O vice-presidente do CDS entrou no programa Vichyssoise, na rádio Observador, através do Skype e pouco atrapalhado com as sondagens mais recentes que dão 1% de intenções de voto no seu partido. Sondagens já houve muitas e Filipe Lobo d’Ávila recorda algumas, durante esta conversa, como quem espera que a realidade volte a superar as previsões do partido que tem hoje apenas cinco deputados na Assembleia da República. Retira peso de qualquer responsabilidade ao líder, nesta redução de apoio e diz que é tempo de cerrar fileiras para conseguir o objetivo “de um projeto alternativo de centro-direita. E um projeto alternativo ao socialismo”.

Com ou sem o Chega? A resposta nunca é clara mas deixa antever que não há reservas no CDS em alistar-se numa coligação ao lado do partido de André Ventura. Tudo em nome do tal “projeto alternativo de centro-direito” que considera urgente que o CDS integre.

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A última sondagem dá 1% ao CDS. Teme ficar na história como membro da direção que tornou o CDS irrelevante?
Respondendo diretamente à pergunta que faz, nós no CDS nos últimos anos habituámo-nos por muitas vezes a lidar com sondagens muito baixas, quer no tempo de Paulo Portas, quer no tempo de outros dirigentes do partido. Inclusivamente em eleições onde o CDS, praticamente sempre, acabou por surpreender do ponto de vista eleitoral. E, portanto, nós não podemos guiar a nossa ação política em função sondagens que vão saindo todos os dias em função de terminadas conjunturas ou de gostos. É evidente que o CDS vem de uma fase muito complicada. O CDS teve um problema de mensagem, teve e tem ainda um problema organizacional, tem um problema financeiro e pretende afirmar uma liderança nova num ano muito difícil e onde se vê confrontado com novos partidos que podem representar para algum descontentamento uma alternativa. E, desse ponto de vista, o trabalho que o CDS tem pela frente é de facto muito difícil, muito exigente.

Não acredita neste 1%, Filipe?
Eu nunca nunca acreditei no 1% que nos dão como nunca acreditei nos 2% que davam por exemplo ao Nuno Melo quando se candidatou pela primeira vez ao Parlamento Europeu e que depois acabou por ter 8%. Ou quando havia sondagens de 3 e 4% no tempo de Paulo Portas e depois acabámos por ter 12% ou 10%.

Mas tem hoje apenas 5 deputados na Assembleia da República.
Sim. É um facto indesmentível com o qual temos de lidar. É um facto que causa evidentemente muitas dificuldades na ação política do CDS. É um facto que vem de trás e para o qual todo o partido foi alertado. Houve uma descaracterização da mensagem do CDS ao longo dos anos. Eu procurei ir alertando dentro do partido, nos locais próprios. Havia a tentação de ser mais pragmático e várias vezes fui acusado de que estava a alertar para um problema de identidade que não existia, quando um dos problemas que o CDS tinha era mensagem.

Já passou mais de um ano da liderança de Francisco Rodrigues dos Santos e não está a melhorar. A culpa é de quem? Ainda é de Assunção Cristas?
Não. É evidente que há afirmação de um novo líder. É preciso dar tempo, é preciso confiar e sobretudo é preciso perceber as circunstâncias que o país atravessa e que nunca atravessou igual na nossa história democrática. Portanto, nós temos de facto um ano completamente atípico. É preciso acreditar que a mudança que o Congresso quis fazer leva o seu tempo. E desse ponto de vista, o CDS está a seguir o seu caminho, apesar de vozes mais dissonantes. Que sempre houve. Eu lido muito bem com a divergência interna, com pessoas que concordam comigo ou que discordam daquilo que eu defendo. Eu entendi que era preciso dar uma oportunidade perante um pedido de ajuda do presidente do partido que ganhou legitimamente o Congresso. Foi o Congresso do CDS que escolheu. O Congresso deu-me 15% dos votos. E perante um pedido para ajudar eu entendi que não fazia sentido continuar numa posição contrária à presidência do CDS. O CDS desceu para 4% dos votos, 5 deputados e achei que devia dar esse contributo.

E essa oportunidade tem prazo de validade?
Sou institucionalista e acho que todos os presidentes devem ter oportunidade de ir a votos. Foi assim que sempre entendi no passado, não querendo provocar quedas de ninguém. E portanto, enquanto acreditar que é possível essa mudança com Francisco Rodrigues dos Santos ele conta com a minha solidariedade total, no momento em que eu entender que esse caminho não representa a mudança que foi prometida…

Deixa-o cair?
Não é uma questão de o deixar cair. Não deixo cair ninguém. Os militantes do CDS são donos do partido. Não há nenhum notável que seja dono do CDS. O CDS é dos seus militantes e são eles que decidem em cada momento o que querem fazer.

