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O pimeiro-ministro António Costa (D) recebe o novo líder do PSD, Luís Montenegro, tendo na agenda a prazo um eventual acordo para a construção do novo aeroporto da região de Lisboa durante um encontro da residência oficial do primeiro-ministro, Lisboa, 22 de julho de 2022. JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
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Os destino de Luís Montenegro e António Costa podem estar dependentes das europeias

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Os destino de Luís Montenegro e António Costa podem estar dependentes das europeias

JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Europeias. Costa refreia Marcelo, Montenegro testa discursos para o dia seguinte

Primeiro-ministro vai desdramatizando eventual derrota nas europeias para evitar leituras nacionais do resultado. Líder do PSD só pensa na vitória, mas concorrentes à direita podem estragar festa.

As europeias de maio de 2024 já mexem. Esta semana, António Costa foi ao baú e recordou que, mesmo quando perderam eleições europeias, os partidos que estavam no Governo não caíram. O “pessimista” Marcelo Rebelo de Sousa não lhe ficou atrás e recordou ao “otimista” Costa que depois da derrota de Cavaco Silva nas europeias de 1994, a “maioria continuou de pé”, mas já estava “morta”. Pelo meio, Luís Montenegro tenta por tudo ser ele a dar o golpe de misericórdia ao PS — se falhar, arrisca-se a ser apeado sem dó, nem piedade.

Dentro de um ano as peças políticas deverão começar a rolar nesse tabuleiro, com as europeias a surgirem entre maio e junho. Por agora, instalado numa sala do palacete de São Bento, durante a entrevista à RTP, António Costa vai misturando cargos e desejando que o PS ganhe esse combate eleitoral. “Não sei se como primeiro-ministro posso dizer isto, mas espero que o meu partido ganhe“. O socialista afirmou-o para negar qualquer tentativa de baixar expectativas, já que imediatamente antes tinha falado na raridade que é ser o partido no poder a ganhar Europeias.

Não foram três, como Costa disse, mas sim quatro as vezes em que isso aconteceu (1987, 89, 99 e 2014). De qualquer forma, a memória tinha um objetivo muito prático para o PS: avisar o Presidente da República que nessa noite não haverá nenhuma conclusão a tirar. “Está a dizer a Marcelo que não depende dela a convocação de eleições”, atira um socialista em conversa com o Observador. “Não é por causa de um mau resultado que se vai dissolver a Assembleia da República, era o que faltava”, acrescenta um deputado.

“O Presidente da República foi muito claro sobre a necessidade de estabilidade política”, responde um alto dirigente do PS, recordando as declarações de Marcelo anteriores à entrevista de António Costa. O Presidente da República tinha afastado, como sempre tem feito, a dissolução como recurso “no quadro atual da guerra, da crise económica e financeira, da situação existente com uma maioria absoluta eleita em eleições ainda não há um ano”.

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No PS, existe mesmo quem pense que a situação económica vai melhorar até lá e que o sentimento económico e a perceção da melhoria das condições que serão a chave das eleições. “O PS pode ganhar as europeias, não é normal, mas pode”, refere um deputado socialista ao Observado. “O ciclo económico é que vai definir tudo”, acrescenta a mesma fonte.

A frase de António Costa é, por isso mesmo, vista como “normal“. “É um líder que não se sente em posição ameaçada. A esta distância só poderia dizer isso, a menos que estivesse em desespero“, analisa um outro dirigente do partido ao Observador. “Por que motivo havia ele de contribuir para transformar as europeias num barómetro? Tem mais é de baixar expectativas”, completa a mesma fonte.

Outra fonte socialista acredita que o voto nas europeias “é mais libertário” e que”o partido que está no Governo tem maior tendência para perder eleições, que são aproveitadas para mostrar descontentamento, mas partindo do pressuposto que isso não tem um custo direto”. “É uma expressão de irritação sem consequências políticas no Governo do país”, resume.

"Os sociais-democratas acreditam que vão conseguir estancar essa fuga roubando eurodeputados aos socialistas. E vão fazendo fé na conjugação de outros fenómenos: CDU, CDS e PAN desaparecem, o Bloco de Esquerda fica reduzido a um eleito"

O poucochinho de Costa

A leitura nacional do resultado dessas eleições é sempre driblada pelos políticos durante o trajeto, mas, na meta da noite eleitoral, ela surge sempre à tona. António José Seguro que o diga a António Costa e ao demolidor “poucochinho” com que, em 2014, o então presidente da Câmara de Lisboa o brindou perante uma vitória do PS nas europeias — espoletando a disputa da liderança do partido. Para Costa, uma coisa é provocar uma crise interna na sequência de um mau resultado para o Parlamento Europeu, outra é que isso provoque uma crise no governo. Sobretudo se for o seu Governo.

