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Muitas pessoas estarão em contagem decrescente para a Met Gala. É o evento que reúne mais estrelas por metro quadrado e faz do Museu Metropolitan em Nova Iorque uma variada constelação de celebridades. A festa está marcada para a noite de 6 de maio. Quem vai já terá o look escolhido e a postos, porque afinal esta é uma festa de moda, exige-se exuberância e recomenda-se extravagância. Quem não vai já terá decidido como seguir o evento ao longe, porque estas entradas são compradas, conquistadas e negociadas. Um pequeno jantar de socialites em dezembro de 1948 em Nova Iorque transformou-se, ao longo dos anos, no mais mediático evento do calendário social. Contudo os princípios continuam exatamente os mesmos: angariar fundos para o departamento de moda do museu e assinalar a abertura de uma exposição. Mas há muito mais para contar. Antes de vermos os esperados looks, aqui ficam algumas perguntas e respostas que ajudam a perceber este fenómeno.
O que é, afinal, a Met Gala?
É um evento que, na verdade, se chama Metropolitan Museum of Art Costume Institute Benefit e é uma festa que tem como objetivo angariar fundos para a manutenção do departamento de moda e traje do museu de Nova Iorque. Tornou-se tradição que a Met Gala aconteça na primeira segunda-feira de maio e marca também a abertura da exposição de primavera do Costume Institute, que é a maior exposição de moda do ano no museu.
O já se sabe da Met Gala 2024?
O tema da festa deste ano e o respetivo dress code é dado pela expressão “The Garden of Time”, ou “O jardim do tempo” em português. O tema inspira-se diretamente no conto “The Garden of Time” escrito por JG Ballard em 1962, que conta a história do conde Axel, da sua condessa e da utopia de lazer, arte e beleza de ambos. O casal vivia numa villa com um terraço com vista sobre um jardim de flores que pareciam de cristal, conta a Vogue. Há uma multidão zangada do lado de fora da villa a aproximar-se e, para que a tranquilidade seja restaurada, o conde tem de colher do seu jardim uma flor que inverte o tempo, até que não haja mais nenhuma. A história chega ao fim com a multidão a invadir a villa, que acaba por se tornar uma propriedade abandonada com um jardim arruinado com estátuas dos condes em plantas espinhosas. O autor nasceu em Xangai, embora seja de origens britânicas, e também assina o livro “O império do sol” que viria a dar origem ao filme homónimo de Steven Spielbrg.
A exposição desta primavera chama-se “Sleeping Beauties: Rewakening Fashion”, que se pode traduzir para “Beldades adormecidas: Despertar a moda”. A inspiração é a natureza e o “mundo natural” serve de “metáfora visual unificadora” para a “efemeridade da moda”, segundo explicou o museu em comunicado quando foi anunciada a exposição. Vão ser exibidas cerca de 250 peças, roupas e acessórios de diferentes épocas ao longo de 400 anos de história e vindas da coleção permanente do museu. As peças escolhidas partilham referências à Natureza e estarão dividas em três “zonas” principais: terra, mar e céu, segundo revela a Vogue.
A exposição também vai explorar o trabalho de conservação das peças de moda e é aqui que entram as “beldades adormecidas”, que são peças de vestuário que já não podem ser vestidas em manequins devido à sua fragilidade e, por isso, vão estar expostas em vitrines para os visitantes poderem “observar os diferentes estados de deterioração, como se estivessem a ver ao microscópio”. Além de belos items de moda esta mostra vai ser enriquecida com recurso a inteligência artificial, vídeos, projeções de luzes e outros meios, de forma a ser uma experiência sensorial para os visitantes. “Sleeping Beauties: Rewakening Fashion” abre ao público no dia 10 de maio.
Quem são os anfitriões deste ano?
