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Manuel, Ana, Walter. Os americanos infiltrados de Cuba, o último reduto da espionagem "tirada de um livro de John le Carré"

Manuel Rocha, antigo embaixador dos EUA, é acusado de ter espiado a favor de Cuba durante décadas. Não é o primeiro caso — é antes uma prova da eficácia das "subestimadas" secretas cubanas.

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Tudo começou com uma mensagem de WhatsApp em espanhol. “Boa tarde, embaixador. Chamo-me Miguel e tenho uma mensagem para si dos seus amigos de Havana. Trata-se de um assunto delicado. Estaria disponível para uma chamada telefónica?”

Em novembro de 2022, foi montada uma armadilha para apanhar Victor Manuel Rocha, diplomata norte-americano reformado que ocupou o posto de embaixador em vários países da América Latina e que foi conselheiro do governo para a política em Cuba. Rocha mordeu o isco e os dois homens encontraram-se três vezes ao longo dos meses seguintes. Primeiro numa igreja, depois na praça de alimentação de um centro comercial ao ar livre, em Miami.

Uma das imagens captadas pela câmara oculta do agente "Miguel" durante um dos encontros com Rocha

Manuel Rocha chegou ao primeiro encontro depois de fazer um desvio e avaliar o local — uma técnica habitual de contra-vigilância dos serviços de espionagem de todo o mundo. “Foi o que sempre me disseram para fazer”, admitiu o próprio a “Miguel”.

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Ao longo dos três encontros, o ex-embaixador não teve pudor em admitir que trabalhou para Havana como agente infiltrado durante décadas. Referiu-se a Fidel Castro como “Comandante”, ao governo norte-americano como “o inimigo” e aos membros dos serviços de informação cubanas como “compañeros”. Quando o interlocutor questionou se ainda estava comprometido com “A Revolução”, Manuel Rocha foi perentório: “É como se estivesses a questionar a minha masculinidade. Como se quisesses que baixasse as calças e mostrasse que ainda tenho cojones.”

Aquilo que Rocha não sabia é que “Miguel” não era membro da Dirección de Inteligencia (DI, antiga DGI) de Cuba, mas sim um agente do FBI. E que os três encontros que tiveram foram todos filmados e gravados com uma câmara oculta. Razão pela qual o antigo diplomata está agora detido, a aguardar julgamento, depois de na segunda-feira passada procuradores norte-americanos terem dado entrada com uma queixa contra si que lhe pode valer dez anos de prisão. Manuel Rocha tem, neste momento, 73 anos.

Manuel Rocha, o embaixador que fingia apoiar Trump enquanto trabalhava para Havana

Quando viu as notícias naquela manhã de segunda-feira, John Feeley não queria acreditar. “Isto parece tirado diretamente de um livro de John le Carré”, diz ao Observador o antigo embaixador norte-americano do Panamá.

"Manuel Rocha foi meu chefe. E ele era um chefe incrivel. Foi nosso mentor, preocupava-se, continuou a manter contacto connosco durante anos.”
John Feeley, ex-embaixador dos Estados Unidos no Panamá

Não apenas pelo fator inusitado de, a crer na confissão de Rocha, um diplomata ter conseguido enganar toda a estrutura do Departamento de Estado norte-americano durante mais de 40 anos. É também pelo facto de que Feeley conhece bem o alegado espião cubano. “Manuel Rocha foi meu chefe”, conta. No seu primeiro posto no estrangeiro, na República Dominicana, Feeley e a mulher (também ela diplomata) foram liderados por Rocha, à altura número dois daquela embaixada. “E ele era um chefe incrivel. Foi nosso mentor, preocupava-se, continuou a manter contacto connosco durante anos.”

