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Armando Pereira foi um dos rostos da Altice quando a empresa comprou em 2015 a PT
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Armando Pereira foi um dos rostos da Altice quando a empresa comprou em 2015 a PT

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Armando Pereira foi um dos rostos da Altice quando a empresa comprou em 2015 a PT

ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA

Há uma teia de empresas com negócios com a Altice que está sob investigação

A Altice já fez saber que fará uma investigação interna. Estão sob investigação negócios de imóveis, mas também outros fornecedores, da Altice, alguns ligados ao ex-acionista Armando Pereira.

Quando em 2015 a Altice ficou com a então PT Portugal, adquirida à Oi, logo Armando Pereira entrou para o conselho de administração da operadora portuguesa como presidente (“chairman”). O cargo era não executivo. A Altice tinha em Portugal outra empresas e escolheu, mais tarde, precisamente gestores dessas operadoras (que teve de vender) — Alexandre Fonseca e João Zúquete da Silva — para entrarem nos quadros daquela que era a maior empresa de telecomunicações em Portugal.

Armando Pereira deixou a função na PT Portugal em janeiro de 2017, mas desde que a Altice ficou com a operadora logo começaram a surgir mudanças no Forum Picoas.

São alguns dos negócios feitos com a PT Portugal (comercialmente designa-se Altice Portugal) que estão sob investigação no DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal), cujo inquérito foi iniciado há três anos, e no âmbito do qual foram feitas buscas durante os últimos dois dias (quinta e sexta feira). Foram detidas três pessoas, entre os quais Armando Pereira, que estava em Portugal de férias. Armando Pereira tem morada na Suíça, mas em Portugal continua a ter um refúgio em Guilhofrei, em Vieira do Minho, distrito de Braga. A Quinta das Casas Novas, com mais de 15 hectares, foi quinta-feira alvo de buscas.

Braga é uma terra que vai ter profundas ligações nesta investigação, que já fez mais dois detidos — Jessica Antunes e Álvaro Gil Loureiro — estando as autoridades a tentar localizar um outro elemento — Hernâni Vaz Antunes.

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Armando Pereira, ex-dono da Altice, detido após buscas. Mais duas pessoas foram detidas e apreendidos bens de 20 milhões

Estes três nomes estão ligados não apenas pela terra, mas também por vários negócios que vão tendo em comum. Armando Pereira não aparece, oficialmente, ligado às empresas e mesmo na Altice, da qual foi cofundador com Patrick Drahi, já não surge associado.

Não é segredo que Armando Pereira e Hernâni Vaz Antunes têm ligações. Hernâni Vaz Antunes é considerado braço-direito de Armando Pereira. Ambos emigraram jovens. Armando Pereira para França; Hernâni Vaz Antunes para o Canadá. Bem mais tarde começaram a ter negócios conjuntos, com epicentro precisamente no distrito de Braga.

Armando Pereira. De feirante a dono da PT e da TVI

Hernâni Vaz Antunes é conhecido como o comissionista e terá estado envolvido na intermediação do negócio de compra da PT pela Altice à Oi, pelo qual, aliás, e conforme foi noticiado pelo Expresso, pediu, em tribunal, uma comissão de 69 milhões de euros. Armando Pereira testemunhou nessa ação, dando força à tese de que Hernâni Vaz Antunes era um intermediário no negócio. A providência cautelar caiu, mas a Altice estará no centro de ganhos para os dois empresários, na tese do Ministério Público.

“As suspeitas que levaram à realização das diligências indiciam a viciação do processo decisório do Grupo Altice, em sede de contratação, com práticas lesivas das próprias empresas daquele grupo e da concorrência”, segundo comunicado do DCIAP, admitindo que estes podem configurar indícios de crimes de corrupção privada.

O DCIAP aponta mais indícios, como “práticas de deslocalização fictícia da domiciliação fiscal de pessoas e de sociedades, com aproveitamento abusivo da taxação reduzida aplicada em sede de IRC na Zona Franca da Madeira”, o que pode configurar crimes de fraude fiscal qualificada. Estima-se desde já “uma vantagem ilegítima alcançada pelos suspeitos em sede fiscal” superior a 100 milhões de euros. Acresce a estes indícios eventuais crimes de branqueamento e falsificação “com a utilização de estruturas societárias constituídas no estrangeiro”.

Hernâni Vaz Antunes, que terá um mandado de detenção, ainda não foi encontrado. O empresário bracarense, cuja filha está detida para interrogatório, tem residência no Dubai, onde também tem empresas registadas. O Luxemburgo é outro dos pontos onde algumas sociedades destas ligações foram constituídas, assim como a Zona Franca da Madeira.

As vendas de imóveis da Altice

Smartdev e Almost Future são duas das empresas que compraram imóveis à Altice, e que pertenciam à antiga PT, que tinha um vasto portefólio de imóveis, nomeadamente em Lisboa. Um dos edifícios vendido — o designado edifício Sapo na Fontes Pereira de Melo — foi, conforme noticiou a Sábado em março de 2021, vendido à Smartdev, empresa sediada na Zona Franca da Madeira. O edifício terá sido comprado por 7 milhões de euros em 2020.

A Smartdev é maioritariamente detida por um dos arguidos no processo que agora levou Armando Pereira a ser detido — Álvaro Gil Loureiro, associado a Abel Barbosa. O edifício Sapo surge, nesse mesmo ano, na carteira de outra empresa que já tinha outros imóveis adquiridos à Altice. É aqui que surge a Almost Future.

