“Lembrem sempre este dia como o de maior orgulho da minha vida”, disse a rainha Victoria sobre o dia da sua coroação, no longínquo dia 28 de junho de 1838.

A mais recente coroação no Reino Unido aconteceu há 69 anos e foi um evento quase planetário. Quando Isabell II foi coroada rainha na Abadia de Westminster, a cerimónia foi transmitida pela BBC para todo o mundo e foi um fenómeno de audiências visto por milhões de pessoas.

A coroação do Rei Carlos III será, certamente, uma grandiosa cerimónia em que a tradição estará sob o olhar curioso de uma sociedade global e tecnológica. Sabe-se que os rituais têm séculos, mas também que o Rei quererá implementar algumas mudanças. A proclamação do novo soberano acontece este sábado, 10 de setembro, mas os preparativos que a cerimónia de coroação envolve, levam a crer que esta não acontecerá brevemente. Aqui fica o que sabemos e que podemos esperar da coroação de Carlos III em oito pontos.

Quando vai ser a coroação do Rei Carlos III?

Com a morte de Isabel II, o até então príncipe de Gales, tornou-se automaticamente Carlos III, o novo Rei do Reino Unido e da Commonwealth. Mas a coroação ainda vai longe: depois de um período de 17 dias de luto pela antiga monarca, é expectável que vários meses decorram até que a cerimónia da coroação aconteça— o inglês Daily Mail especula que o momento seja celebrado durante o próximo ano, antes do outono de 2023. Não é uma exceção: a coroação de Isabel II só aconteceu 16 meses depois desta se tornar Rainha.

Qual o papel de Camilla, rainha consorte, na coroação?

Uma das condições estabelecidas para o casamento entre Carlos e Camilla foi de que esta não receberia o título de Rainha Consorte, quando o príncipe de Gales ascendesse ao trono. Mas, em fevereiro deste ano, a propósito das celebrações do 70.º aniversário do seu reinado, as palavras de Isabel II alteraram estes planos: segundo o jornal inglês Daily Mail, a Rainha declarou que era seu “desejo sincero” que Camilla ocupasse o lugar de Rainha Consorte quando, “na plenitude dos tempos”, o seu filho se tornasse rei. E assim foi e será.

Dita agora a tradição que, a não ser que seja decido de forma diferente, Camilla seja coroada ao lado de Carlos III — tal como aconteceu em 1937,  com a Rainha Mãe, mãe de Isabel II e última rainha consorte, na coroação do rei Jorge VI. A coroação da Rainha Consorte tem uma cerimónia semelhante à do Rei, mas mais simples.

Onde vai acontecer?

É uma tradição com mais de 900 anos: as coroações acontecem na Abadia de Westminster. O primeiro monarca a ser coroado ali foi William, o Conquistador e Carlos III será o 40º.  A cerimónia é um serviço religioso anglicano, conduzido pelo Arcebispo de Canterbury.

O que vai acontecer?

Os procedimentos estão bem estabelecidos, não fosse a tradição milenar. De acordo com o site oficial da Família Real, as cerimónias de coroação mantiveram-se, na sua essência e desde sempre, idênticas ao longo de mil anos — e, por isso, é expectável que muitas das tradições vividas na coroação de Isabel II sejam replicadas na do seu filho. No entanto, já se sabe que haverá diferenças.

Sabe-se que o plano “Operação Orbe Dourada”, delineado por Carlos III e pelo palácio de Buckingham, consiste numa cerimónia mais curta (considerando também a idade do Rei, que tem 73 anos). Mais simples e menos dispendiosa, face à dos antigos monarcas, esperando-se, assim, que seja menos faustosa, comparativamente à de Isabel II. Ao Daily Mail, uma fonte cuja identidade não foi revelada, adiantou ainda que o novo rei deseja que o momento inclua maior representatividade no que a “diferentes grupos comunitários e religiões” diz respeito. Espera-se também que Carlos III queira dar um cunho mais moderno à cerimónia, da realidade do Reino Unido  — ainda que a cerimónia mantenha o serviço anglicano.

Quais os rituais?

Durante a cerimónia, o Soberano faz o juramento de coroação. “A forma e a redação variaram ao longo dos séculos. Hoje, o Soberano compromete-se a governar de acordo com a lei, a exercer a justiça com misericórdia”, com a promessa de “manter a Igreja da Inglaterra”, da qual passa a ser o Chefe, explica o site da Família Real.

Sentado na cadeira do Rei Eduardo — que remonta ao ano de 1300 e é utilizada pelos reis e rainhas do Reino Unido desde 1626 — o chefe de Estado é então “ungido, abençoado e consagrado” pelo Arcebispo. A unção é feita com óleos laranja, rosas, canela, almíscar e âmbar.

