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O telefone de Ana Cláudia Cohen não para. Há presidentes de junta a ligar-lhe, professores e coordenadores de ciclo, e uma mão-cheia de funcionários das 23 escolas do agrupamento de Alcanena. Entre um telefonema e outro, ainda recebe a visita da GNR, enquanto nos faz uma visita guiada pela escola-sede do agrupamento em passo apressado.
Está tudo bem, a lei e a ordem estão a ser respeitadas, nenhum dos seus 1600 alunos está metido em sarilhos, mas a GNR tem dúvidas sobre as estradas que vão estar cortadas por causa do cortejo dos alunos que começa daqui a nada. “Isto hoje vai ser sempre assim”, diz-nos a diretora do agrupamento que tem de atender mais um telefonema, antes de nos poder explicar como é que a flexibilidade curricular funciona na sua esfera de influência. E, mais importante, o que é esta Feira do Tempo, a iniciativa que tomou conta de Alcanena no dia em que a visitámos.
Vamos lá, então. A flexibilidade curricular é um projeto-piloto que chegou a 235 escolas durante o ano letivo que agora termina. Em traços gerais, confere uma boa dose de autonomia curricular — entre 0% e 25% — às escolas que aderiram. Os diretores de agrupamento podem usá-la de diversas formas: criar novas disciplinas ou fundir cadeiras já existentes, mexer nos tempos letivos, aumentando-os ou diminuindo-os, e introduzir novidades curriculares e novas metodologias de ensino. Tudo de acordo com as características dos alunos, dos professores e da região onde se encontra a escola.
Foi isso que Ana Cláudia Cohen, diretora há 4 anos, mas com 25 anos de serviço nesta escola, fez. Criou novas equipas pedagógicas, introduziu paragens no ano letivo que não existiam, e há momentos em que os alunos do 5.º ano não estão agrupados por turmas, mas antes por projetos. A semente desta ideia foi plantada há três anos, quando percebeu que era preciso mudar a forma de trabalhar com os alunos.
“Em 2015, comecei a sentir, através de conversas com as minhas professoras do Pré-Escolar e do 1.º ciclo que os alunos estavam diferentes. Há quatro anos, a indisciplina que nos preocupava era entre os alunos do 3.º ciclo e do Secundário. De repente, ficou controlada nesses níveis etários e começámos a ver crianças do Pré-Escolar e do Básico cada vez mais agressivas e com comportamentos desajustados”, conta-nos Ana Cláudia Cohen.
Um novo dado juntou-se a este: as crianças aprendiam os mecanismos de leitura cada vez mais tarde e a diretora do agrupamento de escolas de Alcanena não hesitou. “Achei que devíamos fazer uma reflexão coletiva: questionarmos-nos como é que estamos a ensinar e como é que os alunos estão a aprender. E a nossa primeira tentativa foi com a Sala do Futuro, um espaço onde podemos respeitar o ritmo de cada um.”
A Escola Secundária de Alcanena é uma das várias escolas portuguesas onde foram inaugurados os Ambientes Educativos Inovadores, também conhecidos como Salas de Aulas do Futuro. Pretendem ser laboratórios de aprendizagem, espaços de inovação para a comunidade educativa e um sítio seguro para testar novos métodos de ensino.
Em Alcanena, professores e alunos tiveram formação e os estudantes são hoje os monitores-residentes, responsáveis pelo que se passa entre aquelas quatro paredes. Rafael, aluno do secundário, recebe-nos na sala e rapidamente nos mostra como uma mesa se transforma num gigantesco monitor. Ali, vemos uma aplicação que estes alunos criaram para ajudar os colegas do Básico nas suas aprendizagens. Num canto da sala, outro finalista do Secundário monta um robot, no canto oposto há mais dois alunos a estudar e um professor concentrado nas suas tarefas. E há ainda a zona de chill out, também pensada para alunos com necessidades educativas especiais.
Depois da Sala do Futuro, houve um outro momento decisivo para este agrupamento, quando em 2016 o atual ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, lançou o Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar. A ideia base deste projeto é que são as comunidades educativas quem melhor conhece os seus alunos e, por isso, quem melhor pode elaborar planos de ação estratégica para melhorar aprendizagens.
“Com o Plano de Ação Estratégica, aprendemos a trabalhar em equipas pedagógicas. Estávamos habituados a pensar assim: se havia exames no 4.º ano, era aí que estavam todos os apoios. Erro estratégico. Aprendemos com o plano que nos devemos centrar nos primeiros anos do ciclo. E aprendemos que ter dois professores de Português — ou Inglês ou Matemática — para duas turmas, podendo os alunos estar agrupados consoante o seu desempenho, era positivo. Nestas três disciplinas não há turma, é consoante as necessidades deles. E começámos assim.”
