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Olhe à sua volta e tente imaginar o local onde está sem plástico
Elimine mentalmente os objetos feitos deste material, aqueles que têm alguns componentes de plástico, e pense como seria o seu dia-a-dia sem eles.
O plástico tornou-se indispensável à vida humana, mas é o Oceano que está a pagar o preço.
Os números da UNESCO são claros: 80% do lixo marinho é plástico e, na última década, a humanidade produziu mais plástico do que nos séculos anteriores.
Para agravar o problema, o seu tempo de decomposição é de 500 a 1000 anos.
Portanto, todo o plástico que a humanidade alguma vez produziu, desde o início do século XX, ainda existe.
As prospeções da UNESCO não são animadoras: em 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixes.
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Getty Images/iStockphoto

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Mais plástico no mar do que peixes? É urgente salvar o Oceano

O ambiente marinho não está saudável: em 2050 pode haver mais lixo no mar do que peixes. As associações ambientalistas pedem mudanças nas cadeias de produção e no consumo.

Foi para criar mais uma iniciativa de alerta para a proteção dos oceanos que a EDP criou o projeto Backwash, uma loja virtual que juntou objetos encontrados em limpezas ao largo de Sesimbra. Nesta montra online, os produtos não têm um preço em euros, mas sim em número de anos estimados para a sua decomposição — o custo para o planeta. Não podendo comprar estes objetos, pode contribuir através de uma doação para a The Ocean Cleanup, organização não-governamental (ONG) que usa e cria tecnologias para remover o plástico dos oceanos.

O que está no fundo do mar?

Esta loja é o resultado de uma grande limpeza marinha, realizada pela Oceanum Liberandum, ONG portuguesa, e apoiada pela EDP. Nessa primeira iniciativa, 597 mergulhadores uniram-se em 12 horas de limpeza ao largo da costa de Sesimbra; outra, mais recente, juntou 842 mergulhadores durante 24 horas, batendo o recorde do Guiness. Nesta segunda, recolheram-se sete toneladas de lixo do fundo do mar.

Entre os objetos recolhidos na primeira limpeza estão computadores, sapatos, brinquedos. Levam-nos a uma dura conclusão: as atividades humanas são a grande ameaça ao Oceano, seja através do consumo de plásticos descartáveis, a realização de atividades marinhas insustentáveis ou a exploração de combustíveis fósseis.

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  • Dani Mora
  • Dani Mora

Falámos com três associações ambientalistas portuguesas e são unânimes: sem um Oceano saudável, não é possível combater as alterações climáticas. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), 25% das emissões anuais de dióxido de carbono são absorvidas pelos oceanos. Para proteger esta majestosa massa de água não basta retirar-lhe todo o lixo.

O que ameaça o Oceano?

O plástico, incluindo os microplásticos, é o tipo de lixo mais abundante no Oceano, mas Jorge Cardoso Gonçalves, Presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos (APRH), frisa que não é a única ameaça, acrescentando a acidificação e a eutrofização — problemas destacados pela Conferência dos Oceanos, que teve lugar em Lisboa, em 2022.

A acidificação carateriza-se pela diminuição do ph da água e acontece por causa do crescimento da absorção de dióxido de carbono, explica Jorge. “Simultaneamente, afeta de forma negativa os ecossistemas marinhos e o seu efeito protetor do planeta, porque diminui a sua capacidade de absorção de dióxido de carbono.”

Já a eutrofização é uma consequência das descargas de poluentes: “é um processo que condiciona a disponibilidade de oxigénio nos ecossistemas aquáticos. Encontra-se predominantemente associado às atividades industriais e agropecuárias, pelo escoamento de nutrientes, por exemplo fósforo e azoto, para os solos e para as massas de água”, afirma Jorge Cardoso Gonçalves.

Em suma, “as principais ameaças aos oceanos identificadas encontram-se relacionadas com o crescimento populacional e com o consumo de bens e serviços,” continua Jorge Cardoso Gonçalves, que aponta a necessidade de uma conjugação de mudanças a nível global, “no governo dos países, regiões e cidades, e das nossas escolhas individuais”.

