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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Na terra de Biden, poucos se lembram dele — mas Biden garante que nunca os esqueceu

Biden fala de Scranton, a cidade da classe trabalhadora onde viveu até aos 10 anos, como a base dos seus valores. Trump acusou-o de a abandonar. Por lá, há quem discorde furiosamente — mas nem todos.

Reportagem em Scranton, na Pensilvânia

Jim Connors não é homem para se irritar, mas, quando ouviu o que Donald Trump disse sobre o seu amigo de longa data Joe Biden, não se conteve. Já se conhecem há mais de cinquenta anos, altura em que Connors era professor de História numa escola secundária e Biden dava os primeiros passos na política. A uni-los estava e continua a estar uma cidade: Scranton, na Pensilvânia. Jim Connors viria a ser presidente da câmara e Joe Biden tornar-se-ia no filho mais famoso da terra.

Por isso é que Connors se irritou quando, no segundo e último debate entre Trump e Biden, o Presidente pôs em causa a ligação do democrata àquela cidade situada em território de antigas minas de carvão e onde a maior parte das pessoas é blue-collar — isto é, da classe trabalhadora.

“Ele nem sequer é de Scranton. Ele vive lá durante um período curto antes de sequer dar por isso”, disse Trump. “E depois foi-se embora.”

Sentado no sofá de casa, Jim Connors gritou para a televisão, na sua voz aguda e anasalada: “Este homem é inacreditável!”.

Joe Biden nasceu a 20 de novembro de 1942 em Scranton, onde passou os primeiros 10 anos da sua vida.

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Vamos aos factos. Joe Biden nasceu a 20 de novembro de 1942 em Scranton, onde passou os primeiros 10 anos da sua vida. A família de Biden estava longe de viver de forma folgada, com o pai a ter dificuldades em conseguir um emprego estável em Scranton para sustentar os seus quatro filhos. Em 1953, quando arranjou trabalho a limpar caldeiras em Wilmington, no Delaware, mudaram-se para aquela cidade, onde o agora candidato a Presidente vive até hoje.

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Mas a mudança de cidade, por motivos familiares, não impediu Joe Biden de voltar várias vezes a Scranton.

Ainda enquanto criança, era lá que passava os verões, na casa dos seus avós, todos nascidos ali. Nas ruas do bairro Green Ridge, agia como o líder da grupeta de amigos — mas não se escapava a que muitos gozassem com a sua gaguez, chamando-lhe Dash (sinónimo de “traço”, já que os amigos diziam que ele falava em código Morse) ou Bye-Bye (repetição da primeira sílaba do seu apelido). Já como político, demonstrou preocupação com questões práticas da cidade — e também não se esquecia de ligar aos amigos e conhecidos quando um familiar próximo morria.

“Ele nunca se esqueceu de nós”, garante Jim Connors ao Observador. “Quando se fala da falta que faz ter polícias na rua, é bom lembrar que foi graças à intervenção dele que, quando eu era presidente da câmara, conseguimos 26 polícias sem qualquer custo adicional. Ele queria as ruas de Scranton seguras e ajudou. Até porque era aqui que estavam a sua família e os seus amigos.”

Joe Biden não hesita em falar de Scranton sempre que tem oportunidade — é um hábito já enraizado, tanto que, ainda quando este era vice-Presidente, já o programa humorístico Saturday Night Live tinha feito desse hábito uma piada recorrente.

“Onde quer que eu tenha ido na vida, tenho levado sempre comigo os valores que Scranton me deu desde novo, que são os valores do trabalho árduo, da fé e do compromisso com a classe média”, disse numa entrevista recente ao USA Today. “Este é um Presidente que apenas olha pelas empresas e pelos mais ricos, ao mesmo tempo que tira os cuidados de saúde aos americanos numa altura em que ele mais precisam deles”, disse.

E, depois, traçou o contraste que quer marcar em relação ao seu adversário e a as geografias da sua vida. “Neste momento, temos um Presidente que não vê o mundo a partir de lugares como Scranton, ele vê o mundo a partir da Park Avenue”, disse, referindo-se àquela que é uma das avenidas mais caras de Nova Iorque. Jim Connors concorda inteiramente com isto. Mas, em Scranton, há quem discorde na mesma proporção.

