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Representantes de 33 casas reais, mais de 1.500 convidados e uma multidão de curiosos para ver os noivos. Em 18 de março de 1995, pela primeira vez desde 1906, quando Afonso XIII, avô do rei emérito, se casou com Victoria Eugenia de Battemberg, Espanha celebrava uma boda real. Elena, a filha mais velha dos então monarcas Juan Carlos e Sofia, chegava à catedral para trocar votos e alianças com Jaime de Marichalar, e do príncipe Carlos a D. Duarte, a Europa em peso desaguava na Andaluzia para um evento que encheu a cidade e as páginas das revistas. “Sevilha inteira saiu às ruas e vestiu as suas melhores roupas. Não havia varanda na qual não se pendurasse um xaile de Manila, uma bandeira espanhola ou uma grinalda. Nas ruas, sevilhanas, palmas, arte, cor e gritos de ‘lindo, lindo’ para a infanta. Houve folia, luz, cor e ritmo que só os andaluzes são capazes de organizar. A soberba Giralda, emblema da cidade, decorada como nunca antes vista, mais de sete quilómetros de ruas cheias de grinaldas e bandeiras com os perfis dos noivos, vermelhos e amarelos, brancos e azuis…”, escrevia a Hola.
Tão espectacular quanto simples, o desenho do designer sevilhano radicado em Madrid Petro Valverde fora guardado com zelo até ao grande dia. Se a longa cauda de quatro metros fascinou, também um véu carregado de simbolismo, já usado pela rainha Sofia, e pela avó da noiva, Federica. Nos acessórios, reinou a simplicidade. Um pescoço livre e dois longos brincos de pérola nas orelhas, da sua mãe. Em outro branco e diamantes, a tiara Marichalar fora um presente da sogra. Já a pulseira pertencera à infanta Isabel, filha da rainha Isabel II (1830-1904). Pequenas rosas champanhe, lilases brancos e flores naturais da região escolhidas pela mãe do noivo completavam o bouquet criado pela Búcaro. A escolha da capital andaluz homenageava ainda a avó paterna, a condessa de Barcelona María de las Mercedes, grande aficionada de Sevilha, tal como a própria noiva. No interior do templo, não faltaram pequenas histórias como o breve desmaio da maiorquina e farol de elegância Rosario Nadal.
Do primeiro bebé em 30 anos na Zarzuela à “cessação temporária de convivência” e uma capa polémica
Foi numa charrete do século XVIII que os recém-casados abriram caminho entre a multidão, para um roteiro pela cidade com direito a paragem na paróquia de El Salvador, onde repousam os restos mortais dos bisavós da infanta, Carlos de Borbón e María Luisa de Orleans, e onde a noiva depositou o seu ramo. Depois da cerimónia, um banquete oferecido pelo restaurador Rafael Juliá, servido no pátio da Montería do Real Alcazar, para um festim de robalo do Mar Cantábrico, trufas e amêndoas, perdiz vermelha com molho castelhano, regado a brancos de Rueda, tintos de Rioja e cava catalão.
Consumado o enlace, os duques fixaram-se em Paris, onde Jaime trabalhava na empresa financeira Credit Suisse. Dois anos mais tarde, instalaram-se em Madrid, capital que viu nascer os seus dois filhos. Em 1998, Felipe Juan Froilán protagonizava o primeiro nascimento na Zarzuela em 30 anos, e 86 anos depois de Maria Teresa, filha de Afonso XII e Maria Cristina de Habsburgo, ter a infanta Pilar, uma infanta voltava a dar à luz em Espanha.
Para a história passou o comentário nervoso e a quente de Marichalar após o nascimento do filho, “Coitado, é igual à mãe”, para logo corrigir a deixa. “Ele é idêntico à mãe, graças a Deus”. Dois anos depois, ao anunciar o nascimento da filha Victoria Federica recuperou aquele momento, agora com cautelas redobradas. “Mais uma vez e graças a Deus, é parecida com a mãe”.
Mas com os primeiros passos no novo milénio, os motivos para sorrir pareciam definhar. A distância que os separava foi crescendo, a faísca que pouco ou nada lá terá estado, apagava-se de vez, e a popularidade que a boda trouxera também se esfumava. Os rumores de afastamento, esses, cresciam.
