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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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O camionista revoltado e os portugueses desesperados. Como foi o terceiro dia da greve que está a secar o país

Filipe foi obrigado a cumprir os serviços mínimos, mas as filas nas bombas de combustível continuam intermináveis. Há até portugueses a irem abastecer a Espanha. Retrato do terceiro dia de greve.

Nem precisa de dizer uma palavra para mostrar que está revoltado. O seu ar tenso releva que está. Filipe (nome fictício) está sentado no camião, com a porta aberta, enquanto trata de “umas coisas”. Pouco depois, desce os degraus com um passo pesado. Tem o rosto vermelho e as veias parecem querer-lhe saltar do pescoço. “Somos obrigados pelo Governo a fazer os serviços mínimos, mas eu estou revoltado”, dispara, assim que põe o pé no chão — o chão da bomba da Repsol, na zona do Parque das Nações, em Lisboa, onde falou com o Observador.

Filipe foi um dos convocados pelo Sindicato Nacional de Motoristas de Matérias Perigosas para cumprir os serviços mínimos. Esta quarta-feira é o terceiro dia de uma greve que começou às 00h00 de segunda-feira e para a qual não há previsão para acabar. Acompanhámos grevistas, donos de bombas de gasolina e condutores — que passaram horas nas filas ou optaram por ir a Espanha abastecer os automóveis.

[Camião bloqueado, transportes condicionados, corrida às bombas. Retrato da greve relâmpago]

“Fui logo arranjar aquele papel que diz serviços mínimos para os meus colegas não pensarem que estava a furar a greve”

São 28 mil litros de combustível, no total — distribuídos entre gasolina e gasóleo de vários tipos. Foi quanto transportou Filipe, na cisterna do camião, para aquela bomba da Repsol, no Parque das Nações, a partir da Companhia Logística de Combustíveis (CLC), em Aveiras. Não tinha grande alternativa, depois de ter sido chamado, na manhã desta quarta-feira, para cumprir uma parte dos serviços mínimos acordados entre patrões e sindicato. “Eram 9h00 quando me ligaram e eu depois fui lá [à CLC] para perguntar se o meu nome constava na lista dos motoristas que iam fazer os serviços mínimos“, explica ao Observador.

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Constava. Filipe viu o seu nome na lista e voltou a casa para almoçar, trazendo consigo essa revolta. Era tanta que a mulher percebeu logo que algo não estava bem. “Tu estás bem?”, perguntou-lhe. Filipe não estava: “Andamos nós aqui a lutar, estamos fartos de ser escravizados e agora fazem-me isto“. Já há 12 anos que trabalha como motorista de matérias perigosas. E queixa-se: “Cada vez somos mais mal pagos”. Não consegue dizer de imediato há quanto tempo é camionista. “Tenho 53. Trabalho desde os 20. É fazer as contas”, diz ao Observador. Filipe é, portanto, camionista há 30 anos.

Já há 12 anos que trabalha como motorista de matérias perigosas. Queixa-se: "Cada vez somos mais mal pagos". Não consegue dizer de imediato há quanto tempo é camionista. "Tenho 53. Trabalho desde os 20. É fazer as contas"

Não percebe porque é que o serviço que foi fazer é considerado um serviço mínimo. Se fosse, por exemplo, um hospital “já era diferente” e, garante, não pensava duas vezes: “Não quero ninguém sem assistência por causa da greve. Agora isto? Acho isto uma aberração”, diz, depois de entregar o produto na bomba de gasolina. Um despacho do dia 11 de abril dos ministros do Trabalho e do Ambiente definiu a necessidade de impor serviços mínimos. Hospitais, bases aéreas, bombeiros, portos e aeroportos estão garantidos, mas os postos de abastecimento da Grande Lisboa e do Grande Porto — tendo por referência 40% das operações asseguradas em dias em que não haja greve — também têm de ser assegurados.

Se recusasse fazê-lo, Filipe incorreria num crime de desobediência. “Não sou fura greves. Sempre disse que só se a greve fosse levantada é que vinha”, apressa-se a esclarecer. Também não teve receio da reação dos outros camionistas. “Os colegas sabem que somos obrigados“, diz ao Observador. Ainda assim, foi logo “arranjar aquele papel que diz serviços mínimos” e que colocou no para-brisas do seu camião.

