Uma hora deu para falar de quase tudo: da regularidade dos contactos com António Costa às suas (longas) madrugadas, do futuro do país aos hábitos alimentares que privilegiam a sandes de queijo ao almoço, das “várias fases” do seu primeiro mandato às caminhadas de 4 km depois de jantar, da sua experiência com “ioga e meditação transcendental” ao acidente de automóvel que o fez pensar: “Acho que não escapo desta”. O aniversariante era o Observador, mas o protagonismo, em parte, também foi dele: Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República, visitou esta quarta-feira as instalações do nosso jornal que celebra cinco anos — e que em breve lançará uma rádio de notícias.
O “show Marcelo” começou com um pequeno tour às instalações do Observador, situadas (desde o final do último ano) no bairro de Alvalade, em Lisboa. Houve cumprimentos, não fosse Marcelo o Presidente dos afetos, comentários futebolísticos sobre FC Porto e Sporting de Braga, elogios ao espaço inevitáveis nestas ocasiões (“isto é espetacular”) e reconhecimento de jornalistas com quem já muito contactou (“ui este homem!”).
Defendendo que “nem sempre o Observador foi um apaixonado” pela sua candidatura, “apaixonado” pela sua “eleição”, “apaixonado” pelo seu “estilo”, “apaixonado” pelo seu “desempenho” e ressaltando que, “decididamente, não é apaixonado pela coabitação” que mantém com um Governo de esquerda”, descreveu o jornal, na sua visão pessoal, como um “federador da reflexão das direitas, do centro às várias direitas, portanto, um anti-estatista” e defensor “de um novo estilo de fazer política, de intervir politicamente na sociedade, com uma visão de mudança geracional”.
Marcelo fez questão de dar os parabéns ao jornal por “aquilo que representou, representa e vai representar, não durante mais cinco anos mas indefinidamente, para o pluralismo comunicacional e para a renovação da comunicação social portuguesa”. E prometeu voltar daqui a cinco anos, “como Presidente ou cidadão”.
Seguiu-se uma sessão de respostas a perguntas dos leitores premium do jornal, selecionadas internamente e colocadas ao Presidente da República pelo publisher do Observador, José Manuel Fernandes, e foi aí que Marcelo fez revelações pessoais e políticas.
As caminhadas de 4km e as madrugadas: “O meu dia começa à meia-noite”
Não é fácil precisar quando começou “a lenda” mas ela existe há muitos anos: alegadamente, Marcelo Rebelo de Sousa não dorme mais de quatro horas por noite, ficando acordado até altas horas da madrugadas. Questionado sobre o assunto, o Presidente da República não confirmou inteiramente a “lenda”, ao não quantificar as horas de descanso diárias, mas assumiu que dorme “pouco”. Não tem, avisou, uma rotina imutável, dados os compromissos inerentes à presidência, mas contou ao Observador como é uma noite (mais ou menos) habitual para si.
A seguir ao jantar, habitualmente forte devido às horas em que ainda estará acordado de seguida, Marcelo Rebelo de Sousa gosta de fazer caminhadas longas, “em média de quatro quilómetros”. O percurso é variável, mas a caminhada é inevitável: “Janto, muitas vezes tenho jantares oficiais, e onde quer que me encontre vou fazer quatro quilómetros em média. Se for em Moscovo é em Moscovo, se for em Pequim é em Pequim, se for em Washington é em Washington”. O hábito acarreta “complicações”, mas o Presidente não prescinde dele — e em Portugal o percurso tende a ser “na zona de Belém, [sentido] Belém-Algés” ou “Cascais-Estoril, ida e volta, uma coisa desse género”, precisa.
Regressado da caminhada, Marcelo começa os seus afazeres noturnos. “O dia começa à meia-noite — e o meu começa certamente à meia-noite”, desvendou. A primeira missão de madrugada passa pela leitura de telegramas diplomáticos, “que são centenas mas dão um retrato magnífico do mundo, pela mão dos nossos magníficos diplomatas”. Magníficos, claro, porque o Presidente gosta de engrandecer os portugueses e “nós somos os melhores do mundo, de facto”.