Manuel Rocha foi embaixador dos Estados Unidos em vários países da América Latina e conselheiro para a política em Cuba

Durante todos estes anos, este diplomata norte-americano nunca suspeitou minimamente de qualquer ligação de Rocha ao regime castrista de Cuba. “Ele fazia parte daquela comunidade alinhada com os cubanos mais conservadores de Miami. Isso nem sequer é nada de extraordinário ou raro dentro do Departamento de Estado”, explica. “Mas, quando saiu do serviço, tornou-se ainda mais conservador.” Nos últimos anos, Manuel Rocha assumia-se como um apoiante de Donald Trump. Tudo não passaria de um disfarce, segundo o próprio contou agora a “Miguel”: “Criei a imagem de que era uma pessoa de direita”. Quando esteve em La Paz no cargo de embaixador da Bolívia, Manuel chegou a tecer duras críticas públicas a Evo Morales — o que, ironicamente, parece ter contribuído para aumentar a popularidade da posição anti-americana do Presidente bolivariano no país.

Rocha está agora acusado de conspiração para agir como agente de um governo estrangeiro. “Esta ação expôs uma das infiltrações mais de topo e durante mais tempo por parte de um agente estrangeiro no governo dos Estados Unidos”, afirmou o procurador-geral norte-americano, Merrick Garland, sobre o caso de Rocha.

“Mas ele não está acusado de ter violado a Lei de Espionagem”, nota ao Observador Pete Lapp, antigo agente do FBI especializado em contraespionagem. “O que isso indica é que o governo tem noção do que ele terá feito, mas não tem ainda provas suficientes para poder acusá-lo de ter passado esta ou aquela informação.”

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O procurador-geral Merrick Garland comentou o caso de Rocha como sendo uma das infiltrações "mais de topo" na História do país

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Se chegar a um acordo judicial, Rocha poderá vir a especificar que informação concreta terá transmitido a Havana. Mas os especialistas ouvidos pelo Observador não têm dúvida de que, tendo em conta os cargos que ocupou ao longo da vida, esta terá sido altamente valiosa para Cuba. “Ele não lhes passou receitas de culinária, certamente…”, ironiza Lapp.

Jim Popkin é jornalista de investigação norte-americano que acompanhou o caso de uma outra norte-americana acusada de espiar a favor de Cuba — já lá vamos. Neste caso, Popkin considera que, com a “confissão” que foi extraída, Rocha já não terá muita margem de manobra: “Ele falou com gosto com alguém que lhe parecia ser um ‘companheiro’ leal à Revolução cubana e ao país. Vai ser difícil para os seus advogados argumentarem agora que ele não estava a falar a sério ou que estava apenas a empolar o seu percurso para impressionar Cuba.” O antigo embaixador está “num sério problema”, acredita Popkin.

Dirección de Inteligencia, as “subestimadas” secretas de Cuba que ultrapassaram o KGB

O caso de Manuel Rocha está longe, no entanto, de ter sido apenas uma coincidência feliz para Havana. É antes um sinal do nível de profissionalismo das secretas de Cuba, que há anos gerem operações com agentes infiltrados em território norte-americano, por vezes até com cidadãos do país, como neste caso.

“As pessoas subestimam as secretas de Cuba”, sentencia Pete Lapp. “Até dentro dos próprios serviços de informação norte-americanos, pessoas que lidaram com a China e a Rússia não entendem o nível de ameaça que os serviços de informação de Cuba representam.” Na opinião deste antigo agente, as capacidades da Dirección, que conseguiu manter-se relevante mesmo depois do fim da Guerra Fria, tem sido um dos fatores que ajudou o regime castrista a resistir por tanto tempo.

Fidel Castro foi o pai fundador das secretas do país, criando um órgão profissional depois de chegar ao poder em 1959. Três anos depois, os seus agentes já estavam a ser treinados pelo KGB em Moscovo. E, rapidamente, “o pupilo ultrapassou o mestre”, nota James M. Olson, antigo chefe do Departamento de Contraespionagem da CIA, no seu livro To Catch a Spy: The Art of Counterintelligence (sem edição em português): “A DGI era muito melhor do que o KGB em termos de audácia, habilidade e disciplina. A CIA por vezes conseguia penetrar no KGB, graças a alguns erros. Quem me dera que tivéssemos conseguido fazer o mesmo com a DGI.”