A presença de Filipe — e do camião-cisterna — não passou despercebida. Tanto que a conversa com o Observador foi sendo interrompida várias vezes por pessoas que chegavam para perguntar: “Estão a abastecer aqui? O meu filho vive aqui neste prédio“, diz uma dessas pessoas, enquanto aponta para um prédio, exatamente ao lado da bomba, e continua: “Disse-me logo que estavam aqui a pôr combustível”. Não terá sido o único. Não foi anunciada a hora a que seria feito o reforço das reservas de combustível, mas, logo depois da chegada de Filipe, a fila não parava de crescer.

Ter de comprar um garrafão de gasóleo no Alentejo para a filha que vive em Lisboa

Veio de propósito encher um garrafão de 30 litros de gasóleo para a filha, enfermeira a viver em Lisboa. António Caeiro, 58 anos, motorista profissional, foi um entre as centenas de clientes que passaram esta quarta-feira pela bomba de gasolina de Pavia, no concelho de Mora, no Alentejo — a única bomba de gasolina num raio de 40 km com combustível e que, por isso, está, desde terça-feira, a “abarrotar de gente”, garantiu ao Observador uma das funcionárias. “Ela está a trabalhar como enfermeira em Lisboa e lá não consegue abastecer o carro por causa do horário de trabalho e das filas que existem nas bombas de gasolina”, explica António Caeiro.

António Caeiro veio de propósito encher um garrafão de 30 litros de gasóleo para a filha, enfermeira a viver em Lisboa (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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A filha, que faz a viagem de Lisboa a Pavia todas as semanas, nunca se deparou com uma dificuldade como esta: ter combustível para a viagem de ida, mas, provavelmente, não ter para o regresso. Para certificar-se de que isso não acontecia, o pai procurou a única bomba de gasolina ainda com combustível na zona. “Ela para vir tem [combustível], para ir é que pode não ter.”

Foi ao mesmo local que recorreu Joaquim Barbeiro. Aos 29 anos, é bombeiro profissional desde os 14 e, apesar de estar ali para tentar prevenir as consequências possíveis da falta de combustível em todo o país, diz que é “totalmente” a favor da greve. Mais: acredita que “devia continuar até ao final do mês”. Ainda assim, veio à bomba de Pavia “basicamente por prevenção”, porque não precisava de abastecer. “Tenho filhos e pode ser preciso usar o carro para alguma emergência”, explica ao Observador.

Joaquim Barbeiro é bombeiro profissional e diz que é “totalmente” a favor da greve. (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Veio pôr gasóleo no carro apenas por insistência da mãe. “Se precisar, vou a Espanha”, ter-lhe-á respondido. Mas precisou e Espanha fica a 100 quilómetros de distância. Recusa, ainda assim, fazer parte do grupo de portugueses desesperados que têm enchido — e esvaziado — os postos de combustível: “Se for preciso, levo os filhos à escola a pé. A minha mãe fez isso muitos anos. As pessoas estão preocupadas com o luxo de irem para o Algarve, para o Norte?”, questiona.

Enquanto espera na fila para pagar, vai tecendo elogios aos grevistas. “Eles estão a fazer aquilo que pouca gente consegue fazer: 600 motoristas estão a parar o país e a fazer com que todos nós olhemos para eles e para o que eles estão a reivindicar. Estão a levar a greve a sério”, diz. O bombeiro defende que a greve foi “pensada e muito bem estudada”. E explica: “Agora é a Páscoa e há muita gente a movimentar-se pelo país e as pessoas têm de ser prejudicadas por isso. As pessoas estão a encher os carros por luxo, nem precisam e quem precisa arrisca-se a já não ter. Há pessoas que trabalham a 500 metros de onde vivem e estão preocupadas que não têm gasóleo para ir trabalhar…”, diz, logo depois de ele próprio ter atestado o depósito.

