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Ao final da tarde, chegados ao pavilhão do bairro social da Outurela, às portas de Lisboa, em Carnaxide, e depois de descer uma escadaria em caracol, seguida de uma curva à esquerda, outra logo à direita, num ziguezaguear quase labiríntico, escuta-se um tilintar prolongado ao fundo de um longo, estreito e mal iluminado corredor, tilintar que nos guia até ao ginásio.
É exíguo e quadrangular o espaço, com um ringue logo ao centro que o ocupa quase na totalidade, alguns sacos de boxe suspensos no teto, cartazes que recordam combates passados, espelhos a quase toda a volta e gente de punhos cerrados de frente para eles, repetindo sozinhos o mesmo gesto vezes sem conta, um punho à frente e outro encostado ao rosto, troca, o outro punho à frente. Sobre a parede, lá no alto, o relógio que nos guiou não marca a hora, mas toca a rebate a cada três minutos, que é o tempo (aparentemente curto e até ensurdecedor a quem é estranho ao boxe, mas interminável para um boxeur) que dura um assalto quando o combate é “a doer”.
Primeiro escuta-se a respiração. Whoosh, whoosh! Depois, intercaladas, as pancadas secas, precisas, no saco: pow, pow!
António Ramalho, cinquenta e sete anos, um ex-praticante de boxe, é o treinador. Ou “mestre”, como é ali respeitosamente tratado. Quase não se lhe escuta a voz. Circula em redor pelo ginásio, vagarosamente, sereno, corrige a técnica dos atletas em delicados toques sobre as costas ou braços, incentiva-os — “Isso! É isso!” –, e prossegue.
António Ramalho (ou a mestria de encaminhar “reguilas” da rua para o ringue)
António foi primeiro dos pontapés do que dos socos, primeiro calçou as botas e, depois, trocou-as pelas luvas. Até aos catorze anos foi futebolista no Belenenses. “Eu tinha uns amigos que treinavam boxe no Atlético de Algés. Como o campo do Belenenses era perto, às vezes saía dos treinos e assistia aos deles. Lá me metia com eles e tal. Mas não treinava. Até que o treinador me desafiou a experimentar. O futebol ficou logo de parte. Nunca mais descalcei as luvas”, recorda. Como boxeur venceu algumas vezes, perdeu outras tantas. “Cheguei a vencer uma medalha de prata num torneio lá fora. Foi talvez a maior vitória que tive. Em miúdo via os maiores nomes do boxe no ringue, adorava-os, e só pensava em subir para lá e ser como eles. Acho que nunca cheguei àquele nível. Sinto que sou melhor treinador do que fui atleta.”
Treinou em vários clubes. E treinou alguns dos melhores boxeurs do país. Hoje, fá-lo apenas na escola que fundou no bairro da Outurela. “A vida nem sempre foi fácil e via aquilo [boxe] como um escape. Fez de mim um homem. Não me interessa se tenho aqui campeões ou não. Claro que gostaria de ter um leque de bons competidores e vencer tudo. Mas não é isso que mais me importa hoje em dia: o que quero é ajudar os miúdos como o meu treinador me ajudou”, explica.
— Com’é que é, Poupas? Ohhh, olh’ó gajo! ‘Tão? Olha lá, onde é que está o meu padrinho? PADRINHO?…
Quem chega é Júlio, vinte e seis anos, nado e criado na Outurela. “Sou daqui, ya. Vivo mesmo ao lado do ginásio, na estrada de São Marçal.” É afilhado de António Ramalho. Um protegido dele. Veste fato-de-treino, traz um gorro mal-amanhado sobre a cabeça, ginga no andar enquanto vai cumprimentando pelo ginásio, um por um, quem àquela hora treina. Um rapaz de “cabeça tonta”, mas que é também “talentoso no ringue” — como descreve carinhosamente o padrinho. Altíssimo, entroncado, mãos calejadas, tremendas de largas, e pinta de boxeur no rosto golpeado de muitas lutas. “Como é que conheci o meu padrinho? Ihhhsh, foi há bué. Conheci-o quando tinha para aí uns oito anos. Ya, oito. Oito, nove. E foi através de um amigo, que treinava com ele aqui. Antes, eu jogava à bola. E até era bom. Mas um dia esse amigo disse que eu tinha que experimentar uma cena diferente: o boxe”, começa por contar, atirando de chofre: “No começo não gostei nada! Achava que o boxe era uma palhaçada – porque só treinava, não combatia. Mas o padrinho lá acabou por me dizer que eu até tinha jeito, que começaria a combater, e nunca mais abandonei o boxe.”
