, apesar da juventude do atleta, começou com este ainda ainda muito criança, “aos seis anos”, explicou o próprio ciclista ao Observador em 2021. Mais uma vez, o pai nem sequer insistiu — até porque foi enganado. “Um dos amigos do meu pai da altura do ciclismo, que viria a ser diretor da equipa da minha terra [Escola de Ciclismo Santa Marta], o Vítor Pedreira, que acabou por ser meu mentor, inventou uma desculpa. Disse ao meu pai, que acreditou no amigo, claro, que ia haver um evento na paróquia. Quando o meu pai chegou para me ir buscar já lá estavam os papéis para eu ser federado e eu a treinar, a fazer uma gincana”, explicou. “Eu era novo demais para saber o que queria e o meu pai nunca me quis impingir. Depois fui-me apaixonando pelo ciclismo”, acrescentou.

O pai tinha sido ciclista na juventude, "aos 15 ou 16 anos", mas não foi por isso que tentou forçar a paixão pelo ciclismo no filho. Essa nasceria de forma natural e gradual, sendo que no início da adolescência já Iuri Leitão sabia que queria fazer carreira num desporto que de certa forma já tinha no sangue.

Sobre a modalidade, desde cedo que apresentou “espírito competitivo”, levando as coisas “muito a sério e sempre com a ambição de ser dos melhores”. “Na escola já tentava fazer os melhores tempos e etc, com o passar do tempo fui-me tornando mais profissional e passei a levar o ciclismo ainda mais a sério. Aos 13 ou 14 anos já sabia que era o que eu queria fazer da minha vida. Por volta de 2011 dediquei-me mesmo a sério2, declarou, admitindo que “a altura mais complicada foi o secundário, porque era difícil conciliar”.

[Já saiu o segundo episódio de “Um rei na boca do Inferno”, o novo podcast Plus do Observador que conta a história de como os nazis tinham um plano para raptar em Portugal, em julho de 1940, o rei inglês que abdicou do trono por amor. Pode ouvir aqui, no Observador, e também na Apple Podcasts, no Spotify e no YouTube. Também pode ouvir aqui o primeiro episódio. ]

“Mas acontecia comigo e com os adversários, portanto era igual para todos. Foi difícil, mas com força de vontade consegui”, frisou. Em 2017, quando terminou o 12.º ano, Iuri estava na equipa Miranda-Mortágua, onde chegou depois de ter passado pelo Clube de Ciclismo da Bairrada. Após dois anos no Sicasal e um ano no Froiz [Espanha], terminou o primeiro ano de profissional na Tavfer-Measindot-Mortágua.

Mas não só da pista vive a carreira do jovem de Viana do Castelo, que alterna, como tantos, com a vida no ciclismo de estrada, onde começou: “Na altura não existia nenhum velódromo em Portugal, mas eu via na televisão o que os grandes sprinters faziam. Quando fui para o Clube de Ciclismo da Bairrada, onde o velódromo foi construido [em Anadia] comecei a treinar e a competir. Não tive logo sucesso e competi em Sub-23 com apoio dos meus pais, quase como um hobby ou uma paixão. Ia sozinho e tinha de organizar-me. Em 2019 cheguei à seleção. Viram potencial em mim”. Iuri Leitão refere ainda que a preparação entre a estrada e a pista “é bastante parecida”, apesar de “existirem adaptações e trabalho específico de força e velocidade que a pista exige”.

Com apenas seis anos, nos primeiros tempos que passou em cima da bicicleta

“É 95% igual à preparação da estrada. Mas olhando o calendário, falando com a equipa e tendo tudo muito organizado é possível fazer as duas vertentes”, explicou, acrescentando que gosta “igualmente” das duas superfícies: “Não conseguia fazer uma sem a outra, são as duas grandes paixões da minha vida”.