Marc acredita que  Biden tem um plano para “esmagar comunidades como esta”

De vez em quando, Marc Pane pára de falar para ouvir o que se diz na telefonia dois três ou quatro segundos. Ter o rádio ligado enquanto trabalha sempre foi um hábito deste mecânico de 55 anos, mas a norma é deixá-lo a tocar e só fazer caso dele em algum momento mais parado. Neste dia, porém, a história é outra. Amy Coney Barrett, a juíza conservadora escolhida por Donald Trump para a vaga do Supremo Tribunal, está prestes a ser confirmada no Senado. E mesmo que a votação seja já garantidamente a favor daquela juíza (como se veio a provar), Marc Pane não quer perder esse momento.

“É mais um para a coleção”, diz, visivelmente feliz. “Este Presidente fez muito pelo nosso país, não podemos deixar que interrompam isto a meio.”

Marc Pane é uma das principais caras de Scranton que estão contra Joe Biden — estatuto que mereceu desde que, no início de outubro, um grupo de ação política pró-Trump publicou um vídeo em que ele dava a cara pelo Presidente e contra Biden.

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“O meu avô começou aqui nos anos 30. Estamos aqui há gerações, mas os últimos quatro anos foram os melhores. Até a Covid ter chegado, Trump tinha a economia a disparar”, diz, na parte elogiosa para o seu candidato. E, com uma guitarra solitária a ouvir-se no fundo, passa a falar do democrata: “Joe Biden prometeu aumentar impostos que nos vão esmagar e quem vai sofrer vão ser as oficinas como a minha e comunidades como esta. Já perdemos empregos que cheguem”. E, depois, a deixa que ainda hoje repete amiúde: “Joe Biden? É, simplesmente, muito fraco.”

Marc Pane nasceu em Scranton e daqui nunca saiu. “Eu amo verdadeiramente esta comunidade, é por ela que eu e a minha família nos temos esforçado ao longo de décadas, sempre com o objetivo de contribuir mais e mais”, diz, este que é o terceiro numa linhagem de mecânicos. “O meu avô teve uma oficina, o meu pai teve uma oficina e eu, quando estudava no ensino secundário, já tinha uma oficina.”

A oficina do avô foi fundada não muito depois da Grande Depressão, o momento de enorme crise financeira e social que se seguiu ao crash da bolsa de 1929. Nessa altura, o avô de Marc Pane trabalhava por conta de outrem e, entre sair em busca de emprego ou criar o seu próprio posto de trabalho ao fundar uma empresa em Scranton, escolheu segundo.

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“Ele, sim, apostou nesta comunidade em vez de abandoná-la como outros”, diz, em menção à família de Joe Biden. “Ele podia ter escolhido uma saída mais fácil, dizia que a culpa do fracasso dele era de Scranton e depois punha-se a milhas. Mas, não, ele apostou na comunidade e ficou a trabalhar até depois dos 70 e tal anos.”

Para Pane uma coisa é clara: Joe Biden abandonou Scranton. Mas, muito mais do que o abandono que o leva a ter outro código postal que não o desta cidade na Pensilvânia, o abandono que verdadeiramente o preocupa é menos palpável — mas mais preocupante, na sua opinião.

“Joe Biden passa a vida a dizer que conhece o mundo blue-collar, mas ele nunca sujou as mãos na vida e, enquanto político, nunca se preocupou com essas pessoas”, atira o homem cujas mãos grandes e calejadas têm gravadas na pele anos e anos de óleo e fuligem dos carros que conserta há décadas.

Falar de Scranton e da classe trabalhadora é um truque antigo em Joe Biden — e que até já lhe trouxe dissabores. Em 1987, quando concorria pela primeira vez à presidência dos EUA, acabou por desistir logo nas primárias do Partido Democrata. Razão: copiou um discurso do então líder do Partido Trabalhista do Reino Unido, Neil Kinnock, em que este falava dos seus antepassados mineiros. Problema: por mais que a sua família fosse da classe trabalhadora e Scranton uma cidade com minas de carvão, Joe Biden nunca teve nenhum mineiro na família.

