As associações que representam o setor dizem que será a maior manifestação de taxistas de sempre. Estima-se que sejam cerca de seis mil (metade dos táxis licenciados) os táxis que chegam segunda-feira do norte e do sul do país para se juntarem aos colegas na capital. Estão previstos 17 quilómetros de marcha lenta no coração de Lisboa, em plena hora de ponta, contra um decreto-lei do Governo que pretende regularizar o transporte de passageiros em carros descaracterizados, como é o caso da Uber. O Observador explica-lhe como pode escapar ao caos em que a cidade de Lisboa se pode transformar.
A concentração de associados da ANTRAL e da Federação Portuguesa do Táxi está marcada para as 7h00 junto à Pousada da Juventude, no Parque das Nações, em Lisboa, mas, quatro horas antes, os motoristas do norte e do sul do país estão já prontos para arrancar rumo a Lisboa. No Porto e em Faro, o ponto de encontro está marcado para as 3h00. E a PSP até foi informada disso.
Os taxistas do Norte farão uma paragem em Fátima para se juntarem aos colegas do centro. Está previsto que comecem a entrar em Lisboa pelas 7h00 vindos da autoestrada do Norte. Por isso, se mora na zona norte de Lisboa, prepare-se para alguns atrasos. Numa reunião com a PSP, ocorrida sexta-feira, a Polícia ainda tentou convencer os taxistas a desviarem-se em Santa Iria de Azóia (Loures) para o IC2 em direção ao Parque das Nações. Mas os taxistas responderam “não”. A ideia era que o acesso à Segunda Circular não fosse bloqueado. Mas esse cenário será difícil. Por isso, se este for o seu caminho habitual, o melhor é entrar em Lisboa mais tarde, ou por outra zona. Ou, como a PSP aconselha, usar o comboio.
Na entrada sul de Lisboa o cenário não será mais fácil. Os taxistas do Algarve vão concentrar-se em Faro antes de subirem rumo à capital. Fazem uma paragem na rotunda Centro Sul de Almada para se juntarem aos colegas da Margem Sul. Se vive nesta zona, também não terá a vida facilitada. O melhor mesmo é nem sequer entrar no carro. Pelo menos de manhã. Também aqui a PSP tentou convencer os taxistas a entrarem na Ponte 25 de Abril em pequenos grupos de cada vez. Mas os taxistas recusam separar-se. Virão em coluna.
Se a sua preocupação forem as muitas obras que decorrem em Lisboa, saiba que grande parte do problema será verdadeiramente engolido pela manifestação, uma vez que o percurso previsto pelos taxistas passa em quase todos os pontos da cidade que estão a ser requalificados e que têm provocado enormes filas de trânsito.
Mas não pense que fica a salvo dessas muitas obras. É que mesmo algumas vias alternativas ao percurso dos taxistas, como a saída sul do Parque das Nações, podem complicar-se devido à requalificação em curso. Se quiser entrar em Lisboa por aí (ideal para quem more na zona norte ou venha do lado da Ponte Vasco da Gama), saiba que há obras na Alameda dos Oceanos. E logo a seguir, na zona de Xabregas.
Do Parque das Nações, os taxistas seguem para Moscavide, depois para o aeroporto, onde se juntam aos colegas vindos do Norte, para atravessarem Lisboa pela Gago Coutinho, Estados Unidos da América, Saldanha e Marquês de Pombal. Seguem então pela Avenida da Liberdade até à baixa lisboeta. Em marcha lenta contornam o Campo das Cebolas (já que a Rua do Arsenal também está em obras) em direção à Avenida 24 de Julho pela zona ribeirinha (outra zona onde há obras). Será já perto da Avenida D. Carlos I que os taxistas vão estacionar os carros para seguirem a pé para a Assembleia da República — aqui os taxistas cederam ao pedido da PSP, porque a ideia inicial era estacionar os carros em São Bento.
Estima-se que a marcha se prolongue ao longo de três horas. Mas não pense que a manifestação termina à hora de almoço, quando os taxistas devem começar a chegar à Assembleia da República e o o trânsito da capital começar a escoar. O presidente da Federação Portuguesa do Táxi, Carlos Ramos, já deixou o aviso ao Observador: os motoristas vão trazer tendas e sacos de cama e estão prontos a “acampar à porta da Assembleia da República” até serem ouvidos pelo Governo. “Queremos acabar com esta ilegalidade”, diz Carlos Ramos, referindo-se ao decreto-lei que prevê legalizar o transporte de passageiros por carros descaracterizados — permitindo assim plataformas como a Uber operarem em Portugal.
A PSP aconselha “a utilização preferencial de transportes públicos para deslocações na cidade de Lisboa, tendo em conta que poderão igualmente ser afetadas zonas da cidade adjacentes às artérias mencionadas”. Consequência do condicionamento no trânsito assinalado nos mapas que o Observador preparou. Em todos os locais, garante a PSP, estarão polícias a desviar o trânsito e a apresentar alternativas. Também o Corpo de Intervenção da PSP foi todo mobilizado. Segundo a PSP, são cerca de 60 os que vão ficar à porta da Assembleia a controlar a escadaria, outros vão acompanhar o percurso nas carrinhas de serviço. Outros, num total de 300, ficam na unidade, prontos a intervir caso sejam necessários reforços. Caso algo de “anormal aconteça”, a própria PSP recomenda ligar o 112 A decisão foi tomada depois de, segundo o Público, ter sido reforçada a segurança pessoal do secretário de estado do Ambiente, José Mendes, que tem o dossier taxistas/Uber nas mãos, e que terá sofrido ameaças.
Também nos transportes públicos a circulação na capital não será fácil. Táxis, serão, é claro, poucos ou quase nenhuns. O Metro e a Carris, contactados pelo Observador, garantem que os “impactos” da manifestação se vão sentir, principalmente no serviço da Carris. “Apesar do esforço que será assegurado na gestão em tempo real, realizada pela central de comando de tráfego, são expectáveis significativas perturbações de tráfego por toda a cidade, que condicionarão a circulação da grande maioria das carreiras da CARRIS”, refere a empresa em comunicado.
No Metro “será feita uma gestão atenta e dinâmica dos recursos, procurando fazer face aos momentos e locais onde se possa vir a verificar maior procura pelos clientes”. As operadoras lembram que “esta é uma situação que implicará alterações muito significativas na mobilidade da cidade e com um elevado grau de imprevisibilidade.”
Já a CP garante “estar com a sua capacidade máxima preparada”, o que já acontece habitualmente em hora de ponta. “Mas vamos estar preparados, como em situações em que há maior fluxo, para reforçar onde for possível caso seja necessário“, explica a porta-voz Ana Portela. “É uma situação imprevisível”, lembra.