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Paulo Jorge Magalhães/GLOBAL IMAGENS

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Marçal Grilo, apoiante de José Luís Carneiro: "PS não deve bloquear a governação do PSD"

O antigo ministro da Educação diz que o atual ministro da Administração Interna é o que "melhor representa os moderados" e defende acordos de regime com o PSD.

É independente, mas foi ministro da Educação de António Guterres e assume-se como um “moderado” da ala socialista. É um dos ‘senadores’ que apoia José Luís Carneiro por entender que “dá voz a um conjunto de eleitores sentados que têm muito pouca voz na comunicação social”.

Sem críticas diretas a Pedro Nuno Santos, é essa moderação que leva Marçal Grilo a defender que “PS e PSD não devem obstaculizar a governação um do outro” e que são necessários “acordos de regime, sem coligações nem acordos escritos”.

Eduardo Marçal Grilo defende que José Luís Carneiro é o que “aparece” em melhores condições de ser primeiro-ministro e admite que se tiver que escolher entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro a decisão “não vai ser fácil” nas legislativas antecipadas marcadas para 10 de março.

[Ouça aqui o Sofá ao Rato com Eduardo Marçal Grilo]

Eduardo Marçal Grilo: “José Luís Carneiro tem mais hipóteses de ser primeiro-ministro”

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Apoia José Luís Carneiro. É sobretudo para evitar uma deriva esquerdista dentro do PS, que pode acontecer com o outro candidato?
Sou independente, não tenho nenhuma filiação partidária e há duas semanas escrevi um artigo sobre a importância que atribuo à posição dos chamados moderados, que é aquilo que considero que sou. Uma pessoa equilibrada e com sentido de diálogo relativamente aos problemas que vamos enfrentando nos vários sectores da vida pública. Entendi, conjuntamente com pessoas que eu considero muito e que são, essas sim, membros do Partido Socialista, dar apoio público a José Luís Carneiro. Faço-o porque ele se situa naquilo que eu considero que é o ponto exato onde deve estar a política portuguesa, ou seja, numa área que tem muitas preocupações sociais mas que têm um visão do mundo e do país que é de uma economia de mercado, que deve ser regulada.

E com Pedro Nuno Santos isso não acontece tanto?
Não sei. não conheço bem Pedro Nuno Santos. Estou mais interessado em saber quem vai ser primeiro-ministro e por isso é que eu apoio José Luís Carneiro, porque acho que poderá ser um excelente primeiro-ministro. É um homem que tem uma tarimba importante, que foi autarca, secretário de Estado, secretário-geral adjunto do Partido Socialista, ministro. Como ministro tem um perfil que se encaixa bem naquilo que eu penso que deve ser a atividade de governante. O ministério da Administração Interna é uma pasta complicada, porque tem muitas responsabilidades na segurança e quanto a  José Luís Carneiro o que posso dizer é que tem as características que me satisfazem e dão confiança relativamente à condução dos negócios do país.

Mas olhando para aquilo que pode ser a escolha dos militantes do PS, talvez Pedro Nuno Santos esteja mais capaz de conseguir ganhar umas eleições legislativas em nome do PS?
Penso o contrário. Quem tem possibilidade de ganhar umas eleições legislativas é José Luís Carneiro porque o país é maioritariamente equilibrado e moderado. Os eleitores em Portugal não se reveem muito nesta gritaria a que estamos a assistir. Não se reveem em promessas para a esquerda e promessas para a direita, em geringonças da esquerda e geringonças da direita. Os eleitores são pessoas normalmente sensatas, a esmagadora maioria. A razão porque faço este apoio e dei a cara por ele é no sentido de dizer: os moderados estão consigo. Os moderados têm pouca voz na comunicação social. Muito pouca. O que vejo na televisão é suficiente para perceber que aquilo que vende são os radicais e os extremistas. Tive uma experiência governativa durante quatro anos, já quase há 30 anos, como ministro da Educação e aí eu procurei fazer e o que consegui fazer foi em diálogo com muitas outras forças políticas. Os Estados Unidos estão com um problema enorme porque ou se está de um lado ou se está do outro. Deixaram de existir decisões com o apoio dos dois partidos.

"É óbvio que tem que haver um entendimento entre os dois partidos" [PS e PSD]

Essa moderação implica necessariamente que o Partido Socialista esteja disponível para entendimentos privilegiados mais ao centro, com o PSD?
Defendo isso há mais de 30 anos. É óbvio que tem que haver um entendimento entre os dois partidos. Não é fazerem coligações, nem fazer o centrão, nem esta coisa de dividir o país ao meio. É pegar em áreas, por exemplo, na educação, na saúde, na justiça, na parte fiscal. Estas quatro áreas são absolutamente essenciais que sejam acordadas entre os dois partidos. Um pacto entre os dois partidos são pactos de regime que têm que ser feitos. Com este extremar de posições, corremos o risco de termos a esmagadora maioria do país indecisa entre uma coisa que não gosta de um lado e uma coisa que não gosta do outro.