Iúri Leitão medalha de ouro no olímpico omnium dos Mundiais de Ciclismo

Iuri Leitão admite que o ano de 2020 deu um grande boost na sua carreira, provavelmente fazendo com que as recentes conquistas sejam ainda mais reconhecidas, mas lembra que não foram tempos nada fáceis, porque não se sabia bem o que ia acontecer ao certo no mundo do desporto devido à Covid-19.

“Foi estranho e atípico. Não tivemos calendário nenhum, basicamente, com duas ou três corridas de estrada. Depois ficamos sem currículo, ninguém nos quer contratar e este ano [2021] nem sabia se ia competir, porque não tive oportunidade de mostrar o meu valor. Foi trabalhar para não sei bem o quê. Não havia datas para o Campeonato da Europa, nem sabia muito bem para o que estava a trabalhar. Mas foi que acabou por catapultar a minha carreira”, garantiu, sobre o que alcançou no Europeu de 2020.

"Quando fui para o Clube de Ciclismo da Bairrada, onde o velódromo foi construido [em Anadia] comecei a treinar e a competir. Não tive logo sucesso e competi em Sub-23 com apoio dos meus pais, quase como um hobby ou uma paixão. Ia sozinho e tinha de organizar-me. Em 2019 cheguei à seleção. Viram potencial em mim".
Iuri Leitão

A nível mental as coisas foram “difíceis”, mas o “apoio em casa”, não só da sua “família próxima”, mas também da “namorada e da família dela”, ajudou. “Nunca deixaram que faltasse motivação e o selecionador sempre disse que podíamos fazer bons campeonatos apesar do que estava a acontecer”, explicou. Fisicamente, Iuri Leitão referiu que “foi uma experiência nova”, até porque “não sabia as datas ou sequer se ia acontecer”.

“Mas fui-me preparando da melhor forma, para tentar estar cada vez melhor e, se houvesse um esboço para os Europeus, estaríamos prontos. Houve três ou quatro datas e velódromos mas continuámos a trabalhar, evoluir e chegámos em boas condições. Era para ser no verão de 2020 em Portugal e foi no final de outubro, em Itália. Houve mais espaço para me preparar e acabou por ser bom para mim a nível físico”, disse, ainda sobre as conquistas de 2020.

No embalo de um estranho, mas bom, 2020, Iuri acelerou para mais uns quantos excelentes resultados. Além do tal segundo lugar do pódio no Mundial, o Europeu, que se disputou poucas semanas antes em Grenchen, na Suíça, viu o português fazer segundo na prova por pontos e conquistar o bronze na prova de madison, com Rui Oliveira.

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Logo depois de conquistar a medalha de prata, a celebrar com a equipa técnica portuguesa

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“Fiz a preparação para os Campeonatos da Europa e do Mundo ainda sem terem data. Depois da época de estrada, em agosto, preparei-me a 100% para o Europeu e Mundial, mas não sabia bem até onde queria chegar. Foi treinar da melhor forma, descansar, alimentar-me, com a consciência tranquila de que tinha feito tudo. O objetivo era chegar ao meio da tabela [12 primeiros]. Era o nosso segundo Campeonato do Mundo e ficar em décimo ou 12.º já era um ponto de partida ambicioso. Mas sair de uma prova olímpica com um quarto lugar e depois conseguir um segundo…”, confessou. Sobre o que significa para ele o resultado, mais cautela no discurso: “Ainda não sei bem. Mas ver os adversários que tive e ter alcançado algo tão bom é mais motivação para continuar”.

Sobre o reconhecimento que os atletas têm em Portugal, explicou que o que sente é que todos acham que não fazem “mais do que a sua obrigação”, na medida em que têm trazido medalhas de forma contínua. Ser recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, é algo que, neste caso felizmente, já não faz sentido para o jovem de Viana do Castelo.

“Acho que já não faz sentido sermos recebidos pelo Presidente da República porque estamos só a manter resultados, não estamos a fazer novidades. São medalhas que chegam consecutivamente. O reconhecimento é sempre bom para nós e sinto que somos reconhecidos pelo nosso trabalho. Ainda não existe muita tradição no ciclismo de pista e não havia o reconhecimento devido porque achavam que era fácil. Mas hoje em dia vemos que os grandes atletas de pista são exemplos na estrada e é impossível ignorar isso. Não é qualquer um que faz o que fazemos e conciliar a pista com a estrada. Nas férias estamos a preparar os Campeonatos do Mundo e da Europa. Mas a nossa época é mesmo assim”, frisou.

