Miguel Pinto Luz não será candidato à liderança do PSD. O vice-presidente da Câmara de Cascais é mais um a juntar-se a uma longa lista de não-candidatos e a desfazer o tabu sobre o seu futuro. Garantindo que não se vai imiscuir numa corrida que parece cada vez mais reduzida a dois — Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva –, Pinto Luz diz que tem de esperar para ver os projetos de ambos antes de decidir em quem vai votar.
Em entrevista ao Observador, Pinto Luz não escondeu que desejava ter visto Carlos Moedas a entrar na corrida à liderança do PSD e deixou também um recado a todos os que torcem para que o próximo líder do partido esteja a prazo. “O PSD não é eterno. De taticisimo em taticismo, está a depreciar o seu valor. Se correr mal a vida ao próximo líder, poderá correr mal a vida a todos nós.”
Em relação ao próximo ciclo do partido, o antigo líder da distrital do PSD/Lisboa recusa colocar traçar um patamar mínimo eleitoral para as próximas europeias, mas vai avisando: “Com um mau resultado nas europeias, vamos discutir outra vez o PSD”.
O social-democrata resistiu ainda em comprometer-se com o seu futuro na Câmara de Cascais. À pergunta sobre se espera suceder a Carlos Carreiras a meio deste mandato, mesmo sem ir a votos, o autarca garante não perder um “minuto” a pensar nessa questão, mas deixa um aviso. “Tenho consciência clara de que o trabalho desenvolvido nos últimos 20 anos já foi sufragado várias vezes.”
[Veja aqui a entrevista na íntegra a Miguel Pinto Luz]
“Não está escrito nas estrelas que tenho de ser líder do PSD”
O seu nome tem sido apontado com insistência à liderança do PSD. Vai ou não avançar com uma candidatura?
Não serei candidato nestas eleições. Entendo que agora, tendo sido eleito há seis meses para um projeto autárquico, quero dedicar o meu tempo aos munícipes que confiaram em mim e a Cascais. É a única razão pela qual tomei a decisão de não me candidatar. Não tem nada a ver que leituras de que o partido precisa agora de união. Não, o partido precisa agora que apareçam muitas soluções e soluções que sejam disruptivas com um passado que foi absolutamente desastroso para o PSD e para Portugal.
Na sua entourage sempre circulou que não tinha uma grande ambição em ser presidente da Câmara, atirou sempre para a liderança do PSD. Já mudou de ideias?
Não sei quando é que circulou isso. Sempre disse que tenho uma vocação autárquica profunda, tenho uma relação com Cascais quase umbilical e nos últimos 20 anos tenho vindo a fazer um resultado autárquico que é reconhecido.
Admite ser presidente da Câmara sem ser eleito como cabeça de lista, numa lógica de sucessão de Carlos Carreiras?
Não perco um minuto do meu tempo a pensar nisso. Estamos no início de mandato, Carlos Carreiras teve uma vitória histórica e tem todas as condições para levar este mandato até ao fim. No futuro, terei de tomar uma decisão sobre o que quero fazer. Agora estou focado no mandato que me foi dado.
É essa a principal justificação que dá para não apresentar uma candidatura à liderança do PSD?
Não é a principal razão; é a única. Seria natural que fosse candidato ao PSD. Com um percurso que fiz, por aquilo que sinalizei nos conselhos nacionais, no Congresso… seria natural que protagonizasse uma candidatura. Agora, não está escrito nas estrelas que tenho de ser, não tenho uma ambição desmedida e tenho noção clara de qual é o meu papel no PSD. Estou preocupado com o futuro do PSD, mas também entendo que em política temos de saber ser sérios e temos de corresponder às expectativas que depositaram em nós. Estou absolutamente focado e concentrado em Cascais.
“Não excluo no futuro protagonizar uma candidatura”
Exclui, de todo em todo, vir a suceder a Carlos Carreiras a meio do mandato? No PSD, há quem diga que não avança desta vez porque mantém a ambição de suceder a Carlos Carreiras daqui a dois anos?
Repito: Carlos Carreiras tem legitimidade para levar o mandato até ao fim e assim o espero. Não perco um minuto do meu tempo com ansiedades de antecipar timings políticos. Zero. Mas tenho consciência clara de que o trabalho desenvolvido nos últimos 20 anos já foi sufragado várias vezes. Não estou nada preocupado com antecipações e angústias.
