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Tânia Matos e Andreia Melo são inseparáveis. Conheceram-se em 2009, a estagiar na banca. "Não sei como é que ainda nos aturamos", riem
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Tânia Matos e Andreia Melo são inseparáveis. Conheceram-se em 2009, a estagiar na banca. "Não sei como é que ainda nos aturamos", riem

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Tânia Matos e Andreia Melo são inseparáveis. Conheceram-se em 2009, a estagiar na banca. "Não sei como é que ainda nos aturamos", riem

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

"O dinheiro ainda é tabu. Continua a existir o sentimento de que é sujo e que os ricos são maus"

As autoras de "Escola de Finanças Pessoais", acreditam que a literacia financeira é para toda a gente. Com linguagem acessível, humanizam um tema que assusta os portugueses há várias gerações.

Ainda não se conheciam, mas já eram movidas pela mesma vontade: “Não vim de uma família rica, mas uma família rica vai sair de mim”, declara Andreia Melo sobre decisão que tomou em criança. Tânia Matos concorda com a amiga, co-autora do livro Escola de Finanças Pessoais (Contraponto, 2024). Acrescenta: “Parece que vimos com esta missão, de curar feridas dos nossos antepassados”. Começaram a trabalhar aos 16 anos, Andreia em Cascais, Tânia na Covilhã. “Como belas adolescentes que queriam sair à noite e comprar roupa, mas cujas famílias diziam: Não há dinheiro para isso”, explica a primeira.

Conheceram-se no primeiro dia de estágio na banca, em 2009, e nunca mais se largaram. “Foi aí que começou a nossa história de amor”, riem. O clique foi imediato. Ao fim dessa semana, já estavam a viver juntas num pequeno apartamento junto ao Miradouro do Adamastor, no coração de Lisboa. “Na altura, ainda era possível a duas jovens estagiárias arrendar uma casa.” Dividiam a renda de 375 euros e partilhavam as histórias de quem atendiam no banco, Andreia mais dedicada às empresas, Tânia aos particulares. Ao longo de mais de uma década, acumularam conhecimentos, compreenderam a extensão dos problemas que acompanham a iliteracia financeira em Portugal.

Com as contas todas em dia, Tânia quis mudar de vida e preparou “300 folhas de Excel” para saltar para o turismo, em inícios de 2020, mas a pandemia veio deitar esses planos por terra. Ao mesmo tempo, Andreia pensava em voltar à universidade, desta vez para estudar Psicologia. Foi aí que levaram um valente empurrão: “Estava a ser acompanhada por uma psicóloga em redirecionamento profissional e ela disse-me: ‘Tânia, ligue à Andreia. Vocês têm de fazer alguma coisa juntas. Está aí. Esqueça o turismo e faça alguma coisa com ela, por favor.'”

“Escola de Finanças Pessoais” chegou às livrarias em janeiro. As autoras escreveram tudo juntas e desenharam cada um dos gráficos e tabelas de apoio

A 7 de janeiro de 2021, lançaram a página de Instagram Contas em Dia para “ajudar os portugueses a organizarem as finanças pessoais”. Começaram a fazer atendimento personalizado e a acumular listas de espera com mais de 180 pessoas. A solução? Apresentar cursos ao vivo, desta vez com a Jornada Do It, que aconteceu ao longo de 21 semanas. “Estávamos exaustas, com filhos pequenos para cuidar.” Resolveram começar a gravar essas aulas, para simplificar o processo, quando receberam o convite da Contraponto para escrever um livro. “Se não nos déssemos tão bem, o processo de escrita tinha sido muito difícil, porque isto foi pior do que ter um filho”, brinca Tânia. “Não, eu digo o contrário”, entra Andreia. “Quem me dera a mim que tivesse sido tão fácil como fazer um filho. Dizem: ‘Ah, o parto, que horror.’ Qual quê? Venham 20 partos!”

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Por que é que há tanta iliteracia financeira em Portugal?
Andreia — Podemos falar de várias razões, porque realmente é um assunto que não é falado nunca nas escolas e existe muito tabu em falar sobre dinheiro. A literacia financeira está ligada à gestão de dinheiro, de negócios, de perceber o mínimo de economia. Não estou a dizer que as pessoas têm de virar técnicas e perceber macroeconomia, microeconomia, nada disso. Mas é de conceitos como juros simples, juros compostos, inflação. Parece que só agora a inflação se tornou um tema, mas a inflação sempre existiu. Sempre. Até mesmo a nível político, a literacia financeira passa por compreender, por exemplo, o que é que uns partidos defendem, o que é que outros partidos defendem, como é que isso pode mexer na nossa carteira.

Julgo que o dinheiro é um tema que não é falado em Portugal talvez por sermos ainda filhos do 25 de Abril, de ainda ser uma coisa muito presente. Nos nossos pais, nos nossos avós, há muito aquele sentimento de que o dinheiro é mau, o dinheiro é sujo, os ricos são maus.