A história de Júlio é a mesma de muitos dos rapazes do bairro da Outurela. Quando não são eles a procurar António, é o treinador a ir “recrutá-los” à rua. “É verdade que em tempos foi um bairro com problemas. É como em todo o lado: há bons rapazes e maus rapazes. Mas hoje é um sítio bom para se viver. O que sei é que isto é um viveiro de atletas — para o boxe e não só. E são miúdos com atitude. Há miúdos que tecnicamente têm um enorme potencial para o boxe. Mas isso não é suficiente. Por exemplo: há atletas que fora do ringue são muito ‘bonitinhos’, têm técnica e tal, mas que mal pisam o ringue, enfim, não vale a pena insistir. É preciso mais do que técnica; é preciso atitude. Como é que os encontro? Às vezes vou a passar na rua, encontro um miúdo que treina comigo, ele está com um amigo e convido esse amigo para vir treinar também. Se gostar, gosta. Se não gostar, não gosta. Por mim tinha-os cá a todos. Não é que eu seja o salvador de coisa nenhuma, atenção! Mas tento fazer a minha parte — outra parte é a vontade deles — e guiá-los”, explica.
— Oh padrinho, vão fotografar, é? Ou é só a ti?
— Vai mas’é treinar, pá!
[Todos calçam luvas. Júlio não. Apenas envolve as mãos e punhos em fita e aproxima-se do saco de boxe. Um soco dos restantes mal o agita. O de Júlio afasta-o, quase o ergue no ar.]
“O que é que eu quero? Quero títulos. É isso que quero e ainda não tive. E quero combater por Portugal lá fora. Ya. Ouvir o hino lá em cima, no ringue. Foi isso que prometi ao meu padrinho. E sei que hei-de conseguir. Mas no boxe é preciso treinar bué. Todos os dias aprendes uma cena. E é esse pormenor que faz de ti um campeão ou não. Mais tarde quero ser treinador. A vida dá bué voltas, né? Mas é isso que quero. O padrinho diz que eu tenho jeito para ensinar os putos”, garante Júlio, aproximando-se de Salvador, que vai treinando “sombras” (em linguagem de boxe, “sombras” são a prática de golpes diante do espelho) num recanto. Júlio coloca um par de “aparadores” e Salvador vai socando a mão direita e a esquerda deste à vez, esquivado-se no final a um “gancho” de Júlio.
O par de treino é ainda adolescente. “Tenho dezasseis anos. Cheguei aqui com onze, doze anos.” Voz a “engrossar”, acne no rosto, cabelo à tigela, Salvador não é particularmente alto, mas é entroncado. Ganhou “cabedal” nos tempos do rugby. “Eu vim para aqui porque deixei o rugby e fiquei sem treinar. Queria experimentar o boxe. Sempre gostei de desportos de contacto e quis experimentar. Porquê o boxe? Hmmm… quando estou no ringue sou só eu e o adversário. Gosto disso. E vence o melhor. Depois do combate, amigos como antes. É isso que gosto no boxe.”
Salvador não é da Outurela. Nem tem história de vida complicada como outros atletas que António Ramalho “recrutou” na rua. “Aqui todos são aceites. Não me interessa a história de vida deles, de onde vêm, a idade, a cor da pele. Nada disso me interessa. Só me interessa que queiram aprender”, explica o treinador.
Mas Salvador é bom. Cerra o olhar e aplica-se em cada golpe. Sabe que é bom. O difícil foi convencer a mãe a deixá-lo treinar boxe quando descobriu isso. “A minha mãe aceitou a minha vinda para o boxe. No começo, aceitou… [Pausa] Ela só ficou preocupada comigo quando o mestre lhe disse que eu tinha talento e que deveria começar a combater a sério, em torneios. Ela não queria que eu chegasse a casa todo partido, ou com um olho negro. Mas se acontecer, faz parte. É normal que pense que o boxe é um desporto violento. Mas não é. Eu digo-lhe que o rugby era muito mais. No rugby há mais contacto, lesionas-te mais, treinas à chuva, constipas-te. Isso é violento, entre aspas. O boxe é um desporto digno. Sobretudo isso. Duro, mas digno.”
Uma escola de boxe que é mais do que isso
“Fale com aquele. Com aquele…”, aponta António Ramalho. “Foi um dos meus primeiros alunos. Hoje está bem na vida. É pai, tem um bom emprego. É o Nuno.” Aos quarenta e dois anos, só vem treinar para “perder a barriguinha”, mas a técnica está lá toda. E a potência no golpe. Não desaprendeu. “Eu conheci o António quando tinha uns 13 ou 14 anos. Ele era treinador num ginásio em Algés. Como eu vivia ali perto, fui treinar com ele. Naquele tempo éramos sobretudo miúdos carenciados na escola dele. E mais a dar para o reguilas. Ele ensinou-nos boxe, mas ensinou-nos sobretudo a respeitar os outros, a ter aplicação em tudo o que fazemos, e mostrou-nos que tínhamos qualidades que às vezes nem sabíamos. São ensinamentos que, hoje, e mesmo não treinando boxe como antes – a vida não me permite –, continuo a aplicar no meu dia a dia. A verdade é que quando era puto não me apercebia disto. Tu só te apercebeste que aprendeste mais tarde, em adulto. O boxe ajudou-me muito”, conta.