Carlos Carreiras recebeu o mandato a meio de António Capucho. Isso é algo que aceitaria?
Não perco um minuto do meu tempo a pensar nisso.
Depois de faltar a esta chamada, não fica irremediavelmente afastado da liderança do PSD?
Como disse: não está escrito nas estrelas que tenho de ser líder do PSD. O não me apresentar agora em nada me diminui na minha militância. A minha militância continua integral desse ponto de vista, com todas as capacidades garantidas para o futuro.
Foi candidato em 2019. Em 2021, abdicou de ser candidato para apoiar Paulo Rangel. Não era de esperar que agora fosse o seu momento?
Na minha reflexão pessoal, entendi que este não era o momento. E a única variável que contou foi o facto de ter sido eleito há seis meses para um mandato autárquico.
Disse que esta não-entrada na corrida à liderança do PSD em nada o diminui para futuro. Isso significa que admite vir um dia a candidatar-se à liderança do partido ou esse capítulo está fechado para si?
Sem hipocrisia: esse capítulo não está fechado. Se entender, num futuro próximo ou mais longínquo, que posso aportar valor, posso representar esse potencial de mudança, irei protagonizar essa candidatura sem receios. Não sou tacticista em nada no que faço dentro do PSD. Digo sem rodeios que não excluo no futuro poder protagonizar uma candidatura.
“De certeza Montenegro evoluiu o seu pensamento”
Já defendeu que este é o momento de o partido se dividir, de existirem várias candidaturas. O que se perfila neste momento é suficiente? Sente-se representado nas candidaturas de Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva?
Não me vou imiscuir nestas eleições. Não vou tornar público o apoio a nenhuma das candidaturas. E irei votar na candidatura que melhor representar aquilo que são os meus valores. Ao dia de hoje, ainda não consigo fazer essa avaliação. Quando conhecer os projetos e as equipas que têm, tomarei uma decisão e votarei. Espero que o líder eleito tenha unidade, estabilidade e tempo para poder implementar o seu projeto. Aqueles que agora se resguardarem com taticismos e que se ponham de fora à espera que isto corra mal a este líder estão a fazer uma avaliação errada. O PSD não é eterno. De taticisimo em taticismo, o PSD está a depreciar o seu valor. Se correr mal a vida ao próximo líder, poderá correr mal a vida a todos nós.
Não parece que a corrida fica desgraduada tendo em conta as últimas diretas?
Antes pelo contrário. É a renovação que já era esperada há muito tempo. Há muito que já era preciso haver uma disrupção clara. Estes protagonistas ainda não são da nova geração — porque o tempo vai passando — mas estão mais frescos e com menos vícios do passado.
Disse há pouco que não consegue manifestar o apoio a qualquer um dos candidatos porque não conhece o projeto que têm para o PSD e para o país. Mas foi adversário de Luís Montenegro e conheço o projeto dele. Porque é que não é capaz de dizer que o apoia ou não apoia?
Não. O que eu disse é que não vou manifestar apoio público a nenhum dos candidatos. Outra coisa é a minha opção pessoal. De certeza que em dois anos Luís Montenegro evoluiu o seu pensamento. Olhe, desde logo, escolheu Joaquim Miranda Sarmento para liderar a sua moção, que tem uma visão do mundo manifestamente diferente da que tinha Pedro Duarte. Aguardo com expectativa aquilo que o projeto de Luís Montenegro representa hoje para o PSD. Assim como aguardo com expectativa saber o que Jorge Moreira da Silva quer para o país, já que ainda tem de o corporizar como projeto de liderança para o PSD. Mas tomarei a minha decisão pessoal sem a sinalizar. Não quero de maneira nenhuma condicionar aqueles que me apoiaram, nem funcionar como líder de fação, à espera de qualquer tipo de negociação para estar no órgão A, B ou C.
Ainda sobre Luís Montenegro e a escolha de Joaquim Miranda Sarmento. Parece-lhe um bom sinal?
É um sinal positivo e é diametralmente oposto aos sinais que Rui Rio tinha dado nos últimos quatro anos. Sinaliza de uma forma muito clara que pretende unir o partido. Quem melhor do que quem liderou o Conselho Estratégico Nacional [órgão criado durante a liderança de Rui Rio] nos últimos dois anos? Os partidos não podem caminhar de líder em líder e esquecer o passado. Luís Montenegro sinaliza isso de uma forma clara: não quer continuar esta deriva persecutória de excluir todos os que pensam diferente.
