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Dutch Political Party Leaders During Ultimate Formation Attempt
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Mark Rutte é primeiro-ministro dos Países Baixos desde 2011

Getty Images

Mark Rutte é primeiro-ministro dos Países Baixos desde 2011

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O crime organizado cresceu e a ameaça já chegou ao primeiro-ministro Mark Rutte. O que está a acontecer nos Países Baixos?

Segurança foi reforçada, mas estará Rutte em risco? Mocro Máfia expandiu-se nos Países Baixos, o centro do tráfico de droga para a Europa, e tenta impor medo enquanto os seus membros são julgados.

Seja para ir visitar o rei Guilherme Alexandre, para receber líderes internacionais ou para ir buscar um café antes de começar o dia de trabalho, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, desloca-se (quase) sempre de bicicleta e com poucas ou nenhumas medidas de segurança à sua volta, uma forma de estar muito característica dos políticos nos Países Baixos. No entanto, os passeios tranquilos de Mark Rutte podem ter os dias contados, numa altura em que a imprensa holandesa afirma que o homem que chefia o governo holandês há 11 anos pode estar na mira de um perigoso grupo de traficantes de droga.

A notícia foi divulgada no passado dia 27 de setembro pelo jornal De Telegraaf, que, citando fontes do governo e da polícia sob anonimato, afirmava que agentes especiais dos Serviços de Segurança Real e Diplomática (DKDB) tinham sido mobilizados para proteger Mark Rutte. O gabinete de Rutte, porém, não confirmou que as medidas para a proteção do primeiro-ministro tenham sido alteradas, aumentando o suspense sobre o que está realmente em causa.

Polícia reforça segurança do primeiro-ministro holandês perante ameaça de ataque por gangues de droga

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Tudo isto acontece quando passam cerca de três meses do assassínio do jornalista Peter R. De Vries, de 64 anos, especializado na investigação do crime organizado, e que estava a aconselhar e a atuar como porta-voz de Nabil B., uma testemunha-chave no julgamento contra membros da máfia marroquina.

Conforme conta o De Telegraaf, os alarmes que levaram ao alegado reforço da segurança em torno de Mark Rutte soaram quando foram avistados os chamados spotters da Mocro Máfia (expressão pela qual é conhecido o grupo de crime organizado cuja grande parte dos membros é de ascendência marroquina) perto do primeiro-ministro holandês — no mundo do crime organizado, por norma, os spotters seguem os alvos e recolhem o máximo de informação possível para delinear um plano de ataque. Temia-se que Rutte pudesse ser alvo de um rapto ou assassínio, ameaças que segundo o De Telegraaf estavam a ser levadas muito a sério pelos serviços de segurança, embora oficialmente não haja qualquer confirmação. Há, contudo, uma pergunta que fica no ar: qual o objetivo de grupos dedicados sobretudo ao tráfico de droga visarem diretamente o primeiro-ministro?

“Existem muitas especulações sobre quem está por trás das ameaças ao primeiro-ministro. Até agora, não há evidências claras de que a Mocro Máfia tenha Mark Rutte como alvo. Como Rutte não representa um obstáculo direto para o negócio ilegal de droga, não há razões para o atacarem”, afirma ao Observador Dina Siegel, professora de Criminologia da Universidade de Utrecht, antevendo que nada de significativo mudará em torno da segurança dos políticos no país, até porque pouco ou nada alterou desde que surgiram as notícias sobre o reforço policial em torno de Rutte.

Cabinet meeting December 18 2020

Mark Rutte costuma deslocar-se de bicicleta, descartando a proteção policial

Getty Images

“A imagem de um primeiro-ministro sempre a sorrir e a pedalar é uma imagem de marca de Mark Rutte, que a quererá manter no futuro. Existem políticos nos Países Baixos, como Geert Wilders [líder da extrema-direita holandesa], que têm segurança 24 horas por dia, mas a maioria dos políticos enfatizam a liberdade de movimentos como um valor muito elevado”, acrescenta a especialista, especulando que o reforço das medidas de segurança pode ser apenas provisório.

