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TREVOR SAMSON/AFP/Getty Images

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Herói ou sanguinário? Savimbi vai ser enterrado, mas a discussão sobre o seu legado não desapareceu

O funeral do ex-líder da UNITA acontece este sábado, 17 anos depois da sua morte. O evento atrai milhares de pessoas e pôs o país a discutir a figura de um homem tão carismático quanto sanguinário.

Jonas Savimbi tinha a cabeça ligeiramente caída para a esquerda quando o seu cadáver foi apresentado a todo o mundo, como prova da sua morte.  Ali, com a farda militar suja, provavelmente de sangue, parecia um homem miserável e não a figura que tanto cativou uns e repudiou outros em Angola e fora dela. Com as calças desabotoadas, o que lhe deixava os boxers à mostra, o corpo do líder da UNITA tornou-se num festim para as moscas, cravejado pelas 15 balas que lhe tiraram a vida e que acabaram por levar ao fim definitivo da guerra civil em Angola.

A emboscada que ditou o fim de Jonas Savimbi foi a 22 de fevereiro de 2002. Dois dias mais tarde, o líder do “partido do galo negro” foi enterrado à pressa e sem uma cerimónia oficial, no cemitério municipal de Luena, o mais próximo de Lucusse. Consta que Jonas Savimbi foi enterrado com a farda ensanguentada e com o corpo por lavar, sem que a família estivesse presente. Em Luanda, onde o regime do então Presidente José Eduardo dos Santos já estava mais do que instalado, era muita a pressa de ver pelas costas mais de 40 anos de guerra quase sem trégua.

"Jonas Savimbi acabou por ter o destino que ele próprio escolheu, na medida em que foram-lhe dadas ouras alternativas que seriam bem melhores para si próprio. por sua própria teimosia, acabou por terminar desta forma trágica."
João Lourenço, na altura da morte de Jonas Savimbi

À altura, uma das figuras do regime que mais deram a cara para comentar a morte de Jonas Savimbi foi o então secretário-geral do MPLA e agora Presidente de Angola desde 2017, João Lourenço. Em declarações à RTP depois da morte do líder da UNITA, o homem que, após um longo caminho, viria a suceder a José Eduardo dos Santos, teve um tom nada conciliatório.

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“Jonas Savimbi acabou por ter o destino que ele próprio escolheu, na medida em que foram-lhe dadas ouras alternativas que seriam bem melhores para si próprio. por sua própria teimosia, acabou por terminar desta forma trágica”, disse.

Apesar disso, João Lourenço previu corretamente que a paz em Angola era o cenário mais provável para os tempos que se seguiriam: “Estaremos muito mais próximos de uma paz definitiva, na medida em que um homem extremamente ambicioso, que tinha obsessão pelo poder, não importa por que via fosse, mesmo que fosse passando por cima da vida de todos os angolanos, deixou de existir. Por este motivo, nós acreditamos que aqueles que o seguiam hoje não têm mais motivos para o seguir, na medida em que acreditamos que eles não defendiam nenhum ideal em concreto. Defendiam apenas o seu chefe”.

Enquanto líder da UNITA, sediado na Jamba, Jonas Savimbi atraía jornalistas de todo o mundo. Poliglota, o líder da UNITA falava com eles nas suas próprias línguas(Manuel Poppe/LUSA)

Manuel Poppe/LUSA

17 anos depois, isto é, em 2019, foi sob a liderança daquele mesmo João Lourenço que o regime angolano tomou a decisão que, há tanto tempo, a UNITA e a família de Jonas Savimbi lhe exigiam.

Primeiro, que fossem exumados os restos mortais que estiveram quase décadas debaixo daquela campa em Luena e fosse provado cientificamente que aquele é o corpo de Jonas Savimbi — perícia essa que foi feita e que indicou que era mesmo o ex-líder da UNITA que ali jazia.