“Moreira da Silva não representa o aparelho tradicional”
Ainda assim esse sinal não é suficiente para dizer que o apoia publicamente e já percebemos que não o vai fazer. Sobre Jorge Moreira da Silva: é uma alternativa sólida a Luís Montenegro? Reconhece-lhe a capacidade de disputar com seriedade estas eleições?
Sem dúvida nenhuma.
Apesar de não ter, reconhecidamente, os apoios no partido que Luís Montenegro teoricamente tem?
Claramente não tem os apoios que Luís Montenegro tem. Desse ponto de vista, pode ser fresco, alguém que não representa o aparelho tradicional. E, que diabo, Jorge Moreira da Silva não tem currículo para se candidatar ao PSD? É um homem que está na OCDE, já teve no Parlamento Europeu, já foi ministro, já foi secretário de Estado, já foi vice-presidente do PSD, criou uma plataforma que agregou centenas de pessoas da sociedade civil… São dois homens que hoje só enaltecem o PSD, só elevam o debate político. Tenho pena que não surjam mais. O PSD tem muito mais, que estão escondidos e ainda não tiveram a oportunidade de se apresentarem.
Está disponível para integrar a direção de qualquer um destes candidatos como sinal de unidade?
Com o foco que tenho em Cascais, quero estar afastado de lugares executivos no partido. E não quero de maneira nenhuma parecer que estou a regatear apoios ou que estou à espera de qualquer coisa. Não estou à espera de nada e posso ser útil ao PSD de muitas formas.
“Confesso que fiquei com pena de não ter Moedas na corrida”
Carlos Moedas acabou por não entrar nesta corrida, apesar de ser um nome muito desejado, por quem muita gente suspirava. Carlos Moedas deve cumprir o mandato à frente da Câmara Municipal de Lisboa ou, se for necessário, deve apresentar a candidatura à liderança do PSD e a primeiro-ministro?
Carlos Moedas é hoje dos poucos ativos do PSD com vitórias claras contra o PS.
Ficou com pena que ele não entrasse nesta corrida?
Confesso que sim. Acho que tinha condições para estar nesta corrida.
E percebe porque é que o fez?
Percebo. Numa escala menor que eu hoje invoco para não ser, percebo as dele.
Chegou a desafiá-lo?
Não revelo conversas privadas. Mas Carlos Moedas ia enriquecer esta luta. Alguém com a tal visão cosmopolita, metropolitana, de mundo, que poderia aportar muito valor. Repare: já estamos a falar aqui de vários nomes. O que é bom. Há pouco tempo o PSD tinha total ausência de nomes e agora já se fala de vários nomes. Foi algo que não aconteceu no pós-governo de Pedro Passos Coelho, onde se criou um vazio de alternativas.
É o regresso do passismo? Temos o antigo líder parlamentar durante o Governo de Passos e o primeiro vice-presidente do PSD durante parte do mandato.
Que passismo? Nas fileiras de Rui Rio estavam dezenas de pessoas que estiveram com Pedro Passos Coelho.
Mas o próprio Rio sempre esteve fora dessa lógica.
Só ele sim.
“O PSD funciona com regras do século XIX”
Chegou a defender que se debatesse primeiro o partido e só depois o sucessor. Ninguém lhe deu ouvidos. O PSD está entregue às vontades do aparelho?
Se tivesse entregue às vontades do aparelho, Paulo Rangel teria ganho aquelas eleições. Tinha mais distritais que o apoiavam do que Rui Rio. Acho que estamos a mudar um bocadinho a lógica do que se passa dentro do partido. E, portanto, a contagens táticas de distritais já ponho alguns caldos de galinha.
Só um pequeno pormenor: acredita na tese de que os apoiantes de Luís Montenegro boicotaram a candidatura de Paulo Rangel?
Não quero fazer qualquer tipo de análise sobre isso. O partido quando quer mudança, tem-na. E não teve. Em Lisboa os resultados também espelharam uma vontade de Rui Rio continuar. O que aconteceu naquelas eleições foi claro: Paulo Rangel protagonizava mudança, mas depois aconteceu algo que ninguém esperava: eleições antecipadas. E, portanto, a discussão passou a ser quem estava melhor preparado para ser o candidato a primeiro-ministro um mês e meio depois. Apesar de Paulo Rangel estar melhor preparado, não tinha o trabalho que um líder que já lá estava há quatro anos tinha feito. O eleitorado do PSD, sendo conservador, optou pelo caminho mais fácil. Os resultados estão à vista.