“Criar medo” entre a sociedade holandesa pode explicar ameaça a Mark Rutte

Se neste momento o que há são, sobretudo, especulações, a detenção na semana passada do político Arnoud van Doorn, suspeito de participar num plano para assassinar Mark Rutte, trouxe ainda mais confusão ao caso. Van Doorn, que abandonou o partido de extrema-direita de Geert Wilders para se converter ao Islão, foi detido, conforme explica o Politico, devido a comportamentos “suspeitos”, ao aparecer várias vezes no mesmo local do que o primeiro-ministro holandês em Haia. Acabaria por ser libertado sem qualquer acusação horas depois.

“Apenas podemos especular. Pode ser que haja um sentimento de serem intocáveis. Outra razão pode ser a intenção de criar medo", diz Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht, sobre motivos que levaram ao aumento da proteção policial a Mark Rutte

Após o assassínio do jornalista Peter R. De Vries em julho, Mark Rutte prometeu mão firme perante o crime organizado no país e garantiu que “é uma questão de horas, dias, meses ou anos, [mas] será uma batalha que os Países Baixos vão vencer”. Além disso, no passado mês de setembro, o governo interino holandês — as últimas eleições, que deram a vitória Partido Popular para a Liberdade e Democracia de Rutte foram em março, mas os partidos ainda não chegaram a acordo para a formação de um novo executivo — prometeu uma verba de 430 milhões de euros para combater o crime organizado nos próximos anos.

Jornalista holandês baleado na cabeça no meio da rua em Amesterdão. Está hospitalizado em estado grave

No entanto, para Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht, “não é provável” que tal faça com que o primeiro-ministro holandês se torne num alvo para grupos como a Mocro Máfia. Para o especialista no crime organizado, o objetivo pode ser criar um sentimento de medo entre a população, numa altura em que membros da Mocro Máfia enfrentam a Justiça.

“Apenas podemos especular. Pode ser que haja um sentimento de serem intocáveis. Outra razão pode ser a intenção de criar medo. Mas tudo isso pressupõe que as informações são de confiança, e não temos a certeza disso”, sublinha Brinkhoff ao Observador, acrescentando que o “momento de viragem” no modo de atuação de grupos de crime organizado ligados ao tráfico de droga foi o assassínio do advogado Derk Wiersum em setembro de 2019. “Nunca tínhamos visto um ataque tão brutal”, diz Brinkhoff.

Memorials For Famous Dutch Crime Reporter Peter R. De Vries

Centenas de pessoas prestaram homenagem, em julho, no local onde o jornalista De Vries foi baleado

NurPhoto via Getty Images

Outrora membro da Mocro Mafia, Nabil B. tornou-se informante da polícia e os seus testemunhos em tribunal podem ser decisivos para condenações no chamado caso Marengo, em que 17 membros da máfia marroquina estão a ser acusados de traficar droga e de uma série de assassínios nos últimos anos. Derk Wiersum era o advogado de Nabil B. e na manhã de 18 de setembro de 2019 foi assassinado à porta da sua casa em Amesterdão por um homem encapuzado que lhe deu dez tiros, fugindo de seguida numa carrinha que o esperava. No ano anterior, em 2018, foi Reduan Bakkali, irmão de Nabil B., assassinado. Em julho deste ano, o jornalista Peter R. De Vries. Os três tinham em comum o facto de estarem na “lista negra” da Mocro Máfia, cujas ameaças, de acordo com a emissora holandesa NOS, levaram ao reforço da segurança em torno de cerca de 20 pessoas nos últimos meses, sobretudo jornalistas,  juízes ou advogados.

A ascensão da Mocro Máfia

A abreviatura “Mocro” remete para a expressão utilizada pelos membros do grupo, composto sobretudo por pessoas de ascendência marroquina e a viverem na Bélgica e nos Países Baixos, onde a organização está implementada.

Conforme explica a France 24, a Mocro Máfia foi fundada na década de 1990, quando o grupo começou a traficar haxixe de Marrocos para a Europa. Com o passar dos anos, o grupo expandiu-se, aprofundando as relações com cartéis de droga na Colômbia e no México, recebendo carregamento de cocaína e outras drogas sintéticas, provenientes da América Latina, nos portos de Antuérpia, na Bélgica, Hamburgo, na Alemanha, ou Roterdão, nos Países Baixos, e distribuindo-os depois pela Europa.

