Dependendo dos desenvolvimentos da crise política em curso no Reino Unido — que esta quinta-feira atingiu o seu zénite, com Boris Johnson a convocar a imprensa para finalmente apresentar a sua tão reclamada demissão —, a presente lista poderá passar de quatro para cinco.
Se o conservador se mantiver mesmo no número 10 de Downing Street até ao outono, como já disse ser sua intenção, Theresa May entrará no rol de primeiros-ministros que menos tempo passaram no cargo, sendo ultrapassada por ‘Bojo’ — ela esteve 1.108 dias na mesma morada, ele, para já, vai nos 1.079, mas continua a contar.
Neste momento, as contas são estas: nos últimos cem anos, no Reino Unido, só quatro pessoas detiveram o cargo durante menos tempo do que Alexander Boris de Pfeffel Johnson, empossado a 23 de julho de 2019, justamente em substituição da também conservadora Theresa May.
Desde que o século XXI começou, só um ex-governante tem lugar neste rol: o trabalhista Gordon Brown, que a 11 de maio de 2010, cinco dias depois de umas eleições gerais desastrosas que custaram 91 assentos parlamentares ao Labour, apresentou a demissão do cargo para o qual tinha sido indicado 1.049 dias antes.
Será muito provavelmente o nome mais reconhecível da curta lista — os três restantes foram empossados entre 1937 e 1963. Saiba quem são.
Neville Chamberlain
Apesar de ter ficado para a História como um político “conciliador”, foi durante o mandato de 1.078 dias de Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico entre maio de 1938 e maio de 1940, que a Inglaterra declarou guerra à Alemanha — pela segunda vez.
Até ao dia 3 de setembro de 1939, quando finalmente anunciou aos microfones da rádio pública o estado de guerra, dois dias após Hitler invadir a Polónia, Chamberlain fez de tudo para evitar a Segunda Guerra Mundial. Incluindo assinar, um ano antes, o Pacto de Munique, e aceitar a anexação pela Alemanha nazi de parte da então Checoslováquia — com a convicção de que estava a acordar a “paz no nosso tempo”.
Foi Sir Winston Churchill, o seu mais audível opositor (que aquando da assinatura de documentos em Munique não se tinha acanhado em declarar o pacto “uma derrota total”), quem tomou o seu lugar quando, no dia 10 de maio de 1940 Neville Chamberlain perdeu a confiança da Câmara dos Comuns e decidiu pedir a demissão do cargo. Num forte contraste com os seus 2 anos e 348 dias, Churchill manteve-se no cargo ao longo de 8 anos e 239 dias.
Anthony Eden
Quando, no dia 7 de abril de 1955, foi empossado como primeiro-ministro do Reino Unido, Anthony Eden tinha 57 anos e já tinha sido secretário dos Negócios Estrangeiros por três vezes — em momentos particularmente complicados, como foram os períodos da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria.
Eleito em eleições gerais, menos de um mês após ter ocupado o lugar deixado vago por Winston Churchill, Eden não teve um mandato fácil — e em um ano viu cair os seus índices de aprovação de 70% para cerca de 40%.
Manteve-se no cargo menos de dois anos, até 9 de janeiro de 1957. A forma como lidou com a crise no Canal do Suez, no ano anterior, foi a última estocada contra a sua reputação. Depois de ter invadido a região — juntamente com França e Israel e em resposta à nacionalização por Gamal Abdel Nasser da mais importante rota comercial marítima do mundo —, e de ter sido rechaçado pelas Nações Unidas e repudiado por elas, pela União Soviética e pelos Estados Unidos, Anthony Eden não teve outra opção senão renunciar.
Alec Douglas-Home
Dizem que foi um primeiro-ministro “inesperado”, o 14.º do século XX no Reino Unido, que para o ser teve de abdicar do título nobiliárquico que herdara do pai — nada menos do que o 14.º Conde de Home.
Empossado aos 60 anos, Alec Douglas-Home foi o último primeiro-ministro britânico anteriormente com assento na Câmara dos Lordes a ocupar o cargo — em que não permaneceu durante um ano sequer, ao todo só esteve 363 dias em Downing Street.
Secretário da Commonwealth justamente na época da Crise do Suez, Alec Douglas-Home era secretário dos Negócios Estrangeiros quando o também conservador Harold ‘Supermac’ MacMillan abdicou, a 18 de outubro de 1963. Contra todas as expectativas, foi eleito como seu sucessor no partido — mas nunca foi consensual, nem sequer entre os tories.
Perdeu as eleições em 1964, para o trabalhista Harold Wilson, e pôs fim a um ciclo de 12 anos de liderança do Reino Unido por parte do Partido Conservador.
Gordon Brown
Quando, a 27 de junho de 2007, substituiu Tony Blair e tomou posse como primeiro-ministro, Gordon Brown era o chanceler do Tesouro há mais tempo no cargo desde 1820 — 10 anos e 56 dias.
Se tivesse tido a mesma longevidade no número 10 de Downing Street, o trabalhista não faria parte desta lista: no total, esteve apenas dois anos e 318 dias no cargo. Foi o tempo suficiente para, realça o site do governo britânico, supervisionar “a devolução de poderes na Irlanda do Norte, a retirada das tropas do Iraque, e a primeira Lei sobre Alterações Climáticas do mundo”.
Em 2010, com 59 anos, o trabalhista perdeu as eleições e foi sucedido por David Cameron — que se manteve primeiro-ministro do Reino Unido entre 11 de maio desse ano e 13 de julho de 2016.