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Fidel Castro estabeleceu as secretas cubanas logo após a Revolução e enviou agentes para serem treinados pelo KGB

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O contrário acabou por acontecer. Até ali, Washington não tinha noção do grau de infiltração. “Os cubanos normalmente não dão grandes agentes”, pode ler-se num relatório da CIA da década de 1960. “Não entendem o significado da segurança, não aceitam bem ordens e não costumam ter a coragem solitária que a espionagem exige.” Mas, em 1987, um dos principais dirigentes das secretas cubanas, Florentino Aspillaga, pediu asilo nos Estados Unidos. Aquilo que revelou de seguida foi que, durante anos, Cuba tinha conseguido infiltrar dezenas dos seus agentes nos departamentos de segurança norte-americanos.

O próprio Fidel Castro viria a admiti-lo, décadas mais tarde. Em 1998, numa entrevista à CNN, o antigo ditador cubano confirmou a infiltração de agentes do seu país em organismos norte-americanos: “Acho que temos direito a fazê-lo. Os Estados Unidos também produzem espiões em quantidades industriais”, justificou.

Ana Montes, a “Rainha de Cuba” do Pentágono

Mas a infiltração foi muito além do envio de agentes cubanos treinados — envolveu também o recrutamento de cidadãos norte-americanos, que obtiveram resultados espetaculares para os serviços de Havana.

Ana Montes era conhecida dentro do Pentágono pela alcunha “Rainha de Cuba”. Como analista, era a principal responsável da recolha de informações sobre o país para a Agência de Informações de Defesa. Jim Popkin, autor da obra Code Name Blue Wren (sem edição em português) sobre a vida desta mulher, resume a sua história: “Ana Montes é uma americana, filha de pais porto-riquenhos, que em jovem se encantou pela política mais à esquerda. Tornou-se muito crítica da política externa norte-americana, em particular na América Central. Durante a sua pós-graduação, foi recrutada pelos cubanos para espiar para eles. E eles depois ajudaram-na a candidatar-se ao Pentágono. Ela subiu na estrutura e espiou a favor de Cuba, em segredo, durante 17 anos.” Os investigadores do seu caso descreveram-na como “um dos espiões que inflingiu mais dano [aos EUA] em toda a História do país”.

Ana Montes era a principal responsável pelo trabalho de análise de Cuba no Pentágono

No seu julgamento, Montes assumiu publicamente as suas motivações. “Obedeci à minha consciência em vez de obedecer à lei”, disse. “Acredito que a política do nosso governo em relação a Cuba é cruel e injusta, digna de um mau vizinho, e senti-me moralmente obrigada a ajudar a ilha a defender-se.”

Pete Lapp foi um dos agentes do FBI que fez parte da equipa que investigou Montes. E um dos pontos que mais o impressionou foi o nível de “profissionalismo” que viu nas secretas cubanas e na própria Ana Montes.

“Ana Montes já era espia há sete anos quando recebeu uma medalha dos serviços secretos cubanos. E não era só numa lógica de ‘Parabéns, és a terceira melhor espia do ano’.”
Pete Lapp, ex-agente de contraespionagem do FBI que fez parte da equipa que investigou Ana Montes

Todos os dias, a norte-americana tentava decorar todos os documentos com que contactava naquele dia no seu pequeno gabinete, o C6-146A. À noite, quando chegava a casa, transcrevia tudo de memória para o seu computador Toshiba. A forma como recebia ordens era em parte através de um rádio de ondas-curtas. “Atención, atención”, dizia uma voz do outro lado, antes de lhe comunicar 150 números — um código que Montes descodificava depois.

Para entregar a informação, a norte-americana usava cabines telefónicas no jardim zoológico de Washington, para onde ia depois de fazer alguns desvios (exatamente a mesma técnica que Manuel Rocha usou agora nos seus encontros). E chegou mesmo a encontrar-se pessoalmente com alguns superiores em restaurantes chineses da capital norte-americana, passando diretamente disquetes ao seu contacto.