Depois, que fosse permitido realizar um funeral, organizado pela família e pela UNITA, na província do Bié (onde Jonas Savimbi nasceu), mais propriamente aldeia de Andulo, onde estão sepultados os restos mortais dos seus pais — e foi precisamente isto que permitiu o governo de João Lourenço, embora com alguns percalços nos dias que antecederam a cerimónia

Ao Observador, o líder da bancada parlamentar da UNITA, Adalberto Costa Júnior, recua a 2002 para comentar o funeral, que vai ter lugar este sábado. “Toda a gente sabe como o corpo de Savimbi foi tratado, de forma humilhante. Em África, há um princípio intransponível e com um contexto muito amplo, que é o respeito pelos corpos e pelos mortos”, diz. “Todos os anos, há muito, ambicionávamos fazer as devidas homenagens. Agora, finalmente vamos poder acompanhar o doutor Jonas Savimbi à sua última morada.”

O guerrilheiro da Jamba, tão carismático quanto sanguinário

Jonas Malheiro Savimbi nasceu em Munhango, na província do Bié, a 3 de agosto de 1934. Naquela aldeia, o pai de Savimbi, Lote, tinha duas funções que lhe davam visibilidade: era chefe de estação ferroviária e também pastor protestante. Aluno brilhante, ganhou uma bolsa em 1958 e foi fazer o secundário no Liceu Paços Manuel, em Lisboa. A ideia era seguir dali para a faculdade de Medicina, mas a atividade política — à  altura, Savimbi já era um militante anti-colonialista — valeu-lhe três detenções pela PIDE.

Para escapar a uma quarta detenção, fugiu para a Suíça, em Lausanne, onde mudou de campo de estudos e se dedicou às ciências sociais. Foi naquele país que começou a frequentar os círculos de exilados anti-colonialistas, onde acabou por conhecer Holden Roberto, fundador da União das Populações de Angola (UPA). Rapidamente, tornou-se membro comité executivo da UPA e, pouco depois, foi nomeado Ministro dos Negócios Estrangeiros do autoproclamado governo no exílio. Em 1965, depois de uma abordagem falhada ao MPLA de Agostinho Neto e à União Soviética, Savimbi caiu nas boas graças da China comunista de Mao Tsé-Tung. Tanto que, em 1965, foi para aquele país, juntamente com 12 membros da da UPA para um curso intensivo de métodos guerrilheiros. Um ano depois, fundou a UNITA em Angola e aplicou o que aprendera na China.

Já com Angola independente, a guerra continuou — desta vez, entre as forças que lutaram contra os portugueses na Guerra Colonial. Com o MPLA a obter o controlo de Luanda (capital) e de Cabinda (centro de produção petrolífera), a UNITA esteve sempre em desvantagem naquela guerra. Durante grande parte daquele conflito, Jonas Savimbi tinha o seu quartel-general em Jamba, uma vila na província do Cuando Cubango, zona de exploração diamantífera, no sudeste de Angola.

Soldados da UNITA, em, 1976, com armas chinesas. Aquele movimento contou com apoio da China, dos EUA e também a África do Sul do apartheid (Cloete Breytenbach/Keystone/Getty Images)

Cloete Breytenbach/Keystone/Getty Images

Ali,montou uma cidade única pela sua excentricidade, à qual os jornalistas internacionais faziam uma espécie de romaria. As visitas passavam inevitavelmente pelo polícia sinaleiro que trabalhava numa rotunda sem qualquer trânsito ou pela imponente residência de Jonas Savimbi (mesmo que, por uma questão de segurança, o líder da UNITA raramente ali dormisse). Era ali que ele recebia grande parte dos enviados especiais a Jamba, entre uma biblioteca com mais de 2 mil livros. Muitas vezes, Savimbi recebia os jornalistas estrangeiros falando a língua deles — ao todo, falava seis línguas, além de vários idiomas nacionais de Angola.

Mas à imagem do “doutor” Savimbi, homem culto e bem-falante, assim a ocasião o pedisse, também se juntou a imagem do ditador que, na Jamba, vergava tudo e todos à sua vontade e que, dentro do seu partido e na sua vida particular, não hesitou em mandar matar muitos daqueles que o contrariaram.

Um dos episódios mais negros da história da UNITA, e também reveladores do lado autoritário de Jonas Savimbi, remonta ao ano 1988. Nessa altura, o homem forte da Jamba sentia que o controlo da UNITA lhe fugia entre os dedos, identificando nesse processo aspirações de poder de Tito Chingunji, que, na altura, encabeçava as relações internacionais do partido e que vinha de uma família histórica daquele movimento: Eduardo Jonatão Chingunji foi um dos fundadores da UNITA. Além de pai de Tito Chingunji, foi também pai de Samuel Chingjuni, o primeiro Chefe de Estado Maior do partido.