A Feira do Tempo de Alcanena
Quando o Secretário de Estado da Educação, João Costa, começou a falar de flexibilidade, também Ana Cláudia Cohen começou a falar sobre ela nos conselhos pedagógicos. Quando saiu o despacho do ministério, reuniu toda a gente e perguntou: “Sim ou não?” A resposta foi positiva. A interrogação seguinte era: “Em que anos?” Todos. Só faltava saber em que turmas. E a resposta foi, também, em todas. A diretora não votou, mas o seu sim não foi sequer necessário para o agrupamento decidir ir em frente. E a flexibilidade curricular passou a ser parte do dia-a-dia de todos os alunos em anos de início de ciclo — 1.º, 5.º, 7.º e 10.º — os únicos que podiam integrar o projeto-piloto.
Para que tudo fizesse sentido, Ana Cláudia Cohen reuniu em setembro uma equipa de 10 pessoas, representativa das diferentes escolas e ciclos do agrupamento. Desse encontro, saiu o tema aglutinador de toda a flexibilidade: “Caminhando ao Longo da nossa História”. Na parede da escola, uma espécie de diptíco — que atrai logo o olho pela explosão cromática que ali se vê — mostra como o projeto está dividido pelos diferentes ciclos.
Ao primeiro ano, por exemplo, coube explorar a alimentação dos nossos antepassados. As turmas de 5.º ano ficaram responsáveis pela presença árabe na região, dividida em várias categorias: lendas, lutas, música, tecelagem e animação do mercado árabe. O 10.º ano tinha a responsabilidade de tratar de abordagens científicas e projetos de investigação.
O culminar do projeto foi a Feira do Tempo, dia em que os alunos desfilaram pelas ruas de Alcanena e montaram um mercado para todos os que os quisessem visitar. O final do dia culminou com um porco assado à antiga.
Claro que este projeto implicou encontrar novas formas de trabalhar, a começar pelas paragens letivas que foram instituídas.
“As grandes diferenças no dia-a-dia foram as equipas pedagógicas e as paragens — os alunos trabalhavam no projeto em todas as aulas, mas alternavam com paragens. E durante o período letivo, cada turma decidia quando parava, umas vezes eram dois dias, outras vezes quatro. Uns aproveitam para ir para as universidades validar os projetos de investigação do 10.º ano, outros iam ao Centro de Ciência Viva, outros foram à serra ter aulas com um pastor, outros foram visitar as grutas da região. Tudo isto faz parte, como faz parte trabalhar em equipa, investigar, pesquisar, fazer brainstorming. Também criámos disciplinas novas, e os projetos que eram extracurriculares estão agora integrados no currículo.”
Acima de tudo, explica Ana Cláudia Cohen, era importante que o que fosse integrado no currículo fosse mesmo curricular. “Temos 25% de margem para introduzir este currículo local, mas ele tem de estar entroncado nas Aprendizagens Essenciais. Tem de fazer sentido, tem de enriquecer o currículo. O que vamos mostrar na Feira do Tempo é uma abordagem histórica, artística, cultural, tecnológica, geológica e geográfica do território em determinados cortes ao longo da história. Estas disciplinas todas vão dar o conjunto que vão ver na Feira do Tempo.”
Rewind: Viagem a Lisboa
Antes de assistirmos ao cortejo dos alunos, carregamos no botão de rewind e andamos uma semana para trás. Em Lisboa, o dia está bem mais quente do que em Alcanena e quase se acredita que o verão está para ficar. Era tudo uma ilusão, mas esta história não é sobre meteorologia.
O sorriso com que Dulce Chagas nos recebe no agrupamento de escolas Padre António Vieira, em Lisboa, compete em simpatia com o de Ana Cláudia Cohen. Em menos de nada, estamos a conhecer a escola que foi reabilitada em 2011 e que viu, nessa altura, o seu tamanho aumentar. Nos corredores da escola, reina o silêncio. Dentro das salas de aulas, para a maioria dos estudantes é dia de teste, os últimos de um ano letivo que está a chegar ao final.
Diretora há 18 anos, Dulce Chagas já anda na Secundária Padre António Vieira desde 1992. Nesses 26 anos, viu um pouco de tudo, como a fusão da sua escola com outra secundária (a Cidade Universitária) e a criação do chamado mega agrupamento. A flexibilidade é só mais uma novidade, entre tantas que os governos de diferentes cores políticas vão trazendo para a Educação.
E tal como em Alcanena, também nesta escola de Alvalade, o Plano de Ação Estratégia serviu de embrião para o que veio a seguir.
“Quando as escolas tiveram a oportunidade de fazer um plano estratégico de promoção de sucesso escolar, criámos um grupo de reflexão e avançámos com cinco grandes medidas de ação. A principal era a mudança na sala de aulas, mas havia outras — como o trabalho colaborativo dos professores — que não tínhamos maneira de viabilizar. Queríamos mudar algumas práticas na sala de aula, mas não era fácil. Quando as pessoas não querem, refugiam-se na lei. E a lei não nos dava grande abertura.”
