O debate, que já era a sete devido à ausência anunciada de André Ventura, começou a seis, por causa de um atraso de Luís Montenegro. O primeiro tema abordado foi o financiamento da Segurança Social e o primeiro a falar dele Pedro Nuno Santos, surgindo de Rui Rocha a alternativa liberal. Dez minutos depois, quando Montenegro chegou (na sua explicação devido aos problemas meteorológicos que apanhou pelo caminho desde o norte até aos estúdios da RTP em Lisboa, onde decorreu este debate radiofónico em simultâneo na Rádio Observador, TSF, Antena 1 e RR), o líder da AD afirmou que a questão da sustentabilidade o sector será uma questão em aberto durante a legislatura, se vencer as eleições, mas não será feita nenhuma alteração, apenas estudada. Ficou no entanto a primeira bicada ao seu principal opositor: Montenegro duvida das contas do PS.
Quando se passou para a questão da Justiça, casos, interrupções e bocas à parte, Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos mostraram-se disponíveis para um pacto de consenso para um reforma do sector. Montenegro surpreendeu ao dar nota “mais negativa que positiva” à Procuradora-Geral da República. Pedro Nuno Santos falou antes de “um grau de desconfiança considerável” dos cidadãos, aplaudindo que o tema tenha deixado de estar “fora do debate”, mas recusando fazer “uma crítica direta” a Lucília Gago, dizendo apenas que estás prestes a terminar o mandato.
Incontornável, a questão dos acordos de governação manteve o tabu de Luís Montenegro, enquanto Pedro Nuno Santos também disse de novo que não garantia viabilizar um orçamento do PSD e Rui Rocha voltou a recusar alianças com o PS, mas rejeitou igualmente votar uma moção de rejeição do Chega. Já Mariana Mortágua quer um novo acordo à esquerda, mas por escrito, algo com o qual o líder do PS concorda. Já Paulo Raimundo espera que sejam os socialistas a ir à procura das soluções.
O tema do reforço do Orçamento da Defesa teve respostas diversas e interpretações diferentes (sendo que PS e PSD são contra o Serviço Militar Obrigatório), já a continuidade do apoio financeiro à Ucrânia foi quase unânime, só Paulo Raimundo se refugiou na questão da “paz para a Ucrânia e a Rússia). Depois, até o tema dos telemóveis nas escolas esteve sobre a mesa.
Quem ganhou o debate a que faltou André Ventura (de quem quase só Rui Tavares falou)? Um painel de avaliadores do Observador deu notas de 1 a 10 a cada um dos outros sete líderes (como pode ver no gráfico em baixo) e explicou porquê.
Somando as médias dos 28 frente a frente (gráfico inicial) e dos dois debates alargados, o da TV, na sexta-feira, e esta segunda o das rádios, já é possível fazer contas. Veja quem saiu vencedor (sendo que André Ventura tem um debate a menos, este último em que não participou).
Ana Sanlez — O último, o derradeiro, o final. Já não há mais debates e acredito que seja unânime afirmar que saímos todos mais ricos, em informação e esclarecimento, depois destes 30 confrontos. Neste sentido, nota 10 para o formato. O debate das rádios destacou-se por ter incidido em temas que os duelos não focaram tanto, a começar pelo financiamento da Segurança Social e a acabar com os telemóveis nas escolas, este último que nos deu o momento único de ver Luís Montenegro “90% de acordo com Mariana Mortágua”. Nenhum dos candidatos se destacou particularmente, mas foi notório um crescimento de Paulo Raimundo em relação aos duelos iniciais. Mais solto, apesar de continuar a achar que a subida de salários é a solução para todos os problemas do mundo. Apesar dos múltiplos temas falados, como defesa e justiça, a discussão sobre os cenários de governabilidade terá sido o que mais marcou o debate, até porque foi o que gerou mais discussão e os momentos mais acesos. O pós-10 de março promete. Luís Montenegro manteve o “tabu” que não é tabu nenhum e Pedro Nuno Santos voltou a tentar encostar o líder do PSD ao “nim”, mas pelo menos não deu nenhuma versão nova sobre o que poderá fazer após 10 de março. Boa troca de ideias entre Mariana Mortágua e Rui Tavares sobre a proposta do Livre de criar uma “herança social” e atribuir uma conta poupança de cinco mil euros a cada criança nascida em Portugal. Inês Sousa Real conseguiu não dizer que o PAN foi o partido da oposição que mais propostas aprovou na última legislatura e manteve a postura de debitadora de medidas. A haver um derrotado só pode ser o ausente André Ventura, apesar de o nome do líder do Chega ter sido invocado uma ou duas vezes, nomeadamente por Rui Tavares, que deve ansiar uma desforra.
Helena Matos — Eram sete mas só aparentemente estavam ali para debater entre si. Cada um deles tinha um debate próprio a travar. Mariana Mortágua, Rui Tavares e Inês Sousa Real estavam a debater com os seus mais próximos, pois é ao terreno amigo que podem ir buscar votos. Mariana Mortágua apostou em desmontar as propostas do Livre nomeadamente a proposta da herança social feita por Tavares. Rui Tavares que gostava de ser para o PS aquilo que Rui Rocha está a conseguir ser para a AD recorreu aos pianos em Terras de Bouro e ao instituto do veterano para se credibilizar fora do universo de contas que Mortágua maneja com habilidade. Inês Sousa Real optou várias vezes por confrontar directamente Pedro Nuno Santos tentando captar os eleitores desiludidos do PS. Ouvir Sousa Real a repetir monocordicamente os mesmos chavões de debate em debate põe qualquer um a ventilar com uma pergunta fixa: quando é que isto acaba? Paulo Raimundo tratou de passar entre os pingos da chuva. O seu objectivo é, como repete incessantemente, a correlação de forças. Com o PCP em queda, Paulo Raimundo não conta os seus votos, conta os votos do PS para ver qual vai ser a correlação de forças. A voz titubeou nas questões da Defesa. Acabou a fazer uma piada sobre o dia da reflexão alterando momentaneamente a correlação de forças a seu favor. Rui Rocha trabalhou em pista própria e saiu-se bem. Pedro Nuno Santos foi muito melhor na declaração à saída do debate que durante o debate ele mesmo. Não esteve mal mas não parece acreditar que pode ganhar as eleições. Já Luís Montenegro apostou tudo em convencer os eleitores que ele vai ganhar as eleições. Surpresa foi a forma como se referiu à PGR. No final, já de saída dirigiu-se aos eleitores do Chega. Se Ventura tivesse ido ao debate esse seria o seu antagonista. Mas Ventura não foi, não certamente por acaso.