– Então, falaste mal de mim?
– Falei, claro.
António Ramalho sempre quis da escola de boxe que fosse “mais do que isso”. Hoje, na Outurela, e além dos treinos, os alunos (mais carenciados ou menos) que ainda estudem têm, por exemplo, direito a explicações, uma sala de estudo e até refeições. “Isso era um sonho que tinha há muito tempo, o de ser mais do que só um clube. Os miúdos, antes do treino e depois de saírem da escola, costumavam ficar na rua a ver passar as horas. Sem fazer nada. Agora podem vir estudar. Temos uma salinha com computadores, por exemplo, onde eles podem fazer trabalhos da escola. E, antes disso, têm também um lanche, que é oferecido por nós”, explica. Mas o “sonho” de António não se ficará por aqui. “Estamos agora a negociar a contratações de dois professores efetivos – voluntários temos nós muitos –, para os ajudarem com os estudos. Vamos ter explicações de tudo. Ao sábado, por exemplo, já temos as explicações de inglês. Que são no ringue! Ou seja, aqui dentro, ao sábado, só se fala em inglês. E eles aprendem na prática. Sabe, tenho aqui dentro vinte e cinco miúdos. E não me importo de não ter um único campeão de boxe. Ninguém sabe o gozo que me dá saber que são bem sucedidos nos estudos… [Pausa] Por mim, está ganho”, confessa.
Um dos “miúdos” de António bem sucedido nos estudos é Salvador. “Como é que o boxe me ajudou? Ajudou-me por ser um desporto que é individual, acho eu. Quando estamos sós e dependemos de nós, o grau de exigência sobe. Sempre fui um miúdo muito ‘elétrico’. Não sossegava nas aulas. E o boxe ajudou-me a ser mais calmo. E também sou muito mais disciplinado do que era. Nunca fui um mau aluno, mas agora estudo mais e esforço-me mais. Na educação física, por exemplo, como melhoras a condição física, melhoras a nota. Nas outras disciplinas, e sendo mais concentrado do que antes, também melhoras. Eu penso: se sou determinado nos treinos, tenho que ser determinado nas aulas.”
Aos melhores, a escola de boxe da Outurela garante um “incentivo”. Aos que não conseguem bons resultados escolares, “castigos”. “Primeiro, converso com eles e tentamos perceber o que é que não correu bem. E o castigo é treinar mais. Mas também há incentivos. Ou seja, criámos bolsas de estudo para os melhores alunos. Se tiverem bom aproveitamento escolar e desportivo, é-lhes entregue uma verba. Somos nós que a gerimos. O que queremos é que eles aprendam o valor do dinheiro e como o devem utilizar mais tarde, quando trabalharem. Se precisam de uns ténis, de cadernos, de comida, nós compramos tudo com aquele dinheiro”, explica António Ramalho.
Afinal, o boxe é coisa de rufias? “Antes pelo contrário”
– Oh poupas! Poooooupas! Chega cá… — atira António Ramalho para um dos alunos.
Cabelo à escovinha, uma franja à frente a reluzir de gel, João Almeida, doze anos, espreita timidamente para o ringue. “Eu vim para cá em setembro. Porquê? Para aprender a defender-me. Não é que goste de andar à porrada. Não é isso. Mas se precisar… pronto. A minha mãe é que ficou mais de pé atrás quando lhe pedi para vir para o boxe. Ela tinha medo que me aleijasse ou assim. Insisti muito, todos os dias lhe pedia, e ela lá me deixou”, conta, a custo, João, a quem a timidez levou a fala mas nunca o empenho. O que quer é treinar. E rapidamente “Poupas” regressou ao saco para mais um par de socos, ajudado por Júlio, braço-direito de António Ramalho nos treinos.
O avô Almeida observa o neto da porta da entrada. “Epá, é assim: eu nunca gostei muito de boxe, sabe? Nunca me deu para isso. Mas cheguei a ser motorista dos tipos do boxe no Atlético de Algés. E aquilo era malta boa, era malta boa…” Mas o avô aprova a vinda do neto para o boxe? “Foi o João que pediu aos pais para vir. Vou ser honesto: acho que é um bocadinho violento. Não é que ele seja violento. Ele é calminho e tal — às vezes lá se pega à tareia com o irmão em casa, mas é calminho. E é um miúdo atinadinho na escola e tudo, que só tem ‘cincos’. O boxe pode ser um bocadinho agressivo. Acho eu, não é? Mas sempre é melhor estar no boxe e praticar um desporto do que estar em casa agarrado à televisão. O forte dele antes do boxe sempre foi a Playstation, sabe? [Risos] Olhe, e isto, quer ele continue quer não, sempre é bom para aprender a defender-se”, lembra.