Acima de tudo, Dulce Chagas sentia que era preciso pôr os estudantes a participar mais, já que os sentia muito alheados de todo o processo educativo. Quando surgiu a flexibilidade curricular tornou-se claro que seria assim que iriam conseguir fazer as alterações desejadas.
“Concluímos que aderir à flexibilidade e puder fazer um ano antes dos outros, ia-nos deixar um passo à frente e com consciência do que devia e não devia ser feito. Com a flexibilidade, acabámos por não fazer nada de novo em relação ao que já tínhamos pensado, viabilizamos foi algumas dessas medidas”, explica a diretora de agrupamento.
Quando chegou a altura de decidir que alunos entravam na flexibilidade, a decisão foi igual à de Alcanena. Ou vão todos ou não vai nenhum. “Não fazia sentido escolhermos duas ou três turmas. É preciso haver igualdade de oportunidades, e por isso avançámos com todas as turmas de primeiro ano de cada ciclo. Se fossem escolhidas as turmas a dedo, não íamos ter uma visão real”, explica, acrescentando que no total do agrupamento são mais de 600 alunos envolvidos no projeto.
Mas, afinal, o que foi feito? “Criámos um espaço de trabalho interdisciplinar — os chamados DAC, Domínios de Autonomia Curricular. As Aprendizagens Essenciais deram-nos alguma folga: os professores estavam agarrados às metas curriculares e quase não tinham tempo para respirar, mas acho que por cautela este documento ainda não foi aproveitado a 100%. Os conteúdos não desapareceram, o nível de profundidade com que são abordados é que muda um pouco. Agora tem-se uma postura mais holística, aproveitando mais as sinergias entre as diferentes disciplinas para trabalhar um conjunto. E com isso ganhamos tempo para outras metodologias e outros tipos de trabalho.”
As Aprendizagens Essenciais são documentos de orientação curricular e que vieram substituir as metas curriculares aprovadas durante o mandato de Nuno Crato como ministro de Educação (2011-2015). As alterações têm recebido tanto de aplausos como de vaias.
A partir do momento em que uma escola adere à flexibilidade, tudo pode acontecer. “Podemos não ter disciplinas, há escolas que estão a trabalhar com áreas disciplinares, que têm as Ciências Sociais e Humanas em vez de terem a Geografia, a História, etc. Por isso não há uma flexibilidade, não há uma forma única de fazê-la, essa é a parte boa e responsabiliza muito as escolas. Dizia no outro dia aos meus colegas, em tom provocatório: vocês já viram a autonomia que nós temos em termos pedagógicos? Até podemos deixar de ter turmas. Em Óbidos, não têm turmas. Têm um conjunto de alunos do mesmo ano e os professores dividem-nos consoante o tipo de trabalho que estão a fazer, organizam grupos e funcionam assim.”
Tudo isto é possível, acredita Dulce Chagas, no Ensino Básico. Chegando ao secundário, os entraves são outros. “Enquanto o secundário servir o interesse do Ensino Superior, não vamos conseguir descolar muito. Aqui temos a flexibilidade nos quatro anos que podíamos ter, mas no 10.º ano tivemos algumas cautelas. As horas das disciplinas estão mais ou menos intocadas para se cumprir o programa porque estes alunos vão fazer os mesmos exames nacionais que os outros. Para além disso, conseguimos uma folga de tempo e criámos dois blocos semanais de 90 minutos partilhados por professores de várias disciplinas para trabalhar de forma diferente.”
A pensar nos exames nacionais, Dulce Chagas quis salvaguardar que no 10.º ano haveria um espaço onde as coisas decorriam normalmente e um outro, complementar, onde se trabalharia noutro tipo de projetos. “Correu melhor ou pior conforme a dinâmica que os diretores de turma conseguiram imprimir. Os alunos do 10.º ano estão muito formatados para um tipo de escola e não é com bons olhos que vêem a mudança.”
Também nos critérios de avaliação houve alterações que agora terão de ser elas próprias avaliadas. “Retiramos o peso que os testes tinham na avaliação final. Porquê? Tínhamos de valorizar o processo, a participação dos alunos nas aulas e eles tinham de perceber que tudo o que fazem na sala de aula é valorizado, que não conta só o dia do teste”, argumenta.
“No Ensino Básico, o peso dos testes nunca passa dos 50% — demoramos um mês a chegar a este valor e eu ainda acho que é muito — para que o restante trabalho seja avaliado. Agora isto estoura quando temos professores que têm oito turmas e têm grande dificuldade em fazer este trabalho personalizado”, acrescenta Dulce Chagas.
Por isso mesmo, nenhum professor do agrupamento está envolvido ao mesmo tempo na flexibilização de mais do que um ano de ensino.
Os alunos: uns aplaudem, outros torcem o nariz
O alerta de Dulce Chagas em relação aos alunos também é feito por Filinto Lima, presidente da ANDAEP, associação que representa os diretores de agrupamento de todo o país. No Ensino Básico tudo corre sobre rodas, no secundário nem por isso.
