895kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Igreja alertou contra o "monstro pandémico" do populismo numa noite de velas em Fátima que fica "forever"

O Santuário de Fátima não encheu. Podiam entrar 6 mil pessoas — entraram 4.500, que ficaram dispersas pelo espaço, nos círculos marcados, a ouvir os alertas do bispo de Setúbal contra o populismo.

“Isto vai ser falado forever!” Maria Amália, 81 anos, não duvida de que está a viver um momento que ficará para a história. Está desde o meio-dia, com a amiga Maria Henriques, posicionada num dos muitos círculos brancos marcados no piso do Santuário de Fátima para assegurar as distâncias de segurança entre peregrinos nas celebrações de 12 e 13 de outubro. O inglês na voz surpreende, mas justifica-se: há 55 anos, emigrou para Toronto, depois de uma primeira vida como peixeira na Nazaré. “A vida de emigrante é uma vida dura“, lamenta. Volta todos anos a Portugal para peregrinar com a amiga que conhece há décadas — e que também foi emigrante no Canadá, mas já regressou definitivamente ao país de origem — até Fátima.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Desta vez, a pandemia da Covid-19 veio complicar a vida às peregrinas: não vieram em maio, porque a peregrinação mais importante do ano acabou por se realizar com o recinto completamente vazio. Maria Amália, que no Canadá trabalha como empregada de limpeza, conseguiu um voo de regresso a Portugal no início do verão e é no país de origem que se tem protegido da pandemia. Ainda assim, não perdeu a oportunidade de cumprir o ritual e veio a Fátima. O medo da doença fê-las apanhar um táxi na Nazaré: 50 quilómetros, meia-hora e um taxista que só será pago quando fizer a viagem de regresso. “Se gastarmos o dinheiro todo aqui, já não pagamos ao motorista”, brinca a mulher.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Fátima faz parte da vida das duas nazarenas desde que se lembram. Maria Amália conheceu aqui o primeiro namorado, quando tinha 14 anos. Maria Henriques, de 75 anos, peregrina ao Santuário de Fátima anualmente, sem falta. A pandemia afastou-a de muitas partes da vida — não vê a família há um ano e meio sem ser por videochamada e tem medo de ir ter com os filhos, por causa da doença —, mas não foi capaz de a demover de peregrinação ao santuário.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

As duas Marias que vieram da Nazaré fazem parte do grupo de cerca de 4.500 peregrinos que nesta segunda-feira preencheram — mas não encheram, já que a lotação máxima era de 6 mil pessoas — o recinto do Santuário de Fátima, desta vez sujeito a rigorosas medidas de contenção da pandemia, depois de uma enchente inesperada no dia 13 de setembro ter obrigado a instituição a fechar o recinto de urgência.

Ali perto, acabados de chegar, encontramos Miguel, Joaquim e Fernando, três amigos que partiram do Porto na quinta-feira e chegaram a Fátima sem grande esperança de entrar no recinto. Joaquim caminha todos os anos até Fátima há uma década, mas para Miguel e Fernando a primeira vez foi mesmo em ano de pandemia. O caminho de 210 quilómetros, que devia ter sido feito em sete dias, foi feito em cinco — quarenta quilómetros por dia, 46 no troço entre Águeda e Coimbra.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Depois de fazer uma caminhada destas, a procissão das velas tem outro significado”, contam os amigos, que na última parte do percurso tiveram uma surpresa: as mulheres dos três conseguiram localizá-los a 10 quilómetros de Pombal e ajudaram-nos a transportar as mochilas na caminhada final.

A par da pandemia, o “monstro pandémico” do populismo

Foi perante uma assembleia de 4.500 pessoas que o bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, assinalou o arranque das celebrações que fecha o ciclo de grandes peregrinações anuais a Fátima — com a pandemia como tema central. “Pensemos, como exemplo, naqueles e naquelas que estão a fazer esforços incríveis, em condições dramáticas, para socorrer as pessoas atingidas pela pandemia“, disse o bispo à multidão dispersa pelo recinto do Santuário de Fátima.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Ornelas lembrou particularmente as situações dos hospitais e dos lares, mas também dos “campos de refugiados sem condições”, mas destacou que a pandemia da Covid-19 também deixou crescer nas sociedades outros “monstros pandémicos”, referindo-se aos populismos.

“Para além desta pandemia e das outras que sempre ocorreram e podem ocorrer, este projeto de Humanidade-Mãe e Maria-Nova Humanidade é atingido por muitos monstros pandémicos que põem em perigo a vida e o futuro de todos”, disse o bispo. “Durante esta pandemia, a par da mais heroica abnegação e generosidade de tanta gente, têm-se manifestado muitas e poderosas atitudes manipuladoras, populistas, interesseiras e egoístas, sem remorso de usar o sofrimento e o desconcerto, a desorientação, para tirar dividendos políticos e económicos.

Santuário de Fátima fecha plano de reestruturação com saída de 47 trabalhadores, mas mantém-se mistério à volta das contas

Antes do arranque oficial das celebrações no recinto do santuário, a tarde em Fátima ficou marcada por uma conferência de imprensa com D. José Ornelas, o cardeal António Marto e o reitor do Santuário de Fátima, padre Carlos Cabecinhas, em que os responsáveis anunciaram que a parte do plano de reestruturação implementado pela instituição no que toca à redução do número de trabalhadores está concluída, com a saída de 47 pessoas — entre rescisões amigáveis, demissões por iniciativa do trabalhador e não-renovação de contratos a termo. Porém, mesmo com o impacto financeiro da pandemia nas contas do Santuário de Fátima como motivo para a reestruturação, as contas da instituição continuam sem ser divulgados, como acontece há 15 anos.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.