Todos os anos há algumas personalidades destacadas nas suas áreas de trabalho ou na sociedade e bem conhecidas do público que são convidadas a serem co-presidentes do evento. Este ano Jennifer Lopez, que dispensa apresentações, os atores Zendaya e Chris Hemsworth e o cantor porto-riquenho Bad Bunny estarão ao lado de Anna Wintour, a organizadora principal desta festa. Cada um destes convidados tem a sua própria história na Met Gala. Com eles estará ainda o designer de moda ao leme da Loewe, Jonathan Anderson, e o CEO do Tik Tok, Shou Chew, que serão presidentes honorários por esta noite, uma vez que ambas as marcas patrocinam a exposição deste ano do Costume Institute.
Quais são as origens da Met Gala?
O primeiro evento de angariação de fundos para o Costume Institute aconteceu em 1948, foi um jantar que reuniu pessoas da alta sociedade novaiorquina e a entrada custou 50 dólares (cerca de 46 euros, na conversão atual). O cenário do primeiro evento foi o hotel Waldorf Astoria, mas nas edições seguintes realizava-se em diferentes locais da cidade de Nova Iorque. Desde 1971 que o evento tem lugar no Museu Metropolitan.
O que acontece nesta festa?
O espetáculo começa com a passadeira vermelha (ou de outra cor qualquer) por onde dezenas de convidados desfilam e entram no museu. O percurso começa ainda na rua e depois há uma escadaria onde os fotógrafos se acumulam de ambos os lados e que os convidados vão subindo, lentamente, e com várias paragens ao ritmo dos flashes. À entrada do museu estarão os anfitriões da festa a receber e cumprimentar os convidados, ou seja, Anna Wintour e mais quatro personalidades que são diferentes todos os anos. Esta passadeira é percorrida por dezenas de pessoas que chegam de diferentes pontos da cidade, várias ficam instaladas em hotéis perto do museu, e demora o seu tempo. Na verdade, tornou-se um ritual para ser apreciado pelos amantes de moda que arranca pelas 17h5o e terminará pelas 20h00 (hora de Nova Iorque, cinco horas mais tarde do que em Lisboa).
No interior do museu, os convidados veem em primeira mão a nova exposição de moda que irá abrir dias depois da Met Gala. Segue-se um cocktail para que os convidados ponham a conversa em dia, um jantar, e por fim um espetáculo/concerto de uma estrela da música. Nos últimos anos já atuaram Rihanna, Lizzo, Justin Bieber, Madonna ou Lenny Kravitz. A agenda do evento é mais ou menos esta, mas uma das características mais interessantes na Met Gala é o secretismo sobre o que se passa dentro do museu. Reza a lenda que Anna Wintour proíbe conteúdos nas redes sociais e esta descrição torna a festa ainda mais exclusiva para quem lá está e apetecível para quem não está.
O que se come ao jantar?
Como tudo o resto na Met Gala, o jantar que é servido aos convidados também é cuidadosamente planeado e segue a temática da festa. Na gala de 2023, o menu contou com sopa de ervilhas, vegetais bebés com crême fraiche e limão, neve de trufa, salmão ora king, espargos e rabanete com morangos em pickle. Para finalizar foram servidos petits fours e café e houve, claro, vinhos a acompanhar a refeição. A exposição e o dress code da festa do ano passado foi Karl Lagerfeld e o menu criado pelo caterer Olivier Cheng foi inspirado pelo gosto que o designer de moda tinha por festas e jantares. Cheng inspirou-se mais precisamente no jantar que Lagerfeld ofereceu para celebrar o casamento de Paloma Picasso com Rafael Lopez-Sanchez em 1978. E porque como diz a expressão popular “os olhos também comem” a decoração das mesas recriou as do casamento, com guardanapos em linho, castiçais pintados à mão e arranjos e flores cor de rosa, conta a Tatler. Assim como o cenário do jantar recriou a biblioteca do apartamento do século XVIII do designer em Paris.
Com bilhete ou com convite? Quem vai à festa?