Paulo Rangel devia ter abdicado dessa candidatura?
Penso que não. Paulo Rangel mostrou uma enorme coragem. Podia ter ficado em casa e não se chatear com isto. Quis apresentar um projeto, um projeto diferente. Mas houve aqui uma variável que ninguém esperava e que alterou objetivamente os resultados que podíamos ter tido.
Voltando à nossa questão: consegue perceber o facto de ninguém no PSD ter demonstrado vontade de ter um período de reflexão e que se tenha precipitado numas eleições diretas?
O PSD não fez a reflexão profunda que tinha de fazer. É um partido que funciona com regras dos partidos do século XIX, que está enquistado. No último Conselho Nacional, defendi o fim do atual modelo de diretas. Fui mal interpretado. Não quero acabar com as diretas, queria é que existisse um modelo de diretas e ter um Congresso onde existisse um combate transparente, leal, mediático. Os candidatos podiam falar na sexta-feira, podiam falar no sábado e depois no domingo votavam todos os militantes. Se pensarmos que mudar de líder é suficiente, então estamos pelo mau caminho. O partido continua enquistado e com os mesmos modos de funcionamento de há décadas, com fenómenos de caciquismo, de perpetuar pessoas em lugares. Tudo isso é mau. Ninguém quer vir para o PSD porque já sabe que os lugares estão todos distribuídos por aqueles que estão lá há dezenas de anos. O PSD não é um partido meritocrático, não dá espaço a vozes diferentes. Lembro-me sempre de Luís Filipe Menezes, que foi tão criticado porque queria vender a sede da Lapa. Acho que já chega de termos uma sede, com um portão gigante, com os jornalistas à porta a filmar, entram os carros lá para dentro como se fosse uma organização secreta. O PSD tem, até nisso, que dar uma imagem mais cosmopolita.
Acha que o PSD devia mudar de sede?
Porque não? Lembro-me sempre que o nosso partido irmão na Alemanha, a CDU, quando mudou a sua sede de Bona para Berlim e criou um espaço que tem uma loja no rés-do-chão, tem salas de estudo, é aberto, tem exposições de arte e depois tem os gabinetes. Portanto, um partido aberto à sociedade. É isto que se quer. Gostava de ter um partido com uma sede em Lisboa, com um espaço de coworking, onde pudesse haver conferências, palestras, exposições de arte. Absolutamente permeável à sociedade civil. Não é um partido que está fechado na sua sede da Lapa.
Se for caso disso, arranja em Cascais um espaço para a nova sede do PSD
Nessas coisas não sou nada provinciano e acho que a sede tem de ser em Lisboa.
Até porque está nos estatutos.
Deixemo-nos de brincadeiras de saltimbancos.
Quase foi para o Porto nos últimos anos.
Por isso é que estou a dizer: deixemo-nos dessas brincadeiras porque não é assim que mudamos. Nem deixamos de ter um país mais centralizado em Lisboa por termos secretarias de Estado em Castelo Branco ou secretarias de Estado em Santarém. O centralismo de Lisboa muda-se com outro tipo de políticas que até agora não as vi ser implementadas.
“Rui Rio levou-nos à primeira grande purga”
O estudos pós-eleitorais que foram publicados mostram que o PSD está a perder eleitorado para a IL e para o Chega, que não consegue entrar no eleitorado do PS e que já absorveu o que havia para absorver do CDS. Existe o risco do PSD se ter tornado definitivamente num partido médio?
Estamos mais próximos disso do que estávamos. Cada ano que passa estamos a aproximar-nos perigosamente de nos transformamos num partido médio. A tal procura estéril pela pureza ideológica de Rui Rio levou-nos à primeira grande purga: à criação da IL, do Chega e da Aliança. Depois, como não fomos capazes de apresentar um projeto mobilizador houve uma segunda purga: nem o nosso eleitorado mais de base se reviu nem em Rui Rio. Se tiver lugar uma terceira purga, então, inevitavelmente, nos transformaremos num partido médio. O primeiro passo para a futura liderança é encetar desde já conversações tanto com o CDS, como com a Aliança, como com todos aqueles que abandonaram o partido nos últimos anos, para podermos perceber até que ponto o PSD pode ser outra vez o espaço comum do grande partido do centro-direita.