O que pode ter tido influência na questão de o dinheiro ser tabu?
Andreia — Julgo que o dinheiro é um tema que não é falado em Portugal talvez por sermos ainda filhos do 25 de Abril, de ainda ser uma coisa muito presente. Nos nossos pais, nos nossos avós, ainda há muito aquele sentimento de que o dinheiro é mau, o dinheiro é sujo, os ricos são maus.
Tânia — Uma das principais razões da iliteracia financeira é os nossos pais não nos ensinarem, porque também não tiveram essa educação. E vivemos sempre em tempos de escassez. Se formos às gerações dos nossos avós, bisavós, era uma sardinha para a família toda, vivia-se a gastar o menos possível. Não havia abundância, nem havia conhecimento para as pessoas procurarem outro emprego.

Falem-me mais sobre o que observaram.
Andreia — Muitas vezes, pensa-se que é difícil falar de dinheiro para as pessoas que ganham um ordenado baixo. Há muito este estigma. Ou que só quem tem o ordenado mínimo é que tem de ter um orçamento familiar. Mas essa ideia não podia estar mais errada. O tabu de falar sobre dinheiro é de quem tem pouco dinheiro, de quem tem muito dinheiro — porque é logo visto como “olha este rico” — ou de quem tem negócios — quanto é que fatura, quanto é que não fatura, quanto é que paga a fornecedores, aos empregados. É um tabu gigante, é algo que tira as pessoas da sua zona de conforto. Aqueles lugares comuns, como “ninguém enriquece a trabalhar”… Então enriquece como? Pode ganhar o EuroMilhões, mas sabe-se que a maior parte das pessoas que ganham grandes prémios, passado uns anos, estão com o dinheiro que tinham antes de os ganharem. Porquê? Porque quem não é educado e não tem consciência financeira a gerir o dinheiro que já tem, um dia, quando receber muito dinheiro, não vai conseguir geri-lo.

Esse tabu começa dentro da família?
Andreia — Não existe o hábito de haver um orçamento familiar que é falado entre o casal e até com os filhos que já têm idade para compreender, principalmente adolescentes. No banco, quando ainda atendia particulares, muitas pessoas diziam-me: “Como é que vou dizer ao meu filho que não podemos comprar isto e aquilo? Não quero que ele sinta que nós não podemos”. Se não podem comprar, porque é que a criança não pode saber?

Acompanhamos muitos casais e vemos a evolução que vivem enquanto casal quando o dinheiro deixa de ser tabu. Nota-se que se unem mais, porque não existe vergonha, ou aquele peso de, “eu recebo mais do que tu”. Como há uma quebra do tabu, aproximam-se mais, funcionam como uma equipa.

Qual é a consequência de não se falar sobre dinheiro?
Tânia — É que não se encontra uma solução para os problemas. Às vezes, o primeiro passo é mesmo ir ao banco e pedir ajuda. Não fazê-lo tem uma consequência, porque a pessoa pode acabar por endividar-se ainda mais, ou por pagar mais juros, o que for. O tabu de não falar sobre o salário resulta numa perda de oportunidades. Se calhar um amigo [em sabendo] poderia recomendar: “Olha, estão a recrutar ali, vai ver se não consegues”. A consequência de ter muito dinheiro e de ter vergonha de falar — porque se calhar os amigos vão dizer, “olha, para ti é fácil, os teus pais já são ricos, ou tu recebeste uma herança” —, é que não se aprende como potenciar ainda mais esse dinheiro. O tabu vem com consequências agarradas a ele.

Os anos da banca deram uma grande bagagem para ajudar quem nada percebe de finanças pessoais

Getty Images/iStockphoto

O tabu também existe entre casais?
Tânia — Isso é o prato do dia. É uma questão cultural, porque já vimos com estas crenças desde crianças e, se não vemos isso em nossa casa, se não houve essa partilha entre os pais, de falar sobre o dinheiro, mais facilmente isso passa para a vida adulta. O que sentimos é que, para as pessoas que começam por ter relacionamentos em que não se fala abertamente sobre dinheiro, quando isso finalmente acontece, começa um novo capítulo na relação. Acompanhamos muitos casais e vemos a evolução que vivem enquanto casal quando o dinheiro deixa de ser tabu. Nota-se que se unem mais, porque não existe vergonha, ou aquele peso de, “eu recebo mais do que tu”. Como há uma quebra do tabu, aproximam-se mais, funcionam como uma equipa e vão juntos cumprir os objetivos que querem, tanto os individuais como os que têm em conjunto.

O que é a “infidelidade financeira”?
Andreia — Fazem-se imensos memes sobre isso. É comum, o que não significa que seja uma coisa normal ou natural. Acontece, por exemplo, quando um elemento do casal vai às compras e depois esconde essas compras ao outro. Ou quando um fica com a gestão de um tema — “esse assunto é da minha mulher, ou esse assunto é do meu marido” — e depois, muitas vezes, só em casos de morte, de divórcio, ou se alguma coisa correr muito mal, é que o outro elemento fica a saber realmente como estão as finanças. É muito mais comum do que se possa pensar, isto da infidelidade financeira. Há alguns estudos sobre isto. Antes da pandemia, um estudo mostrou que a segunda maior causa divórcios é a infidelidade financeira.