“Tornou-se uma das raras ocasiões em que estrelas de cinema, modelos, designers, cisnes da sociedade, lendas do rock, atletas, políticos e rappers, para não mencionar, um ou dois ícones culturais, se juntam para celebrar a moda e passam uma noite no museu” escreve Anna Wintour no livro “Vogue & The Metropolitan Museum of art Costume Institute”, que passa em revista as exposições dos últimos anos. A Met Gala não é apenas uma festa, é um evento onde as personalidade mais badaladas do momento querem estar. A entrada nesta noite tão exclusiva é uma mistura de bilhete e convite. Ou seja, a entrada é paga, mas está sujeita à aprovação de Anna Wintour e há uma lista de espera. A diretora da Vogue faz questão de verificar os lugares de todos os presentes de forma a não repetir colegas de mesa e promover interação.
Quem não tem entrada garantida para a próxima festa pode sempre ver o documentário “The First Monday in May” (2016), que em 90 minutos acompanha os meses de preparação da exposição “China: Through The Looking Glass” (2015) e a respetiva gala, com Anna Wintour, Andrew Bolton e outros responsáveis. Depois há o filme “Ocean’s 8” (2018), com Sandra Bullock, Cate Blanchett e Anne Hathaway entre um leque de famosas atrizes e cuja história se centra num roubo de joias durante a Met Gala. Há ainda os catálogos das exposições e o livro “Vogue & The Metropolitan Museum of art Costume Institute”.
O estilo, a obra e o mau feitio. Anna Wintour é a mulher à prova do tempo
Da entrada aos fundos, os valores desta festa
A entrada no evento custará agora cerca de 75 mil dólares por pessoa (quase 70 mil euros) e só na gala de 2023 terão sido angariados 22 milhões de dólares (cerca de 20 milhões e 500 mil euros), segundo revela o site The Cut. A gala do ano passado terá custado seis milhões de dólares, e do dinheiro angariado a maior parte vai para o Costume Institute, contudo uma parte vai também para o orçamento geral do Museu Metropolitan.
O valor de um lugar em 2023 era de 50 mil dólares (cerca de 45.400 euros) por pessoa. O valor de cada mesa começava nos 300 mil dólares (mais de 272 mil euros), porque também é possível comprar entradas para o grupo e é, aliás, o que fazem algumas marcas de moda que levam depois o diretor criativo e uma série de celebridades vestidas pela marca. Os valores do ano passado terão tido um aumento significativo em relação a 2022, segundo assinala o New York Times. O evento de de 2022 angariou 17.4 milhões de dólares (mais de 16 milhões de euros), conta o jornal. A lista de convidados ronda os 450 convidados, mas já terá chegado aos 600.
Até 2020, ano em que não houve gala por causa da pandemia de Covid-19, as festas organizadas por Anna Wintour já tinham angariado cerca de 125 milhões de dólares para o departamento de moda do museu. É seguro dizer que tanto as exposições como a festa de angariação de fundos são sucessos de bilheteira.
Quem começou a Met Gala?
A fundadora da festa de angariação de fundos para o Costume Institute que celebrava também a abertura da exposição de moda foi Eleanor Lambert, uma jovem do estado do Indiana decidida a estudar Arte e que se aventurou em Nova Iorque onde começou a trabalhar como relações públicas para marchands de arte. Foi tão bem sucedida que um designer de moda viria a contratar os seus serviços e este foi apenas do início do seu percurso no mundo da moda norte-americana, onde Lambert viria a ter grande impacto. Vale a pena lembrar que Eleanor teve um papel fundamental na criação da semana de moda de Nova Iorque e na fundação do Council of Fashion Designers of America (CFDA). Foi também ela quem idealizou a lista das pessoas mais bem vestidas, mantida com grande rigor pela revista Vanity Fair, e que começou a tornar os designers de moda em celebridades.
Sucedeu-lhe Diana Vreeland, outra figura incontornável da História da Moda. Foi editora na revista Harper’s Bazaar norte-americana durante vários anos, assinava uma coluna que se chamava “Why don’t you?” e foi responsável pela ascensão de vários nomes conhecidos na moda. Esteve nesta publicação entre 1935 e 1962, depois foi diretora da Vogue entre 1963 e 1971, ano em que se tornou consultora do Costume Institute. Foi com ela que as galas começaram a ter celebridades e temas. A primeira gala temática terá sido a de 1973, que abriu uma exposição retrospetiva da obra de Cristobal Balenciaga, no ano a seguir à morte do criador espanhol, conta a revista Time.