“No Ensino Secundário surgem dificuldades em virtude do modelo de acesso ao Ensino Superior. O secundário é muito virado para os exames e, devido à forma como está criado, é um ciclo perdido. É um ciclo em que os alunos se preparam para os exames, para aquela hora e meia”, sublinha o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas.
Foi isso mesmo que aconteceu no agrupamento de escolas Padre António Vieira, conta Dulce Chagas. “Os mais novos lidam muito bem com a flexibilidade. Os mais velhos, não. Não gostam das DAC, não correu como queriam. E estão muito formatados para a aula clássica. Não vêem com bons olhos ser mais interventivos no seu processo de aprendizagem. Acham que é o professor que tem de lhes dar a matéria. São muito críticos. E não facilitam. Motivá-los é muito difícil.”
E isso sente-se quando falamos com Joana e Helena, ambas com 15 anos, do 10.º ano de Ciências e Tecnologias, e alunas do quadro de mérito da Padre António Vieira. O seu diretor de turma, conta Dulce Chagas, não é grande adepto da flexibilidade.
Joana: A flexibilidade são os DAC?
Helena: Detestamos.
Joana: Eu vou ser muito honesta consigo, porque devemos ser sinceros, não estou a gostar nada dos DAC. Acho que nos está a roubar tempo de estudo, tempo que também precisamos para fazer as nossas coisas. Acho que não fazem falta porque não fazemos nada de muito interessante. O que acontece depende muito dos professores.
Helena: Em Biologia e Físico-Química fizemos um trabalho que até contribuiu para a nota, o que foi bom. Mas em Filosofia só vemos filmes, em Português também.
Joana: Vimos “Os Portugueses pelo Mundo”. Até foi interessante…
A conversa continua mais ao menos no mesmo tom. As duas alunas queixam-se de ficar com o horário sobrecarregado e de ter de fazer os trabalhos em casa por falta de Internet na escola — uma queixa recorrente dos diretores de escola. Com a passagem do básico para o secundário, acham que lhes devia ser dado mais tempo para se preparem para os exames. E quando lhes perguntamos se o que as preocupa mais são as médias e a preparação para as provas, respondem em uníssono com um sonoro “Sim.”
Dulce Chagas lembra que houve uma garantia do IAVE — Instituto de Avaliação Educativa de que os exames nacionais de 2018 se iam adaptar a esta nova realidade, até porque “este é um ano fulcral, para dar sossego às famílias, aos professores e aos alunos”, antes de a flexibilidade se expandir para outras escolas.
Ana Cláudia Cohen concorda e lembra um episódio que aconteceu na sua escola durante a visita de Lars Schleicher, da OCDE, que veio a Portugal monitorizar o projeto-piloto. “Temos quatro associações de pais e não senti quaisquer resistências. Mas houve um pai que disse em frente ao Lars Schleicher que apesar de achar que este é o caminho, os pais só querem saber dos resultados e se o filho entra em medicina ou no Técnico. E o filho dele, que estava ali sentado, respondeu: ‘Pai, não se preocupe, que nós estamos a aprender bem.’”
Seja em Alcanena — onde a diretora diz não ter sentido resistências do 10.º ano — seja em Lisboa, o discurso é bem diferente quando falamos com alunos mais novos.
Ana Cláudia Cohen conta que ouve os seus miúdos dizer que com a flexibilidade toda a gente participa. “Uns são bons numas coisas, outros noutras e todos põe as suas potencialidade no projeto, cada um nas suas especificidades.” Para além disso, acrescenta, foram feitas grandes aprendizagens e as idas à serra para falar com o pastor ou as visitas às grutas da região são coisas que não se esquecem. “O objetivo é que todos os meninos aprendam mais, não podemos pensar só no sucesso de alguns. Quando fazemos os testes para o aluno médio, o sucesso é só desses ou dos que estão acima da média. Mas nas aulas já não há o aluno médio, esse aluno já não existe. Com a escolaridade obrigatória, o sucesso tem de ser de todos, independentemente do sítio de onde vêm e das caraterísticas que têm.”
Alexandra e Eduardo são alunos do 7.º ano na secundária de Alvalade e têm 13 e 12 anos, respetivamente. Estão a gostar da experiência, mas acham que, por vezes, conversam de mais nas aulas. A disposição das carteiras, que passou a ser em ilhas, convida a isso.
“Está a ser bastante interessante, temos uma disposição da sala muito diferente do normal. Estamos sentados em ilhas e isso permite-nos trocar ideias: ouvimos diferentes opiniões e conseguimos trabalhar no mesmo projeto com pontos de vista diferentes. Ajuda-nos a trabalhar em grupo”, diz Alexandra.
Eduardo concorda, mas diz que ainda estão a aprender a “lidar” com as ilhas. “Às vezes conversamos um bocadinho, mas principalmente ajudamos-nos.” Essa ideia, de entreajuda, também é apontada por Alexandra, que agora diz que sabem trabalhar melhor em grupo.