Francisco Rodrigues dos Santos voltaria a ser ovacionado hoje como o foi há um ano no congresso?
Continuo a acreditar que o apoio que o presidente do partido tem é um apoio muito forte. Não creio que haja uma grande diferença do ponto de vista do funcionamento do Congresso relativamente há um ano. Mais do que estar preocupado com tricas, com guerras ou grupos internos, que sempre houve no CDS, e é bom que continuem a existir….

Mas uma coisa é haver pluralidade dentro do partido.  Outra coisa é estar o líder parlamentar e o líder do partido quase em conflito aberto. Não é muito normal.
Tenho um enorme respeito pelo líder parlamentar. Considero-me amigo do Telmo Correia, tenho um enorme apreço e julgo que é mesmo o melhor tribuno que temos no Parlamento. Sorte tem o CDS de ter um tribuno como CDS nas suas tropas. Ao longo da minha vida do CDS tive momentos de grande concordância e de enorme discordância com o Telmo Correia e isso não fez com que nos desrespeitássemos mutuamente e que isso significasse uma cisão dentro do partido. Pelo contrário. Isso é bom que exista.

As divergências são naturais que existam, mas conflito entre o líder parlamentar e o líder do partido na situação em que o partido está…
Calculo que esteja a falar na situação do estado de emergência.

O estado de emergência, o Benfica. Houve várias situações em que se confrontaram quase abertamente. E Telmo Correia até disse: ‘Não vou falar para não estar a perturbar o meu partido’. 
Sobre assuntos pessoais e outras atividades de cada um de nós, não faz sentido entrar por aí. Há de facto uma ligação muito forte que não é muito vantajosa entre o mundo do futebol e a política, mas seja como for, cada um sabe de si. Se olhar para os últimos líderes parlamentares não é apenas o Telmo Correia que tem uma participação futebolística. Há vários e para todos os gostos dos clubes grandes.

Incluindo a ligação de Francisco Rodrigues dos Santos.
Incluindo Francisco Rodrigues dos Santos. É transversal a todos os partidos, mas não acho que seja positivo. Eu gosto de futebol e percebo que esteja presente no nosso dia a dia.

Mas há deslealdade de Telmo Correia?
Não me parece que haja deslealdade. Bem pelo contrário. As notícias que tenho é que há conversas permanentes entre o presidente do partido e o líder parlamentar. Umas vezes estão de acordo, outras não. Umas vezes a discordância é um bocadinho mais forte, noutras não é. Isso faz parte da vida.

Admite que, no mínimo, ficou essa ideia no ar, de que não havia uma relação de proximidade entre líder do partido e líder da bancada?
Estranho seria o partido ou o grupo de parlamentar em que existisse uma total sintonia entre as pessoas diferentes, que têm currículos e experiências diferentes, têm uma visão do mundo completamente diferente. Seria estranho era se tivéssemos um partido feito de funcionários partidários em que o presidente do partido diz uma coisa que ninguém destoa.

João Gonçalves Pereira, deputado, vereador e líder do CDS/Lisboa, lançou Cecília Meireles para a corrida à liderança do partido. Acredita que a atual direção consegue aguentar até às legislativas? De acordo com o calendário, haverá eleições internas antes.
A propósito desse lançamento de figuras vi que o presidente da distrital de Lisboa até tinha lançado outros nomes uns dias antes. Portanto, não sei se depois do nome da deputada Cecília Meireles ele não lançou mais algum nome.

Isso é uma crítica a João Gonçalves Pereira.
Uns dias antes sugeriu que a solução deveria vir de Bruxelas. Dois dias depois sugeriu que a solução teria de vir de Bruxelas. Não sei. Ele próprio ainda deve estar a tentar perceber quem deverá ser. Seja como for, essa é uma pergunta que tem de lhe dirigir a ele. Estou confiante que o presidente do partido terá oportunidade de se submeter a votos, de apresentar o seu programa e de fazer o caminho que apresentou aos congressistas e pelo qual foi eleito. Desse ponto de vista não vejo que tenha existido qualquer alteração de circunstâncias para que não aconteça dessa maneira.

Admite que o CDS venha a integrar um governo a nível nacional apoiado pelo Chega? 
Aquelas pessoas que criticam o Chega, ou a IL, dentro de uma determinada linha política, nomeadamente o próprio PS, que foram os primeiros quase a rasgar as vestes a criticar o acordo parlamentar nos Açores, nós olhamos para aquilo que se passou nesta última semana e vemos que é o próprio PS que tenta chegar a acordo com o Chega para resolver uma questão orçamental séria. Desse ponto de vista temos de ser coerentes sempre porque senão, de facto, não somos credíveis, não somos confiantes. O CDS desse ponto de vista aquilo que fez foi dar expressão a uma vontade de mudança dos Açores e onde o Representante da República exigiu um compromisso parlamentar que apresentasse estabilidade. E, portanto, esse acordo com o Chega existe por causa deste compromisso com o Chega.