"Em 1988, Savimbi decidiu eliminar totalmente a família Chingunji, porque dizia que nós éramos o grande obstáculo à sua ambição."
Dinho Chingunji, ex-militante da UNITA e familiar de históricos daquele movimento

“Em 1988, Savimbi decidiu eliminar totalmente a família Chingunji, porque dizia que nós éramos o grande obstáculo à sua ambição”, conta ao Observador, numa entrevista por telefone, Dinho Chingunji, neto de Eduardo Jonatão, filho de Samuel e sobrinho de Tito. “Savimbi tinha um plano, que era eliminar totalmente da face da terra a família Chingunji”, diz o homem que, com o fim da guerra, teve um efémero regresso à UNITA e que, no primeiro governo em paz, em 2002, chegou a ser ministro do Turismo. Depois disso, afastou-se da política.

Dinho Chingunji, que viveu na Europa durante grande parte da guerra, apercebeu-se de que esse plano já estava em marcha numa visita que fez à Jamba. “Cheguei lá e descobri que ele tinha eliminado os meus avós, os meus tios e a minha tia”, conta. “Em 1988, quando eu estava em Londres, exigiram-me que fosse à Jamba. Eu só estou vivo porque tive a coragem de recusar.”

Daqueles que sobreviveram na Jamba de Jonas Savimbi já se ouviram e leram relatos assustadores. Algumas pessoas foram deixadas a morrer em buracos fundos, cavados na terra, que eram tapados com troncos e terra. Outras tiveram uma morte ainda mais violenta, sendo queimadas vivas à vista de todos. Além dos seus adversários políticos, Jonas Savimbi tinha também por hábito matar as suas mulheres e filhos — por mais pequenos que estes fossem. Muitas vezes, fazia-o sob acusação de serem bruxas.

"Temos de deixar para trás o negativo e levar connosco apenas o positivo, para podemos construir em comum um futuro positivo e com dignidade para o país."
Adalberto Costa Júnior, líder da bancada parlamentar da UNITA

“Esse indivíduo sentia-se tão especial que podia até eliminar crianças e mulheres em público. Savimbi não escondeu nada, tudo o que fez foi para as pessoas poderem ver. É um dos poucos ditadores que teve a coragem de queimar pessoas e crianças para dar uma lição às pessoas que dirigia”, diz Dinho Chingunji.

Além de se financiar com o tráfico de diamantes, o esforço de guerra de Jonas Savimbi contou com vários aliados internacionais — muitos deles antagónicos. Perante o envolvimento soviético (financeiro, sobretudo) e cubano (militar) com o MPLA, Savimbi conseguiu puxar para o seu lado apoios tão improváveis como a China comunista, a África do Sul do apartheid e os EUA de Ronald Reagan. Em 1986, chegou até a ser recebido por aquele Presidente norte-americano na Casa Branca, numa operação coordenada por Paul Manafort (o veterano e especialista de lóbi político que, em 2016, chegou a dirigir a campanha de Donald Trump e que está atualmente preso), a quem o líder da UNITA pagou 600 mil dólares.

José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi, com Aníbal Cavaco Silva, na assinatura dos Acordos de Bicesse, em 1991 (LUSA)

LUSA

Em 1990, o fim anunciado da Guerra Fria veio mudar abruptamente o destino da guerra civil angolana. À beira do colapso, a União Soviética envia uma comitiva para se reunir com representantes dos EUA e, numa conversa à margem das cerimónias de declaração de independência da Namíbia, selam o fim daquela guerra por procuração. Em maio de 1991, José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi encontram-se em solo português, mais propriamente em Bicesse, Cascais. Ali, assinam um acordo de paz, selado com um aperto de mão frouxo, trocado em frente a Cavaco Silva, então primeiro-ministro de Portugal.