Quanto às DAC, ao contrário das colegas do 10.º ano, só têm coisas boas a dizer. “Na flexibilidade há as DAC e nas DAC trabalhamos sobre vários temas…”, diz Alexandra, com Eduardo a completar-lhe a frase. “… E temas que precisamos no dia-a-dia. Numa DAC juntamos disciplinas, a TIC [Tecnologia de Informação e Comunicação] é a que usamos mais para trabalhar com computadores, e ajuda-nos a fazer trabalhos e projetos. Os professores vão mudando, pode ser uma professora de Inglês e uma de Matemática juntas, por exemplo.”
E isso é bastante interessante, atira Alexandra. “Podemos juntar Educação Física e Matemática, por exemplo. Em Educação Física vimos qual era o nosso peso e altura e, depois, em Matemática calculámos o índice de massa corporal. Também fazemos vários debates sobre temas diferentes. E gostamos de ver as disciplinas interligadas. Aprendemos mais facilmente”, defende a jovem de 13 anos.
Outro ponto alto para a aluna é a forma como passaram a ser avaliados. “Agora não somos avaliados só por nós, mas também pelo que fazemos em grupo. É bom não serem só os testes a contar. Num teste podemos estar nervosos e assim sabemos que ainda temos a possibilidade de contar com o que fazemos na sala de aula para ter uma boa nota.” Eduardo assente: “Faz sentido contar mais a avaliação nas aulas do que os testes, porque é nas aulas que aprendemos a matéria dos exames.”
Sobre os debates, lembram que fizeram um sobre energias renováveis em que juntaram Ciências, Físico-Química e TIC. E em Cidadania e Desenvolvimento — uma nova disciplina para todas as escolas — discutiram temas como se se deve ou não dar esmola aos pobres, o abandono dos animais e os problemas da adolescência.
Mesmo quando os alunos estão entusiasmados, os professores encontram alguns obstáculos na sala de aula. Um deles é os estudantes estarem habituados a receber ordens, em vez de tomarem decisões sozinhos, como conta Alexandra Carvalho, professora de Informática da Padre António Vieira. Este ano leciona TIC e é grande adepta da flexibilidade.
“Na sala de aula, ao princípio, achavam tudo estranho, parecia que era uma espécie de ATL. Estavam habituados a que fossemos mais diretivos: faz isto, faz aquilo. Quando damos aos alunos um espaço maior de abertura para eles criarem, e pensarem, eles sentem que aquilo é um bocado estranho. No outro dia, pedi para fazerem monstrinhos no Paint 3D, a três dimensões. E eles perguntaram: ‘Mas como? O que é que ele tem de ter?’ E eu dizia: ‘Os monstros são vossos, inventem.’ Às vezes, ainda estão formatados. Mas estamos a fazer um esforço para nos desformatarmos a nós e a eles”, conta a professora.
O grande desafio para os alunos, defende Alexandra Carvalho, é perceberem que têm de estar na escola como fora dela: “Têm de conseguir comunicar uns com os outros, com os professores, têm de tomar decisões, não podem ter alguém a decidir por eles. E têm tido um grande crescimento a esse nível. Não mudam do dia para a noite, mas nós também não.”
Em Alcanena, um grupo de cinco alunos do 7.º ano mostra que está super entusiasmado com a experiência, embora uns sejam mais faladores do que outros, uma competência que a flexibilidade também deve desenvolver. O desafio era dizerem do que tinham gostado mais.
Carolina: Foi diferente, gostei da forma de avaliação variada.
Alina: Eu aprendi mais e participei mais nas aulas.
Afonso: Gostei de termos feito visitas de estudo para aprender mais, de nos avaliarem de forma diferente e de não estarmos sempre na aula. Fomos às grutas de Santo António e ao Alviela e andamos pela serra a explicaram-nos os caminhos que tomava o rio.
Miguel: Acho que os DAC foram uma experiência boa para não estar sempre a fazer as mesmas coisas: os testes e trabalhar na matéria. Desenvolvemos muitas coisas: a Português fizemos poemas sobre as ervas aromáticas. Esta forma de aprender foi melhor do que a do ano passado, mas também depende dos professores. Acho que devia continuar com outro estilo de experiência.
Francisco: É outra forma de aprender. Fizemos muitas visitas de estudo, perdemos aulas com isso, mas ainda bem. Não deixamos de aprender e é muito mais fixe aprender assim.
Os professores: cada um entra no barco quando está pronto
Se o decreto-lei dos Currículos do Ensino Básico e Secundário diz que já não devemos olhar para o aluno médio, mas sim para o estudante em toda a sua diversidade, Ana Cláudia Cohen lembra que também os professores não são todos iguais.
“Se temos de respeitar o aluno real, também temos de respeitar o professor na sua diversidade. Ele não é todo inovador, nem inova todo da mesma maneira. Temos de respeitar os ritmos. Posso ter — e tenho — alguns professores que estão só centrados no seu saber, na sua disciplina, e posso ter outros que trabalham de forma multidisciplinar, todos a colaborar, cada um na sua sala. Isto tem de ser possível. Não posso pedir a um professor para fazer o pino se ele ainda não sabe levantar a perna.”