A leitura dos telegramas de diplomatas, que acontece “num tempo calmo em que as pessoas estão a dormir ou a preparar-se para dormir, tirando um ou outro caso patológico”, é ainda mais necessária dadas “as funções internacionais de portugueses” — como António Guterres e António Vitorino, desde logo. Segue-se a leitura de “outros relatórios” mas também “a limpeza dos e-mails”. Marcelo tenta “responder ao maior número de e-mails possível” que recebe e “a melhor hora para fazer isso é algures entre as 2h e as 3h ou 3h e tal da manhã”.
Terminada a leitura dos e-mails, o Presidente garante que faz depois “as outras leituras” a seguir, a dos livros, que entram “na parte de transição para o sono”. Os horários tardios dão-lhe uma vantagem: “O dia seguinte já está largamente preparado. Já sei o que se passa no mundo, porque já li os jornais online mais importantes e tudo isto é feito a acompanhar o que se passa televisivamente, as notícias de última hora que surgem, nacionais ou internacionais”. Deixados “os recados” de forma direta a quem está acordado “e aos não acordados por outras formas que hoje as tecnologias permitem”, Marcelo vai (finalmente) dormir.
As horas de sono “flutuam”. O Presidente não arrisca estimativas de média, mas diz que “talvez tenda a dormir um pouco mais do que dormia, mais meia hora, um quarto de hora ou uma hora, depende “. Ao acordar, a “primeira preocupação” passa por “contactos diários que são fundamentais ao início do dia e ao final do dia”, nomeadamente com o Chefe da Casa Civil (Fernando Frutuoso de Melo) e o Chefe da Casa Militar (Tenente-General João Nuno Vaz Antunes). Depois, “é importante ver se não houve nada que tivesse acontecido” durante o seu sono. Aí, Marcelo tem ajudantes “internáuticos” fantásticos, “interlocutores que me enviam, gesto que muito agradeço — sobretudo a um deles, porque consegue dormir menos do que eu —, informações sobre o que se passa no mundo com pormenores que nem imaginam, excecionais”.
As manhãs também variam consoante a agenda da presidência, mas o Presidente garante que as aproveita muitas vezes ou “para audiências” ou para “trabalho de discurso”. E eis mais uma revelação: “Faço 80% ou 85% dos meus discursos e nos que não faço muitas vezes improviso sobre os discursos que me são dados. É bom ter uma base e depois improvisar com elementos de última hora”. A noite não é tão indicada para essa reflexão e elaboração de discursos porque Marcelo está “cansado”, mas a manhã “é boa para preparar, sobretudo os discursos mais distanciados” como o do 25 de abril ou o do 10 de junho, que “exigem alguma reflexão” acrescida, conta.
Vem aí a rádio Observador
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Vai começar a emitir em breve e promete complementar o melhor do Observador num novo meio de comunicação. A rádio Observador é “um projeto muito importante para nós”, apontou o fundador do Observador, António Carrapatoso, indicando “a vontade de crescer, o desejo de ganhar sustentabilidade e o empenho em fazer mais coisas bem feitas e contribuir para o país” como fatores que motivaram a entrada neste novo meio. José Manuel Fernandes, publisher do Observador, garantiu: “Não vamos fazer o mesmo que está a ser feito. Temos um know-how, que adquirimos ao longo destes anos, de fazer as coisas de uma forma diferente. Essa é uma cultura da empresa, da equipa, das pessoas que aqui estão, que fomos construindo e que podemos prolongar” para a rádio.
O almoço de sonho: uma sanduíche de queijo num banco de jardim
Uma das particularidades de Marcelo Rebelo de Sousa passa pelos hábitos alimentares, como revelou em resposta aos leitores premium (assinantes pagos) do Observador: “Não almoço sempre que posso. Infelizmente, nem sempre me permito a esse luxo e tenho de almoçar, o que é muito inibidor porque gosto de marcar reuniões ou audiências, de aproveitar a hora de almoço”.
Marcelo confessa mesmo um dos seus desejos alimentares. “O meu sonho é almoçar num banco de jardim que tenha sol praticamente toda a manhã e boa parte da tarde. Dá para comer a sanduíche de queijo e beber o sumo de ananás. Mas há exceções, como se imaginará, nomeadamente diplomáticas. Os diplomatas não gostam de jantar, gostam de almoçar. Mas não só os diplomatas, também políticos e [intervenientes] estrangeiros”.