Há muitos casais, já casados e com filhos, que não fazem a mínima ideia de quanto é que o outro ganha, ou não fazem a mínima ideia de que património é que o outro tem. E isto, na vida de um casal, e na criação dos filhos, é uma coisa que obviamente tem um impacto. Se o casal não fala sobre isso, o que é que a criança vai aprender sobre o dinheiro? Não aprende.

O problema existe tanto nesta geração como existia no passado?
Andreia — Sim, porque há aqui dois polos. No tempo dos nossos avós, em que as mulheres eram altamente dependentes do rendimento dos maridos, o homem trabalhava, punha dinheiro em casa, e a mulher ficava a tomar conta da casa e dos filhos. E, portanto, havia aqui uma dependência por parte da mulher. Hoje em dia, cada elemento do casal tem o seu trabalho, tem o seu rendimento, e instituiu-se esta questão da divisão, dos 50-50. Eu e a Tânia não achamos que esteja errado. Não há nenhuma fórmula mágica que funcione para toda a gente, é o que fizer sentido para o casal. Agora, há muitos casais, já casados e com filhos, que não fazem a mínima ideia de quanto é que o outro ganha, ou não fazem a mínima ideia de que património é que o outro tem. E isto, na vida de um casal, e na criação dos filhos, é uma coisa que obviamente tem um impacto. Se o casal não fala sobre isso, o que é que a criança vai aprender sobre o dinheiro? Não aprende.

Tânia — Por um lado, em caso de divórcio ou morte de algum dos elementos, em que só um é que geria o património, o elemento que não o fazia fica perdido, ou descobre que tinham um crédito. Alguns casais nem sabem que regime de casamento têm. Por outro lado, se os filhos recebem uma herança sem terem sido instruídos pelos pais — e sabendo que nas escolas não há essa instrução —, dificilmente vão conseguir cuidar desse dinheiro ou saber como gerar ainda mais dinheiro.

Causa nos filhos uma estranheza em relação ao tema.
Andreia — Sim, e não ajuda. Aliás, há muitas pessoas mais novas que já estão no mercado de trabalho e que dizem que o dinheiro era um foco de stress para os pais, que eles discutiam na maior parte das vezes por causa de dinheiro. De geração em geração, o que é que eu estou a aprender no meu inconsciente? Que falar de dinheiro é uma coisa má e que negociar um salário é difícil.

Há duas semanas, estive com uma das nossas primeiras alunas, do primeiro curso que lançámos, que tem curso superior e ganhava um ordenado de 900 e tal euros. Veio contar-me muito feliz que agora está com um ordenado de 2600 euros.

Como se dá a volta a isso?
Andreia — É importante percebermos como é que conseguimos ganhar mais dinheiro. Há duas semanas, estive com uma das nossas primeiras alunas, do primeiro curso que lançámos, que tem curso superior e ganhava um ordenado de 900 e tal euros. Veio contar-me muito feliz que agora está com um ordenado de 2600 euros.

Como é que isso aconteceu?
Tânia — É exemplo de um casal que ainda floresceu mais depois de ter as suas contas em dia e de começar a falar sobre dinheiro sem ser um fardo. O dinheiro deixou de ser uma pedra no sapato. Os diferentes temas que abordamos no curso, no livro e no acompanhamento personalizado, fizeram com que eles conseguissem ganhar essa consciência e perceber que tinham outros caminhos, que não precisam de ficar nesse trabalho a receber eternamente 900 euros. O primeiro passo é o mindset. Tendo a noção de onde estás e que é possível mudares, potencias a mudança. Ela, em particular, percebeu que um tinha potencial que estava ali apagado.

Andreia — Lembro-me perfeitamente da cara dela, quando ganhava perto de 900 euros e lhe perguntámos que objetivos tinha. Depois de nos expor esses objetivos, concluímos: “Se é algo que queres, vais ter de conseguir juntar dinheiro, investir esse dinheiro, fazer mais dinheiro”. Não era possível cortar em mais nada. Já tinha organizado as despesas e planeado o ano. Depois dessa organização, tinha ali um teto máximo. Qual é o outro lado da poupança? É ganhar mais. E foi exatamente isso que criou um gatilho. Pois, se nesta empresa não te pagam mais, ou se te pagam mais 50 euros ou 100 euros, e se tens outras ambições, tens de abrir os olhos para o outro lado. Mudou de empresa, mudou de funções. Era um diamante em bruto — como em Portugal há milhões — que tinha algo plantado no seu inconsciente.

Tânia Matos, à esquerda, é da Covilhã, mas vive atualmente em Braga. Andreia Melo é natural de Cascais

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Uma crença limitativa?
Andreia — Exatamente, tinha ali uma série de crenças. Uma coisa curiosa que ela disse foi que, depois de subir esse grau, começou a perceber que existia muito mais para onde subir.

Vocês acabam por fazer um trabalho de mental coaches — pondo aqui de parte uma certa desconfiança que existe em relação ao termo.
Andreia — (risos) Sim, é a psicologia financeira.