A notícia do divórcio, conhecida em 25 de novembro de 2009, não caiu propriamente como uma bomba. De resto, dois anos antes, em 13 de novembro de 2007, a Casa Real anunciava a “cessação temporária de convivência dos duques de Lugo”, sem que Zarzuela adiantasse mais pormenores – nem eram necessários, já que as entrelinhas daquele eufemismo soavam demasiado estridentes. Uns meses depois, a infanta gozava as primeiras férias sem o marido, fotografada a esquiar em Baqueira-Beret.
Em setembro de 2008, já se especulava sobre o mais que provável cenário de um “divórcio de Estado”, discutiam-se custódias, e avançavam-se as movimentações que decorriam nos principais escritórios de advogados, a braços com o caso. Ao contrário de inesperados futuros desfechos no seio do clã real, os caminhos de Marichalar e da primogénita a quem se negou o trono de Espanha por tradição divergiam de forma pacífica, sem enganos bombásticos, antes a evidência de um motivo clássico: diferenças irreconciliáveis. Despachou-se sem grande escândalo e de forma imediata, “de mútuo e comum acordo”, esclarecia o comunicado assinado pelos advogados das partes, Jesús Sánchez Lambás e Cristina Peña. O acordo firmado previa ainda uma “interlocução fluída em tudo o que envolvesse o interesse comum dos filhos” e sublinhava o “afeto e consideração” que Jaime de Marichalar mantinha pela infanta. Entredentes, no entanto, alvitrava-se que não se suportavam.
Uma relação que nos últimos anos se deteriora ainda mais por circunstâncias de saúde, a que se somavam máculas que ensombravam a coroa. Em dezembro de 2001, Jaime sofria um acidente vascular cerebral enquanto praticava exercício numa bicicleta estática num ginásio de Madrid. Esteve internado até janeiro do ano seguinte, e alguns meses depois, sentiu-se mal no avião rumo a Paris em que seguia com Felipe de Espanha, para assistir à final de ténis do torneio de Roland Garros que se disputou entre os espanhóis Albert Costa e Juan Carlos Ferrero. O voo da Iberia inverteu a marcha, regressou a Madrid, e Marichalar foi conduzido de ambulância para o hospital, acusando uma “crise isolada em relação à lesão que sofreu no passado mês de Dezembro”, contava então a Casa Real.
Foi em Nova Iorque, ao cuidado do cardiologista Valentín Fuster que Jaime seguiu a recuperação a partir de outubro de 2002, com a infanta a adiar o divórcio e acompanhar a reabilitação do marido ao longo de onze meses. Curiosamente, foi uma homenagem ao mesmo médico, em fevereiro de 2020, que reabriria as portas do palácio El Pardo ao antigo duque. As sequelas físicas, essas, arrastam-se até hoje.
Em 2008, a extinta revista Epoca reavivava más memórias e fazia capa com Marichalar, associando-o ao consumo de cocaína. Um estrondo de primeira página que acelerava o processo de separação cada vez mais iminente, defendendo que a outrora noiva tivesse invocado aquele motivo como forma a justificar o pedido de anulação canónica. A publicação surgia ainda no rescaldo de outro acontecimento infeliz. Chegara a ser anunciada uma terceira gravidez de Elena, que não chegou ao fim.
Quando o La Vanguardia noticiou que o casal já vivia separado, com a infanta a deixar o imóvel que Jaime comprara com a herança, e a instalar-se numa vivenda arrendada, a Casa Real foi forçada a não adiar mais o inadiável.
Uma semana antes de a declaração da separação ser tornada pública, a rainha Sofia ficava em terra para se concentrar nos netos, não seguindo, como inicialmente planeado, com o marido para a XVII cimeira Ibero-Americana. O encontro rivalizaria em mediatismo com o comunicado que a Zarzuela emitiria poucos dias depois. Em Santiago, Chile, Juan Carlos irritava-se com o antigo presidente da Venezuela Hugo Chávez e fornecia matéria-prima para a posteridade (incluindo t-shirts, toques de telemóveis e vídeos no YouTube). “Por qué no te callas?”, disparou.