Poluição no Oceano, problemas em terra

Os seus ecossistemas marinhos estão a ser devastados. Carolina Silva, analista de políticas públicas da Associação Zero, frisa que restaurar os ecossistemas marinhos pode ser um salto significativo no combate ao aquecimento global, “pode contribuir para preservar inúmeras espécies marinhas e sequestrar dióxido de carbono da atmosfera a um ritmo quatro vezes mais rápido do que as florestas”, quantifica Carolina Silva.

 

Além do desastre ambiental, a poluição do Oceano é um ataque à saúde humana. Para o demonstrar, Carolina Silva recorda o caso da poluição atmosférica dos navios, “altamente danosa, não só para o próprio ambiente marinho devido à acidificação e eutrofização que causam, mas também para a saúde humana”, segundo a Federação Europeia de Transportes e Ambiente.

É possível uma nova forma de produzir e consumir

Limpar efetiva e definitivamente o Oceano é “uma tarefa impossível”, uma vez que “a maioria das atividades humanas vão ter a poluição do Oceano como consequência direta ou indireta”, considera João Pequeno, Investigador do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente) e um dos colaboradores da Associação Portuguesa do Lixo Marinho (APLM). É necessário repensar a produção.

“As empresas não vão parar de produzir porque o que lhes interessa é o lucro económico. O mercado é global, e colocar a responsabilidade do lado do consumidor não faz sentido quando estamos à procura de soluções”, considera João Pequeno, acrescentando que “todos devem fazer parte da solução: o produtor, o distribuidor, o consumidor, o legislador, o regulador e o decisor político”.

Se olharmos para as projeções de produção e consumo de plástico, verificamos que vão triplicar até 2060. Isto acontece principalmente devido ao aumento do poder de compra nos países em desenvolvimento. Em 2022, a produção de plásticos superou os 460 milhões de toneladas. Cerca de 12 milhões de toneladas vão parar ao Oceano por ano”.

 

A produção e o ciclo de vida do plástico é, como mostram os dados, um ponto central quando se fala da limpeza dos oceanos. Não é só o lixo físico que está em causa, mas também a poluição através de compostos tóxicos decorrentes da produção de plástico.

 

A utilização de combustíveis fósseis para a produção de plástico é ainda outro fator de poluição, por causa da emissão de gases com efeito estufa (GEE). Para a APLM, além da necessidade de uma diminuição do consumo, é preciso que as cadeias de produção sejam repensadas.

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A transição energética pode vir do Oceano – e ajudar a salvá-lo

Um Oceano saudável só é possível com o combate às alterações climáticas e, portanto, todas as políticas e ações coletivas neste âmbito são protetoras do Oceano. Além disto, pode mesmo vir do mar uma parte da solução: as energias renováveis das ondas, solar e eólica off-shore, por exemplo, podem tornar-se significativas para a transição energética e, portanto, uma área fulcral da economia azul.

A “Economia Azul” é o conjunto de todas as atividades relacionadas com o mar — as que estão estabelecidas e outras emergentes, motivadas por avanços científicos. Como define a ONU, é a utilização sustentável dos recursos marinhos para proveito económico. Carolina Silva, da Associação Zero, frisa a palavra “sustentável” e vai mais longe: têm de ser adotadas “abordagens ecossistémicas regidas pelos princípios da precaução e do poluidor-pagador na exploração de recursos marinhos”.

Jorge Cardoso Gonçalves, da APRH, nota que a transição energética poderá ter um duplo impacto na defesa do Oceano. Diretamente, o exemplo mais evidente é a remoção dos plásticos nas águas para a instalação de infraestruturas. Por outro lado, há benefícios indiretos: “a aposta em energias renováveis beneficia a redução do recurso a combustíveis fósseis e, assim, a diminuição da poluição provocada pela sua prospeção e exploração. Também significa um decréscimo da emissão de gases de efeito de estufa, incluindo o dióxido de carbono, que contribui para a acidificação dos oceanos”, conclui.

Neste cenário favorável, João Pequeno, da APLM, recorda que é preciso constante investigação sobre estes temas e atividades económicas. “É necessária mais investigação científica e que a informação seja comunicada às pessoas, pois todas elas são uma parte interessada neste tema. É essencial proteger o nosso Oceano e evitar que os interesses económicos se sobreponham uma vez mais, evitando cometer os mesmos erros que cometemos em terra”, conclui.

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