Tânia — Não é a nossa área, mas gostamos de psicologia, desenvolvimento pessoal, neurociência. Desde muito novas, na banca, lidávamos com o cliente, escutávamos a pessoa, e isso trouxe-nos esta bagagem, em que conseguimos olhar para a pessoa além do número que tem, para a sua história. Como é que conseguimos fazer com que esta pessoa tenha uma vida financeira melhor e elucidá-la no que é que é importante e quais os passos a tomar? Isso trouxe-nos muita bagagem. O tempo é outro fator que as pessoas culpam, dizem que agora não têm tempo para aprender isto, que não são economistas. Estou a lembrar-me de outra aluna que é mãe de quatro filhos e que estava a assistir ao nosso curso em casa, enquanto fazia as coisas, e eles ouviam também. Em família, durante as refeições, falavam sobre o dinheiro por ela estar a fazer estas aulas.

Andreia — Os filhos adolescentes perguntavam: “Mas o dinheiro que os avós nos deram no Natal, temos isso numa conta? Está investido?” São adolescentes que estão a ter uma sensibilidade para coisas que, se calhar, só na vida adulta é que se começam a perceber.

Na escola aprendemos a escrever, aprendemos inglês, aprendemos outras matérias, mas não aprendemos que, depois da universidade, vamos trabalhar e precisamos de gerir o nosso dinheiro.

E que papel têm as escolas?
Tânia — Na escola aprendemos a escrever, aprendemos inglês, aprendemos outras matérias, mas não aprendemos que, depois da universidade, vamos trabalhar e precisamos de gerir o nosso dinheiro. Então esse é o primeiro impacto que temos com o tema. Acho que essa é a grande falha, e o nosso livro chama-se Escola de Finanças Pessoais por isso.

Andreia — O dinheiro é dos denominadores comuns mais comuns a toda a gente, porque todos precisamos de dinheiro, independentemente da idade, profissão, do sítio onde se viva, em qualquer parte do mundo precisamos de dinheiro, não conseguimos fugir a isso. Mas não existe o mínimo dos mínimos de tentar perceber como é que isto funciona.

Tânia — A minha sobrinha, que tem 18 anos, disse-me que estava com dificuldades na disciplina de Economia, porque é só conceitos. Não explicam, na prática, que impacto é que aquilo vai ter na nossa vida. Quando estás a aprender esse conceito, não o explicam aplicado à vida real. Se contraíres um crédito, vais ter uma taxa de juro, essa taxa de juro vai representar uma parte do dinheiro que vais estar a pagar ao banco. Se juntares esse dinheiro todo, vais ver que é muito dinheiro. Mesmo na faculdade, era raro o professor que nos explicava, na prática, que impacto é que aquilo teria com a inflação, ou o que temos de fazer quando somos apanhados desprevenidos com o aumento dos preços.

Andreia — Só se pode chegar à inteligência financeira depois de se atingir algum grau de consciência financeira.

Tânia — E a proposta da Iniciativa Liberal para termos literacia financeira nas escolas foi chumbada.

Andreia — Foi a 21 de dezembro, para acabar mal o ano.

Por que é que o tema de finanças pessoais está na moda?
Andreia — É um assunto que não era sexy.

Mas está a ficar mais sexy.
Tânia — Ah, connosco (risos).

Andreia — Acho que é o grau de consciência que está a aumentar. Quando nos conhecemos, éramos completamente OVNIS e por isso é que isto foi logo uma paixão. Além de gostarmos de imensas coisas em comum, também falávamos sobre isto de dinheiro e de investimentos na bolsa. Porque falar sobre estes temas com o resto das pessoas era ouvirmos: “O que é que estás a fazer ao teu dinheiro, a jogar na bolsa?” Qual jogo? Isto não é jogo nenhum.

Tânia — Até mesmo com a nossa saída da banca, os nossos colegas não conseguiam entender como é que estávamos preparadas financeiramente para sair e ficar sem emprego o tempo que precisássemos. Foi porque nos preparámos financeiramente para isso.

Andreia — Quando se fala de planear, as pessoas pensam que têm de engessar a vida, mas não é isso. É exatamente o contrário. O pai da Serena Williams dizia que quem não planeia, planeia a falhar. Claro que tem de haver uma parte flexível, aquilo a que chamamos em gestão de fator sensibilidade. Best case scenario, worst case scenario, o que pode acontecer?

Não temos de ter o ordenado mínimo como sentença. Porque nós sentimos um pouco isso, que quem recebe o ordenado mínimo acha que vai recebê-lo para sempre, ou que tem de ter um MBA para receber muito mais. 

Como se planeia?
Tânia — As pessoas ligam a finanças pessoais no que diz respeito aos impostos ou investimentos. Mas, na verdade, isto vai muito além disso. A primeira coisa que precisas saber é organizar-te financeiramente, saberes que dinheiro entra e que dinheiro sai. Isto e o mindset, de que já estivemos a falar, são a base de tudo. E depois, sim, aprendes os conceitos importantes para gerir ou potenciares melhor o dinheiro. Como a Andreia há pouco estava a dizer, o trabalho é que nos enriquece.