Alianças, emancipação e outros divórcios na cronologia Borbón
Elena e Jaime podem ter aberto uma modesta caixa de Pandora na era moderna, mas há muito que o divórcio no núcleo duro da corte espanhola é uma realidade — provavelmente com superiores traços de polémica e agitação mediática. O ponto chave neste caso é terem protagonizado a primeira separação oficial em solo espanhol. Do outro lado da fronteira, a Lei do Divórcio foi aprovada apenas na Segunda República, vigorou entre 1932 e 1939, e só em 1981, já em democracia, foi restaurada. Não estranha por isso que Eulalia de Borbón, filha mais nova da rainha Isabel II, pioneira neste domínio, tenha precisado de sair do país há mais de um século para poder levar a sua vontade por diante.
Corria 1886 quando se casou com o primo Antonio de Orleans y Borbón, duque de Galliera, um arranjo familiar que resultou em três filhos, e que iria contra o espírito livre, culto, viajante e feminista da noiva. Em 1900, incapaz de manter uma relação infeliz, Eulália logrou ver o divórcio assinado enquanto estava em Paris, um gesto que traria pesadas consequências a nível doméstico. No trono, o seu sobrinho Afonso XIII repudiou o comportamento imoral até então inédito no seio da família real espanhola. Em 1911, proibiu mesmo a tia — que sob o pseudónimo Condessa de Ávila assinara várias obra sobre a emancipação — de entrar em Espanha, ficando o seu retorno adiado até 1922.
Ironias do destino, Afonso XIII viria a lidar com semelhantes desafios dentro da própria casa. Por duas vezes, o seu filho mais velho, Afonso de Borbón, casou-se e divorciou-se. Hemofílico, com uma saúde débil, recuperava num clínica suíça quando conheceu a primeira futura mulher. Membro da alta burguesia cubana, Edelmira Sampedro foi a primeira parceira oficial, uma plebeia filha de um industrial do açúcar, que forçou o príncipe a renunciar aos seus direitos dinásticos para trocar alianças.
Casaram-se em Lausanne, na Suíça, em 21 de junho de 1933, separando-se poucos anos depois, em 1937. Foi em Nova Iorque, depois de Edelmira o deixar, que conheceu outra jovem cubana, a modelo Martha Esther Rocafort y Altuzarra, com quem se casou em 1937 e se divorciou menos de um ano depois. Morreu num violento acidente de trânsito em 1938 em Miami, quando viajava com sua então namorada, uma artista de cabaré chamada Mildred.
O segundo dos seis filhos de Afonso XIII também lhe reservaria notícias menos desejadas. Jaime de Borbón viu-se igualmente forçado a renunciar à coroa, da qual era depositário depois do abandono do irmão, mas agora por ser surdo e mudo, e considerado inadequado pelo pai pela deficiência.
Com a República entretanto proclamada em Espanha, a posição de herdeiro no exílio passou para o seu irmão Juan, pai do rei Juan Carlos e avô do rei Felipe VI. Em 4 de março de 1935, casou-se em Roma com Emmanuella Dampierre, filha de um visconde francês e de um aristocrata italiano, com quem teve dois filhos. O divórcio seria selado em 6 de maio de 1947, na Roménia, já que em Espanha ainda estava por reconhecer legalmente. Em 3 de agosto de 1949 o infante voltaria a casar, agora com a duplamente divorciada cantora de ópera Charlotte Luise Auguste Tiedemann. Jaime morreu em 1975.
A relação discreta que começou em Paris — e o styling do marido
Nesses primeiros anos da década de 90, Elena ruma a Paris com o destino amoroso em aberto. Aos 23 anos, apaixonada pelo mundo da equitação, recuperava do fim de uma relacionamento nunca oficializado com o cavaleiro sevilhano Luis Astolfi. Para trás ficava ainda o breve romance de três meses com Cayetano Martínez de Irujo, uma relação recordada em 2019, nas suas memórias, pelo filho da duquesa de Alba, que explicou ainda o motivo da separação. “Não estava preparado para deixar um núcleo educacional tão forte quanto o meu e entrar num muito maior.”