Mas absorver esses partidos?
Não tenho o modelo claro para mim. O CDS sai de um Congresso que correu muito bem. Nuno Melo sai com dinâmica. Acredito no renascimento do CDS por aquilo que vi e com a vontade que vi na militância de base do CDS. Mas temos de funcionar mais em equipa, de uma forma mais simbiótica. É inevitável. E essa liderança desse movimento simbiótico no centro-direita tem de ser do PSD. E o primeiro passo é convidar todos aqueles que abandonaram o partido. Houve pessoas que abandonaram o PSD e não foram para nenhum desses partidos — não se reviam na liderança de Rui Rio. Com o profundo sectarismo e perseguição que existiu, houve muita gente a rasgar o cartão e a entregar o cartão. Vamos falar com eles. O líder do PSD tem de perder muito tempo a tentar perceber porque é que as pessoas saíram e tentar trazê-los. Esse é o primeiro passo para um união clara, objetiva e séria dentro do PSD.
“Com um mau resultado nas europeias, vamos discutir outra vez o PSD”
O próximo líder do PSD terá como primeiro teste as eleições europeias. Está obrigado a vencê-las?
O PSD vai para todas as eleições para a ganhar. Isto é um lugar comum. Agora, serão eleições extremamente difíceis. Não quero subir aqui as expectativas do futuro líder porque pareceria uma atitude taticista, “se ele depois não atingir essa meta posso lá ir eu a seguir”. Quero, de facto, que o PSD tenha um grande resultado. Mas claro que vai ser difícil. Se olharmos para os resultados das últimas legislativas, é natural que a IL e a Chega elejam eurodeputados. E o PSD só tem 6 eurodeputados.
Com o CDS a depender muito da eleição do Nuno Melo.
E o CDS com a possibilidade de também eleger um eurodeputado. É uma mudança de paradigma: é a primeira vez que um líder do PSD se depara com esta realidade, com esta competição tão diversificada à sua direita. É a primeira vez.
Rui Rio já a teve em legislativas.
Mas não teve em europeias. Como são poucos eurodeputados mais difícil se torna. É a primeira vez que um líder do PSD se vai deparar com uma luta europeia com esta diversidade todo.
Isso não é desculpabilizar o próximo líder do PSD?
Não é. É ser sério.
Rui Rio queixava-se precisamente disso, de lhe exigirem resultados eleitorais pouco realistas.
Também nunca lhe pus pressão nenhuma. Se fosse Rui Rio, perante o resultado que teve em europeias e legislativas, já tinha saído à muito tempo. Não me compete colocar pressão e estas europeias vão ser extremamente difíceis, porque estes partidos têm um discurso fácil e os portugueses não se mobilizam tanto.
Luís Montenegro pode contar consigo para cabeça de lista às Europeias?
Tenho ouvido muito isso. Ouve-se nos mentideros do PSD que já há negócios para isto. Há sempre essas coisas. Luís Montenegro tem de montar a melhor lista possível para as europeias, mas o meu compromisso é com Cascais. Seria incongruente estar aqui a dizer outra coisa. Há dezenas de pessoas dentro do PSD com melhores condições para protagonizarem isso e Luís Montenegro de certeza que encontrará essas pessoas.
Paulo Rangel voltar a ser cabeça de lista era um bom sinal ou é melhor um rosto novo?
Não vou condicionar o futuro líder do PSD.
Ao não colocar nenhum patamar de exigência ao futuro líder do PSD não está de alguma forma a passar-lhe uma carta em branco? Afinal, como vai ser medido o sucesso do próximo líder do PSD senão pelas europeias?
Comecei por dizer que o PSD parte para todas as eleições para ganhar.
Se perder as próximas Europeias é a quinta derrota consecutiva em eleições.
