910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

O deputado do Partido Socialista (PS), João Paulo Correia, intervém durante o debate na Assembleia da República, em Lisboa, 14 de outubro de 2020. ANTÓNIO COTRIM/LUSA
i

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

João Paulo Correia, deputado do PS: "Luís Montenegro destruiu estado de graça em 15 dias"

O ex-secretário de Estado do PS critica Montenegro por ter se manter em silêncio sobre um retificativo e diz que polémica do IRS obriga a oposição a aguardar por todas as propostas: "é ver para crer".

O ex-secretário de Estado do Desporto — que durante oito anos foi o coordenador do PS na comissão parlamentar de Orçamento e Finanças — diz que “existiu má fé” do Governo na apresentação da proposta de descida do IRS e que com o complemento à descida do PS se pôs “fim ao ensaio de que só se iam começar a baixar impostos”.

João Paulo Correia diz que Pedro Nuno Santos “tem legitimidade” para impor um prazo de 60 dias ao primeiro-ministro para negociar a valorização de carreiras da função pública porque “se sabe agora que o país dispõe de condições de ir mais além na despesa do Estado”.

Sobre o desafio para um orçamento retificativo, feito pelo PS ao Governo, João Paulo Correia diz que “o silêncio da AD é ensurdecedor” e teme que também na valorização de carreiras (como a dos professores, policias ou oficiais de justiça), as propostas do PSD possam ser “medidazinhas” como a do IRS.

[Ouça aqui o Sofá do Parlamento com João Paulo Correia]

João Paulo Correia, do PS, sobre o Orçamento Retificativo? “Silêncio da AD começa a ser ensurdecedor”

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Embuste foi a palavra utilizada pelo PS para classificar o discurso do Governo quanto à descida do IRS. Porque é que durante o debate o PS também não procurou esclarecer o alcance da proposta do PSD?
O choque fiscal no IRS foi uma das principais bandeiras da AD na campanha eleitoral. Foi um dos principais compromissos para esta legislatura. O primeiro-ministro inicia o seu discurso no Programa do Governo exatamente por essa medida. Tendo escolhido como primeira medida, que gerou um enorme aplauso até das bancadas dos partidos que formam o Governo, a perceção pública geral foi que o Governo estava a anunciar um choque fiscal no IRS de 1500 milhões de euros. Veio-se a saber que não era assim. O Governo e o primeiro-ministro nunca procuraram no debate dizer o seu contrário. Aos olhos dos portugueses, esse anúncio acabou por ser encarado como um embuste, uma mentira, um engano. As pessoas sentem-se enganadas num dos principais compromissos de campanha.

Acha que existiu má fé por parte do Governo?
Claramente, existiu má fé. Procuraram manipular o debate parlamentar e chegámos à conclusão que afinal, não se trata de nenhum choque fiscal. Uma descida do IRS até o 8º escalão num montante máximo de 170 milhões de euros, quando o Governo do PS propôs ao Parlamento, e foi aprovado no Orçamento de Estado de 2024, mais de 1300 milhões de euros. Isto acaba por destruir o ensaio que o Governo procurou fazer no debate do programa de que só a partir de agora é que os impostos vão começar a descer. Foi isso que foi vendido na campanha pela AD e pelo Luís Montenegro e aqui no debate parlamentar foi isso que procuraram fazer. É mentira. A carga fiscal do nosso país é inferior à média europeia, é inferior à de Espanha, de França, e da Alemanha. O que é certo é que, apesar do IRS, do IRC e do IVA, que são os principais impostos, terem descido desde 2016, foram milhares de milhões de euros que deixaram de ser arrecadados pelo Estado e o que é certo é que a receita subiu, apesar da tributação descer. Porque é que isso aconteceu? Porque temos mais população empregada, o salário mínimo subiu, o salário médio subiu e é natural que, apesar da tributação descer, aumente a receita com isso fruto do crescimento económico do país.