É em França que a infanta se aproxima de um elegante economista, que conhecera em 1987 num curso de literatura francesa, e com quem se cruzara anteriormente em alguns viagens. Jaime de Marichalar, o protagonista em questão, tem uma aliada de peso para conquistar Elena, Alba Portero, amiga da infanta e primeira mulher de um dos seus irmãos, que permite a ponte com os concursos hípicos que Elena frequentava e outros roteiros de sua eleição. A companhia permanente despertou a atenção dos paparazzi, que no final de 1993 divulgavam fotos do novo casal a sair de um hotel.
O silêncio sobre o par tornou-se impossível, com Zarzuela a admitir que havia pelo menos uma amizade entre ambos. Em 26 de novembro de 1994, por fim, a imprensa espanhola dava conta do pedido oficial de casamento. “A infanta Elena e seu noivo, Jaime de Marichalar, filho do conde de Ripalda — falecido há 15 anos –, posarão hoje para os fotógrafos nos jardins do palácio da Zarzuela.” Para o evento em causa, o primeiro em que desconhecido Jaime de Marichalar y Sáenz de Tejada e Elena de Borbón e Grécia concordavam em ser fotografados como namorados, acreditaram-se mais de uma centena de jornalistas de todo o mundo, rezava o El País. Quanto ao momento em si, seria uma cerimónia restrita, estritamente familiar, realizada às quatro e meia da tarde desse dia. Do lado da noiva, além do Rei e da Rainha da Espanha, estariam presentes os irmãos, Felipe e Cristina, bem como a condessa de Barcelona e as infantas Pilar e Margarita, com suas respetivas famílias. Já o noivo fez-se acompanhar pela mãe, Concepción Sáenz de Tejada, e pelos seus cinco irmãos: Amalio, Ana, Álvaro, Luis e Ignacio Javier. A data exata e o local da boda ficaram por decidir e anunciar, mas ficou o anúncio de que aconteceria na primavera seguinte.
Implacável, depois desses registos aparentemente idílicos, o tempo terá exposto como Elena e Jaime cultivavam estilos e personalidades afinal tão distintas. Ele gostava da agitação do jet set e das festas, ela de estar em casa, de madrugar para montar a cavalo e de usar e abusar as cores da bandeira. A clivagem de mundos e modos terá estado lá desde o começo, e nesse anúncio do noivado, a poucos meses da boda, pouco se disfarçou a distância. Enquanto a futura sogra, Sofia, se mostrava entusiasta do trato do genro, a formalidade excessiva nunca terá convencido Juan Carlos, também ele o principal impulsionador do divórcio quando este se tornou uma inevitabilidade.
Rezam as línguas mais afiadas que a obsessão de Marichalar com a imagem do casal e o escrutínio público desencadeou um férreo controlo sobre a aparência da infanta. Filha de um rei, casada com um aristocrata, a descontraída Elena deveria mostrar-se, segundo o seu sofisticado parceiro, sempre impecável. Para a lenda urbana passou um comentário que a revista Mujer Hoy chegou a citar. Durante um encontro de Elena com antigas colegas de escola, algures no verão de 1995, a infanta não resistiu ao comentário quando viu uma delas com uns descontraídos ténis brancos de lona: “Dá gosto ver. Se calçar uns ténis o Jaime mata-me. Nem em casa os posso usar“.
Decisão própria ou imposição velada, certo é que o estilo da infanta apurou-se durante esses anos ainda de estado de graça na relação. Nos eventos que então enchiam as páginas das revistas, começou a ser frequente vê-la com conjuntos de duas peças ao melhor estilo Chanel, ou com uma elegante Lady Dior pela mão. Do look Lacroix (para nota máxima) que exibiu no casamento da irmã Cristina, a criações de Oscar de La Renta, Elena não esqueceu o made in spain e a inspiração nacional que aplicou às ocasiões de gala, entre leques, franjas, capas e mantilhas.
