O Governo decidiu que a partir deste sábado será preciso apresentar um teste negativo para almoçar ou jantar no interior de um restaurante às sextas-feiras à noite e ao fim de semana nos 60 concelhos com risco elevado ou muito elevado. E, pela primeira vez, o Governo decidiu permitir que autotestes possam ser vendidos em qualquer supermercado (e há já um aumento das vendas). Mas, afinal, quais são os testes admitidos, quanto custam e quanto tempo demora a ser conhecido o seu resultado?
O mais fidedigno e o que permite prolongar o certificado digital por mais tempo — com uma validade máxima de 72 horas — é o teste PCR. É também o mais caro: custa entre 60€ e os 105€. Este teste é realizado por vários laboratórios privados espalhados pelo país, sendo que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) pode comparticipar, ainda que isso só com a referenciação de um profissional de saúde ou da linha SNS24. O resultado pode demorar até 48 horas a chegar, mas normalmente é mais rápido.
Já no caso dos teste antigénio (que tem uma validade máxima de 48 horas), o resultado é conhecido num intervalo mais curto — entre uma a quatro horas. É menos fidedigno do que um PCR e o preço também é mais baixo — um despiste deste género, num laboratório privado, custa entre os 20€ e os 35€. Contudo, o Governo já comparticipa a 100% a realização de quatro testes por mês (pelo menos até 31 de julho, com a possibilidade de a medida ser prolongada) em 146 farmácias em todo o país. O problema é que em muitos destes locais já não estão a ser aceites mais marcações para os próximos dias. Em Lisboa, além de farmácias com comparticipação da autarquia (também com uma elevada procura) estão ainda disponíveis vários pontos móveis em que é possível fazer um teste antigénio gratuitamente.
Quase 150 farmácias realizam testes de despiste comparticipados. Saiba quais
O autoteste é o mais rápido — os resultados são conhecidos entre 15 a 30 minutos — e o mais barato. Basta uma busca nos sites das principais cadeias de supermercados para perceber que atualmente o preço destes testes varia entre os três e os seis euros. Porém, é o menos fidedigno — o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, afirmou inclusivamente esta sexta-feira, em declarações à Lusa, que os autotestes “não têm viabilidade e podem dar falsas sensações de segurança”, porque “falham bastante”.
Há duas condições para se poder mostrar um autoteste. De acordo com o decreto publicado esta sexta-feira em Diário da República, o autoteste tem de ser realizado sob vigilância de um “profissional de saúde ou da área farmacêutica” (passando a ter validade de 24 horas) ou à “porta do estabelecimento ou do espaço cuja frequência se pretende, com a supervisão dos responsáveis pelos mesmos”.
Só está dispensado de apresentar um teste quem tem a vacinação completa há 14 dias ou quem recuperou da Covid-19 até um período máximo de seis meses.
Além disso, quem quiser permanecer num espaço exterior de um restaurante, não tem de apresentar teste ou certificado. Os clientes que queiram permanecer numa esplanada, mas que precisem de se deslocar ao interior do restaurante para pagar ou ir à casa de banho também não precisam de teste ou certificado.
Clientes podem entrar em restaurantes sem teste ou certificado para pagar ou usar a casa de banho
Supermercados não garantem stock para os próximos dias
O Governo quer massificar a testagem e uma das estratégias passa pela venda de autotestes em supermercados e hipermercados — antes estava reservada a farmárcias e parafarmárcias. Ao Observador, Gonçalo Lobo Xavier, diretor-geral da APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuidores) sinaliza, contudo, que será difícil para os retalhistas conseguir dar resposta à procura de autotestes “de um dia para o outro”.
Apesar de muitos supermercados poderem demorar a ter autotestes nas prateleiras, Gonçalo Lobo Xavier garante que os retalhistas vão conseguir “dar uma resposta positiva a este desafio”, tal “como já aconteceu no passado com a venda de máscaras e de álcool gel”. “Iremos fazer um esforço para que este serviço esteja disponível”, diz o responsável.
Sobre os preços, o diretor-geral da APED diz que as margens de lucro e os preços máximos são definidos pelo Governo e assinala que a disponibilização destes equipamentos “não será um negócio”, mas antes um “serviço que a distribuição alimentar está a fazer”. “Todos os preços serão equilibrados”, sublinha.
Gonçalo Lobo Xavier diz ainda que muitas cadeias de supermercados esperam ainda por mais detalhes do Governo para saber como é que vão operacionalizar a venda de autotestes. Fonte oficial do Pingo Doce explica ao Observador que aguarda por mais “indicações específicas” para entender como deve “proceder para a comercialização dos autotestes no interior dos supermercados”.
Esta cadeia de supermercados, por exemplo, revela que já tem sentido “um aumento de procura” de autotestes nos últimos dias. O Observador também pediu uma reação ao Continente e ao grupo Auchan sobre a venda de autotestes, mas não recebeu qualquer resposta até à publicação deste artigo.
Restaurantes dizem que autotestes vão “causar o caos”. Alguns vão optar por oferecer
O setor da restauração vê a introdução do certificado digital ou de teste para aceder a restaurantes com apreensão, mas já está a planear alternativas para conseguir captar clientes — e, para alguns, a oferta de autotestes será uma forma para atingir esse fim.
Daniel Serra, presidente da Associação Nacional de Restaurantes, diz ao Observador que a “restauração recebeu muito mal esta notícia”, tendo recebido diversas queixas de associados “muito aborrecidos” — sobretudo pelo cancelamento de reservas que tinham para os próximos dias. Quanto aos autotestes, Daniel Serra defende que realizá-los à porta de um restaurante vai criar um “grande constrangimento”, principalmente numa altura de maior procura, como é “o pico de verão”. “Vai ser um caos, a operacionalização é impraticável”, antevê, acrescentando que também vai “demover uma grande quantidade pessoas de irem aos restaurantes”. Para além disso, o responsável aponta alguma incoerência às medidas, pelo facto de a ida à casa de banho ser permitida sem apresentação do certificado: “Carece realmente de uma ponderação”.
Também António Condé Pinto, presidente executivo da AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), afirma que as novas medidas vão “ser um custo e uma carga de trabalho para o setor da restauração”, mas salienta que “mais vale trabalhar do que estar a fechar às 15h30 [aos fins de semana]”. E “desaconselha vivamente” a realização de autotestes na chegada aos restaurantes. “Tratar o resíduo do teste é algo que vai ser muito complicado, não é deitar só para o caixote do lixo”, indica.
Embora não recomende o procedimento, o presidente executivo da AHRESP revela que tem conhecimento que alguns restaurantes “vão oferecer o autoteste” aos clientes e que já “estão prontos” para começar a fazê-lo. “Alguns até já compraram”, indica, recusando-se, no entanto, a dar mais detalhes ou a mencionar que estabelecimentos seguirão essa medida.
Sobre a possibilidade de se vender autotestes em restaurantes, o presidente da Associação Nacional de Restaurantes afirma que ainda não é claro: “Não sei se se poderá vender”.