Andreia — Não temos de ter o ordenado mínimo como sentença. Porque sentimos um pouco isso, que quem recebe o ordenado mínimo acha que vai recebê-lo para sempre, ou que tem de ter um MBA para receber muito mais. Quando não tem de ser necessariamente assim. Há muitas pessoas que têm muitos cursos, muitas graduações e diplomas e que têm um ordenado médio-baixo. Mais habilitações não significam automaticamente maior rendimento.

Voltando a esta ideia: por que é que acham que o tema está a ficar sexy?
Andreia — As pessoas nunca se sentiram tão sufocadas. E a comunicação social está muito à volta disto. As redes sociais também estão muito à volta disto. Então, aumentou aqui o grau de consciência, porque foi tudo ao mesmo tempo. Foi uma pandemia, que foi um estalo para muitas empresas e, por consequência, para muitas pessoas. O que isso mudou no tecido empresarial, no nosso consumo e tudo mais. Depois, as subidas das taxas de juros, que estavam negativas há imensos anos e, de repente, subiram em flecha. Em outubro de 2021, escrevemos um artigo para o Idealista News sobre a possibilidade de a prestação da casa duplicar. Na altura, chamaram-nos de tudo. “Vocês são umas pessimistas. Vocês querem assustar a nossa audiência.” Não, é só olhar para os gráficos. Nenhuma de nós tem bola de cristal. Mas isto vai ter de subir. A taxa de juros não vai ficar negativa ad eternum. O que é que aconteceu? A partir de 2022, a taxa de juros foi subida. E, em abril do ano a seguir, começou a subir em flecha. Portanto, o ano de 2023 foi um estalo para a maioria das pessoas que têm crédito de habitação.

Tânia — Esta subida das taxas de juros levou com que as pessoas tomassem consciência. Compraram recorrendo a empréstimo, porque a maioria dos portugueses necessita disso, assinando um contrato sem saberem as implicações.

Que papel podem ter os bancos nesse momento?
Andreia — É verdade que, da parte dos bancos, talvez pudesse haver outra consciência e regras mais estritas para a concessão de crédito. Mas o que nós sentimos do outro lado é que há uma parte extremamente emocional, principalmente na compra da casa. Quando a pessoa vai ao banco, a única coisa que quer saber é, foi aprovado. Qual é o valor da prestação? Onde é que eu assino?

Tânia — Porque está no documento, ou seja, quem contrai crédito com taxa variável, que é o spread mais regular, não é a taxa fixa, vem no documento o valor máximo dos últimos 20 anos, vem lá quanto é que pode ser, só que as pessoas nunca olham para isso. Isto da compra da casa ser emocional leva a que também não façamos escolhas com consciência. Quero tanto aquela casa, com aquelas características, naquela localização e o crédito até foi aprovado, mas não pensamos nas implicações que isso tem no futuro, porque é um contrato a 30 ou 40 anos, não é? Vou estar a prejudicar o meu futuro por um valor mais elevado, mas se descesse um bocadinho as minhas necessidades naquele tipo de imóvel, o meu futuro ia agradecer.

Estamos presos a ideias que nos prejudicam?
Andreia — Até na questão dos estudos. Nesse aspeto, só os médicos é que têm o chip de estudar para sempre e um mindset de crescimento. O mundo está numa mudança tal que, tudo o que estudámos há 10, 15 anos, se calhar já não está atual. Existem novas correntes, novas formas de fazer. Até mesmo na ciência já existem novos estudos, novas teorias. Não podemos ficar cingidos à nossa formação. Eu, por exemplo, fui para a Faculdade de Ciência e estudei Geologia. Mas, a determinada altura, vi que tinha de perceber sobre dinheiro. Fui tirar Gestão, não por amor, mas pelo interesse de perceber isso.

Como se conheceram?
Tânia — Gosto sempre de dizer que a nossa história de amor começou em 2009 [risos]. Olha, foi assim numa mesa, no nosso estágio na banca. Ao final da primeira semana, estávamos a viver juntas.

Estavam as duas a estagiar?
Tânia — Sim. Estivemos sempre juntas naqueles primeiros dias intensos de formação de 14 dias. Decidimos viver juntas. Sou da Covilhã e vim viver para Lisboa, porque foi onde consegui o meu primeiro emprego, depois de ter vindo de Erasmus.

Andreia — E eu morava em Cascais e decidi ficar a morar em Lisboa. Em 2009, ainda era possível duas jovens estagiárias conseguiam arrendar uma casa. Hoje em dia seria impossível.

Tânia — Era no coração de Lisboa, no Adamastor. O primeiro desafio de casal foi vivermos juntas. Depois, percebemos que geríamos o dinheiro da mesma forma, ou seja, nós aí também tínhamos de fazer decisões, como dividir a renda, que era perto de 400 euros.

Andreia — Era 375 euros.

Tânia — Diariamente partilhávamos aquilo que acontecia no nosso trabalho, mesmo depois de a Andreia mudar de banco. Eu mantive-me sempre no mesmo. Trabalhávamos em áreas diferentes, eu estive sempre mais dedicada aos particulares, gestão de carteiras de grandes fortunas. A Andreia passou por isso e por empresas. Partilhávamos alguns casos que tinham mais impacto no nosso dia-a-dia, de pessoas que nos consultavam. Percebemos aí o tabu que existia em falar sobre o dinheiro. A falta de literacia financeira e a desorganização são o cocktail explosivo, como brincamos, que faz com que as pessoas não tenham essa consciência.