Imaginemos que o próximo líder, seja Moreira da Silva ou Luís Montenegro, perde as eleições. Nessa altura, teremos eleições internas dentro do PSD. O PSD é um partido democrático. Tem eleições de dois em dois anos. Isto não é nenhum bicho papão que daqui a dois anos não possam aparecer Carlos Moedas, Passos Coelho, Santana Lopes, pela quinquagésima quarta vez, Paulo Rangel… Há algum mal que isto aconteça? Mas é nessa altura que tem de se fazer balanços. Não me cabe a mim pôr pressão e dizer que Luís Montenegro ou Moreira da Silva têm obrigação de ganhar as próximas eleições europeias. Estava a ser hipócrita. Sei que as próximas eleições são dificílimas porque herda um partido destruído. O PSD, apesar de ainda representar mais de 26 ou 27% do eleitorado está destruído. As secções estão vazias, as distritais estão sem dinâmica. O próximo líder do PSD tem de ter um trabalho de casa que é um trabalho não visível para os portugueses, mas fundamental para ganhar eleições. Serei o primeiro a estar ao lado do futuro líder do PSD a lutar para que tenha o melhor resultado possível nas Europeias. Não teve? Nessa altura vamos discutir outra vez o PSD. Teve um grande resultado? Ótimo. É sinal que reconstruiu o PSD.
Se ficar abaixo dos 20% será difícil um líder sobreviver.
Não sou analista político. Isso tem de perguntar aos analistas políticos.
“Paulo Portas seria um bom candidato presidencial”
Paulo Portas reapareceu no Congresso do CDS e muitos o apontam como um potencial candidato presidencial. Seria um bom nome para o centro-direita em 2026?
Acho que sim. Sou suspeito. Tenho uma ótima relação com Paulo Portas, sou amigo dele. É daqueles quadros políticos com densidade, com cultura, com mundo, com mundividência, com experiência governativa capazes de protagonizar uma candidatura no centro-direita, naturalmente. Agora, se me perguntar se existem outras pessoas, existem. A seguir vai-me perguntar por Pedro Passos Coelho. São pessoas que, pela sua experiência governativa, podem protagonizar isso. Passos Coelho tem muito a dar ainda a este país e ao PSD. Agora, o PSD também não pode estar refém dessa espera infinita.
Passos Coelho mais para funções executivas do que para a chefia do Estado. Fala com ele.
Falo com ele. Ele é que não fala comigo sobre esses temas.
Mas ele nunca lhe disse que Belém não estava nas aspirações dele?
Não.
Mas o PSD podia abdicar de ter um candidato da usa área partidária e apoiar Paulo Portas?
Conhecendo o PSD, parece-me uma tarefa difícil. Mas tenho o meu histórico: nas antepenúltimas eleições autárquicas em Lisboa, defendi que o PSD tivesse Assunção Cristas como candidata. Tivemos uma candidatura própria. Correu mal. No centro-direita, se queremos ter a tal relação simbiótica, é simbiótica; não pode ser de hospedeiro e parasita. Não é uma relação subsidiária de alguém que tem de ser sempre menor. Se o CDS tiver um protagonista melhor colocado, valores mais altos se levantam e o PSD tem de perceber isso. No passado, o PSD apoiou a candidatura de Freitas do Amaral e ganhou a primeira volta.
Ao domingo prefere ver a SIC ou a TVI?
Confesso que vejo muito pouca televisão. Oiço muito a Rádio Observador.
Isso é bom sinal. Mas o que lhe perguntamos é se Marques Mendes está melhor preparado que Paulo Portas.
São dois quadros excelentes que estão a fazer o seu percurso. Não sei se têm essa ambição ou não, mas são dois homens com currículo à prova de bala para poderem ser candidatos a Belém.
Acredita que António Costa vai para Bruxelas e pode haver eleições antecipadas e de alguma forma o PSD pode ter a ambição de não ter uma travessia no deserto tão grande quanto espera?
Acho difícil. Já achava difícil antes dos ultimatos de parte a parte. Depois dos ultimatos as coisas ficaram muito claras. Acho que o PS vai pensar duas vezes se fizer um movimento desses. Mas já achava difícil anteriormente: não olho para António Costa como alguém com vocação europeia. Sempre o vi como um político experimentado, que sabe o que está fazer e muito mais focado na política nacional do que internacional. Posso estar muito enganado. Se já no passado achava que isso não ia acontecer, agora com os ultimatos de parte a parte entre Belém e São Bento ficou clarificado que o PS não vai pôr em causa a continuidade governativa por uma ambição pessoal ou por uma oportunidade de António Costa ser presidente da Comissão Europeia ou ser presidente do Conselho Europeu.