Esse acordo é repetível a nível nacional?
A nível nacional tenho dito que aquilo que verdadeiramente interessa ao país é um projeto alternativo de centro-direita. E um projeto alternativo ao socialismo.

Que inclui o Chega ou que não incluiu o Chega?
Mais importante se incluiu o Chega ou não. É evidente que não são da mesma direita e que o Chega tem determinadas propostas com as quais as pessoas que estão no CDS e eu próprio, a direita moderada, não se reveem. Agora, mais do que estarmos preocupados com o Chega, se há algum tipo de acordo, temos de nos preocupar se há verdadeiramente um projeto alternativo mobilizador do país de centro-direita. E isso hoje, confesso-lhe, ainda não sei se há. E, portanto, é muito importante que o centro-direita consiga [convergir]. Convergência não é coligação, não é necessariamente coligação. O CDS tem de estar provado para ir a votos sozinho e tem de mostrar que é diferente. E o CDS é diferente evidentemente do Chega. Eu não preciso estar neste momento preocupado com o Chega, para lhe ser franco. O CDS tem de se afirmar por si só.

Para percebemos se estamos a interpretar bem: não exclui que haja um acordo com o Chega num governo em que está o CDS?
A nossa prioridade tem de ser ter força no centro-direita para ter uma alternativa estável, que partilhe uma visão e projeto de país que seja conciliável entre si.

Foi candidato à liderança do CDS em janeiro deste ano. Parece longínquo, mas foi este ano. Na altura a sua moção defendia um candidato a Presidente da área política do CDS. Ainda defende isso?
Do meu ponto de vista pessoal, é claro que o melhor candidato é Marcelo Rebelo de Sousa e espero que o CDS, convictamente, decida isso quando tratar do tema em breve quando o tema for colocado nos órgãos do partido.

Mudou de ideias?
Não. Como tiveram oportunidade de ler a moção do CDS, a candidatura presidencial depende de vontade própria. Não houve nenhum candidato da área política do CDS que se apresentasse como candidato, nem nenhum dos nomes que foram colocados a circular na imprensa, nenhum dos nomes que gostaríamos que se candidatassem apresentou essa candidatura.

Marcelo Rebelo de Sousa passa a ser então o mais indicado?    
Tem um perfil institucional, de respeito pela estabilidade. Foi o garante e o pilar da estabilidade, e o pilar da Nação no momento em que o Estado falhou no caso de Pedrógão. E, portanto, do meu ponto de vista é uma pessoa com experiência, que tem mundo, que tem vida, que não representa uma aventura. Do meu ponto de vista pessoal é claramente o melhor candidato.

Vêm aí autárquicas. Em Lisboa, Francisco Rodrigues dos Santos devia dar exemplo de outros líderes no passado e candidatar-se à autarquia? 
Estas eleições autárquicas que vamos ter pela frente são absolutamente decisivas. Aquilo que eu gostaria era que houvesse uma nova dinâmica de um novo projeto de centro-direita alternativo ao socialismo. No Congresso do CDS eu disse na altura que Assunção Cristas seria a candidata ideal, eventualmente no âmbito da coligação. Mas isso depende dos partidos, depende da vontade da própria. Estamos a tempo de encontrar uma solução que seja vencedora em Lisboa.

Preferia Assunção Cristas a Francisco Rodrigues dos Santos?
Nada disso. Sou completamente contra termos um presidente que se candidata a tudo. O tempo de termos um presidente que se candidata a tudo, do meu ponto de vista, é uma fragilidade do próprio partido. Significaria que o CDS era um partido de um homem só. O CDS não é um partido de um homem só. Tem figuras alternativas do passado mais recente. Miguel Poiares Maduro apontava até Paulo Portas da área do CDS. Há alternativas vencedoras a Fernando Medina. Não nos compensa sermos terceiros ou quartos, quando temos a possibilidade de vencer Fernando Medina.

[Agora avançamos para a fase de Carne ou Peixe em que só pode selecionar uma das duas opções:] 

Preferia ser ministro num Governo liderado por Paulo Portas ou Francisco Rodrigues dos Santos?
Já fui secretário de Estado de um Governo em que era ministro Paulo Portas, não me importaria de ser colega de Governo do Francisco Rodrigues dos Santos.

Numa segunda volta das Presidenciais preferia votar em André Ventura ou Ana Gomes?
Evidentemente deixe-me dizer que aí provavelmente não votaria. Mas se fosse obrigado a escolher não votaria seguramente em Ana Gomes.

Quem escolheria para parceiro num jogo de ténis: Nuno Melo ou Telmo Correia?
Já joguei com os dois. Mas preferia Nuno Melo, com quem já joguei várias vezes.

Preferia estar num CDS liderado por Cecília Meireles ou Adolfo Mesquita Nunes?
Num CDS liderado por Francisco Rodrigues dos Santos.