Ao jantar, o Presidente compensa: “Janto bem, é a minha grande refeição porque depois tenho de estar acordado até muito tarde. Tenho jantares políticos que normalmente não se tem, aceito convites. Isto é, digamos, um modelo com desvios muito frequentes porque é muito frequente ter cerimónias que engrenam umas nas outras em vários pontos do país ou ter de vir do estrangeiro diretamente para o Porto sem passar por Lisboa”.
Hipocondríaco confesso, Marcelo não se preocupa com o pouco dormir nem em ter o jantar como refeição principal, porque “a opinião dos médicos divide-se”.
Os contactos com Costa e a revisão do mandato de um “otimismo realista”
Os contactos com António Costa são anormalmente regulares, confessou Marcelo em resposta a um leitor: “Tradicionalmente o Presidente falava com o primeiro-ministro salvo casos excecionais apenas na audiência [semanal] de quinta-feira. Eu falo com o primeiro-ministro, ou ele fala comigo, não direi [por norma] diariamente mas às vezes — em períodos críticos — diariamente”. Isto porque “há questões europeias ou internacionais urgentes, não dá para esperar uma semana, há decisões a tomar, há uma notícia que surge, há uma intervenção que é preciso fazer”. E os encontros já não têm apenas “uma hora”, como era “tradição”, às vezes prolongam-se muito mais, “o que for necessário”.
Um concerto especial na festa de aniversário
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São vizinhos do Observador: têm o seu estúdio montado no bairro de Alvalade, a poucos metros da redação do jornal. A escolha dos Capitão Fausto para atuar ao vivo nas comemorações do 5º aniversário do Observador, contudo, não se deveu apenas a isso. A banda portuguesa tem-se afirmado nos últimos anos como uma das certezas do pop-rock nacional , com discos aclamados pela crítica e uma mobilização popular que já os levou aos Coliseus. Esta quarta-feira, deram um concerto descontraído inspirado sobretudo nos temas do último disco, A Invenção do Dia Claro.
Com os restantes partidos, os contactos também são mais regulares do que era habitual em mandatos de presidentes anteriores. Além dos contactos trimestrais, “há uma orientação de princípio — abri exceção nas últimas semanas durante o período de campanha eleitoral — de a qualquer momento [poder] receber ou fazer um contacto telefónico com os líderes partidários”. Assunção Cristas, por exemplo, é especialmente comunicativa. A líder do CDS “faz questão de comunicar ao Presidente da República todas as iniciativas que vai apresentar que considera relevantes. Às vezes consegue, nem sempre é possível a comunicação quando há uma decisão de última hora”.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou ainda uma “primeira experiência” que fez, depois de ser eleito Presidente mas ainda sem ter tomado posse. A experiência consistiu em “perguntar o que pensavam os líderes partidários para o país, naquele contexto”, o resultado foi caricato: “Devo dizer que naquela ocasião fiquei com a sensação que nenhum deles acertava quanto a nenhum dos outros líderes partidários”. Com o tempo, apontou Marcelo, a dificuldade de ler outros líderes (de oposição ou que garantem apoio parlamentar) “tende a esbater-se”, estes começam a “conhecer-se melhor”, mas nunca “totalmente”.
Fazendo uma revisão do que tem sido este seu primeiro mandato como Presidente, o antigo líder do PSD dividiu-o em “várias fases”. Houve uma fase inicial “intensíssima”, de março de 2016 até ao final desse ano, que resultou do “momento que se vivia na sociedade portuguesa”, de crispação. Como diz Marcelo, “metade do país não podia com a outra metade e vice-versa” e como Presidente entendeu que devia “ir para o terreno medir o pulso” ao país para o “entender e distender”. Também teve “um número anormalmente elevado” de compromissos internacionais e receção de chefes de Estado em Portugal, devido “à candidatura do engenheiro Guterres a Secretário-Geral das Nações Unidas”.
Depois de um 2016 sobrecarregado, houve uma fase de maior “acalmia”, do início de 2017 até à vinda do Papa Francisco a Fátima, em maio. O país e a política normalizaram. Tudo mudou com “as tragédias” dos incêndios, primeiro em Pedrógão Grande, no verão, e depois em vários pontos do país, em outubro. A seguir apareceu o caso Tancos. O ano de 2017 “acabou por ser, por razões completamente diferentes de 2016, ainda mais intenso do que o anterior”, até Marcelo parar “uns tempos” por ter sido “operado à hérnia”. Já em 2018, a atividade desacelerou “progressivamente na segunda metade” do ano, para não ser conotado com a pré-campanha eleitoral dos partidos às europeias.