Os professores têm de sentir a necessidade de mudar. Se não, resistem, explica. Nas suas escolas, houve um grande respeito mútuo — “Quem não quis ir para a flexibilidade não impediu os outros, e quem foi não apontou o dedo a quem ficou” — e isso é fundamental para que cada um possa entrar no barco ao seu ritmo.
“Quem decide como se faz e quando se faz é o Conselho de Turma. O que se passa numa turma, não tem de se passar noutra. E o projeto pode evoluir e mudar ao longo dos períodos. É importante que todos se sintam bem”, defende a diretora do agrupamento de Alcanena, que diz ter professores muito entusiastas da mudança na faixa etária dos 55 aos 58 anos, altura em que muitos estão já a pensar na reforma.
“Para abraçar este projeto, o professor tem de estar ali de alma”, sublinha Dulce Chagas. Entre os seus professores, sentiu uma grande adesão dos mais velhos. “Os mais novos têm maior carga horária, têm filhos pequenos e, às vezes, menos disponibilidade. É um mito que sejam mais flexíveis.”
A grande dificuldade para os professores, acredita Dulce Chagas, foi o medo de sair da sua zona de conforto. E dá o exemplo dos professores que têm tudo muito estruturado, planificado e que gostam de dar aulas essencialmente expositivas. Em alguns desses casos, teve docentes que não sabiam o que fazer e nem todos, diz, estão convencidos de que o caminho seja o da flexibilidade.
Teresa Nunes, adjunta de Dulce Chagas, e gestora do projeto da flexibilidade no agrupamento Padre António Vieira, acredita que há algumas situações que têm de ser repensadas, porque se os docentes não estiverem envolvidos não é possível chegar aos alunos: “Os professores têm de ser o farol.”
As dificuldades para o corpo docente foram várias, mas concorda que sair da zona de conforto e cooperar com o outro são os principais desafios. “É o abrir a porta: reconhecer que o outro tem ideias tão válidas como as minhas, assumir compromissos, fazer concessões, nada disto é fácil. O professor sempre esteve um bocado isolado, e isso sempre foi incentivado, até se olharmos para aqueles currículos feitos à prova de professor. Esta nova forma de trabalhar tem lados muito positivos, mas sofre-se muito. Tenho muitos anos disto, sempre trabalhei sozinha e muito bem. Eu fazia trabalho interdisciplinar, mas era só eu, estudava o que se passava nas outras disciplinas quando precisava delas. Agora estou-me a habituar a reconhecer a mais-valia do outro para os alunos e, de facto, percebemos o impacto que tem para eles vários professores a trabalhar em conjunto.”
O grande desafio para Daniel Café, professor de Português e Inglês, e coordenador da Escola Básica Dr. Anastácio Gonçalves em Alcanena, foi ter de preparar os conteúdos que leva para a sala de aula de outra forma, já que agora é esperado que os docentes levem os alunos a pensar por si, a serem eles a desenvolver e propor atividades.
“Já tive oportunidade de dizer na reunião com a OCDE que umas das grandes preocupações é a exequibilidade que existe entre este método e a atual estrutura de ensino baseada em exames e aferições. Ou desenvolvemos competências — que é o que fazemos na flexibilidade — ou desenvolvemos capacidades, conhecimentos”, defende Daniel Café sublinhando que o Ministério da Educação tem de decidir que tipo de ensino quer, já que os dois não são compatíveis.
“Para preparar para um exame nacional precisamos de aulas, de exercitar, de muito trabalho de consolidação e este modelo não se compadece com esse tipo de abordagem. É baseado na experimentação, na vivência, na aprendizagem através daquilo que os alunos constroem no dia-a-dia. É muito diferente de só avaliar conhecimento e implica uma inversão total do papel de professor, daquele que dava uma aula expositiva. Agora é o inverso, é levar os alunos à descoberta, desenvolver neles a reflexão, extrapolar para outras disciplinas. É muito diferente do que normalmente se faz na sala de aula”, salienta o professor de Português.
A virtude, acredita, está no meio, algures entre a aula clássica e a flexibilidade. O que é impossível é voltar a mudar tudo quando o Ministério de Educação mudar de cor política.
“Não pode vir outro ministro acabar com um modelo e apostar noutro. Se tivermos alguma liberdade para intercalar os dois, poderemos criar situações bastante interessantes de aprendizagem para os alunos. Eles precisam, de vez em quando, de sair do modelo tradicional e pesquisar, investigar, refletir. Mas a aula clássica também é importante e não podemos deixar de parte aquilo que é o conhecimento, eles têm de saber a tabuada, as conjugações verbais…”, acrescenta Daniel Café.
Por isso, como tantos professores, defende que as mudanças na Educação não podem acontecer só por motivos partidários, ou ideológicos, e acredita ser absolutamente necessário um pacto de regime para o ensino em Portugal.