Que pontos têm em comum?
Andreia — Começámos as duas a trabalhar aos 16 anos, como belas adolescentes que queriam sair à noite, comprar roupa e tudo mais, e que a resposta que tínhamos por parte das nossas famílias é que não há dinheiro para isso. Não há dinheiro para isso, então vou trabalhar. Foi simples.

Tânia — E a sensibilidade para a literacia financeira nasceu connosco, não nos foi transmitido pela família.

Andreia — Isto é quase uma forma de curarmos algumas feridas dos nossos antepassados. Não viemos de famílias ricas, mas eu já tinha este pensamento em criança, que a Tânia também tem: não vim de uma família rica, mas uma família rica vai sair de mim.

Tânia — Parece que viemos com esta missão de mudar isto.

Tânia, por que saiu da banca em 2020?
Tânia — Decidi sair da banca mesmo antes da pandemia para fazer um projeto ligado ao turismo, que foi um flop. Fiz um plano para mudar radicalmente, para mudar de cidade. Foi uma decisão em família, com o meu marido, para darmos o grito do Ipiranga. Com o aumento dos preços em Lisboa, a nossa casa triplicou o valor e decidimos vendê-la. Pensámos, ok, onde é que podemos viver com qualidade de vida, sem este encargo, que era o crédito de habitação, e ainda ficar com algumas poupanças? Decidimos ir para Braga. Ficámos sem emprego, os dois, porque estávamos preparados financeiramente para isso. A Andreia acompanhou tudo. Não é fácil mudar para longe dos nossos amigos, os meus pais também já viviam cá perto, mas foi uma decisão estratégica e financeira. E depois, em dezembro, a Andreia decidiu sair.

A causa maior foram os nossos filhos, a maternidade. Não queríamos fica com o rabo cravado na cadeira para sempre, na função que estávamos a ter e na banca, e já não nos revíamos tanto com os procedimentos que se seguia.

Por que decidiram mudar?
Tânia — A causa maior foram os nossos filhos, a maternidade. Não queríamos fica com o rabo cravado na cadeira para sempre, na função que estávamos a ter e na banca, e já não nos revíamos tanto com os procedimentos que se seguia. Não estávamos isentas, porque trabalhávamos para uma entidade e tínhamos de vender os produtos que tínhamos, não podíamos dizer “vá ali ao lado”. A Andreia decidiu sair porque queria estudar Psicologia. Fizemos várias cursos juntas, estudámos Marketing Digital. Eu estava a ser acompanhada por uma psicóloga em redirecionamento profissional. Sempre que terminava as sessões, ligava para o Andreia e trocávamos ideias. Houve um dia em que partilhei com a psicóloga a história de uma família que ajudei, desde de deixar de ter dívidas até conseguir poupar e investir. Começo a contar, choro baba e ranho. E ela disse-me: “Tânia, ligue à Andreia. Vocês têm de fazer alguma coisa juntas. Está aí. Esqueça o turismo e faça alguma coisa com ela, por favor.”

O projeto começou com a página Contas em Dia, onde davam dicas sobre finanças pessoais

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Às vezes é preciso levar um abanão de fora.
Tânia — É isso, porque dizíamos sempre, outra vez para a área financeira não vamos voltar, porque não queríamos ir para o mundo corporativo. Até sentíamos uma repulsa, porque não queríamos aquilo mas, na verdade, nós gostamos tanto de pessoas. O nosso combustível diário é ver que conseguimos mudar aquelas vidas. Fomos festejar o aniversário do teu casamento, 17 de outubro de 2020, e aí começou a nascer o Contas em Dia.

Andreia — A minha ideia era mudar de profissão completamente, ia voltar para a universidade. Eu e o meu marido, financeiramente, estávamos bastante organizados. E depois, muitas pessoas diziam-me assim: “Mas, se vais sair do banco, com quem é que eu vou falar sobre dinheiro?” E eu pensava, mas como assim? E a Tânia disse-me, pois Andreia, porque realmente se calhar temos alguma coisa para ajudar.

Por onde começaram?
Andreia — A nossa primeira ideia era escrever uma bíblia de finanças num eBook. E depois criámos uma página no Instagram, o Contas em Dia, a 7 de janeiro de 2021, onde partilhávamos dicas de poupança e de alguns conceitos necessários, mas sem ser aquela coisa de definição. É, como nós costumamos dizer, sem financês e sem banquês.

Humanizaram temas que as pessoas viam como complicados.
Andreia — Também não gosto de ir ao médico e que o médico venha a falar comigo em termos super técnicos, ou que um advogado fale comigo de uma forma super técnica, quando eu não domino conceitos jurídicos.

Tânia — Então, aí decidimos criar o acompanhamento personalizado. Em agosto, tínhamos a agenda cheia e 180 pessoas em lista de espera. Ou seja, foi uma coisa inacreditável.

Como é que isso aconteceu?
Andreia — Instagram. Redes sociais.