“Eles estão a fazer aquilo que pouca gente consegue fazer: 600 motoristas estão a parar o país e a fazer com que todos nós olhemos para eles e para o que eles estão a reivindicar. Estão a levar a greve a sério.”
Joaquim Barbeiro, bombeiro profissional, Pavia

Sérgio Narciso não olha para o caso da mesma forma. Distribuidor alimentar há 20 anos, está ali, na mesma bomba, para reabastecer o carro, mas também dois garrafões, de 10 litros cada, que hão-de servir para outros carros da empresa. “Sem combustível não podemos distribuir para os nossos clientes”, explica. Antecipa, aliás, que o cenário possa tornar-se ainda mais grave, sobretudo tendo em conta que a empresa tem 10 viaturas na estrada: “Pode haver sítios em que não há combustível e agora temos, pelo menos, mais 20 litros”. E mesmo isso pode ser muito pouco para uma equipa que faz centenas de quilómetros por dia. “Eles estão a reivindicar um assunto deles, mas estão a prejudicar toda a gente, incluindo a eles próprios. Se param o país, ficam sem alimentos também. Temos entregas para escolas, em Évora fornecemos as escolas todas… Se não entregamos nas escolas, não há comida nas escolas. Não havendo comida nas escolas, as escolas não abrem. É uma bola de neve…”, avisa.

Sérgio Narciso é distribuidor alimentar e uma das principais preocupações com a falta de combustíveis é o facto de, provavelmente, não conseguirem abastecer as escolas (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Diz que, se a greve continuar, os mais prejudicados serão os habitantes do interior — “porque esta é uma altura em que muita gente volta para as terras, por causa da Páscoa” —, mas admite que o problema não é fácil de resolver: “Se eles pararem mesmo a sério, o país pára e acho que isso não tem razão de ser; se o Governo cede, todas as classes juntam-se e aí é que a corda rebenta, porque o Governo vai ser obrigado a ceder em todo o lado”, analisa.

Mantém, ainda assim, alguma boa disposição. Quando passam uns amigos ali na bomba, graceja: “Agora vendo gasóleo congelado, queres?”.

“Enquanto houver combustível, há loucura”

Na estrada nacional 255, que une Mora a Vimeiro, a bomba de gasolina de Pavia foi abastecida pela última vez no dia 8 de abril, com 5 mil litros de gasóleo. Três dias antes, porém, já tinham chegado outros 11 mil. Agora que a crise energética se tornou um problema, as funcionárias questionam se aqueles dois abastecimentos seguidos foram propositados: “Não sabemos se eles [a BP] já sabiam e então trouxeram a mais”, dizem ao Observador.

Há mais de 11 anos que, dizem, os clientes são “mais ou menos sempre os mesmos”. Desde terça-feira, porém, as filas começaram a aumentar. “O pânico estava instalado, era tudo porque estavam com medo”, contam, acrescentando que “a loucura” repetiu-se esta quarta-feira, logo a partir das sete da manhã: “Enquanto houver combustível, há loucura”.

Posto de combustível de Pavia. O único local com combustível num raio de 40 quilómetros. JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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“Esta bomba é a única num raio de 40 quilómetros: em Mora já esgotou e fica a 15 quilómetros; Vimeiro, que fica a 17 quilómetros, já esgotou; Avis fica a 20 quilómetros e já esgotou; Ponte de Sôr fica a 40 quilómetros e já esgotou; estamos a 40 quilómetros de Évora e já não há praticamente bombas abertas; Estremoz, que fica a 40 quilómetros, também já esgotou…”, enumeram, numa lista que parece não acabar.

Aquele parece, por isso, um caso raro. Porquê? “Nem sei, mas tínhamos combustível suficiente para isto”, dizem. “Isto” é a preocupação dos clientes, que querem precaver-se do que pode vir por aí. Um deles dizia isso mesmo, enquanto pagava: “Enchi o depósito do carro, mas enchi também dois garrafões de 30 litros. Eu não sei quando é que isto vai parar, são muitos dias“.

Na bomba de gasolina de Pavia foram vários os clientes que para além de encherem os depósitos dos carros, enchiam também garrafões de gasolina ou gasóleo. (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

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Podem ser muitos, podem ser poucos. Numa bomba de gasolina “das antigas” — aquelas sem automatismos, nas quais os funcionários abastecem os carros, com exceção para os clientes habituais, que podem fazê-lo eles próprios —, as empregadas não sabem bem até quando vai durar o que ainda está nos tanques. A gestão do stock é feita, centralmente, pela BP: “Se vierem mais três camiões TIR e encherem o depósito, ficamos sem gasóleo. Cada depósito tem 900 litros e nós temos mais ou menos 2700 litros ainda disponíveis”, contam.