“Ele usa-nos como passagem nos seus discursos e espera que nós gostemos dele por isso”, queixa-se Marc Pane. “Ao mesmo tempo, passou 47 anos em Washington, primeiro como senador e depois como vice-Presidente, a defender as políticas que levaram os nossos empregos para fora do país e a permitir que a China entrasse na Organização Mundial do Comércio.”

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Marc Pane não tem dúvidas: dos dois candidatos, Donald Trump é o que mais compreende e fala para a classe trabalhadora. “Há uma diferença entre ser-se um self-made man que chegou a multimilionário através dos seus investimentos, mesmo que com um empréstimo generoso do pai no início, e uma pessoa que foi para a política para ficar rica e arranjar empregos para os filhos”, diz, aludindo aos escândalos do filho mais novo de Joe Biden, Hunter Biden.

Um dos principais receios que Pane tem caso Biden venha a ser Presidente são os impostos. Embora o democrata tenha no seu programa que só acima dos 400 mil dólares é que os impostos sobre o rendimento serão aumentados, este habitante de Scranton teme que outras parcelas da sua folha de Excel mental (para este mecânico que gere o seu próprio negócio, o computador é sobretudo uma ferramenta para ir ao Facebook e falar com outros apoiantes de Donald Trump) venham a ser aumentadas. Para citar um exemplo, fala do “imposto da chuva”, que leva ao pagamento de um imposto sobre a propriedade calculado pela área coberta por construções ou asfalto — ou seja, estruturas que impeçam a absorção da água das chuvas diretamente no solo.

“Quem é que se lembra de uma coisa destas?”, atira Marc Pane para o ar.

“Joe Biden pode até não ser de cá, mas ao menos não é louco”

O facto de Joe Biden ter nascido nesta cidade no estado da Pensilvânia pode vir a valer bem mais do que qualquer outra informação avulsa sobre a vida do antigo número dois de Barack Obama.

Embora não seja raro um candidato à presidência vencer as eleições sem ganhar no seu próprio estado (Donald Trump é exemplo disso, ao ter perdido Nova Iorque para Hillary Clinton, que, embora não tenha nascido ali, tem residência nesse mesmo estado), por vezes o fator “casa” é importante — e pode levar a vitórias de outra forma improváveis. Exemplo disso é o Arkansas, que há 30 anos vota no candidato republicano — com a exceção de 1992 e 1996, com Bill Clinton, que, além de ter nascido no Arkansas, foi lá procurador-geral e governador.

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Numas eleições em que tudo pode ficar decidido com poucos milhares de votos, todos os pormenores contam. Em 2016, Hillary Clinton perdeu a Pensilvânia para Donald Trump por um total de 46.765 — ou seja, uma vantagem de 0,6% num estado que acabou por ser essencial na decisão. No condado de Lackawanna, do qual Scranton é a maior cidade, Hillary conseguiu uma das suas poucas vitórias na Pensilvânia. A ajudar, embora marginalmente, poderá ter estado o facto de o pai da candidata ter nascido em Scranton, onde está hoje enterrado. Também nesse sentido, e talvez mais substancial, terá sido a passagem de última hora de Joe Biden por Scranton na reta final da campanha nessa campanha.

De nada lhe serve agora ter feito essa paragem de campanha em 2016 em nome alheio, mas talvez a lógica sugira que, agora, em nome próprio, o resultado possa ser melhor. Ainda que, para muitos residentes de Scranton, a lógica seja outra: a prioridade não é eleger Biden, mas sim tirar Trump da Casa Branca.

“Eu nunca vi Joe Biden aqui em Scranton e, muito sinceramente, não quero saber disso para nada. Oiço-o a falar da classe trabalhadora e, sinceramente, não me parece que ele esteja muito a par do que se passa nestes meios”, diz de chofre Bruce Morris, 66 anos, empregado de mesa no Waldo’s Tavern. “Mas o que eu sei muito bem é que ele pode até não ser de cá, até porque viveu a maior parte do tempo fora de Scranton, mas, ao menos, não é louco como Trump.”

