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Hospital Distrital de Caldas da Rainha, 18 de outubro de 2017, CARLOS BARROSO/LUSA
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CARLOS BARROSO/LUSA

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Hospital das Caldas assume que familiar de grávida falou com um segurança. E afirma que vai abrir inquérito "a contragosto"

O hospital das Caldas tinha dito que a grávida com hemorragia ligou ao 112 ao ver um cartaz sobre fecho do serviço. Agora, a Administração assume ao Observador que um familiar falou com um segurança.

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O hospital das Caldas da Rainha tinha as urgências de obstetrícia fechadas esta segunda-feira, quando uma grávida — que tinha sofrido de um aborto espontâneo e estava com uma “hemorragia abundante” e o feto dentro de um saco — entrou para ter acesso a cuidados de saúde. Era uma situação emergente, mas a utente e o companheiro acabaram por ter de esperar dentro do carro quase uma hora pela chegada dos bombeiros — só às 8h04 foi admitida no hospital das Caldas, após a chegada dos bombeiros.

É precisamente sobre o que aconteceu durante essa hora que têm surgido versões divergentes: o hospital tem dito que não tem registo de tentativas de admissão entre as 7h e as 8h, já os bombeiros garantem que o familiar da grávida tentou várias vezes que esta fosse vista, tendo ouvido que tinha de ligar para o 112. Ao Observador, a presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Oeste, Elsa Baião, revelou já esta terça-feira que o hospital vai abrir um inquérito interno “um bocadinho a contragosto”, considerando que se trata de um “não assunto”.

Uma das maiores contradições que parecia existir tinha a ver com a garantia do hospital de que não existiriam “registos” de qualquer tentativa de inscrição da doente, para refutar a tese dos bombeiros. Mas que registos poderiam existir? Elsa Baião explica agora que os registos a que o hospital se refere “não são registos formais”, mas os testemunho dos funcionários. E assume também que o marido da grávida chegou a falar com um segurança, que lhe disse que a urgência estava fechada. Na segunda feira, o conselho de administração que lidera fez um esclarecimento oficial em que se presumia que a mulher teria tomado conhecimento do encerramento do serviço através de um cartaz afixado. Vamos então às diferentes versões.

"Vamos abrir um inquérito interno, um bocadinho a contragosto, se quer que lhe diga, porque acho que este assunto não merece um inquérito interno, isto é um não assunto".
Elsa Baião, presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Oeste

Afinal, o que aconteceu segundo a versão do hospital?

Ao Observador, Elsa Baião explicou esta terça-feira que quando a utente entrou no hospital, o companheiro terá questionado onde eram as urgências de obstetrícia — dizendo que se dirigiam para lá. Numa primeira resposta, a presidente do conselho de administração colocou este cenário como uma hipótese — “a pessoa pode ter perguntado onde era a urgência, alguém podia ter dito que estava fechada” –, tendo, após nova insistência, concretizado: “O senhor perguntou a um dos seguranças onde era a urgência e foi-lhe dito que estava fechada, não foi identificada a gravidade, não foi dito ‘olhe é uma situação emergente'”. “Se não [se tivesse sido identificada a gravidade] teria sido imediatamente encaminhado”, justifica, rematando, de seguida, que aquela conversa com o segurança não significa “uma tentativa de admissão”.

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A partir daí, garante que não há registos de mais contactos, nem com administrativos nem com pessoal médico. Mas apenas com base em testemunhos que o hospital recolheu. “Não posso dar garantias absolutas, posso dizer o que as pessoas me dizem. Não é um registo físico. Todas as pessoas foram contactadas pelo superior hierárquico mais do que uma vez e não há registo”, revela ao Observador.

Elsa Baião esclarece ainda que o hospital não tem circuito de videovigilância, o que impede qualquer visualização das imagens: “Não temos câmaras de videovigilância, em nenhuma parte do hospital. Não há [esse circuito] pela dificuldade que é instalar uma câmara de videovigilância num hospital”, disse, precisando que têm apenas “uma, mas numa área não clínica”: “E estivemos três anos para obter licenciamento”.

Em reação às críticas feitas pelos bombeiros ao hospital, que disseram não ser a primeira vez que isto acontecia, a presidente do conselho de administração desta ULS limita-se a dizer que "os senhores bombeiros têm de falar com informação concreta, têm de dizer em que situações é que os doentes foram recusados"

Outro dos aspetos que leva a responsável hospitalar a acreditar que os administrativos nunca falaram com a grávida ou com o seu familiar é o facto de as regras estarem bem definidas e funcionarem: “Se não, na véspera, quando o serviço também estava fechado, não tinham sido admitidas quatro pessoas”.