O hábito pode não fazer a infanta mas ao longo de um certo tempo inspirado (ou com a devida orientação de um fashion stylist chamado Jaime), a verdade é que disputou lugar na galeria das mais bem vestidas. Sem perder de vista o arrojo nas cores ou as combinações ousadas, nos 50 anos de casada de Isabel II e de o príncipe Filipe de Edimburgo, a infanta espanhola cruzou um conjunto amarelo com uns collants animal print. Para o batizado do terceiro filho de Marie Chantal e Pablo da Grécia, arriscou com umas meias de rede e conjunto azul bebé. No casamento de Mary Donaldson e Frederico da Dinamarca, destacou-se com a colorida alusão à tauromaquia, com uma capa Lacroix, no qual voltou a confiar para o enlace do seu irmão Felipe. De tweed e atualíssimo choker, não dececionou na boda de Beltrán Gómez Acebo e Laura Ponte. De boa memória ainda, o longo vestido preto e o apontamento laranja na pré-boda da prima Alexia da Grécia.
Entre aprumo e atrevimento, o guarda-roupa de Marichalar ter-se-á mantido mais constante que o da ex-mulher — que progressivamente foi retomando a informalidade de outros tempos. Há cerca de duas décadas, talvez fosse improvável imaginar o genro do rei a desfilar por Nova Iorque com umas calças de pele castanhas e uma estola, ou a esquiar com um fato que agradaria a Pikachu, mas Jaime protagonizou todas estas imagens que vão diretas para um álbum de estilo. Um certo setor entronizou-o como referência de estilo, outro abria a boca com a excentricidade, mas a verdade é que foi um precursor.
Que o diga a Vanity Fair espanhola, atenta à evolução do ex-duque do Lugo, desde a gravata estampada que usou no casamento à trotineta com que se deslocou pelas ruas da Madrid. Sem esquecer, claro, imagens de marca como as calças coloridas, os óculos escuros, os lenços (acessório favorito no verão e no inverno) ou os impecáveis conjuntos de três peças saídos da sua marca — quando em 2016 morreu o alfaiate Antonio Díaz, o dandi Marichalar fundou a empresa de alfaiataria B Corner, com Federico Zonolla e Goyo Fernández. “A elegância não tem nada a ver com a roupa que vestimos, é uma atitude.”, sublinhava àquela revista.
Um “festival de fracasso” e a vida depois do divórcio
Em janeiro de 2022, a capa da revista Lecturas expunha nova brecha nas relações do clã real. Enquanto a infanta Cristina seguia a sua vida na Suíça, o marido Iñaki Urdangarin era fotografado de mãos dadas com outra mulher na praia francesa de Bidart, assim destapava a conhecida jornalista do social Pilar Eyre. O jornal catalão El Nacional resumia de forma contundente a sina familiar. “Os casamentos dos Borbón são frios. Apenas um parece ter resistido aos casos extra conjugais, o do Rei Felipe e da Rainha Letizia. O resto é um festival de fracasso: o de Juan Carlos e Sofia, de Elena e Jaime de Marichalar e agora de Cristina e Iñaki Urdangarin.” E mesmo assim, nos tempos vindouros não faltariam achas atiradas para essa fogueira de quem ocupa o trono, com os monarcas espanhóis a serem alvo de regular especulação.
Mas em 21 de janeiro de 2010, quando Elena e Jaime consumaram oficialmente o divórcio, a história que ainda haveria de assistir a outra grande boda, a de Felipe e Letizia, jamais suporia nova agitação. Recuando ainda mais, não são por acaso os panos quentes que se haviam colocado sobre aquele anúncio de “cessação temporária” de convivência. Por essa altura, ainda as aparências dominavam a rotina no clã real e estava por vir a retirada de cena de Juan Carlos, tingida por novo escândalo.O ressurgir dos affairs de outros tempos, a nova vida nos Emirados (à qual se juntaria o neto Froilán), o afastamento em definitivo com a mulher, rapidamente tornaram o divórcio da primogénita num inocente episódio.
Se a despedida de Zarzuela lhe terá fechado várias portas, Marichalar, que perdera o título real de duque do Lugo, passando a ser tratado por “sua excelência”, manteve-se irrepreensível no pós-divórcio, dispensando entrevistas controversas na imprensa. Em contrapartida, em 2017, um dos irmãos, Alvaro, interrompia o pacto de silêncio.
