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Anadolu via Getty Images

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O verão quente de 2006 voltou mas o sol brilha menos na Alemanha. Começa o Euro-2024

A febre da bola voltou, mas por enquanto nem paracetamol seria preciso. A Alemanha de 2006 é diferente da atual e está a acordar lentamente para o Euro-2024. Mas ele vem aí e chega esta sexta-feira.

O jogo tinha 113 minutos e a possibilidade de termos novamente penáltis numa final de um Campeonato do Mundo era cada vez mais real. Até que André Schürrle recebeu a bola a meio-campo. Os médios da Argentina não pressionaram alto e deixaram o na altura jogador do Chelsea seguir pela ala esquerda. Zabaleta não teve pernas. Mascherano, que fez a dobra, também não. Schürrle cruzou ao primeiro poste e Mario Götze matou no peito e atirou para a glória. A Alemanha era campeã do mundo, 24 anos depois. Foi a última vez que vimos um sorriso nos alemães. O Mundial do Brasil foi o último grande momento do futebol germânico, que fechou com chave de ouro uma das páginas mais bonitas do desporto no país.

Em oito anos, entre 2006 e 2014, a Alemanha foi finalista e semi-finalista em dois Campeonatos da Europa e campeã do mundo e terceira classificada em dois Mundiais. Uma quase década de muita cor, de muita alegria no pé, de recordes batidos, de uma final europeia entre Bayern e B. Dortmund, de muito sol. E tudo começou no “verão conto de fadas” que foi o Mundial 2006. Ou como diz o outro, o Sommermärchen. O alemães adoraram organizar o Campeonato do Mundo. Foi a oportunidade perfeita para despir a pele de povo frio e distante que todos gostam de apontar às gentes germânicas. Ao Observador, diz-nos um adepto alemão, “o Mundial 2006 tinha um sentimento diferente, até parecia que o sol brilhava mais”.

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Em 2018, a Alemanha ficou na fase de grupos, com derrota estrondosa com a Coreia do Sul

AFP via Getty Images

Mas agora há nuvens. Em 2018, no Mundial, a Alemanha foi eliminada na fase de grupos. Em 2020, no último Euro, tudo acabou nos oitavos. O Bayern foi campeão europeu em 2020, sim, mas só os bávaros e agora o B. Dortmund chegaram à final da Liga dos Campeões numa década inteira. O sol ficou escondido e é assim que a Alemanha recebe este Euro-2024. Com o tempo muito nublado, frio, chuva, e a meio de junho nem parece verão. Literalmente, mas também metaforicamente.

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De acordo com um estudo feito em abril pelo Instituto de Investigação de Gerações de Augsburg, um em cada cinco cidadãos alemães não fazia qualquer ideia de que a Alemanha estava prestes a receber o Campeonato da Europa. Isto a apenas dois meses do início da prova. Para além disso, diz ainda o mesmo estudo, 88% dos inquiridos admite: os grandes torneios de futebol tinham mais piada há uns anos. E isso pode ser visto com um breve passeio por algumas das mais importantes cidades. O Observador esteve em Dortmund e só sentimos o cheiro a Euro ao redor do mítico Westfalenstadion, do Borussia. Em Colónia nem mesmo aí a excitação deu arrepio. Só em Munique a vibração foi mais sentida, tendo em conta também que é a casa do jogo de abertura – e que os escoceses estão a dar uma ajuda.

Os alemães estão desligados do Euro

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Em abril, 1 em cada 5 cidadãos alemães não sabia que a Alemanha estava prestes a receber o Euro-2024. Já 88% dos germânicos admite que os grandes torneios de futebol eram mais entusiamantes no passado.

Dados de abril de um estudo da Augsburg’s Institute for Generation Research

Olhando para as ruas, há até uma sensação de empate: entre cartazes, lonas e outros adereços, as eleições europeias de dia 9 de junho parecem rivalizar em divulgação com o Euro-2024. As caras dos candidatos continuam por toda a parte. A União Democrata-Cristã (CDU) venceu, com 30% dos votos, mas o destaque foi mesmo para a subida da extrema-direita alemã, a Alternativa para a Alemanha (AfD), que teve mais de 15% da votação e ganhou mais de metade do eleitorado que teve na última eleição. É outra nuvem a juntar às tantas que pairam nos céus germânicos.

Mas independentemente das previsões de chuva, o futebol aquece sempre o ambiente e este ainda está morninho porque a bola ainda não rolou. Mas está quase.

Um dos "poucos" vislumbres em grande do Euro-2024, junto à estação principal de Dortmund

André Maia/Observador

O golo 1.000, o encontro com o passado e o estádio que caiu

Dez cidades vão receber este Campeonato da Europa: Berlim, Colónia, Dortmund, Dusseldorf, Frankfurt, Gelsenkirchen, Hamburgo, Leipzig, Munique e Estugarda. O investimento foi reduzido, com os estádios praticamente prontos e com o dinheiro a ser quase em caixa. As previsões mostram isso. Segundo o  Economic Forecast, a Alemanha deve gerar mil milhões de euros com a competição. Na redução de custos, a ajuda o facto de se manterem quase todos os estádios do Mundial 2006. Todos menos um. Se dissemos que o céu está mais nublado desta vez, então como estará em Kaiserslautern? É a única sede que caiu das que receberam jogos há 18 anos. Porquê? Bem, a culpa é da própria câmara da cidade, que não quis.

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Kaiserslautern apadrinhou o início da caminhada da Itália campeã na fase a eliminar. Desta vez, não é sede

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A cidade do oeste alemão até se perfilou – ao início – como possibilidade, mas retirou a candidatura por considerá-la “um risco financeiro incalculável”. À semelhança do próprio clube, o 1. FC Kaiserslautern – que na altura jogava na Bundesliga e agora milita no segundo escalão, tendo já passado pela terceira –, a região afasta-se do grande centro futebolístico. Das cidades-sede, quatro são a oeste, duas a este, na antiga RDA, uma a norte, uma a sul. E por falar em RDA, se um dia já tivemos um encontro entre alemães – RDA contra RFA, em 1974 – desta vez podemos ter o primeiro encontro entre dois gémeos separados.

Que histórias contam os 10 estádios do Europeu?

A República Checa e a Eslováquia – em tempos, unidas na vencedora em 1976 Checoslováquia – vão pela terceira vez ao mesmo tempo a um Euro, mas nunca se defrontaram na fase final. Mas ao menos já podem dizer que “ganharam”, algo que as equipas britânicas não podem fazer. Inglaterra, Escócia, Rep. Irlanda, Irlanda do Norte, País de Gales… Todas já estiveram na fase final de um Europeu mas nunca o ganharam. São contas fáceis de fazer, ao contrário dos golos. Em 16 Campeonatos da Europa, já foram marcados 829 golos. No último, por exemplo, a bola entrou 142 vezes. Se o número for repetido, chegamos aos 971 tentos, a 29 dos 1.000. Não parece ser possível chegar já ao milésimo, mas sonhar é permitido.

É isso que vão fazer as 24 equipas em competição. Sonhar. Jogar. E quem sabe, trazer um bocadinho de cor e sol a uma Alemanha adormecida. Começa já esta sexta-feira, com o Alemanha-Escócia.

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