Sobre o reconhecimento que os atletas têm em Portugal, explicou que o que sente é que todos acham que não fazem "mais do que a sua obrigação", na medida em que têm trazido medalhas de forma contínua. Ser recebido por Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo, é algo que, neste caso felizmente, já não faz sentido para o jovem de Viana do Castelo.

E, no seguimento da conversa, chegados aos resultados nacionais, ficavam as questões sobre o ciclismo de pista em Portugal. Para Iuri, ainda estão bastantes coisas em falha, mas a culpa (muito entre aspas) é dos atletas, que conseguiram os resultados antes dos investimentos.

“Falta muita coisa. A pista é recente, o velódromo é de 2009 e em 2013 surge a primeira medalha. Agora temos 51. A modalidade evoluiu demasiado rápido e os apoios não acompanharam. Falta muita coisa de que precisamos a nível logístico, staff, apoios e tudo o que envolve preparar uma competição. O que muitas seleções têm e que a nós nos falta. A nossa história é muito curta. Há países que competem há décadas e nós temos alguns anos, mas com o tempo isso vai-se resolver. As pessoas vão começar a olhar para a pista de outra forma, porque somos cada vez mais uma potência mundial no ciclismo de pista. Somos uma seleção em crescendo e vão começar a olhar para nós”, explicou.

E continuou: “Geralmente temos investimento e depois resultados. Nós temos resultados e faltam os investimentos. O selecionador Gabriel Mendes começou no ciclismo de pista sem saber nada, aprendeu, evoluiu e hoje em dia tem uma das seleções mais capazes da Europa e do mundo. Ele organiza, desdobra-se e faz de nós quem nós somos. Leva tudo às costas, mesmo sem condições. Falta tudo e mais alguma coisa e ele dá a volta ao texto”.

Iuri Leitão também compete no ciclismo de estrada, pelos espanhóis da Caja Rural

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Em 2021, acabado de assinar pelos espanhóis da Caja Rural, Iuri Leitão tinha objetivos muito claros. “Os sonhos de qualquer ciclista são dois: estar nos Jogos Olímpicos e ser campeão do mundo. Se um dia conseguisse cumprir os dois, ou até um, seria muito bom”, disse ao Observador. Três anos depois, já alcançou ambos.

E estes objetivos surgiram ao ver os ídolos durante a infância. Neste caso “os grandes ciclistas” como Alberto Contador, “pela determinação e maneira de contribuir, porque nunca desistia mesmo que o cenário não fosse favorável”, Mark Cavendish e Tony Martin, que “foram dominadores” e que o português tanto admirou enquanto jovem ciclista a olhar para o topo.

Paris2024. Paulinho acredita que Iúri Leitão tem “grandes hipóteses” de suceder-lhe

Tal como Cavendish, Iuri Leitão é sprinter na estrada, explicando ao Observador que não é o ciclismo de pista que ajuda a estrada, mas o inverso: “Eu nasci sprinter. É uma característica inata. Pode ser trabalhada, mas é essa característica, mais a velocidade e a explosão, que me fizeram adaptar bem à pista”.

Com a medalha de prata alcançada nos Jogos Olímpicos de Paris, Iuri Leitão tornou-se o segundo medalhado olímpico do ciclismo português, o primeiro em pista. E o outro medalhado até esta quinta-feira, Sérgio Paulinho, já tinha antecipado este cenário. “Tem grandes hipóteses. Já demonstrou isso e tem vindo a demonstrar nos últimos anos. Acho que temos grandes hipóteses de fazer um feito histórico na pista nestes Jogos Olímpicos”, disse o antigo ciclista, prata na prova de estrada em Atenas 2004. E tinha razão.

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