“Ana Montes já era espia há sete anos quando recebeu uma medalha dos serviços secretos cubanos. E não era só numa lógica de ‘Parabéns, és a terceira melhor espia do ano’”, nota Lapp. Na altura, Montes ainda não era sequer a “Rainha de Cuba” — trabalhava na área de investigação sobre El Salvador e Nicarágua. Mas a informação que passou terá sido tão valiosa para Havana (“que obviamente a partilhou com os sandinistas”, nota Lapp) que mesmo assim foi medalhada.

Daí para a frente, o céu foi o limite. Até ser apanhada e cumprir 20 anos numa prisão de alta segurança, de onde Ana Montes saiu neste ano de 2023. Vive agora com a família em Porto Rico.

Walter Myers, o gringo que apanhou prisão perpétua

Mas Montes não foi a única.

A 15 de abril de 2009, um agente disfarçado do FBI abordou Walter Kendall Myers com um discurso muito semelhante ao que “Miguel” usou com Manuel Rocha. Disse-lhe que se chamava “Hector”, que vinha em nome de Havana e que queria reestabelecer aquele contacto. Ofereceu um charuto cubano ao professor da Universidade de Johns Hopkins — que já se tinha reformado do seu trabalho no Departamento de Estado norte-americano, onde analisava a política europeia.

Aquilo que Myers acabou por lhe confessar é que tinha, de facto, transmitido muita informação a Havana nas décadas anteriores, quando ainda trabalhava dentro da estrutura do Estado. E não o tinha feito sozinho: a sua mulher, Gwendolyn, tinha-o ajudado, passando mensagens em supermercados, onde trocava o seu carrinho de compras com o de outro agente. Eram identificados como “Agente 202” e “Agente E-634”. E eram absolutamente fascinados com a Revolução Cubana.

No seu diário pessoal, Myers referia-se a Fidel Castro como “um líder carismático e brilhante”. A admiração vinha desde 1978, altura em que visitou Cuba pela primeira vez. “Voltei com muita acidez em relação ao nosso sistema. A falta de decência do nosso sistema de saúde, a indiferença das nossas empresas petrolíferas perante as necessidades públicas… Os cubanos abdicaram da sua liberdade pessoal para manter segurança material? Não acredito nisso. Nada de valioso se perdeu na Revolução”, escreveu a certa altura. O casal admitiu mais tarde que chegou a encontrar-se pessoalmente com Fidel em Havana, tendo ficado muito impressionados com o seu carisma. Tudo isso foi dito no seu julgamento, onde Gwendolyn foi condenada a 81 meses de prisão e Walter apanhou uma pena de prisão perpétua.

Walter Myers começou a trabalhar como agente para Cuba depois de uma viagem a Havana

Em público, os Myers não falavam sobre Cuba e mantinham a aparência de um casal de meia-idade mais interessado em velejar do que em discutir a América Latina. “Sinto que prenderam o Pai Natal ou o Coelhinho da Páscoa”, desabafaria uma vizinha, surpresa.

Mas o casal ilustra como Cuba tem a capacidade de atrair não apenas agentes cubanos ou americanos de ascendência latina. “Kendall Myers é o tipo mais caucasiano que pode haver”, nota Pete Lapp. “É descendente de Alexander Graham Bell [inventor do telefone]. Quando olho para a ‘Parede dos Espiões’ que há no FBI, com as fotos do cadastro deles, vejo muitos gringos.”

“Aquilo que os cubanos têm que mais ninguém tem é a t-shirt de Che Guevara”

Porque se há algo que as secretas cubanas entenderam é que a forma mais eficaz de recrutar um agente não é através da compensação financeira ou da chantagem — é identificando aqueles que têm um compromisso ideológico profundo com a sua causa.

“Normalmente começam devagar, pedindo aos recrutas que traduzam algumas coisas ou outro tipo de trabalho inócuo. E depois vão aumentando os pedidos”, conta Jim Popkin. “Mas estes recrutas geralmente são voluntários e não exigem muita persuasão, ou porque acreditam de forma fervorosa na promessa de Cuba ou porque desprezam a atitude da América em relação às nações mais pequenas da América Central. E isto foi particularmente relevante durante a administração Reagan, quando muitos jovens liberais ficaram indignados com a intervenção agressiva na Nicarágua e em El Salvador.”