O estilo apurado e gosto pela moda tornaram-no cada vez mais assíduo do círculo restrito do amigo Bernard Arnauldt e do grupo de luxo LVMH, sendo presença constante nas filas da frente de desfiles e eventos na capital francesa. De tal forma que o outrora duque de Lugo era agora conhecido como “duque de luxo”.
Quanto a Elena, depois da separação focou-se cada vez mais no seu trabalho como diretora de projetos culturais e sociais da fundação Mapfre, cargo que assumiu em 2008, a troco de 200 mil euros anuais. Em 2013, em entrevista à agência EFE, as cinco décadas de vida eram pretexto para uma entrevista de balanço, na qual confessava que a separação fora “uma decisão difícil”, e afastava perguntas incómodas — o ano trouxera perturbação provocada pelo caso Noós, de cujos estilhaços as infantas não escapavam, com a implicação do seu secretário, Carlos García Revenga.
Mas em 2014, superado o divórcio, a filha mais velha de Juan Carlos e Sofia afirmava-se como “uma marca branca da Zarzuela, uma imagem que não se deixava contaminar pelo exterior, e uma mediadora na complicada convivência familiar“, escrevia o El País.
A mais Borbón dos três irmãos, que admite ter escutado críticas quando rompeu com uma das regras não escritas da monarquia, voltara a caminhar pelas ruas do bairro de Salamanca, a fazer compras na Zara, a andar de bicicleta no parque de El Retiro, e a desfrutar da companhia da grande amiga Rita Allende Salazar. Ao longo dos anos, os fotógrafos bem tentaram apanhá-la junto de companhia masculina, mas tirando o reatar da relação de amizade com Luis Astolfi, entretanto divorciado, nunca lhes serviu material digno dos cliques.
Ao longo dos anos, Jaime e Elena sempre mantiveram contacto, coincidindo como pais na generalidade dos momentos partilhados pelos filhos. Em 2014, mostrou-se ao lado do ex-marido quando Jaime chorou a morte da mãe. De forma geral, o lugar que o ex-marido veio ocupando após o divórcio é quase sempre reservado. Chegados a 2018, a “rutura total com Zarzuela” consolidava-se, com um “apagamento” que se foi oficializando a partir de 2010 — em fevereiro desse ano o seu nome era retirado do site da Casa Real e o eclipse estendia-se até ao Museu da Cera.
Nos últimos anos, é sobretudo a prole que os que tem recolocado sob os holofotes. Em outubro de 2012, o Tribunal de 1ª Instância arquivava um processo contra o casal por causa do tiro que o filho Froilán, que durante os primeiros sete anos de vida foi futuro rei de Espanha, deu no pé. Nos anos que se seguiriam, voltou aos títulos dos jornais e raramente pelo melhores motivos.
Não menos mediática, Victoria Federica, a sobrinha influencer do rei Felipe VI, deixou os estudos e é presença assídua nas redes sociais, eventos e páginas de revista.
Se durante o seu casamento foi a infanta Elena quem acompanhou Marichalar nos desfiles das principais semanas da Moda, após esse divórcio esse papel veio a ser progressivamente ocupado pela filha do casal. No podcast de Vicky Martín Berrocal, Victoria admitiu mesmo que o pai foi o grande impulsionador do seu amor pela moda. Terá sido também ele o maior entusiasta da sua participação no popular programa televisivo ‘El Hormiguero’, uma decisão que causou incómodo na Casa Real. Já em março de 2019, o pai vinha excecionalmente a público negar que Victoria tivesse estado num encontro do partido VOX.
À varanda de casa, para se juntar ao apoio popular durante a pandemia, ou numa praça de touros, Elena, que em agosto passava umas férias na Madeira, prescinde dos flashes — mas não teme o assédio das câmaras sempre que se proporciona um reencontro com o pai, que tem regressado a Espanha em condições excecionais ao longo dos últimos anos. Os festejos do 60.º aniversário da infanta, em dezembro de 2023, concentraram a família — e a velha Espanha — num restaurante madrileno. Veremos o que reserva o próximo mês.