Constituída em 2015 pela Kpartner, em Vila Verde (também no distrito de Braga), passou, no ano seguinte, a ter quatro novos sócios — José da Silva Pinto, Natália Rodrigues, José Maria Vieira e a Vintagepanóplia (que ainda vai ser protagonista desta história), que passou a ser a maior acionista. Todos estes elementos são de regiões do distrito de… Braga. Em 2020, a Almost Future foi convertida numa sociedade de investimento coletivo (SICAFI), gerida pela Silvip, gestora de fundos.

Antes dessa conversão houve, no entanto, a entrada na empresa de novos sócios — Hernâni Vaz Antunes e as duas filhas, Jessica Antunes e Melissa Antunes. Entraram com 200 mil euros, depois da empresa ter dado aos anteriores acionistas 900 mil euros (libertou excesso de capital). Em novembro de 2020 seria convertida em SICAFI e é já nesta qualidade que surge na sua carteira de imóveis o edifício Sapo, adquirido por esta sociedade nesse mês por 7,5 milhões de euros.

Um mês depois da transição para SICAFI, a Almost Future surge com um novo conselho de administração que tem como presidente José Maria Vieira e como vogais André de Abreu Coutada e Rui Moreira Pedroso. No conselho fiscal surge Álvaro Gil Loureiro.

É a Almost Future que surge associada a compras, diretamente à Altice, de outros edifícios. A Sábado noticiou a compra de um edifício na Estefânia e outro na Andrade Corvo, por, respetivamente, 3,7 milhões e 2,1 milhões de euros. De acordo com o relatório de 2022, a Almost Future já vendeu o da Andrade Corvo por 3,44 milhões, continuando o da Estefânia na carteira da entidade, mas com uma avaliação de 4,4 milhões de euros. A Almost Future tinha, no final de 2022, ativos avaliados em 25 milhões de euros, sendo 23,3 milhões em imóveis, segundo os relatórios consultados pelo Observador.

O Jornal de Negócios noticiou, por outro lado, em janeiro de 2019, que a Almost Future tinha comprado cinco edifícios da PT (não identificados) por 13,7 milhões de euros. Na altura, a Altice indicou ao jornal que os imóveis eram na cidade de Lisboa “essencialmente devolutos”, dizendo mais tarde à Sábado que os imóveis vendidos pela Altice tiveram em conta “preços de mercado e tendo sempre por base avaliações levadas a cabo por entidades avaliadoras independentes e credenciadas”.

No final de 2020 a Almost Future vendeu um outro imóvel, na Rua da Moeda (devoluto), que também pertencera à PT por 2,9 milhões de euros. Segundo a Sábado, foi vendido pela Almost Future à Jacques Real State, uma empresa de Braga que tinha sido constituída esse ano e que dias antes da compra viu entrar um novo sócio no seu capital — a Smartdev.

Álvaro Gil Loureiro, que estará detido, surge noutros negócios associados indiretamente a Hernâni Vaz Antunes. Há duas empresas centrais neste esquema — a Vintagepanóplia e a Vaguinfus, que têm sedes, respetivamente, na Zona Franca da Madeira e em Braga.

As duas empresas têm participações na Gomes & Novais, que também é detida por Álvaro Gil Loureiro, e na Edge Technology, na qual surgem vários outros protagonistas. Além da Vintagepanóplia e da Vaguinfus são acionistas desta tecnológica — sediada também em Braga e que, segundo o Público, entrou no rol de fornecedores da Altice — Joaquim Vaz Antunes, a Van Holding e Melissa Antunes.

A família Vaz Antunes é igualmente acionista da Vaguinfus, tal como José Silva Pinto que também tem posição na Vintagepanóplia, assim como André Abreu Coutada e Rui Manuel Pedroso. Um esquema complexo que, segundo o Público, tinha ramificações também em fornecedores de tecnologia da Altice, nomeadamente na Tnord.

O Público indicava, em julho de 2021, que a Vaguinfus era acionista da Tnord, que é agora da Altice. E também era proprietária, através da Dunas de Contraste, da portuense Tirion Portugal Works Management, que também terão sido fornecedoras da Altice. A Dunas de Contraste tinha como administrador único José da Silva Pinto que assumiu a gerência da Tirion em 2021, depois da renúncia do cargo de André Abreu Coutada. Foi também este gestor que terá estado, segundo a Sábado, na escritura de venda, pela Vintagepanóplia, de uma moradia a Alexandre Fonseca, que passou de CEO da Altice em Portugal para co-CEO do grupo a nível mundial. Uma vivenda avaliada em mais de um milhão de euros.

Fachada do edifício Altice Portugal, Lisboa, 25 de outubro de 2022. CARLOS M. ALMEIDA/LUSA

A Altice adquiriu a Portugal Telecom em 2015

CARLOS M. ALMEIDA/LUSA

O epicentro de Braga, com vários protagonistas em papéis cruzados, levou agora às buscas que já fizeram três detidos e que serão este sábado presentes a juiz para interrogatório. Os negócios envolvendo a Altice estão a ser investigados e o Nascer do Sol ainda fala de uma outra operação — a compra dos direitos televisivos do FC Porto pela Altice e que terá tido Bruno Macedo como intermediário, alegadamente a troco de uma comissão, com a promessa de a distribuir por mais duas pessoas, uma delas Hernâni Vaz Antunes, noticiou em novembro de 2021 a Sábado.

Os jogos dos grandes. Quem fez o melhor negócio?

Estando a Altice no centro desta investigação, a operadora já fez saber que iniciou uma investigação interna relacionada com os processos de compra e a aquisição e venda de imóveis. Além disso, determinou às empresas participadas que suspendam pagamentos às sociedades visadas pela investigação (não referindo quais), suspendam qualquer nova compra a essas entidades e que reforcem os procedimentos de aprovação dentro do grupo em qualquer aquisição.

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