Ao lado de Daniel Café, está sentado Vítor Gama, um professor que mais tarde encontraremos no cortejo dos alunos trajado a rigor como se fosse um árabe dos tempos da invasão muçulmana da Península Ibérica. À beira de completar 60 anos, é professor há quase duas décadas e é coordenador do departamento de Ciências Sociais e Humanas do agrupamento. Com o seu discurso, mostra um grande descontentamento com a forma de tratar a Educação em Portugal.
“Em 38 anos de serviço, nunca me apercebi que alguma vez o sistema tivesse tentado aproveitar as virtualidades do sistema anterior. E talvez seja esse o nosso maior pecado: mudar de modelo ancorados nos ciclos políticos. Se tivéssemos tido esse engenho e arte provavelmente o nosso percurso teria sido outro e a possibilidade de fazer experimentação aliada à aula tradicional não fosse uma realidade de 2018, mas ainda dos anos 90 do século passado”, critica o professor.
Se os políticos não chegaram a essa conclusão, acrescenta Vítor Gama, os professores há muito tempo que têm consciência de que é possível fazer diferente. “Com a introdução da Área Escola, por exemplo, ousamos pensar que podíamos fazer diferente, mas o ciclo eleitoral seguinte deitou-nos por terra o sonho. Sempre houve e haverá turmas de eleição. Aqui temos o 5.º A que é feito de crianças espectaculares, como se Desafio fosse o seu nome do meio. Há dias, para falar dos Descobrimentos, declamaram o Monstrengo, de Fernando Pessoa, e a seguir o Homem do Leme, dos Xutos e Pontapés. Isto não tem nada a ver com flexibilidade, podia ter sido feito há 10 anos, porque aquelas crianças farão sempre diferente porque são capazes de fazer diferente.”
Faz elogios à flexibilidade, mas não vê que levá-la às escolas seja o maior dos desafios. Esse, passa por fazer os políticos entenderem a mensagem de quem está no terreno: “Com a flexibilidade curricular foi-nos dito que tudo era possível. Que não há limites. E esta é a grande virtualidade do sistema: não nos ser imposto qualquer limite. O desafio de todos os dias é aliar uma coisa à outra, flexibilizar e treinar o conhecimento. Agora vamos ancorar-nos só num dos modelos? É preciso demonstrar aos nosso políticos que é da simbiose das coisas que naturalmente nasce a luz. E só tenho pena que grande parte dos deputados do meu país sejam professores como eu e se esqueçam das suas funções assim que chegam àquele cargo”, conclui Vítor Gama.
A sala de aulas sem paredes
Com a flexibilidade curricular, o agrupamento dirigido por Ana Cláudia Cohen teve de repensar o que se passava na sala de aula. E entre as muitas reflexões que se foram fazendo, chegaram ao conceito de sala de aula sem paredes. Os alunos aprendem onde estiverem e, para isso, não tem de estar dentro de um edifício de betão.
Maria Gabriela é professora de Artes e Educação Musical, em Alcanena, e coordenadora da flexibilidade curricular no 5.º ano. Tem seis turmas no total, quatro na Anastácio Gonçalves e duas em Minde, e explica como exploraram o conceito de ensinar sem limitações físicas.
“Em cada turma procurámos espaços completamente diferentes do da dita escola tradicional para trabalhar o tema que lhes calhou. Estivemos no palco, no ginásio, no espaço circundante da escola, na biblioteca, no prado, na serra, no rio, e até a própria sala de aula foi transformada: em vez de um professor tínhamos dois ou três”, explica. E foi assim que o trabalho se foi desenvolvendo, com a meta de ter uma feira árabe montada, a época histórica que cabia ao 5.º ano, no dia da Feira do Tempo.
“Os alunos estiveram sempre bastante recetivos com esta nova forma de aprender. Todos trabalhavam, motivados, cada um dava o seu melhor fazendo coisas completamente diferentes dos outros. Cresceram mais como pessoas. A sala de aulas sem paredes funcionou muito bem. Os que foram à serra, estavam encantados com o pastor. Alguns reviam-se ali, temos meninos da Serra de Santo António onde a pastorícia é uma atividade que lhes é muito próxima”, explica Maria Gabriela.
Tudo isto é um corte na concepção de aluno e professor, de escola e currículo e, claro, nas práticas de ensino, defende Ana Cláudia Cohen. “Há dois, três, quatro professores na mesma sala, o que for necessário. E há a sala de aulas sem paredes. Tanto faz se estão no prado, na serra, numa gruta ou num palco. A sala de aulas é onde eles aprendem.”
A fórmula usada em Alcanena não é mágica e dificilmente pode ser copiada por outros agrupamentos. Tem de ser diferente de escola para escola, de acordo com o projeto educativo, com os alunos e os professores, defende a diretora. “Ninguém pode ir para a flexibilidade sem pensar no que tem, na diversidade que tem. Cada um vai à medida que acha que é pertinente. O decreto não é impositivo, pode-se ficar no zero, nos 25% ou no meio.”