Tânia — E oferecíamos uma sessão gratuita para as pessoas conhecerem. Isso fazia com que viessem. Depois, é a lista de espera e o passa-palavra. Naquele acompanhamento que fazíamos, notávamos que as pessoas ainda não vinham com o conhecimento de que precisavam para tirarem o maior proveito daquilo que lhes podíamos dar naquele espaço de tempo. Decidimos criar alguma coisa que as ensinasse as bases antes de virem reunir connosco e fizemos o nosso primeiro curso ao vivo, a Jornada DO IT. Tivemos 21 semanas seguidas, com filhos pequenos… Resolvemos então fazer os cursos online, num formato gravado, para também descansarmos. É esta história do Contas em Dia.

Se nós não nos déssemos tão bem, a escrita do livro tinha sido um período muito difícil. Ainda ontem disse isto, mas foi pior do que ter um filho.

E o livro?
Tânia — Quando estávamos a gravar o curso, aparece este convite para escrevermos um livro. Foi outro momento muito bonito do Contas em Dia e da minha relação com a Andreia. Porque é um desafio muito grande escrever um livro. É um desafio escrever um livro nas condições em que nós estávamos, completamente exaustas, porque vínhamos daquele curso sempre ao vivo, depois a fazer as gravações do curso. Só nessa altura é que contratámos colaboradores, já somos 5 pessoas, mas eu e a Andreia fizemos o site, fazíamos a edição das redes sociais, tudo só as duas, ou seja, era muita coisa em cima de nós. Se nós não nos déssemos tão bem, a escrita do livro tinha sido um período muito difícil. Ainda ontem disse isto, mas foi pior do que ter um filho.

Andreia — Não, eu digo o contrário. Quem me dera a mim que tivesse sido tão fácil como fazer um filho. Dizem: “Ah, o parto, que horror.” Qual quê? Venham 20 partos!

Tânia — Temos muito orgulho. Dizem-nos que conseguimos por uma linguagem muito acessível. O livro é muito esquemático.

Andreia — Adorava fazer um Hall of Fame do antes e depois dos nossos alunos.

Para quem escreveram o livro?
Andreia — O tema de falar sobre o dinheiro, por norma é tratado por pessoas muito formais, mas queríamos que fosse para a pessoa normal perceber que isto é um tema de toda a gente. Precisamos todos de dinheiro, é o único tema que não desatualiza, porque tu precisas sempre.

Que mindset básico devemos mudar?
Tânia — O nosso método não é viver um mês a mês. É ensinar a pessoa a ter uma overview do que é que vai ser o ano em termos de custos, e estar preparada financeiramente. As pessoas normalmente fixam-se no IRS, no IMI, no IUC e, quando chega maio, que normalmente é um mês de muitas despesas, não estão preparadas para isso. Ficam em sufoco porque vivem um mês a mês. E o que nós ensinamos é a já estarem preparadas e a terem o dinheiro de parte.

Em Portugal, parece que só existem três tipos de investimentos. Depósitos a prazo, certificados e os PPRs, mas ninguém percebe exatamente o que aquilo é. E esta aversão ao risco faz com que não tenhamos capacidade de por o dinheiro a gerar dinheiro

No que diz respeito à habitação, escrevem sobre a ideia de comprar vs. arrendar.
Andreia — Em Portugal, a maioria das pessoas são proprietárias. Não há propriamente um mercado forte e consolidado de arrendamento. Nós não somos apologistas de nenhum tipo de pensamento fundamentalista. Tanto pode fazer todo sentido comprar, como pode fazer sentido não comprar casa. Agora, a casa, à semelhança do dinheiro, é uma necessidade que nós vamos ter sempre. Então qual é o meu plano para daqui a 20 anos, 30 anos, 40 anos, quando me reformar e tiver uma reforma que vai ser metade do meu último salário? Vou ter como pagar uma casa? Então, tenho de ter um plano. Há muito aquele síndrome Zeca Pagodinho de “deixar a vida levar”, mas não pode ser levado ao extremo de só viver o presente sem pensar no futuro. Quando eu e o meu marido comprávamos a primeira casa, na altura ainda trabalhávamos no banco, quando chegou a altura de tratar de processo de crédito de habitação, a grande maioria dos consultores imobiliários diziam que podíamos comprar uma casa de mais do dobro do valor. Muitas vezes, é preciso ter esta capacidade de conseguir saber que é preciso dar um passo atrás para conseguir dar dois à frente. E o que se vê, até mesmo muitas vezes na escolha dos carros, é que não há um raciocínio: “OK, eu tenho que viver hoje, mas não posso penalizar amanhã. Qual é o meu plano?”

Ter uma visão a longo prazo.
Tânia — É tal como os investimentos. As pessoas dizem: “Ah, mas eu sou go with the flow, meio freestyle.” Pensam que está tudo muito longe, na reforma, mas nem é preciso pensar tão longe, é pensar no que é importante para nós. Cuidados de saúde, a educação dos filhos, ajudar os familiares financeiramente, preparar-me para um dia estar nem lar com boas condições. É pensar nisso também. Se calhar o futuro não está aí tão longe e, no nosso dia a dia, podemos melhorar a nossa qualidade de vida.