Ridouan Taghi foi detido no Dubai em 2019. Era “um dos homens mais perigosos e procurados do mundo”

Segundo os especialistas que têm investigado o grupo, o líder da Mocro Máfia é Ridouan Taghi, de 43 anos, filho de imigrantes marroquinos, que foi detido em dezembro de 2019 na mansão em que vivia no Dubai, onde tentava passar despercebido para coordenar as atividades do grupo. Era considerado pelas autoridades “um dos homens mais perigosos e procurados do mundo”, e atualmente está detido numa prisão de alta segurança em Vught.

Ridouan Tagahi negou o envolvimento da sua organização nos assassínios do advogado Derk Wiersum ou do jornalista Peter R. De Vries, mas todas as suspeitas das autoridades recaem sobre a organização que controla um império de milhões de euros.

“Há mais conhecimento sobre as redes de droga, o que também cria a imagem de que o tráfico de droga está a aumentar. Isso é duvidoso, porque o porto de Roterdão sempre foi um ‘centro de drogas’ na Europa, mas agora temos muito mais informações sobre o modus operandi, quantidades e rotas de tráfico do que antes”
Dina Siegel, professora de Criminologia da Universidade de Utrecht

A ascensão da Mocro Máfia coincidiu com o papel central que os grupos a atuar nos Países Baixos assumiram no tráfico de droga na Europa. Num relatório publicado no passado mês de setembro, a Europol descreveu os Países Baixos como “o ponto de partida para o tráfico de cocaína no continente”, sendo que outrora era através de Espanha que a droga entrava em território europeu.

Bélgica e Países Baixos são os principais centros de tráfico de cocaína para a Europa

“Há várias razões para isso, e uma delas é o facto de os Países Baixos serem um país de trânsito, voltado para a distribuição mundial de todo o tipo de mercadorias. Esses canais de distribuição são facilmente usados para traficar substâncias ilegais, como a cocaína”, explica o professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht Sven Brinkhoff. Agora, é sobretudo através de contentores que servem para transportar fruta ou café que a droga proveniente da América Latina chega aos portos europeus, particularmente a Roterdão.

Os Países Baixos estão a tornar-se num “narco-Estado”? Não é bem assim, dizem analistas

Esta mudança de paradigma, que coincidiu com vários assassínios atribuídos ao crime organizado, levou mesmo Jan Struijs, presidente do maior sindicato da polícia holandês, o NPD, a afirmar em 2019 que os Países Baixos têm as “características de um narco-Estado”. Uma designação com a qual a especialista Dina Siegel não concorda.

“Definitivamente os Países Baixos não são um narco-Estado. Num narco-Estado existe infiltração e controlo de instituições estatais por parte do crime organizado. Esse não é o caso nos Países Baixos”, justifica a professora de Criminologia da Universidade de Utrecht. “Há mais conhecimento sobre as redes de droga, o que também cria a imagem de que o tráfico de droga está a aumentar. Isso é duvidoso, porque o porto de Roterdão sempre foi um ‘centro de drogas’ na Europa, mas agora temos muito mais informações sobre o modus operandi, quantidades e rotas de tráfico do que antes”, acrescenta.

"Dado o facto de haver tanto dinheiro envolvido no tráfico de cocaína, haverá sempre gente nova envolvida"
Sven Brinkhoff, professor de Direito Penal da Universidade Aberta de Utrecht

Nos últimos anos, uma série de operações da polícia holandesa permitiram desmantelar vários laboratórios de produção de cocaína e dezenas de suspeitos foram detidos, o que tem permitido às autoridades reunirem cada vez mais informação sobre os grupos do crime organizado. Além disso, em março deste ano começou o julgamento do caso Marengo, sentando no banco dos réus 17 membros da Mocro Máfia, incluindo o líder Ridouan Taghi, o que poderá levar a que seja feita justiça quanto às mortes não só de Derk Wiersum e Peter R. De Vries, mas de muitas outras pessoas que perderam a vida. O julgamento deverá continuar até 2022 e é prematuro falar no fim da Mocro Máfia ou de outros grupos semelhantes.

Cerca de 23 toneladas de cocaína apreendidas em portos na Alemanha e Bélgica

“O julgamento Marengo é muito importante, porque demonstra que o governo é capaz de levar à justiça pessoas suspeitas de assassínios. Ao mesmo tempo, dado o facto de haver tanto dinheiro envolvido no tráfico de cocaína, haverá sempre gente nova envolvida”, alerta Sven Brinkhoff.

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