O mesmo diz Filinto Lima que saúda a decisão do governo de não tornar a flexibilidade obrigatória. No próximo ano letivo só adere quem quiser, mas o presidente da ANDAEP acredita que mais escolas irão juntar-se às primeiras 235. “Quando aparece algo diferente, nós, portugueses, temos receio e pensámos que o melhor é deixar os outros ir à frente. Mas quando os que vão à frente têm feedback positivo, os outros — neste caso, as escolas — também vão querer entrar e criar projetos à sua medida”, defende. E fazer à sua medida é a ideia-chave, daí Filinto Lima dizer que não há uma flexibilidade, há 235.
O seu maior receio é que “houvesse uma universalização obrigatória do projeto e isso iria contra a autonomia das escolas”. Não houve e isso é positivo: “Esta é a verdadeira autonomia. As escolas não querem gerir dinheiros, querem é gerir currículos”, argumenta Filinto Lima.
Ana Cláudia Cohen e Dulce Chagas não têm dúvidas que em termos de autonomia este projeto-piloto foi bom. Em Alvalade, a diretora não se importava de ter também alguma autonomia financeira: “Só nos falta ter dinheiro. Dinheiro para equipamentos. Não faz sentido andarmos para a frente e não termos equipamento tecnológico em condições para poder ser usado sem restrições. A intervenção da escola foi há 7 anos e o equipamento está obsoleto. Não preciso de uma Sala de Aula do Futuro, mas de um número suficiente de tablets que os professores possam requisitar. E dinheiro para levar os alunos a sítios que se paga.”
Entre os críticos do projeto de autonomia, muitos apontam para a universalização do projeto, mesmo que não obrigatória, sem a devida monitorização. Um ano não é suficiente para aferir o sucesso do projeto-piloto, argumentam, como aconteceu num parecer do Conselho de Escolas, de que Ana Cláudia Cohen faz parte. O órgão ficou partido ao meio, com 15 membros a reprovar o decreto-lei sobre a matéria, enquanto 12 se recusaram a fazê-lo e assinaram uma declaração de voto onde faziam a defesa do projeto. A diretora de Alcanena foi um desses 12.
“Nunca houve um projeto tão monotorizado”, diz a diretora do agrupamento de Alcanena. “Foram constituídas equipas multidisciplinares que vêm às escolas, ou vamos nós ter com elas, e nas reuniões de trabalho estão todas as direções gerais de Educação, está o IAVE, a inspeção… E temos formação, temos partilha de boas práticas, a OCDE andou nas escolas a avaliar. Quando se diz que vai avançar sem avaliar… Não brinquem. A monitorização está a ser feita mensalmente, ao minuto”, defende.
Dulce Chagas confirma isso mesmo: “Nas reuniões de preparação, o secretário de Estado fez questão de chamar para a mesa os representantes dos diferentes gabinetes do Ministério de Educação com quem os diretores têm de interagir e a quem têm prestar contas.” E as reuniões com outros diretores também foram muito úteis, para ir afinando práticas.
Foi o caso dos DAC, como lembra Teresa Nunes. “Foi uma grande vitória quando começámos a perceber o que era um DAC na prática. Às vezes, estávamos a fazer algo parecido ao projeto Área Escola, era apenas a justaposição de disciplinas. Não tínhamos uma ideia global como temos agora. Entretanto, já fizemos um debate sobre energia e opções energéticas para Portugal. E os alunos se iam propor, por exemplo, uma barragem no vale do Guadiana tinham de saber bem a Geografia, tinham de ter o Português, tinham de ter as TIC, as Ciências por causa do impacto ambiental, a Físico-Química. E fizeram um debate extraordinário.”
Abram alas para os alunos
É dia 29 de maio. A temperatura máxima é de 19º graus e o céu está nublado. O ribombar que se houve podia ser de um trovão a ameaçar trovoada. Não é. É a banda filarmónica dos alunos de Alcanena que abre o cortejo, e os rapazes dos bombos dão-lhes forte com as baquetas.
Uma aluna a cavalo vai abrindo caminho pela freguesia. Atrás dela, a banda, atrás da banda, sherazades e mouros, homens e mulheres das cavernas, lavadeiras e pastores, cruzados e mineiros. E Ana Cláudia Cohen. Sempre atenta, sempre a ver se tudo corre de acordo com o planeado.
Enquanto os alunos desfilam, Alcanena para. Nas ruas ou nas janelas, todos aplaudem. A maioria das crianças do concelho está aqui, dificilmente haverá alguém que não conhece um dos miúdos que desfila.
Ao fim de alguns passos, muitos para sermos verdadeiros, o culminar de um ano de trabalho espera por nós. O arauto faz a proclamação solene e está aberta a Feira do Tempo. Agora é percorrer as barraquinhas e descobrir o que os alunos aprenderam. E, no final, comer o porco. Assado no espeto como antigamente. Ou não fosse esta uma viagem no tempo.