Andreia — Para a maioria das pessoas, ter filhos é uma motivação para começar a poupar. Mais facilmente se abre uma conta poupança e investimento para os filhos, do que para eles próprios.

A subida das taxas de juro, acreditam, foi um dos catalizadores do interesse pelo tema das finanças pessoais

Getty Images

Por que é que os portugueses desconfiam tanto dos investimentos?
Tânia — O receio de investir é por não se saber sobre o tema. Se aprendermos que tipos de investimento existem, como funciona o mercado financeiro, e quais os investimentos que vão servir os meus objetivos, isso desconstroi-se. E nem todas as pessoas precisam de investir, pode não fazer sentido para mim ou para os meus objetivos. Mas eu, pelo menos, estudei e percebo o que é.

Andreia — Em Portugal, parece que só existem três tipos de investimentos. Depósitos a prazo, certificados e os PPRs, mas ninguém percebe exatamente o que aquilo é. E esta aversão ao risco faz com que não tenhamos capacidade de por o dinheiro a gerar dinheiro, que isso é real, mas não é rápido. Por isso é que tanta gente cai em burlas. Porque isto é a falta de literacia financeira, subscrever um produto que não percebe tudo o que aquilo é. E acha-se que os depósitos a prazo são algo que é o mais seguro. Ou seja, a maior insegurança, o maior risco vem é do desconhecimento. Não é propriamente do investimento em si. A primeira vez que investi em bolsa, nos meus vinte e poucos anos, contei a algumas pessoas e pelas reações parecia que estava a fazer alguma coisa de mal. “O que é que foste fazer ao teu dinheiro?” Fechei-me em copas para me proteger daquilo. Felizmente hoje em dia também pelas redes sociais e por haver mais informação, as pessoas perceberam que existe mais que o depósito a prazo e certificados de aforro.

Que limitações têm esses investimentos?
Andreia — Esses investimentos não compensam o que se perde de dinheiro com a inflação. Muitas vezes, as pessoas pensam que ter mais dinheiro é automaticamente estar mais rico. Mas pode ter-se mais dinheiro a nível nominal, mas ter menos capacidade de compra. Porque, se as coisas estão mais caras, consigo comprar menos.

Como podem proteger-se na altura de investir?
Tânia — Antes de investir, sugerimos que as pessoas leiam e façam as perguntas todas que precisam a quem está a atendê-las. Temos de saber fazer a pergunta certa.

Andreia — Com este livro não temos a intenção de que quem o leia se torne um financeiro. Mas queremos que quem leia este livro ganhe consciência financeira de fazer as perguntas certas no momento certo. Porque isso é que interessa para chegar a uma solução personalizada. No médico também é assim, não há comprimido que sirva para toda a gente. Tem de se saber o que se tem e o que se quer ter. Não há uma fórmula mágica.

Falem-me do movimento FIRE.
Andreia — Foi uma felicidade para nós ter conhecido a história da Rita Pissarra, ex-CFO da Microsoft. Ela partilhou que aos 44 anos se reformou. E é super engraçado ver os comentários das pessoas sobre isso. “Tão nova já a viver da Segurança Social.” Não, é exatamente o oposto. Ela não está a viver da Segurança Social. Ela está a viver dos rendimentos que ela própria poupou, investiu esse dinheiro, fez mais dinheiro e atualmente consegue viver sem necessitar de um salário.

Também li comentários como: “Se tivesses um ordenado como o meu não conseguias isso.”
Andreia — O FIRE é um movimento que começou nos Estados Unidos, que se baseia em tornar a vida o mais minimalista possível para ter uma capacidade enorme de poupança e conseguir investir para, a médio prazo, conseguir uma reforma antecipada. E essa reforma antecipada não é dada pela Segurança Social, nada disso. É a própria pessoa que dá a sua própria reforma, vivendo de rendimentos. É um conceito que nos Estados Unidos já está consolidado há imenso tempo. Felizmente chegou a Portugal para conseguir abrir o horizonte aos investimentos. Porque muitas vezes perguntam, mas investir-me este dinheiro para quê? Porque é que eu não vou gastar o dinheiro todo? Para que é que eu vou deixar de comprar isto, de ter aquilo e tudo mais, e vou investir o dinheiro? Se calhar para ter esta liberdade de não estar dependente de um ordenado ao final do mês.

Tânia — Nem esperar pela data da reforma. Estas pessoas têm uma vida bastante frugal, minimalista, mas sabem, efetivamente, qual é o seu custo de vida e quanto é que vão precisar daqui a 10, 20 anos para viver. Ou seja, também há uma atualização, por causa da inflação. Pode fazer-se um cálculo muito básico para se perceber. É basicamente fazer uma conta, a regra dos 4%, que nós damos aqui no livro. Tenho que saber efetivamente quais são as minhas despesas. De quanto dinheiro vou precisar para viver e como vou retirar esse dinheiro dos meus investimentos para conseguir, lá está, pagar o meu próprio salário. Ninguém consegue fazer o FIRE sem ter o básico bem feito.

Andreia — O planeamento tem de estar na base de tudo. Seja para atingir o FIRE ou não.

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