Será isso que têm dito à GNR que “liga todos os dias” para perguntar como estão as reservas.

Ir a Espanha procurar o combustível que falta em Portugal

O carro de Joaquim Costa, 58 anos, oficial de justiça do tribunal administrativo de Braga, é um dos que se amontoam junto à bomba de gasolina da Repsol na entrada para o centro de Tui, em Espanha. Espera, na fila, a sua vez de atestar, mas já percebeu que a espera é longa. Por ali, tão perto da fronteira com Portugal, são muitos os carros de matrícula portuguesa que tentam fazer o mesmo — ao ponto de bloquearem o trânsito e de obrigarem à intervenção da Guardia Civil. “Vou atestar e ainda vou ganhar com isso. Aqui compensa sempre pelo preço”, diz, pelo vidro.

A fila para a bomba de gasolina da Repsol, em Tui, começou a formar-se logo à entrada da localidade (TÂNIA TEIXEIRA/OBSERVADOR)

O preço não é, porém, a única razão que o trouxe àquele posto de abastecimento. De passeio em Vigo, com a mulher, Joaquim Costa sabe o que se passa em Portugal não apenas pelas notícias, mas também porque em Braga, onde vive, já sentiu os efeitos da greve, antes da viagem. “Estive uma hora e dez minutos na BP da [Avenida] 31 de Janeiro em Braga para abastecer, ainda consegui meter alguma coisita, mas agora é para atestar”, explica, relatando o que viu antes de partir: “Em Portugal já não temos gasóleo. Caos completo, está muito mau”.

Ao final da tarde desta quarta-feira, o termo “caos” também poderia servir para descrever aquele local. “Parecem selvagens”, diz uma portuguesa, no momento em que paga o combustível que acabou de pôr no carro. O trânsito, caótico, começa a formar-se logo depois da chegada a Tui. As buzinas dos carros não páram e a polícia tenta desimpedir a via, enquanto as funcionárias da bomba de gasolina tentam responder a todos os pedidos, claramente incomodadas pelas presença dos jornalistas. “Não há gasóleo em Portugal, é o que estão a dizer”, contam aos outros clientes, curiosos com a confusão.

A Guardia Civil teve de intervir para desimpedir o trânsito no cruzamento junto à bomba de gasolina (TÂNIA TEIXEIRA/OBSERVADOR)

É certo que, naquela fila, também estão muitos portugueses que já são clientes habituais — ou porque trabalham por ali, como Arlindo Carneiro, dono de uma carpintaria na Corunha; ou porque costumam aproveitar os preços mais baixos, como Rosa Amorim, natural de Vila Nova de Cerveira: “Venho cá abastecer normalmente, vou ali atrás aos supermercados e depois venho aqui meter gasóleo. Estando perto de Espanha compensa sempre”, conta.

Por perto em trabalho, mas ali de propósito por causa da greve em Portugal, Fernando Nuno também está na fila. Conduz, com um colega, a carrinha de uma empresa de tetos falsos, habituada a trabalhar na Galiza. Esta quarta-feira, o patrão deu-lhe uma ordem específica: “O chefe disse que não havia gasóleo em Portugal. Como estávamos aqui a trabalhar, tivemos que vir abastecer”.

“Estive uma hora e dez minutos na BP da [Avenida] 31 de Janeiro em Braga para abastecer, ainda conseguiu meter alguma coisita, mas agora é para atestar”, explica Joaquim Costa, antes de abastecer numa bomba de gasolina em Espanha.

Manuel Mendes, de 60 anos, natural de Guimarães, escolheu um outro posto para fazer o mesmo. Na Cepsa de Tomiño, sem grandes filas ou constrangimentos, aproveita para atestar. Também ele está ali de passeio. “Não dá para arriscar. Eu já tinha gasolina, mas aproveitei que cá estava e atestei. Aqui até é mais barato”, conta, prestes a regressar a Portugal. Um dos funcionários confirma que o mesmo tem acontecido com outros portugueses. Bruno Alvaréz trabalha ali há 10 anos, está habituado aos clientes que vêm do outro lado da fronteira e diz que nesta altura do ano — em vésperas da Páscoa — é normal registar uma grande afluência de clientes, mas não como agora. Esta semana, a corrida ao combustível tem sido maior, pelo “medo da falta de combustível em Portugal”. Diz que isso percebe-se desde segunda-feira, quando começou a greve.

