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“Não gostava de prejudicar as hipóteses de ninguém ao oferecer-lhe o meu apoio.” Em inglês diz-se U-turn, em português inversão de marcha. É indiferente se se conduz à direita ou à esquerda da via. Não é comum um primeiro-ministro, britânico ou de outro país, evitar apoiar publicamente o seu sucessor com estes argumentos. Mesmo quando escolhem ser neutrais — como aconteceu com Rui Rio nas diretas do PSD (não era primeiro-ministro, mas líder da oposição) — o motivo não bate com o que agora é usado. O argumento de Boris Johnson não é trivial: acredita que quem apoiar terá menos hipóteses de ser eleito, já que o seu apoio, lê-se nas entrelinhas, se tornou tóxico. Se quisesse, o primeiro-ministro demissionário teria muito por onde escolher. Há 11 candidatos oficiais e, a partir de terça-feira, mais nenhum nome poderá ser entregue a Sir Graham Brady, o presidente do Comité 1922 (grupo parlamentar dos conservadores na Câmara dos Comuns, a quem cabe organizar os próximos passos da eleição). Na quarta-feira, arranca a primeira ronda de várias votações, até que sobrem só dois candidatos.
O novo presidente do Partido Conservador britânico deverá ser conhecido a 5 de setembro, a tempo da rentrée parlamentar. E para evitar situações do passado, o Comité 1922 estará a exigir que todos os candidatos assinem um documento onde se comprometem a ir a votos se chegarem à ronda final, aquela em que os militantes têm direito a escolher o seu líder.
Todas estas datas estão a ser dadas como certas por vários órgãos britânicos, mas o calendário oficial só será divulgado depois da reunião desta segunda-feira do Comité, estando previsto que o anúncio seja feito já durante a noite.
Quanto a Boris Johnson tudo indica que vai manter-se longe da campanha, nem que seja só publicamente. “O trabalho do primeiro-ministro nesta fase é deixar o partido decidir, deixá-lo seguir em frente”, disse na sua primeira aparição televisiva depois de apresentar a demissão.
Cláusula Leadsom. Candidatou-se? Tem de ir até ao fim
A cláusula tem o nome do problema: Leadsom. Em 2016, quando Theresa May se tornou líder dos conservadores, quem a acompanhou até à última ronda, já depois de Michael Gove ter ficado pelo caminho, foi Andrea Leadsom. No entanto, antes de a batalha ter passado dos parlamentares para os populares, Leadsom abandonava a corrida. May tornou-se a líder do partido, sem que os cerca de 200 mil militantes pudessem votar.
Para evitar uma jogada semelhante, já que são os votos dos parlamentares que vão reduzindo o número de candidatos até sobrarem apenas dois, a imprensa britânica dá como certo que esta exigência está a ser feita.
E quem serão esses dois? Até agora, é Rishi Sunak, que se demitiu do cargo de ministro das Finanças, quem tem maior número de membros do Parlamento a apoiá-lo (35). Nas casas de apostas, é também o seu nome que vai à frente. A verificar-se, será ele o novo líder dos Tories e o próximo primeiro-ministro britânico.
Para evitar a sua entrada em Donwning Street, o Partido Trabalhista teria de apresentar uma moção de censura, contar que vários Tories votassem contra o próprio partido e, depois, partir para eleições gerais.
As datas da eleição e as regras que podem mudar
Citando fontes do Partido Conservador, o Telegraph escreve que os próximos passos na eleição do líder serão rápidos, uma vez que os deputados entram de férias de verão no fim da próxima semana. O calendário que tem estado a ser dado como certo mostra isso mesmo, que os Tories querem rapidez na sucessão.
A partir das 18h00 desta terça-feira, 12 de julho, Sir Graham Brady deixa de aceitar candidatos. No dia seguinte, 13 de julho, quarta-feira, é feita uma primeira triagem e quem não conseguir o endorso de 20 membros do parlamento, um proponente, um apoiante e 18 deputados, não passa sequer à segunda ronda.
Na quinta-feira, 14 de julho, os deputados fazem a sua segunda escolha ao início da tarde, embora o resultado só deva ser conhecido durante a noite. Os votos por procuração são permitidos e todos serão depositados numa urna de metal de 1922 sob o olhar atento de Sir Graham e do Comité, a quem cabe garantir que tudo está a correr da forma certa. Para continuar na corrida é preciso garantir o apoio de 36 parlamentares.
O padrão repete-se nos dias seguintes, com novas votações a 18 e a 19 de julho. Nesta altura, com cada vez menos candidatos em jogo, começam as conversas de bastidores e as tentativas de conseguir alcançar o maior número possível de apoios. A 20 de julho é a batalha final da qual sairão apenas dois nomes, um deles o do futuro líder dos Tories e primeiro-ministro do Reino Unido.
Dali para a frente, a eleição do líder está nas mãos dos militantes, que podem enviar os seus votos via postal até final de agosto. O vencedor deverá ser anunciado a 5 de setembro, a tempo do regresso à vida ativa do Parlamento.
Quem são os 11 magníficos?
Os últimos a chegar à corrida vieram do Ministério dos Negócios Estrangeiros: Rehman Chishti e a própria chefe da diplomacia britânica, a ministra Liz Truss, uma das favoritas, embora só tenha 15 membros do parlamento a endorsá-la (por enquanto).
Nesse ranking, quem segue na dianteira é Rishi Sunak, chancelor do Exchequer (o equivalente a ministro das Finanças português) e um dos primeiros a demitir-se, juntamente com o ministro da Saúde, Sajid Javid — o que levaria à queda de Boris Johnson. Sunak apresentou a candidatura com um vídeo profissional no Twitter, o que levou muitos comentadores a considerarem que a ascensão a líder já estava a ser pensada há algum tempo.
Nesta segunda-feira, Javid disse isso mesmo, numa crítica velada ao colega de governo: “Não tenho um logótipo pronto ou um vídeo pronto para ser lançado. O que eu tenho é um desejo apaixonado de colocar a Grã-Bretanha no caminho certo e de nos guiar pela tempestade que se aproxima.”
Nadhim Zahawi é outro dos 11 candidatos: foi substituir Sunak no Ministério das Finanças e, apenas dois dias depois, juntou-se ao coro de vozes que pedia a demissão do primeiro-ministro. Da equipa governamental de Boris Johnson, são também candidatas Penny Mordaunt (afastada de ministra da Defesa por Johnson, mas regressada como secretária de Estado do Comércio Internacional) e Suella Braverman, membro do executivo enquanto procuradora-geral. Também Grant Shapps, ministro dos Transportes, é candidato — um dos poucos que não abandonou o cargo durante a crise que levou à demissão do primeiro-ministro.
Corrida à sucessão de Boris Johnson ganha força com dez candidatos
Fora de cargos atuais no Governo, também Kemi Badenoch, antiga ministra da Igualdade, é candidata, assim como Jeremy Hunt, ministro nos governos de David Cameron e Theresa May. Recusou ser despromovido por Boris Johnson, preferindo voltar ao Parlamento. Falta apenas o militar Tom Tugendhat, presidente da comissão parlamentar dos negócios estrangeiros.
A grande ausência da lista é Ben Wallace, o primeiro a ser apontado como favorito à sucessão. No entanto, já garantiu que vai ficar de fora, embora “não tenha sido uma escolha fácil” — prefere concentrar-se na segurança do país.
Ministro da Defesa britânico exclui-se da sucessão a Boris Johnson