O monarca recebe, depois, o orbe e o cetro (explicamos o significado de todas estas joias no ponto a seguir) e, de seguida, o Arcebispo coloca a Coroa de St Edward’s na cabeça do Rei. A cerimónia contará ainda com música e leituras.

Quais são as Joias da Coroação?

Os acessórios mais importantes desta cerimónia são as Joias da Coroa, “os tesouros mais preciosos da nação”, como se pode ler no site dos palácios reais históricos, a instituição que gere seis palácios britânicos. Trata-se de um conjunto de 100 objetos e mais de 23 mil pedras preciosas. Entre estas peças encontram-se as peças da coroação (Coronation Regalia), os objetos sagrados que são usados nas coroações e representam os poderes e responsabilidades do monarca.

Afinal, trata-se de uma coroação, por isso um dos momentos mais importantes da cerimónia será, precisamente, o colocar da coroa na cabeça do novo Rei. Esta será a Coroa de St. Edward, uma joia feita em 1661 para, curiosamente, o Rei Carlos II. É uma peça totalmente em ouro, adornada com pedras semi-preciosas e pesa 2,23 quilos Esta é a coroa mais importante e só é usada em coroações. A última que foi usada foi em 1953, na cabeça de Isabel II.

Depois da cerimónia de coroação, o monarca usará a Imperial State Crown para sair da Abadia de Westminster. Esta peça data de 1937, é feita em ouro. Conta com 2.868 diamantes, 17 safiras, 11 esmeraldas, 269 pérolas e quatro rubis. Entre estas pedras estão algumas das joias mais famosas da coleção real, como por exemplo, o diamante Cullinan II, o rubi Black Prince e a Safira Stuart. Esta coroa foi feita para a coroação do pai de Isabel II. pode também ser usada em outras ocasiões que não a coroação. É, aliás, a coroa que a Rainha usou ao longo dos 70 anos de reinado na cerimónia de abertura do parlamento.

As histórias do guarda-joias da rainha: os diamantes são eternos e as pedras vieram de todo o mundo

Durante a cerimónia, o Rei segurará nas mãos um cetro e um orbe, ambos datados de 1661. O Cetro do Soberano  com Cruz é uma peça que tem sido usada em todas as coroações desde a de Carlos II, nesse ano. Em 1910, o rei Jorge V mandou acrescentar-lhe o diamante Cullinan I, o maior diamante incolor do mundo. Quanto ao Orbe do Soberano, consiste num globo em ouro com uma cruz em cima e simboliza o facto do poder ser concedido por Deus.

A Colher da Coroação é a peça usada para ungir o soberano com os óleos sagrados. A joia sobreviveu à destruição das joias da coroa no parlamento no ano de 1649. Foi salva pelo oficial responsável pelo guarda-roupa do rei Carlos I, que tentou vender os bens do rei quando este morreu, mas acabou por devolver a peça em 1660.

Em 1937 foi também feita uma nova coroa para coroar a Rainha Isabel, como Rainha Consorte do Rei Jorge VI, os pais de Isabel II. Esta peça está adornada com outro famosos diamante, o Koh-i-Nûr.

O valor destas peças é incalculável, por todo o peso simbólico e histórico que carregam consigo. Desde o século 1600 que estas joias estão protegidas na Torre de Londres.

E depois da coroação?

Lidos os votos e proclamado o juramento, Carlos III e a Rainha Consorte partem da Abadia num coche dourado do século XVIII, a Gold State Coach, rumo ao Palácio de Buckingham, onde, na famosa varanda, vão acenar à nação, junto de outros membros da família real. “Não seria surpreendente se só víssemos  Carlos e Camilla, Kate e William e os seus filhos na varanda do Palácio de Buckingham”, diz uma fonte do Daily Mail, que especula sobre a ausência de Harry e de Meghan neste momento.

Ainda este ano a Gold State Coach percorreu as ruas de Londres a abrir o cortejo que marcou o último dia de celebrações do Jubileu de Platina e, nas janelas, podia ver-se um holograma de Isabel II a acenar ao público, com uma imagem da monarca no dia da sua coroação. A carruagem em ouro só é usada em coroações e jubileus e a penúltima vez que foi vista foi em 2002, no Jubileu de Ouro de Isabel II.

Quem vai estar na coroação do Rei Carlos?

Bem resumido? Toda a gente. Ainda assim, diz a revista Marie Claire, a lista de convidados da coroação de Carlos III é substancialmente mais reduzida, face à de Isabel II: a rainha tinha mais de oito mil pessoas na sua coroação e o antigo príncipe de Gales reduziu a lista para apenas duas mil pessoas. Além da família real, a cerimónia vai receber elementos da realeza de outros países do mundo, bem como representantes do Parlamento e dos países da Commonwealth. Importa, no entanto, lembrar que, ao contrário dos casamentos reais, uma coroação é um evento de Estado, por isso é o governo que paga e que decide a lista de convidados, explica a BBC.