“Seria um problema não poder ir passar a Páscoa com a família”

O camião de José Ferreira é mais um veículo dos que, ao meio da tarde desta quarta-feira, esperavam para abastecer na Galp perto do aeroporto do aeroporto de Lisboa, numa fila que chegava a uma das saídas da Segunda Circular. O camionista de 49 anos chegou à bomba às 16h30 e esperou até às 19h00 para ver a fila começar a andar. Na verdade, José não tinha qualquer possibilidade de desistir da espera, fosse porque o camião estava encurralado no meio dos outros carros, fosse porque “se não abastecesse, não ia conseguir trabalhar amanhã”. O depósito do veículo deste trabalhador leva 300 litros. Esta quarta-feira, José tinha enchido apenas 60, na esperança de que a greve acabasse em breve.

Tal como ele, dezenas de pessoas tentaram fazer o mesmo, depois de saberem que aquela bomba de gasolina ia ser uma das poucas a abrir na zona de Lisboa. “Vi na internet”, diziam muitos condutores, “e depois vim logo a correr para aqui”. Ficaram a saber pela lista, avançada pelo jornal Expresso, das bombas que iam ser abastecidas na zona na capital, para além da Galp junto ao aeroporto: a BP do Restelo, a Repsol de Alcoitão e Benfica, e a PRIO de Oeiras, da Damaia e de Ranholas. Tudo depois da garantia dos serviços mínimos dada pelos trabalhadores em greve, que deixaram a promessa de servir, em 40% Lisboa e o Porto.

O camião-cisterna que chegou a esta bomba de gasolina foi um dos que seguiram para reabastecer sete postos de combustível na zona de Lisboa (CATARINA MARQUES/OBSERVADOR)

Isso mesmo ficava claro no camião-cistena que veio abastecer aquela bomba da Galp: no vidro, um papel dizia “Serviços Mínimos Obrigatórios”. O camião, que chegou por volta das 17h25, foi recebido com buzinadelas e alguns insultos. Depois, precisou de quase uma hora para abastecer os tanques, a que se seguiu uma outra hora para o combustível assentar, antes de poder começar a ser distribuído pelos inúmeros carros que tinham passado a tarde na fila. Já eram 19h15 quando os primeiros começaram a abastecer. Os papéis colados nas bombas que diziam “fora de serviço” foram arrancados e começou a cheirar a combustível quando se puxaram as mangueiras para encher os depósitos, sem limite de litros. Só aí, depois de um ambiente calmo, houve alguns problemas: na hora de atestar, alguns condutores tiveram de discutir com outros, para defender o lugar que guardavam há horas.

Durante a espera, não houve combustíveis nem respostas. A gerência da bomba não esclarecia quanto tempo seria preciso esperar. E durante aquele tempo sem fim à vista, já se viam motas a chegar à bomba, não para meter combustível, mas para entregar comida encomendada àqueles que não sabiam a que horas sairiam dali. A PSP também esteve no local a ajudar a coordenar o trânsito, porque a fila que seguia para a saída da Segunda Circular começava a entupir a estrada.

Dezenas de condutores encheram a bomba de gasolina à espera do reabastecimento feito ao final da tarde (CATARINA MARQUES, OBSERVADOR)

No meio desta mancha de carros estava Marco Silva, com 40 anos. Ficou três horas à espera, depois de saber que a Galp ia ter combustível. “Ontem não tentei, porque pensei que o gasóleo ia durar até ao fim de semana e, entretanto, gastou-se mais do que eu estava à espera e está quase a chegar à reserva”, explica. Precisa do carro, que serve como “viatura de trabalho” e, “para além do transtorno de não poder trabalhar amanhã, seria um problema não poder ir passar a Páscoa com a família”, no Algarve.

Também Isabel Leitão, de 49 anos, precisa do carro para se deslocar para o trabalho. “Vou esperar, custe o que custar, porque já tenho pouco gasóleo”, contou. Aproveitou para ir àquela bomba que, por ser tão perto do aeroporto, também serviu de recurso para um turista alemão. Tinha voado de Frankfurt para Lisboa e alugou um carro para ir até ao Porto. Sem saber do problema, foi apanhado de surpresa no meio da greve que ameaça paralisar o país.

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