Marcelo tem estado agora mais discreto e assim planeia continuar. Quanto ao futuro do país, ele, que é “um otimista realista, não um otimista irritante”, tem boas perspetivas. Resolvendo Portugal “quatro ou cinco problemas” — o envelhecimento, as “disparidades” e assimetrias na riqueza e distribuição geográfica, a adaptação da organização social do trabalho à mudança científica e tecnológica e as “aspirações dos mais jovens numa sociedade muito envelhecida” — o país tem caminho para andar: “Daqui a 20 anos poderemos ter um país muito diferente e muito melhor do que este que temos hoje”. É preciso porém, igualmente, “diversificar as exportações” e “melhorar a qualidade do turismo e dos serviços”. Segundo Marcelo “não podemos ter tanta exportação para a Europa como a que temos”.
O incêndio de Pedrógão e um feeling: é mais grave do que se pensa em Lisboa
Além de abordar a crise da comunicação social, que “está a ter muita dificuldade em adaptar-se à revolução digital” e sobre a qual já falou abundantemente, Marcelo Rebelo de Sousa foi confrontado com a rapidez com que chega a locais de acidentes e desastres. Há-os menos graves, como o acidente com um elétrico a que Marcelo se deslocou porque “ia a passar naquela rua, tinha ido a uma visita mesmo ali ao lado” e a primeira comunicação que recebeu estimava “um efeito muito mais negativo” no acidente, que “miraculosamente não teve e felizmente não se confirmou”.
Visitantes de Cabo Verde à Finlândia
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O Observador comemorou o quinto aniversário de portas abertas e não é exagerado dizer que vieram pessoas de todo o mundo para assinalar a data. Heli Tenhue está em Lisboa a trabalhar, mas é finlandesa. Não conhecia o Observador, mas quando entrou na redação ficou “surpreendida com a boa disposição” de quem aqui trabalha.
Já Heli Tenhue, cabo Verdiano, está de férias em Portugal e é leitor do Observador. Sabia que hoje era dia de festa e não quis perder a oportunidade de conhecer os jornalistas que escrevem os textos que lê todos os dias. “Consegui perceber que os jornalistas do Observador são muito jovens e acho que deve ser um grande prazer trabalhar aqui”.
Já Pedrógão Grande ficou como um marco. Estava “um dia daqueles, de calor imenso”. Marcelo tinha participado numa “cerimónia no Terreiro do Paço, de barcos no Tejo”. Terminada a cerimónia, “longa e ao sol”, deslocou-se a um torneio de golfe para entregar um prémio — “uma ideia que era de um antecessor meu mais apreciador de golfe do que eu próprio, que passou para outro menos apreciador mas que manteve o alto patrocínio — e ficaria mal se não fosse lá”. Do torneio, seguiu rumo ao Porto, “para uma reunião de cuidadores informais promovida pela eurodeputada Marisa Matias”.
Como habitual, quando há uma notícia de um problema grave, o Presidente tende a ligar para o autarca da região, porque é quem está “mais próximo daquilo que se passa”. Havia “versões diversas” sobre o que estava a acontecer mas Marcelo entendeu que “era preciso ir” e seguiu para o local, “só com o ajudante de campo e o motorista e com o carro de segurança atrás, sem assessores”.
A decisão de ir tão rápido quanto lhe foi possível para Pedrógão Grande (teve de esperar pelo motorista e ajudante de campo, que já tinha dispensado, sendo que um deles morava na “outra margem”) deveu-se a ter “percebido que [o incêndio] ia ser muito mais grave do que a perceção que havia à distância em Lisboa” naquele momento. Essa perceção deveu-se ao contacto com um autarca, que “teve uma expressão daquelas, ‘nem sei o que vai sobrar disto’, assim uma coisa a roçar o quase desespero, a quase impotência”.
O ioga e a meditação transcendental: “Deixar fluir a vida como um rio…”
Uma das coisas que Marcelo Rebelo de Sousa revelou no Observador é que, apesar da imagem externa de cidadão frenético e acelerado, consegue distanciar-se dos acontecimentos e fazer uma leitura sem urgências. A isso ajudou a prática de “ioga e meditação trascendental”.