Na verdade, por esta altura, em 2014, António Costa já avisava que estava em modo de pressão alta. “Diz-se que por um se ganha e por um se perde. É verdade, no futebol é assim. Na política não é assim. Faz muita diferença. É que quem ganha por poucochinho é capaz de poucochinho. E o que nós temos de fazer não é poucochinho. O que nós temos de fazer é uma grande mudança“, dizia o socialista. Na noite eleitoral, acabou por só ter de aplicar a expressão aos pouco mais de 120 mil votos que o PS de Seguro tinha conseguido sobre o PSD e o CDS de Passos, Portas e os dois anos acumulados de memorando da troika.

No PS, esta leitura extra-europeias feita pelo próprio Costa em 2014 “só dá força à tese que os partidos da oposição até têm especial tendência para vencer eleições”. E que o PS nessa altura, “mesmo com o país como estava, não pediu eleições antecipadas”. “Entrou num processo de clarificação interna”, argumenta um dirigente do partido, referindo-se à disputa entre Seguro e Costa.

Marcelo recorda princípio do fim do cavaquismo

Acontece que no dia seguinte a todo esse cálculo político exposto por António Costa na RTP, Marcelo Rebelo de Sousa voltou ao ataque. As comparações com os anos 90 e o cavaquismo vão sendo inevitáveis à medida que António Costa se aproxima do tempo de governação de Aníbal Cavaco Silva. O Presidente da República foi a esse baú para fazer o paralelismo — e a resposta de Marcelo não tranquilizou socialistas.

Quando confrontado com a eventualidade de eleições antecipadas se as europeias de 2024 forem desastrosas para o partido do Governo, o Presidente da República lembrou a morte lenta que o governo de Cavaco começou a sofrer depois das europeias de 1994. “Houve uma maioria que enfrentou eleições europeias em que o seu partido perdeu e não houve dissolução do Parlamento. Mas esse maioria formalmente continuou de pé mas estava morta”, lembrou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente da República avisou, de resto, para a necessidade de “dinamismo” no Governo, ou por outras palavras, exgiu “uma maioria absoluta que não esteja morta”. Em 2024 — e ao contrário da de Cavaco, que em 1994 estava em fim de ciclo — a maioria de Costa ainda terá mais de dois anos de governação pela frente (a legislatura só acaba em outubro de 2026).

No PS, o recado foi anotado e sobretudo porque surgiu já depois da entrevista de António Costa — que parece ter produzido efeito zero nas convicções de Marcelo, que teme que o Governo possa entrar “em dissolução interna” se não “ganhar dinamismo” entretanto. Mesmo que se esforcem para dizer que uma derrota nas europeias não chega para dissolver a Assembleia, os socialistas sabem que têm de mostrar obra, sobretudo depois dos terríveis meses de instabilidade política no final e início do ano.

A mudança de agulha que o primeiro-ministro está a tentar fazer vingar é bem prova disso: em pouco tempo, juntou o partido, num comício em Viseu, para moderar o tom e tranquilizar os mais ansiosos. “Isto é uma maratona e não uma corrida de cem metros”, repetiu. Além disso, desde o início do ano que tenta contrapor às notícias de “casos e casinhos” (numa expressão que já ganhou vida própria) uma agenda de obra, com um périplo a mostrar as obras do PRR que já estão em marcha. “Estamos em estado de purificação“, graceja um socialista.

"António Costa é um líder que não se sente em posição ameaçada. A esta distância só poderia dizer isso, a menos que estivesse em desespero", analisa um dirigente do PS ao Observador. "Por que motivo havia ele de contribuir para transformar as europeias num barómetro? Tem mais é de baixar expectativas", completa a mesma fonte.

As contas difíceis de Montenegro 

O discurso de António Costa sobre as europeias animou, naturalmente, as hostes sociais-democratas. As eleições de maio de 2024 são uma espécie de pedra de toque para a liderança de Luís Montenegro. Ou dobra o cabo e convence, ou terá um desfecho precoce – para alguém que sempre criticou Rui Rio pelos fracos resultados eleitorais, perder umas europeias que lhe são entregues de bandeja, seria uma catástrofe.

Na direção do PSD, ninguém contempla, sequer, essa possibilidade. “O nosso objetivo, como é evidente, é ganhar as eleições e ter mais votos que o PS”, sintetizou esta sexta-feira a vice-presidente Margarida Balseiro Lopes, em entrevista ao Observador. Qualquer resultado que não seja a vitória será, por isso, o fim de linha para a atual direção social-democrata. “Luís Montenegro é muito livre e desprendido: o nosso objetivo é ganhar e assumirá as consequências do resultado que vier a acontecer nessas eleições”, completou a mesma Balseiro Lopes.

A questão é que há ganhar e ganhar. No núcleo duro do PSD, vai crescendo uma tese que poderá acomodar eventuais amargos de boca futuro: mesmo que os sociais-democratas mantenham (ou até percam) eurodeputados em relação a 2019 – conseguiram apenas seis –, o importante mesmo é ficar à frente dos socialistas em número de votos.