Em setembro de 1992, celebram-se as eleições que deveriam ter consumado a paz acordada. Porém, com a UNITA a perder as eleições — acusando o MPLA de fraude eleitoral — as posições militares são retomadas e os combates voltam. Em 1994, a guerra volta a conhecer um novo intervalo, desta vez com o Protocolo de Lusaka, onde ficou acordado um cessar-fogo. Com Jonas Savimbi em parte incerta e com a UNITA reduzida a uma força, José Eduardo dos Santos decidiu apostar com força na via das armas em 1998. Em 2002, a morte de Savimbi viria a dar-lhe razão.

Um momento reconciliação nacional?

Adalberto Costa Júnior recusa fazer uma leitura negativa do legado de Jonas Savimbi nos anos da guerra. “Infelizmente, todos os angolanos viveram uma guerra muito longa, muito violenta e muito destrutiva, onde há responsabilidades partilhadas”, diz, ao telefone com o Observador. Para o líder da bancada parlamentar da UNITA, a “nódoa mais negra” pertence ao MPLA e remete para o massacre do 27 de maio de 1977, altura em que liderava o então Presidente Agostinho Neto. “O MPLA matou milhares e milhares de pessoas, uma parte delas eram até os seus próprios militantes. Nestes anos todos, nunca teve coragem de dar documentos às viúvas e aos parentes e de reconciliar consigo próprio.”

Apontando para o o 27 de maio de 1977, Costa Júnior refere que, ainda assim, Agostinho Neto tem um mausoléu em sua honra, onde é catalogado como o “Pai da Nação”. “E eu não sou uma voz contra isso”, sublinha aquele deputado. “Temos de deixar para trás o negativo e levar connosco apenas o positivo, para podemos construir em comum um futuro positivo e com dignidade para o país.”

"O que querem fazer com Savimbi na UNITA é excessivo e perigoso. É quase como se quisessem endeusá-lo."
Paulo Inglês, politólogo angolano

Seja como for, o líder da bancada parlamentar da UNITA defende que foi o seu partido, primeiro com a liderança de Jonas Savimbi e depois com a sua inspiração, que garantiu que Angola escapasse ao comunismo. “Savimbi não só liderou uma parte da resistência anti-colonial, como também fez parte da resistência à ocupação russa e cubana”, disse. “E, já depois da guerra, só porque a UNITA insistiu é que Angola se tornou num país favorável aos valores de mercado e à economia de mercado.”

Apesar de apoiar a exumação e o funeral de Jonas Savimbi, Adalberto Costa Júnior aponta várias críticas sobre a forma como o processo tem decorrido — sobretudo nos últimos dias.

Tudo isto surge com uma conferência de imprensa de Pedro Sebastião, ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do Presidente da República. Esta quarta-feira, a apenas três dias da data do funeral — conforme acordou o governo com a UNITA e a família de Jonas Savimbi —, Sebastião admitiu alterar o percurso do caixão (que tinha uma paragem prevista numa sede da UNITA) e falou em afastar aquele partido de todo o processo.

Imagem do caixão de Jonas Savimbi esta sexta-feira, 31 de maio, dia em que foi entregue à família. O funeral está marcado para este sábado (AMPE ROGÉRIO/LUSA)

AMPE ROGÉRIO/LUSA

“O que se passou deixou-nos meio surpreendidos, o que nos leva a pensar que talvez seja melhor o diálogo com a família, porque esta tem laços afetivos e está profundamente interessada que o seu ente querido seja inumado com a serenidade que merece”, disse Pedro Sebastião. Na quinta-feira, Isaías Samakuva, líder da UNITA, pediu uma reunião de emergência com João Lourenço. Esta sexta-feira, após a reunião, ficou a garantia presidencial de que a cerimónia decorreria conforme o plano inicial.

Apesar de o desfecho ser o pretendido pela UNITA, Adalberto Costa Júnior sublinha que o caminho não foi tão suave quanto podia ter sido. Dizendo que há um “nervosismo” de alguns agentes do Estado e do MPLA por causa desta cerimónia, não iliba João Lourenço de responsabilidades: “Ninguém acredita que o chefe da Casa Militar tivesse a liberdade de fazer o que fez. De certeza que o Presidente da República esteve por trás daquilo. Mas depois viu a reação das pessoas e voltou atrás”.