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Bruce Morris revira os olhos quando fala do Presidente — e não é pelo cheiro a fritos que se sente um pouco por todo o lado no Waldo’s Tavern, mas sim pela ideia de mais quatro anos de Donald Trump. “Este Presidente é um louco e um irresponsável, e quem não viu isso durante a pandemia então nunca estará disposto a vê-lo”, disse. “Como é que ele, sendo Presidente dos EUA, pode mandar a culpa para cima dos estados e dizer que não tem culpa nenhuma desta desgraça?”, questiona Morris, virando as costas, com a bandeja na mão. No caminho, para ver se as outras mesas têm copos por encher ou pratos para levantar, ainda vai a abanar a cabeça, provavelmente a pensar no que acabara de dizer.

Tal como Bruce Morris, John Veneski também não fazia questão de que Joe Biden fosse o candidato do Partido Democrata para enfrentar Donald Trump nas presidenciais — mas, agora que é, apoia-o a 100%. “Eu nem concordo com os democratas em várias coisas, a maior parte delas no que diz respeito ao comércio internacional e à maneira como nos relacionamos com o mundo, que é sempre de carteira aberta”, reconhece este farmacêutico reformado, de 66 anos. “Mas este Presidente simplesmente não encaixa no meu sistema de valores morais. Votar contra ele é uma questão de princípios.”

John Veneski nasceu em Scranton, também numa família da classe trabalhadora. “O meu pai era camionista”, diz, com orgulho. E, apesar de essa não ter sido a sua realidade enquanto farmacêutico, confessa que muitas vezes se sentia como um peixe fora de água no ambiente esterilizado das farmácias em que trabalhou. “Sempre achei que era um colarinho azul preso no corpo de um colarinho branco”, conta. “Gostava de olhar para a farmácia como uma linha de montagem. Era mais delicado do que estar a montar carros, mas, no final, o que eu estava a fazer era trabalho numa linha de montagem que resulta num produto final.”

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Calçado com botas de trabalho e roupa para sujar, Veneski tirou a manhã para, lado a lado com o filho, construir um muro no quintal do vizinho. “Por questões de saúde, ele não consegue e, então, nós decidimos ajudar”, diz. “Esta postura de entreajuda é uma característica da classe trabalhadora e eu acho que Joe Biden nunca perdeu isso na vida, ao contrário do nosso Presidente, que nunca sentiu tal coisa.”

Em Scranton, é forte o orgulho que alguém tem em dizer-se de “colarinho azul”, mesmo quando essa é uma realidade já cada vez menos presente nesta cidade. Sem a indústria de outrora, Scranton assemelha-se hoje muito mais a uma cidade com a economia assente no setor dos serviços. Como prova de outros tempos estão as fábricas abandonadas em toda a orla da cidade.

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Uma delas era a de Joe Respigliosi, 67 anos, um reformado desde que os problemas cardíacos que o fizeram ter de fazer um transplante de coração o afastaram da função de gerente de produção numa gráfica. A gráfica já fechou, Respigliosi já saiu dela, mas ainda tem saudades desses tempos.

“É bom podermos fazer coisas com as nossas mãos, erguermos algo do chão com aquilo que sabemos fazer”, diz, ao lado da mulher, na ombreira da porta da frente da sua casa. Ali, enquadrado entre duas tarjas de apoio a Joe Biden, hesita em dizer se é de colarinho azul ou branco. Percebe-se que é um gesto introspetivo que o incomoda, talvez porque não está seguro da resposta. Mas, ainda assim, diz: “Podia ser da gerência, mas, no meu coração, sempre estive ao lado dos trabalhadores. Por isso, não creio que alguma vez tenha deixado de ser da classe trabalhadora”. Quando acaba de responder, relaxa a expressão facial. Parece estar aliviado com a resposta.

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Sobre Scranton, onde nasceu e para onde voltou assim que conseguiu depois de uma temporada em Nova Iorque, Joe Respigliosi só tem coisas boas a dizer. “É um sítio incrível”, diz. “Pode não ter grandes vistas, nem grandes monumentos, mas é um sítio que nos ensina a viver”, acrescenta.

Essa lição, crê, foi aprendida por Joe Biden, mesmo que só tenha vivido em Scranton durante 10 anos. Até porque isso, garante, é parte da história. “Ele saiu de Scranton porque o pai perdeu o emprego e não tinha como manter a família!”, exclama à porta de casa. “Saíram da sua zona de conforto para procurar trabalho onde ele houvesse. Se a classe trabalhadora não é isso, então o que é?”

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