Miguel Santos Carrapatoso — A democracia tem regras. Participar em debates faz parte do jogo da democracia. André Ventura decidiu faltar. Já Luís Montenegro chegou com um atraso de 15 minutos, desculpando-se com o mau tempo e com o trânsito. Imprevistos acontecem, mas este debate estava previsto há muito e é sinal de respeito pelos adversários (e de profissionalismo, já agora) chegar a tempo. Em boa verdade, nos dois primeiros temas do debate, Montenegro também não tinha muito para dizer: continua a manter o tabu sobre o que fará se ficar em segundo lugar, sem perceber que isso vai contaminar a mensagem da Aliança Democrática; e não se comprometeu com uma única proposta para reforma da Segurança Social, dizendo que era preciso perceber se havia ou não um problema com a sustentabilidade do sistema – o mesmo Montenegro que há anos defendia abertamente o plafonamento das pensões. Palavroso, esquivo e sistematicamente a interromper os adversários (ao contrário do tom geral do debate), foi novamente incapaz de disfarçar algum incómodo com o tema “Pedro Passos Coelho”. Destaque, ainda assim, para a coragem demonstrada na crítica aberta que fez à Procuradora-Geral da República. Sem ter sido deslumbrante, Pedro Nuno Santos conseguiu ter um desempenho melhor do que o seu adversário mais direto, carregando nas teclas que queria: a ameaça do Chega e o “aventureirismo” do programa da AD. Não fez muito mais. Coube, ainda assim, a Mariana Mortágua e a Rui Rocha, os dois candidatos a sidekick à esquerda e à direita, assumirem as despesas do debate e a manterem a coisa viva – ao ponto de ter sido o presidente da IL a defender o PSD das referências à troika. Inês Sousa Real melhorou em relação ao anterior debate, esteve interventiva e tentou ir provocando os adversários. Mas continua a tentar meter uma árvore em cada tema, o que provoca situações bizarras, como, quando desafiada a falar sobre o compromisso de Portugal com a NATO, disse que os “testes com equipamento militar têm impacto ambiental”. Duas notas para terminar: Rui Tavares, o tal que faz de travar o Chega o alfa e o ómega da sua missão terrena, não se cansou de falar de André Ventura mesmo quando ele não estava; Paulo Raimundo tem um problema confrangedor chamado “Ucrânia” – sorte do PCP que a campanha não se tenha centrado mais no tema.
Ricardo Conceição — O debate das rádios foi esclarecedor, vivo, civilizado, até com bom humor e discutiram-se temas fundamentais para o presente e futuro do país. A análise podia acabar aqui, mas importa acrescentar que os moderadores resistiram à tentação de centrar o debate nos temas de cada um dos partidos. Nos duelos televisivos assistimos a uma tendência de ir para os domínios de cada uma das forças partidárias, por exemplo, impostos com a Iniciativa Liberal ou temas mais verdes e do bem estar animal com o PAN. Aqui, olhando para temas como Segurança Social, Defesa e Justiça, ficou bem patente quem tem uma ideia, algumas, nenhuma ou até visões irrealistas. Foi um bom e útil debate a 7. Temos de lamentar a recusa de Pedro Nuno Santos para um frente a frente com Luís Montenegro na rádio.
Sara Antunes de Oliveira — Começou no frente a frente e continua: Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro parecem ter gostado de estar permanentemente pegados em debates. Infelizmente, não perceberam que isso é, muitas vezes, muito irritante. Neste debate, ninguém foi particularmente brilhante, mas todos foram o que são, o que é uma vantagem. Menos focados em mandar bocas, Rui Rocha, Mariana Mortágua, Paulo Raimundo, Rui Tavares e Inês Sousa Real ficaram com mais tempo (e mais paciência da nossa parte) para insistir nas suas ideias e repetir propostas. Isso também ajudou a que percebêssemos que nos temas mais difíceis (como na Justiça) ninguém sabe exatamente o que fazer para resolver o problema; e nos temas mais desconfortáveis (como na Defesa) vale quase tudo para tentar sobreviver à ambiguidade — incluindo juntar na mesma frase “morte de civis”, “violações como crime de guerra” e “pegada ambiental”. Sim, foi a propósito da guerra na Ucrânia. E sim, foi Inês Sousa Real.
Pode recordar aqui o debate alargado na TV.
As notas do debate. No todos contra todos, quem esteve melhor entre os oito?
Pode recordar aqui as notas do debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro.
Pode recordar aqui as notas dos debates da segunda semana: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo.
As notas dos debates. Quem ganhou: Pedro Nuno ou Paulo Raimundo? Luís Montenegro ou Rui Tavares?
As notas dos debates. Quem ganhou: Pedro Nuno ou Mortágua, Rui Tavares ou André Ventura?
E aqui as notas dos debates da primeira semana: segunda-feira, terça-feira, quarta-feira, quinta-feira, sexta-feira, sábado e domingo.