“José Luis Carneiro é o que representa a moderação”

É por isso que Luís Montenegro escolheu Pedro Nuno Santos como o candidato a atacar nesta fase porque sabe que José Luís Carneiro pode entrar mais no eleitorado do PSD?
Não é entrar no eleitorado do PSD, é entrar no eleitorado moderado. Quem deu a vitória a António Costa em janeiro de 2022 foi o eleitorado moderado. Não há eleitorado do PS e eleitorado do PSD. Há um eleitorado moderado que oscila entre um partido e o outro. E esse é que decide verdadeiramente as eleições.

E nesse sentido José Luís Carneiro é o maior herdeiro do costismo?
Não diria que é herdeiro do costismo. É o que representa a moderação, a confiança, a liderança e a capacidade de diálogo com todas as partes. É evidente que há coisas que se podem fazer com os partidos à esquerda, isso acontece muitas vezes na Assembleia da República. O acordo de António Costa com o Bloco de Esquerda e com o PCP acabou porque, a certa altura, queriam tanto que António Costa disse que não é possível. A moderação fez uma coisa absolutamente essencial que os portugueses devem apreciar, que é ter-se combatido o défice e a dívida. O equilíbrio orçamental é uma política que não deve ser interrompida. Não se trata propriamente da austeridade. Trata-se de equilíbrio das contas.

Se o PSD vencer sem maioria absoluta, o PS deve voltar ao caminho de viabilizar o governo mais votado, ou o candidato a primeiro-ministro mais votado?
Há uma semana disse na RTP que um dos acordos que devíamos ter em Portugal era o dos dois grandes partidos não poderem obstaculizar a governação do outro. Confundimos muitas vezes entendimento, diálogo, acordo de regime, estas coisas que se falam muito. Confundimos isto com coligações. Não é preciso fazer coligações.

É voltar à tradição pré-geringonça?
Quando estive no Governo, as coisas que consegui fazer, filas num entendimento com o grupo parlamentar do PSD, liderado por Marcelo Rebelo de Sousa e com Marques Mendes como líder parlamentar. E isso conseguiu-se. Não foi preciso fazer parangonas, escrever papéis, fazer acordos.

A seguir estas eleições internas teremos logo legislativas antecipadas. Concorda com este processo eleitoral do PS ou teria sido mais vantajoso para o PS ter-se criado uma solução de unidade?
Eventualmente a unidade é sempre boa. Não conheço por dentro o PS e por isso não sei o que está em jogo. É evidente que um partido tem que se unir para ir a eleições.

"Espero sinceramente que o Partido Socialista tenha o bom senso de perceber qual é aquele que está melhor situado para poder ser primeiro-ministro"

Faz sentido aquele argumento do Pedro Nuno Santos de que os debates só dão argumentos à direita e que por isso mais vale fazer estas iniciativas internas?
Não, acho que Pedro Nuno Santos faz mal em não debater. O debate é sempre útil. Quando participamos nos debates são sempre esclarecedores e aprende-se sempre. Aprendem as pessoas que debatem e aprendem as pessoas que estão a assistir aos debates. É por isso que não gosto muito da palavra consenso. Não há consenso. Há negociações. Há acordos. Nós somos todos iguais, mas somos todos diferentes. Cada um tem a sua ideia. É esse entendimento que acho que José Luís Carneiro tem a capacidade para fazer.

Para um moderado, como se afirma, da área socialista, se viermos a ter uma eleição legislativa entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro, a sua escolha é óbvia e fácil ou não?
Não é fácil. Por isso é que apareço a dizer que o meu candidato não é nem um nem outro. Espero sinceramente que o Partido Socialista tenha o bom senso de perceber qual é aquele que está melhor situado para poder ser primeiro-ministro. Uma sondagem apresentada ontem indica que José Luís Carneiro é, de longe, a pessoa mais consensual entre os inquiridos. Claro, é um estudo de opinião e vale o que vale. Não tenho uma procuração para falar por ninguém mas a moderação do país é maioritária e essa moderação revê-se muito mais em José Luís Carneiro, pela forma como ataca os problemas, como tenta interpretar a realidade e por isso penso que é a pessoa indicada e a que aparece em melhor posição.

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