Paulo Inglês, politólogo e diretor do Centro de Investigação da Universidade Jean Piaget, em Benguela, entende que a possibilidade de este momento ser um gesto de reconciliação ficou prejudicada por este desentendimento. “Esse gesto ficou marcado pelos acontecimentos destes três dias”, diz ao Observador, por telefone. “Há aqui uma ambiguidade muito grande.”

Nas vésperas do funeral, o processo esteve perto de ser alterado, por decisão do governo de João Lourenço (ALEXANDER NEMENOV/AFP/Getty Images)

ALEXANDER NEMENOV/AFP/Getty Images

“A UNITA fez disto tudo um facto político. Foi para lá muita gente, há milhares de pessoas que viajaram de Benguela e de Luanda para lá. O MPLA viu isso e quis desviar o foco e a atenção. E, ao meter a mão, criou o caos”, diz o politólogo.

Outro facto que chamou a atenção de muitos foi que a UNITA apresentou, nas cerimónias desta sexta-feira, antigos militares das Forças Armadas de Libertação de Angola (FALA, o braço armado da UNITA) com a farda daquele movimento. “A UNITA está a fazer maus cálculos políticos em torno disto tudo, exageraram. Levar pessoas com a farda das FALA é uma provocação, é reativar ou reacender os símbolos de guerra”, diz Paulo Inglês. “O que querem fazer com Savimbi na UNITA é excessivo e perigoso. É quase como se quisessem endeusá-lo.”

Por isso, conclui, a reconciliação “não é uma ideia tão pacífica quanto isso”. Uma realidade, aliás, que vê noutros episódios, como foi o da abertura de uma comissão com o objetivo de criar um plano geral de homenagem às vítimas da guerra civil — onde inclui o 27 de maio de 1977. Porém, além de essa comissão ter tido apenas 30 dias para apresentar o seu plano, em parte alguma é ponderada uma investigação àquele massacre. “Tudo isto dá uma espécie de marca de reconciliação, mas na verdade não leva a nada porque é tudo feito de forma inconsequente”, diz Paulo Inglês.

Dinho Chingunji, do seu lado, acredita que o funeral de Jonas Savimbi servirá, sobretudo, para mexer em partes dolorosas do passado, da maneira errada. “O que isto faz é trazer memórias amargas para muitos de nós que fomos vítimas diretas dos assassinatos de Savimbi e do seu pessoal, ao ressuscitar uma pessoa contenciosa que foi responsável por muita instabilidade no nosso país, diz.

“Olhar para Savimbi como o indivíduo que trouxe a democracia para Angola é mentira. Ele nunca quis a democracia, foi um grande violador dos Direitos Humanos”, diz. “Não é um herói.”

"Na UNITA, eles sabem que, na tradição africana, não se pode terminar o luto sem que a família tenha acesso aos corpos. Eles estão sempre a dizer isso sobre Savimbi, portanto eu digo isto sobre os meus. Nós também somos africanos. Por isso, queremos que nos entreguem os mais de 40 corpos das pessoas que Savimbi matou e que não fizeram nada contra ele a não ser pertencer à família Chingunji."
Dinho Chingunji, ex-militante da UNITA e familiar de históricos daquele movimento

Para este ex-militante da UNITA, “a família de Savimbi não pode ser diferente das outras” — e, por isso, reconhece o direito a um funeral digno, embora discreto. Porém, esse é também o direito que ele próprio reivindica, recordando todos os seus familiares e camaradas mortos às mãos de Jonas Savimbi, na Jamba. “Há membros da direção da UNITA que ainda sabem onde estão os corpos das pessoas que eles mataram”, diz.

E, depois, à semelhança do porta-voz da bancada parlamentar da UNITA, também ele evoca a tradição: “Na UNITA, eles sabem que, na tradição africana, não se pode terminar o luto sem que a família tenha acesso aos corpos. Eles estão sempre a dizer isto sobre Savimbi, portanto eu digo isto sobre os meus. Nós também somos africanos. Por isso, queremos que nos entreguem os mais de 40 corpos das pessoas que Savimbi matou e que não fizeram nada contra ele a não ser pertencer à família Chingunji. Se a UNITA quiser ser coerente e respeitar a tradição, nós estamos aqui. Os sobreviventes das matas e das prisões estão aqui.”

(Keystone/Hulton Archive/Getty Images)

Keystone/Hulton Archive/Getty Images

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