"Julgo que os portugueses perceberam que não vão ter nenhum choque fiscal no IRS e ainda bem que a imprensa tem denunciado e procurado passar a informação correta. Quem trouxe na verdade um choque fiscal no IRS foi o anterior Governo"

Mas também por causa disso, o balão não ficou insuflado por parte do PS? Havia condições orçamentais para realmente duplicar a descida do IRS?
Na campanha, o PS alertou várias vezes para as contas erradas da AD. O nosso cenário macroeconómico está provado que é de longe o mais realista. Estamos até para saber de que forma é que o Governo vai cumprir as promessas que anunciou na campanha e também no discurso de abertura. A partir de agora tem de se seguir aquela velha máxima: ver para crer. É preciso conhecer em concreto as medidas, lê-las e estudá-las ao pormenor porque o Governo vai certamente cair na tentação de manipular novamente a informação e o discurso. Julgo que os portugueses perceberam que não vão ter nenhum choque fiscal no IRS e ainda bem que a imprensa tem denunciado e procurado passar a informação correta. Quem trouxe na verdade um choque fiscal no IRS foi o anterior Governo, que para 2024 traz uma redução de mais de 1.300 milhões de euros contra 170 milhões. O que demonstra, de uma vez por todas, que não só não é este Governo que vai iniciar a descida dos impostos e que o anterior Governo, ao longo dos anos, procurou dar continuidade à descida dos impostos.

O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, diz que o Governo vai ter que cortar em algum lado porque acabou por rever o excedente em baixa. Isto não é sinal de que o Governo está disposto a investir na valorização, por exemplo, das carreiras públicas?
O Governo anunciou uma descida do IRC e também, por falar nessa proposta, convém lembrar que a taxa efetiva de IRC em Portugal é de 17%. O Governo prometeu descer dois pontos percentuais de 21 para 15 no espaço da legislatura. É uma boa notícia para 60% das empresas que pagam IRC, há 40% de empresas que não pagam, e nessas estão muitas micro, pequenas e médias empresas. Apesar de ao longo dos últimos os governos do PS terem tomado medidas na descida do IRC, aos olhos da direita e da AD não parece ser suficiente. O que é certo é que o investimento estrangeiro em Portugal atingiu níveis históricos e recordes sucessivos, ou seja, não foi por conta do IRC e da política fiscal que as empresas deixaram de investir e que o país deixou de ser atrativo ao investimento direto estrangeiro. Vamos conhecer em concreto o que é que o Governo propõe no compromisso com os professores, com os polícias e com os profissionais de saúde, para perceber exatamente o que está em cima da mesa e quanto custará. Porque pode ser uma medidazinha ao nível do que aconteceu agora com o IRS e seja também um embuste que venha defraudar as expectativas, porque o Programa do Governo não bate certo com aquilo que é a perspetiva deste excedente orçamental.

"O PS não está obrigado a votar a favor. O PS e o líder do partido têm vincado que cabe liderar a oposição"

No caso do programa de estabilidade, o PCP e o Bloco de Esquerda vão forçar a votação. O PS está obrigado a votar a favor, tendo em conta que é apenas uma atualização do programa apresentado pelo anterior Governo?
O PS não está obrigado a votar a favor. O PS e o líder do partido têm vincado que cabe liderar a oposição. O PS apresentou medidas no programa do Governo. Pedro Nuno Santos apresentou medidas que fazem parte do programa eleitoral, que foi também sufragado e que esteve a cerca de pouco mais de 50 mil votos de ser o mais votado. Tem essa legitimidade, diria que até tem o dever de defender todas as propostas do programa eleitoral. Os partidos têm que se bater por causas e ideias que defenderam na campanha eleitoral e, por isso, é que receberam o voto dos eleitores. Foi muito importante que o líder do PS, no discurso de encerramento do Programa do Governo, tenha apresentado cinco medidas que vêm também fazer a diferença, como por exemplo o caso da abolição das portagens nas ex-SCUT.

Orçamento Retificativo. “Silêncio começa a ser ensurdecedor”

E é por isso também que este PS e Pedro Nuno Santos querem um orçamento retificativo, para mostrar uma viragem face à anterior governação?
Há áreas e matérias que são compromissos comuns a vários partidos e o PS está obviamente interessado em viabilizar esses compromissos que também são do Partido Socialista, nomeadamente os que identificou o secretário-geral sobre a valorização de determinadas carreiras na administração pública. São áreas que mereceram compromissos de alguns partidos, e do PS também, e por convicção o secretário-geral demonstrou essa disponibilidade imediata e por escrito ao líder do PSD.