Não é, de todo, uma missão impossível, atendendo ao histórico das eleições europeias – que costumam penalizar o partido que está no poder. De todo em todo, nem os mais próximos de Montenegro ignoram o óbvio: será muito difícil segurar o partido pacificado sem um resultado de encher o olho. Resta saber se, na altura, haverá gente com vontade e devidamente organizada para tentar derrubar Luís Montenegro. “A oposição interna não existe, está morta”, sentencia um social-democrata próximo da atual direção.

Nem todos pensam assim, naturalmente. Esta sexta-feira, em entrevista ao Observador, o eurodeputado José Manuel Fernandes, figura muito influente em Bruxelas e no aparelho social-democrata deixou claro que não admite nada que não uma vitória por números redondos: em percentagem de votos e em eleitos. “O PSD não vai perder eurodeputados. Vai ganhar as eleições e aumentar o número de eurodeputados, é disso que estou convencido. Se as eleições fossem hoje, acho que seria esse o resultado. E em 2024 ainda será melhor”, cortou o social-democrata.

Ora, se as contas à vitória em número de votos não são assim tão complexas, a questão do número de eurodeputados é mais delicada. Nas últimas eleições, o PS conseguiu uns surpreendentes nove eurodeputados e o PSD ficou-se pelos seis, um resultado francamente baixo para o nível a que se habituaram os sociais-democratas. Só que o quadro político nacional mudou muito desde aí.

Desta vez, é de esperar que o mau momento de António Costa e o cansaço acumulado de oito anos de governação venha a penalizar os socialistas. O que não é necessariamente automático é que o PSD seja o partido mais beneficiado por esse desgaste. Bem pelo contrário. Pela primeira vez, Chega e Iniciativa Liberal devem conseguir eleger, e as expectativas é que, juntos, consigam entre quatro a cinco deputados juntos. Admitindo que um deles venha do CDS, que desaparecerá do mapa eleitoral europeu, os restantes lugares têm de vir de algum lado – e a sangria pode muito bem partir do próprio PSD.

Há dois elementos a confortar, de alguma forma, os dirigentes sociais-democratas. Serão as primeiras eleições nacionais em que o Chega vai apostar num candidato que não André Ventura — com tudo de imprevisível que isso tem. Da última vez que testaram alguém num círculo eleitoral relevante — autárquicas de Lisboa — o resultado foi um desastre. Correu tão mal que Nuno Graciano, candidato escolhido pessoalmente por Ventura, passou grande parte dessa campanha sozinho, sem apoio do partido.

Depois, é preciso perceber como é que a Iniciativa Liberal chega a essas mesmas eleições. A última convenção do partido, que resultou na eleição de Rui Rocha, mostrou um partido dividido em dois, com muitos problemas internos para resolver — ainda o novo líder fazia o seu discurso de aclamação e metade da sala já tinha partido em debandada. Rui Rocha tem agora pouco mais do que um ano para atingir o ponto de rebuçado.

Mesmo que o estado dos dois adversários à direitas sejam dois fatores a considerar na difícil equação do PSD, a cautela manda a que se olhem para outros elementos antes de contar com a falência de Chega e Iniciativa Liberal e dar como adquirido que os dois partidos farão verdadeira mossa. Ainda assim, os sociais-democratas acreditam que vão conseguir estancar essa fuga roubando eurodeputados aos socialistas. E vão fazendo fé na conjugação de outros fenómenos: CDU, CDS e PAN desaparecem, o Bloco de Esquerda fica reduzido a um eleito.

Ou seja, há quatro lugares para distribuir mais aqueles que o PS perderá inevitavelmente – dois a três eurodeputados. Entre o deve e o haver, Luís Montenegro cuidará de conseguir oito eurodeputados, contra os hipotéticos sete de António Costa. E começará aí, acredita-se na São Caetano, a cavalgada triunfante até às legislativas.

O calendário do PS

Enquanto os dados vão sendo lançados, a delegação dos PS no Parlamento Europeu já começou esta semana a debater “princípios e mensagens políticas” a passar na disputa eleitoral que se seguirá. Sendo que, em Portugal, o principal problema apontado pelos socialistas é a “participação eleitoral” — a primeira linha será, por isso, “intensificar a participação das pessoas”

No calendário político de António Costa, as europeias começam a desenhar-se no início do ano em que se disputam. Foi isto que, em 2014, exigiu a António José Seguro, foi isso que fez em 2019, quando trocou e transformou um ministro, Pedro Marques, num cabeça de lista. E a um ano do momento em que as peças surgirão, o tabuleiro começa já a mexer-se.

Quanto à questão política, o que tem chamado mais a atenção dos socialistas em Bruxelas é a eventualidade de uma aliança política entre o PPE (família política do PSD) e o ECR (famílias política dos populistas de direita, para o qual se antevê um crescimento nas próximas Europeias) — e já houve encontros entre Manfred Weber (líder do PPE) e Giorgia Meloni, a primeira-ministra italiana (eleita pelo partido populista de direita Fratelli d’ Italia). Lá fora, o mesmo que agitam como fantasma cá dentro.

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