Em reação às críticas feitas pelos bombeiros ao hospital, que disseram não ser a primeira vez que isto acontecia, a presidente do conselho de administração desta ULS limita-se a dizer que “os senhores bombeiros têm de falar com informação concreta, têm de dizer em que situações é que os doentes foram recusados”

“Pronto, há muitas situações de constrangimento e não estamos a falar de urgências encerradas, porque os encerramentos acontecem na obstetrícia e na pediatria. Na urgência geral não há encerramentos, está sempre a funcionar, mas com limitações muitas vezes em que os doentes que vêm via INEM são desviados para outros hospitais porque a equipa está reduzida”, disse, frisando que não se trata de “recusas de admissão”

Ainda assim, tendo em conta a dimensão que o caso ganhou — e depois de a Inspeção Geral das Atividades em Saúde ter anunciado a abertura de um inquérito — Elsa Baião revela ao Observador que o hospital também vai abrir uma averiguação interna: “Vamos abrir um inquérito interno, um bocadinho a contragosto, se quer que lhe diga, porque acho que este assunto não merece um inquérito interno, isto é um não assunto”.

Mas foi isto que a ULS do Oeste disse após as primeiras notícias?

A resposta é simples: não. Horas depois de o caso da grávida ter sido tornado público, o Conselho de Administração da ULS do Oeste enviou um esclarecimento à imprensa em que começava por dizer que a utente se dirigiu ao hospital pelos próprios meios e que, ao chegar, “teve conhecimento através do cartaz afixado na porta da Urgência de Ginecologia/Obstetrícia que esta não estava a funcionar”. Em nenhum momento é referido que o familiar que a acompanhava interpelou um segurança e que fora o segurança a dar tal informação.

Segundo o hospital a admissão da doente foi às 8h04 e "em momento algum foi recusada a sua admissão". E garante não ter "registo de várias insistências".

“Presume-se que a Utente tenha ligado para a Linha SNS 24 ou para o 112, e que tenha aguardado na viatura respetiva pelas indicações telefónicas”, referia ainda o conselho de administração, acrescentando que “posteriormente, foram acionados os bombeiros para ir ao encontro da utente”.

O hospital dava ainda conta de que o registo de admissão da doente foi às 8h04 e que “em momento algum foi recusada a sua admissão”, dizendo não ter “registo de várias insistências para admissão”.

“Em suma, a utente foi prontamente admitida quando houve conhecimento de que estava a aguardar, a situação mereceu o atendimento necessário e ficou em vigilância”, defendia na segunda-feira o conselho de administração da unidade.

E qual é a versão do INEM?

Numa resposta escrita enviada na segunda-feira, o Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) confirmou ter recebido “uma chamada às 07h17, solicitando apoio para uma mulher de 31 anos, grávida, que se encontrava junto à urgência do Hospital das Caldas da Rainha”.

"Após contacto do CODU com a médica obstetra do Hospital das Caldas da Rainha, a mesma concordou em observar a utente. O CODU informou a equipa de bombeiros sobre esta decisão às 07h50". E "pelas 8h27, o CODU recebeu um novo contacto dos Bombeiros informando que a utente tinha sido admitida no hospital".
Esclarecimento do INEM

“Após realização da triagem telefónica, o CODU acionou uma ambulância dos Bombeiros Voluntários de Caldas da Rainha, às 07h21. Pelas 07h33, a equipa de bombeiros no local contactou o CODU para transmitir os dados da observação realizada no local”, acrescenta o INEM, esclarecendo que “com base nas informações recebidas, e considerando que o Serviço de Urgência de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Caldas da Rainha se [encontrava] em contingência de Nível 3, o CODU contactou o mesmo hospital para que a utente pudesse ser admitida e avaliada e se determinar se existiam condições para o transporte para Coimbra”.

“Após contacto do CODU com a médica obstetra do Hospital das Caldas da Rainha, a mesma concordou em observar a utente. O CODU informou a equipa de bombeiros sobre esta decisão às 07h50”. E “pelas 8h27, o CODU recebeu um novo contacto dos Bombeiros informando que a utente tinha sido admitida no hospital”.