E parece-lhe que o líder do PSD está a tentar empurrar estas matérias para o Orçamento do Estado de 2025?
É um silêncio que já começa a ser ensurdecedor. Luís Montenegro conseguiu destruir o estado de graça do Governo. Se existia, durava há 15 dias e foi destruído com este embuste e com o engano do IRS. Temos que esperar para perceber exatamente quais são as propostas em concreto. Quando o Governo diz, vamos negociar com os professores e com os polícias, temos que saber exatamente qual é a proposta, quanto é que isso custa, e se corresponde ao compromisso que o Partido Socialista também deseja que seja resolvido.

"Governo tem, de imediato, responder à disponibilidade manifestada pelo secretário-geral do PS" sobre retificativo 

Mas neste caso a questão é quando é que isso vai ser apresentado ao país? Por exemplo, Luísa Salgueiro, José Luís Carneiro e Augusto Santos Silva, já defenderam que o PS deve estar aberto à possibilidade de negociar o Orçamento do Estado. Concorda com esta linha de pensamento?
Concordo que o Governo tem, de imediato, responder à disponibilidade manifestada pelo secretário-geral do PS de colocar em cima da mesa uma proposta que responda exatamente aos compromissos de campanha nestas áreas. Acho que isso é fundamental. Seria gritante, seria mais uma desilusão para muitos portugueses, que isso não viesse a acontecer.

E quanto ao resto, segue o “praticamente impossível” de Pedro Nuno Santos? Na aprovação do orçamento
Se dúvidas existissem antes do debate do programa do Governo, o embuste do IRS mostrou que o país precisa muito e cada vez mais de um PS que lidere a oposição e como alternativa e que faça a diferença em relação ao Governo. Há um mar imenso que afasta o PS e o PSD.

E essa polémica afastou ainda mais?
Essa polémica afastou ainda mais.

Acha que há condições para o país viver em duodécimos caso o orçamento chumbe? No passado a rejeição do orçamento significou a queda do Governo
Essa é uma boa pergunta para se fazer ao Presidente da República.

Governo de António Costa: “Não caiu por conta dos resultados da governação”

Integrou o Governo durante os últimos dois anos. O PS acabou por ser o principal responsável de ter desbaratado a maioria absoluta ou a culpa foi mesmo do famoso parágrafo?
O PS governou o país durante oito anos com resultados. Virou a página da austeridade, enfrentou a pandemia, recuperou o país do impacto pandémico e recolocou o país na senda do crescimento. O Governo não cai por conta dos resultados da governação, que muitos deles até estão no pódio da União Europeia em várias frentes. Foram as circunstâncias que todos conhecemos que levaram à queda do Governo. Neste momento, como militante, dirigente e deputado eleito pelo PS, entendo que o mais importante é falar daqui para a frente.

Na carta enviada a Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos pediu a negociação da valorização das carreiras da função pública em 60 dias. Tendo em conta que o PS esteve os últimos oito anos no Governo, pode exigir prazos a um executivo que acaba de entrar em funções?
Sim, por duas razões. Esse também era o compromisso comum, não só do PS. E depois porque há algumas semanas tomámos conhecimento, porque foi apurado o saldo orçamental de 2023, e sabemos que o país dispõe de condições de ir mais além na despesa do Estado em relação a alguns compromissos desejados, como esses dos professores, polícias, profissionais de saúde e oficiais de justiça. Isto não era possível saber-se na altura da campanha eleitoral. Os compromissos assumidos pela AD foram assumidos no âmbito do cenário macroeconómico que a AD apresentou no programa eleitoral e prometeu aos portugueses que iria cumprir, com um crescimento económico de cerca de 3,5% até 2028, e não em função daquilo que é agora a perspetiva das contas públicas. No nosso entender, hoje o país dispõe de melhores condições para fazer esses avanços, fruto daquilo que foi a governação do PS.

E por isso pode agir mais rapidamente?
E por isso pode agir mais rapidamente, sim

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.