Se pudesse, o professor António Quaresma Coelho mandava abaixo as paredes da escola. Não as de fora, nem tão pouco o tecto (já bem basta ter uma sala onde chove no inverno), mas as paredes interiores que dizem que ali, e só ali, é a sala de aula. Se pudesse fazê-lo — e chegou a tirar as portas das salas — paredes era outra das coisas que não existiam na Escola Básica da Várzea de Sintra. Há outras que já desapareceram. Aqui, nesta escola pública, não há turmas, não há anos de escolaridades, nem testes e, se tudo correr bem, qualquer dia também não haverá períodos. O que continua a haver são paredes e muita vontade de deitá-las abaixo.

“A Câmara de Sintra ainda não percebeu que as paredes são um obstáculo gravíssimo à aprendizagem, o maior que temos na escola neste momento”, conta o professor enquanto aponta para as ombreiras vazias, despidas de portas desde 2003. As obras feitas pela autarquia para tirar o amianto do telhado foram importantes, claro, mas as paredes de cimento vê-se que são uma pedra no seu sapato.

Não será só a câmara que tem dificuldades em perceber como é que uma parede influencia aquilo que os alunos aprendem. Primeiro é preciso conhecer a escola. Perceber as estratégias e o modelo educativo. Entrar nas salas de aula e ver que a disposição das mesas faz lembrar mais o arranjo de um casamento do que o de uma aula tradicional, que os estudantes não têm todos a mesma idade do que o colega do lado, e que há grupos com mais de 40 alunos a ser orientados por dois professores ao mesmo tempo. É preciso vaguear pela escola e ver que os miúdos andam livremente por todo o lado e que podem estar a trabalhar em grupo num corredor ou no refeitório. Assim, de facto, as paredes não fazem falta.

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