Bombeiros garantem que foram feitas diversas insistências

Quem prestou os primeiros esclarecimentos à imprensa sobre este caso foi o comandante dos Bombeiros das Caldas da Rainha, Nelson Cruz, que disse que quando os bombeiros chegaram ao hospital econtraram uma mulher com uma “hemorragia abundante” e com o “feto num saco”.

“É completamente inadmissível, ainda que não houvesse um médico da especialidade”, afirmou, adiantando que perante casos emergentes, “o hospital tem de abrir portas”: “As portas têm de estar abertas. As pessoas têm de ser recebidas e depois encaminhadas”.

Mais tarde, já em declarações à rádio Observador, os bombeiros concretizaram que os cuidados foram negados, após um familiar ter tentado fazer a admissão da mulher.

“Como é que o hospital diz que não teve conhecimento [que a grávida estava à porta]? Eu acredito que o CODU de Coimbra tenha tentado ligar para o hospital das Caldas, inicialmente disseram não estar a conseguir, e depois o CODU de Lisboa informou”
António Soares, subchefe dos Bombeiros das Caldas da Rainha

António Soares, subchefe daquela corporação que esteve no local, explicou que o familiar que acompanhava a grávida chegou a entrar no hospital para tentar fazer a admissão da doente, que ficou a aguardar no carro, mas foi informado de que a urgência estava encerrada. Terá sido depois disso que, seguindo as indicações que lhe foram dadas, ligou para o 112, refere a mesma fonte.

“Como é que o hospital diz que não teve conhecimento [que a grávida estava à porta]? Eu acredito que o CODU de Coimbra tenha tentado ligar para o hospital das Caldas, inicialmente disseram não estar a conseguir, e depois o CODU de Lisboa informou”, disse António Soares, explicando que “o familiar do doente também já tinha tentado fazer a ficha de admissão”, tendo-lhe sido dito que a urgência estava fechada, para ligar para o 112. Depois disso ainda terá havido mais uma insistência do mesmo familiar, sem qualquer sucesso. “Já não é a primeira vez que isto acontece [naquele hospital]”, rematou António Soares.

Caso leva IGAS a abrir inquérito. Governo está a acompanhar

Horas após o caso ter sido tornado público, o inspetor-geral das Atividades em Saúde, António Carapeto, revelou à Rádio Observador que seria aberto um inquérito, por se considerar que os detalhes conhecidos punham “em causa a confiança dos cidadãos”, dizendo mesmo que os “factos” relatados são “bastante impactantes”.

Num comunicado enviado esta terça-feira às redações, a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) confirmava ter já aberto “um processo de inquérito aos factos relacionados com a assistência prestada a uma utente grávida na manhã do dia 5 de agosto de 2024, na unidade hospitalar de Caldas da Rainha, integrado na Unidade Local de Saúde do Oeste, E.P.E.”.

A entidade dava ainda conta de que em junho de 2022 realizou “uma inspeção às circunstâncias envolvidas na assistência de urgência a uma mulher grávida em trabalho de parto nesta mesma unidade hospitalar (Processo de Inspeção 031/2022-INS), no âmbito do qual foram emitidas cinco recomendações, quatro das quais foram dirigidas ao então Centro Hospitalar do Oeste, E.P.E. (a quinta recomendação foi dirigida à Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, I.P.)”.

Segundo é agora esclarecido, este “processo foi concluído em maio de 2023, tendo o órgão de gestão do estabelecimento apresentado evidências do acolhimento das quatro recomendações que lhe foram dirigidas”. A terminar o comunicado é referido ainda que “a IGAS e a Entidade Reguladora da Saúde (ERS), no quadro das respetivas atribuições, irão cooperar na investigação deste caso”.

Também a Entidade Reguladora da Saúde que “no quadro das suas atribuições instaurou um processo de avaliação a este caso”.

Questionado na segunda-feira, o Ministério da Saúde confirmou ter detalhes acerca do caso, remetendo para a Unidade Local de Saúde (ULS) do Oeste e para o INEM mais informações. Ao Jornal de Notícias, porém, a tutela fez saber que o Governo tem estado a “acompanhar desde a primeira hora o caso”.

(Atualizado às 16h49, com uma clarificação feita pela presidente do conselho de administração, que corrigiu uma sua declaração, dizendo agora que não foi dito ao segurança que era uma situação emergente; e às 17h23 com um comunicado da IGAS, a confirmar a abertura de inquérito)

 
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