Não é só o avô de “Poupas” que considera o boxe violento. E isso é algo que António Ramalho entende, mas garante que “hoje não é assim”. E explica: “No tempo em que eu jogava boxe isto era uma modalidade de má fama. Associava-se o boxe a pessoas violentas, de mal com a vida, e a imagem foi ficando. Hoje não é assim. Ou não é tanto como antes. O boxe é duro, sim. E exigente. E é preciso trabalhar muito para alcançar o que quer que seja. Mas não é praticado por atletas violentos, isso não. Olhe à volta: não é.”
Quando os seus atletas o são, ou chega aos ouvidos do treinador que o são, António Ramalho é duro na reprimenda. “Sabe, os pais têm que trabalhar no duro o dia todo para colocar um prato de comida na mesa. Às vezes os miúdos saem da escola – isto quando vão às aulas – e ficam desamparados. Não culpo os pais. Mas os miúdos podem vir a meter-se em problemas. O que faço é trazê-los para aqui, ensinar-lhes o boxe, conversar com eles, ensinar-lhes os valores da modalidade, ajudá-los com os estudos. E tenho conseguido, acho que tenho conseguido. Quando sei que algum se mete em problemas ou anda à tareia, fico aborrecido. Eles pedem-me sempre desculpa por o terem feito. São crianças. Não me posso esquecer nunca que são crianças. O importante é que percebam que erraram. Mas fica o aviso: se volta a acontecer, acabou-se o boxe para eles”, garante.
Júlio, o afilhado de António Ramalho, foi um dos alunos a quem foi preciso fazer uma ou outra reprimenda. Mas só no começo, pois sabia que se se “metesse em problemas, acabava-se o boxe”. “Na escola sempre fui um puto reguila. [Risos] E metia-me em problemas. Porquê? Epá… gostava de lutar. Cenas de putos. Aqui aprendi que bater em alguém não é a solução para nada. Uma coisa é usares o que aprendes no boxe para te defenderes. Outra é meteres-te em problemas só porque sabes boxe, para te exibires ou assim. Isso é errado. O boxe é para usar no ringue. E é isso que digo aos miúdos que chegam aqui e só querem aprender boxe para andar à porrada na rua”, explica.
Violência entre crianças e, sobretudo, entre adolescentes, “sempre houve”, lembra António Ramalho, lamentando que hoje seja “mais descontrolada”. “Antes, os miúdos pegavam-se à tareia e, ao fim de uma horita, já eram os melhores amigos. Hoje não. Quando vejo na televisão uma série de miúdos a pontapearam outro que está caído no chão, enfim, às vezes parece que só se afirmam socialmente se destruírem a cara ao outro. Isso não é assim. Não pode ser assim.” O treinador refere-se a um caso ocorrido em Almada no começo do ano. Salvador também assistiu às imagens da violência. “Quando sei de histórias dessas, em que vários miúdos batem num que está no chão, sinto vergonha. Eles deveriam ter vergonha disso. Um homem não faz aquilo a outro. Isso é uma cobardia. São cobardes! Querem ‘armar-se’ à frente dos outros. Querem fazer ver aos restantes que são líderes. Um líder não faz aquilo. Admito: se um dia tiver que lutar para me defender, até o posso fazer. Mas nunca serei eu a provocar ou a dar o primeiro soco. Nunca!”, garante.
[Surge na porta um pai, engravatado…]
— É o treinador? Gostava de lhe pedir umas informações…
— Só um bocadinho, ‘tá bem? Estou aqui a acabar esta conversa e já falo consigo. Só um bocadinho…
Nuno foi um dos primeiros alunos de António Ramalho. Hoje é pai. E ele próprio já trouxe o filho, adolescente, aos treinos de boxe. “O boxe não é violento. Não faz de ti mais ou menos violento. Isso vai depender do teu caráter e, sobretudo, de quem te vai ensinar. Com o António não há violência. Ele o que faz é dar formação às crianças. Dentro e fora do ginásio. Quando o conheci era rebelde. Faz parte. O boxe tornou-me calmo. Quem faz boxe sabe como magoar outra pessoa. Mas é precisamente por saber que não o faz. Nunca o fiz. Mas, se calhar, se não tivesse conhecido o António Ramalho, não tinha a vida que hoje tenho e não era o homem que hoje sou. O meu filho está ali a jogar à bola, vês? Nas férias, combinei com o António: vamos trazer os miúdos do futsal para um treininho. Aceitaram logo todos. E a seguir diziam-me: ‘Epá, isto afinal cansa! Não é só vir dar um socos e tal.’ O boxe é duro. Mas é uma dureza sempre com respeito.”