Diana Vreeland foi responsável por várias exposições até 1989, ano da sua morte. Depois a organização desta festa passou a ser uma responsabilidade de Pat Buckley, uma socialite especialista em angariação de fundos que pertencia à “realeza” nova iorquina e que já estava envolvida nas atividades do Costume Institute desde 1979. Angariou fundos para várias causas relacionadas com saúde, como um centro de cancro, luta contra a SIDA, cirurgia plástica reconstrutiva e também para veteranos do Vietname. Pat morreu em 2007 e foi casada com William F. Buckley Jr., um autor, editor e comentador político de televisão.
A Sra. Buckley deixou a organização da Met Gala da altura em 1995 e passou a tarefa a Anna Wintour, que era diretora da vogue norte-americana desde 1988. Wintour, que hoje acumula funções como diretora artística do grupo Condé Nast, é a maestra deste evento. Anna, como gosta de ser tratada (até pelos netos), trata pessoalmente da organização dos lugares, da decoração e do menu, mas tudo o que diz respeito a este evento passa pelos seus olhos. Anna considera Andrew Bolton “um verdadeiro visionário”. Enquanto ela é responsável por fazer da exposição um sucesso, ela garante o mesmo com a festa de abertura e angariação de fundos. Foi Wintour que o transformou num evento galático e é um dos temas do seu coração. Para Anna é importante manter o Costume Institute com condições para cuidar do registo da moda que se faz no museu. “Acho que a moda deve ser reconhecida. Quando toca as pessoas e emociona as pessoas… o que mais se pode pedir da arte?”, diz no documentário “First Monday in May”.
O que é o Costume Institute?
As exposições de moda do museu Metropolitan são produções do Costume Institute, o departamento com a coleção de moda e traje do museu. Trata-se de um arquivo com mais de 33 mil peças que acompanha a história do vestuário desde o século XV até à atualidade e através de cinco continentes, com peças de roupa e acessórios para mulher, homem e criança. O Costume Institute foi criado por Irene Lewisohn e Aline Bernstein e chamava-se Museum of Costume Art, viria a ser integrado no Met em 1946. Desde 2009 o museu novaiorquino conta também com a coleção de moda e traje do Museu Brooklyn. Na conta de Instagram do museu é possível ver um pequeno vídeo que conta a história do departamento.
Andrew Bolton está no Costume Institute desde 2002 e é o curador chefe do departamento desde 2016. É ele a mente por trás das exposições de moda, combinando criatividade com o lado académico, teórico e cultural que faz da moda um sucesso dentro do museu. O Museu de Arte Metropolitan é uma instituição de arte gigante, tem morada na 5ª Avenida de Nova Iorque e é vizinho do Central Park. A coleção de arte do museu dá a volta ao mundo e percorre a história da humanidade em dezenas de milhares de obras, organizadas em núcleos.
Apesar de o Met ser um museu de arte, as exposições de moda são muito populares. A exposição de 2011, “Savage Beauty”, mostrou a obra de Alexander McQueen no ano seguinte à sua morte e despertou tal interesse por parte do público que o museu não estava preparado para a afluência de visitantes que fizeram filas intermináveis durante o verão para comprar bilhete. Este terá sido o ponto de viragem, depois sucederam-se uma série de exposições seguidas de perto por curiosos e pela imprensa. A exposição mais visitada de sempre na história do Met é de moda. “Heavenly Bodies: Fashion and the Catholic Imagination” aconteceu em 2018 e explorava a religião católica como inspiração na moda e recebeu mais de 1 milhão 650 mil visitantes.
Entretanto, enquanto a contagem decrescente para a Met Gala 2024 decorre, aqui ficam os looks e um resumo do que se passou em 2023.