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A imagem de Che Guevara como "David contra Golias" continua a ter influência na perceção pública de Cuba

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Todos partilham geralmente um profundo sentido de missão, como nota Pete Lapp, em contraste com outros norte-americanos que espiaram para outros países, como Robert Hanssen e Aldrich Ames o fizeram a favor da União Soviética. “Hanson e Ames eram tipos untuosos. Eram motivados pelo dinheiro e pelo seu ego”, diz. “Enquanto que Montes e os Myers acreditavam numa causa, tinham um sentido de missão. E isso chegou-lhes para arriscar a este nível: a espionagem implica arriscar a vida ou, pelo menos, a liberdade”.

Mas como consegue Cuba inspirar este nível de devoção que garante uma lealdade inquestionável por parte de cidadãos estrangeiros? E como continua ela a perdurar num contexto onde a Guerra Fria já terminou há três décadas?

"Aquilo que os cubanos têm que mais ninguém tem é a t-shirt de Che Guevara. E por que é que isso importa? Porque motiva as pessoas. E pessoas jovens, e às vezes jovens e tolas, sentem-se motivadas por esta nostalgia em relação aos tipos que conseguiram aquilo. Há uma narrativa de David contra Golias que é muito poderosa para algumas pessoas.”
John Feeley, ex-embaixador dos EUA no Panamá e antigo colega de Manuel Rocha

O ex-embaixador John Feeley admite que, em parte, ainda há consequências visíveis da política norte-americana na América Latina: “Se colocássemos na mesma cela o Kendall Meyers, a Ana Montes e o Manuel Rocha, aposto que todos concordariam na mesma visão de nojo perante o poder americano [no continente]”, diz.

Mas o diplomata afirma que os trunfos de Cuba vão muito para além disso. “Aquilo que os cubanos têm que mais ninguém tem é a t-shirt de Che Guevara. E por que é que isso importa? Porque motiva as pessoas. E pessoas jovens, e às vezes jovens e tolas, sentem-se motivadas por esta nostalgia em relação aos tipos que conseguiram aquilo. Há uma narrativa de David contra Golias que é muito poderosa para algumas pessoas.”

No caso de Manuel Rocha, ainda não conhecemos todos os detalhes do que o motivou a trabalhar para Havana, mas Feeley suspeita que pode ser semelhante, apontando para o período em que Rocha esteve no Chile quando era um jovem estudante e que coincidiu com o golpe de Estado de Pinochet. “O que aconteceu no Chile foi terrível. As pessoas eram levadas e alvejadas em estádios”, nota.

O Manuel cresceu na era da Guerra do Vietname. E os tipos que estavam a matar pessoas em Santiago do Chile eram algo semelhantes aos americanos que estavam a matar vietnamitas. O Manuel é um tipo baixo, meio rechonchudo e moreno. Chegou ao topo de uma estrutura que, infelizmente, ainda hoje é uma organização de homens brancos, como eu. Talvez ele tenha pensado ‘Vou contribuir para a solidariedade dos trabalhadores internacionais’. Quem sabe?”

Manuel Rocha estave no Chile quando se deu o golpe de Estado de Pinochet

Também ninguém sabe exatamente que segredos de Estado pode Manuel Rocha ter transmitido, mas não há dúvida de que tinha acesso a eles, nota este antigo embaixador. Acima de tudo, porém, o que o seu caso ilustra é que a cultivação de agentes continua a ser o coração da espionagem bem sucedida, seja na Guerra Fria ou agora. “Sun Tzu tem uma frase que diz ‘Os espiões são as jóias da Coroa de um soberano’. E suspeito que, mesmo com a Inteligência Artificial, continue a ser assim”, declara John Feeley.

“O que jaz no coração de um homem ou de uma mulher? A que são eles verdadeiramente leais? Isto continuará a ser um tópico fascinante. E é também uma matéria de segurança nacional”, acrescenta. Cuba sabe-o bem.

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