O Presidente exemplificou um dos seus exercícios, “daqueles ótimos”: “A temperatura baixa de tal maneira que a pessoa tem de pôr uma manta, porque se trata de fixar um ponto, deixar fluir a vida como um rio, não prender nada e abstrair-se por completo. Fica-se a tiritar de frio porque a temperatura do corpo fica muito baixa”. Por causa desses exercícios, avisou, “é prematuro dar-me por morto ou por vivo” ou tentar “antecipar qualquer decisão minha”.
Respondendo a uma pergunta sobre se deixaria os neurocientistas estudarem o seu cérebro, Marcelo afirmou ser “muito liberal nessas matérias” mas achar que este não é “motivo de estudo”. Descrevendo-se como um “analista político”, lembrou que um bom analista tem de se saber analisar a si primeiro, “se não é fatal”.
Da análise que faz de si, o Presidente formou “a ideia muito clara” que não tem “nada de excecional”: “Não sou excecionalmente inteligente, sou medianamente inteligente. Também não sou excecionalmente culto, sou razoavelmente culto — [excecionalmente] quanto muito para, digamos, a prática política generalizada, talvez um bocadinho mais lido no passado do que outros intervenientes políticos, estrangeiros nomeadamente”.
Diz que consegue abstrair-se também com facilidade, passando de um tema para outro sem dificuldades. Uma disciplina que já vem da faculdade. “Estudava 45 minutos uma cadeira, fazia um intervalo de cinco minutos e depois ia estudar outra. Toda a gente diz que não é assim que se faz, ninguém fazia como eu, mas eu fazia e resultava. Hoje mantenho esses hábitos”, conta.
Onde Marcelo vê qualidades próprias acima da média é na disciplina e no trabalho: “Tenho uma capacidade de trabalho e uma resistência física muito grandes. Este tipo de cargo implica, mesmo para quem tem uma visão muito reservada, uma resistência física enorme, nas deslocações internacionais e internas e no estar preparado para enfrentar casos [urgentes] nas horas mais improváveis”. Daí que, apontou, o estado de saúde seja uma das condições que coloca para a recandidatura a um segundo mandato: “Os políticos têm a obrigação de não esconder o [seu] estado de saúde dos cidadãos” e “há a obrigação de quem se compromete por cinco anos de dizer: pode haver este, este ou aquele problema de saúde”.
O acidente de automóvel: “Acho que não vou escapar desta”
Um dos momentos fortes da sessão de respostas de Marcelo Rebelo de Sousa a leitores do Observador passou pela recordação de um acidente de automóvel grave que sofreu no passado mas sobre o qual não se conheciam ainda grandes detalhes. Embalado pela ideia de que consegue ter uma leitura fria e distanciada dos acontecimentos mesmo em situações de urgência, ao contrário do que alguns críticos apontam, o Presidente recordou o despiste: “Vi em câmara lenta o acidente e o único comentário para comigo mesmo foi: que pena, tão novinho, ora que maçada, tenho a impressão que não vou escapar desta”.
Ainda longe de se tornar Presidente da República, Marcelo viajava por Lisboa. Um autocarro “perdeu os travões em direção ao Marquês de Pombal. Ia meter o automóvel na garagem que ficava ali antes do hotel Fénix e sou apanhado pelo autocarro, que depois apanha não sei quantos automóveis e pára no monumento”.
O carro de Marcelo ficou “esmagado”, ele “salvou-se” porque foi “projetado por uma porta miraculosamente”. Parte do automóvel “ficou enfaixada num poste” mas o ele já estava no exterior. “A probabilidade de chegar a Presidente naquele instante era nula, ou sequer de viver, que era ainda mais interessante do que chegar a Presidente”, confessou, lembrando que se recorda de “ver o autocarro e perceber que não podia avançar para a garagem porque estavam a passar pessoas, em câmara lenta, com uma frieza analítica total a pensar: como é que vai ser possível sobreviver? Impossível, vou ser passado a ferro, vou sair muito mal, muito mal”.
E na política faz o mesmo, vê as coisas que vão acontecer em câmara lenta, porque, ironiza, os “políticos também são passados a ferro”.