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(Rui Oliveira/Observador)

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Ovos cozidos, os apontamentos em papel e o medo de chegar atrasado. Como Vladimiro Feliz preparou o debate

Uma pasta com apontamentos, uma mesa com queijos e ovos cozidos e um plano B para não chegar atrasado. O Observador assistiu à preparação do debate do candidato do PSD ao Porto, que foi feita em casa.

Faltavam poucos minutos para as 19h30m quando Vladimiro Feliz abre a porta de sua casa na zona da Foz Velha e de lá sai imediatamente Bentley, um cão labrador preto que faz parte da família há 9 anos. “Não é por causa do carro, aliás, se tivesse o nome do meu carro preferido chamar-se-ia Porsche”, diz, bem disposto. O candidato do PSD à Câmara Municipal do Porto conduz a equipa do Observador até ao jardim, onde já sem máscara pede um copo de água, para evitar a “rouquidão natural” da sua voz.

Confessa que gosta de debates, mas prefere duelos. “Embora defenda que todos devam ter o seu espaço para exprimir as suas ideias e opiniões, preferia um confronto frente a frente. Se pudesse escolher? O primeiro, o segundo e o terceiro seriam com Rui Moreira, claro.” A preparação para o debate televisivo da noite desta terça-feira começou no dia anterior e a estratégia é quase sempre a mesma: muita pesquisa e conselheiros por perto. “Revejo algumas entrevistas minhas antigas para não perder o fio condutor, aproveito alguns trunfos dos meus adversários, nomeadamente do atual presidente, e depois chamo um conjunto de pessoas que me ajudam a confrontar com alguns temas que estão na agenda e que possam ser mais polémicos”, explica.

Passemos então às apresentações dos que o esperam na sala. O “farol” Sebastião Feyo de Azevedo, candidato à presidência da assembleia municipal e coordenador do plano autárquico; Miguel Corte-Real, vice presidente do PSD Porto e “amigo de longa data”; Tiago Mota e Costa, diretor de campanha e apelidado de “vice almirante” do grupo, sendo o responsável pelos horários e “pelas coisas não descarrilarem”; e Sara Balonas, a especialista em comunicação e imagem que inicialmente ajudava Vladimiro a escolher as gravatas.

(Rui Oliveira/Observador)

Esta terça-feira, Vladimiro Feliz concentra-se sobretudo em dois trunfos deixados por Moreira: o “plágio das medidas” e a “obsessão por António Costa”. “Quando o Dr. Rui Moreira anuncia que o seu número dois seria uma boa sucessão para, tal como Fernando Medina foi para António Costa, prova que a obsessão por António Costa é grande nas práticas, nas formas de estar e no passa as culpas. Ele muitas vezes desculpa-se no centralismo e nos partidos, mas rapidamente apanhou o pior dos vícios dos partidos. Ainda não foi a eleições e já está a meio da ponte”, justifica.

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Por outro lado, o candidato social democrata acusou esta terça-feira o independente de plagiar algumas das suas medidas já anunciadas em outdoors espalhados pela cidade. “O plágio é curioso, teve 8 anos para implementar medidas, mas 30 das principais apenas 53% foram cumpridas. Isto não é um concurso de ideias, é um caminho e um projeto de futuro para a cidade que temos de construir com compromisso e capacidade de execução. Nós já provámos essa capacidade, tivemos 12 anos na câmara e entregámos uma cidade diferente”, afirma Vladimiro Feliz, recordando que está a lutar contra “dois incumbentes”: o governo e o poder autárquico.

Uma sofá, vários apontamentos e uma mudança de estratégia

Sentado no sofá da sala, rodeado pelos conselheiros da noite, o candidato anuncia que mudou a estratégia no que toca aos apontamentos, que faz questão de levar em formato papel dentro de uma pasta de cartão. “Costumo levar sempre notas manuscritas por mim, tenho de ser eu a escrever para estrutura a linha de raciocínio, por mais que oiça as pessoas, tenho de ser eu a fazer os meus conteúdos. Hoje digitalizei-os para me dar outro tipo de objetividade, assim não perco tempo e memorizo-os de outra forma. Vamos ver se resulta.” Apesar de ser fã de tecnologias, Vladimiro Feliz prefere não levar as suas notas no iPad. “Posso distrair-me, pode bloquear e não quero mesmo correr riscos.”

A primeira página dos apontamentos tem o resumo da sua mensagem em tópicos, nas páginas seguintes os temas que são prioridade na cidade, da segurança à habitação, depois as medidas que os distinguem de Rui Moreira e o incumprimento de algumas das promessas do independente, segue-se uma página inteira dedicada à abordagem da autarquia durante a pandemia e algumas frases chave escritas em itálico e em negrito como: “Rui Moreira é passado, nós somos o futuro”.

O espaço onde conversam está repleto de quadros minimalistas, livros sobre motas e automóveis, mas também sobre John Kennedy, David Bowie, Rolling Stones ou Ljubomir Stanisic. Por cima da televisão, sintonizada num canal desportivo e ignorada por todos, estão prateleiras com retratos de família, há moveis com garrafas de vinho do Porto personalizadas e uma instalação luminosa, feita pelo próprio candidato, com uma fotografia emblemática da chegada do homem à lua.

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É altura de mostrar à equipa os novos prints de notícias e citações que esta noite irá levar na pasta para “mostrar no debate se surgir oportunidade”. Da taxa do IMI aos títulos de melhor destino europeu, o protagonista é sempre Rui Moreira e até há uma fotografia que merece especial destaque. “Esta imagem é importante porque está mesmo no meio da ponte [Luís I], como um tolo que ainda não sabe para onde ir”, atira Vladimiro Feliz, arrancando algumas gargalhadas no grupo.

Testam-se soundbites, recordam-se alguns feitos do partido na região e fala-se do ego de Rui Moreira. Perante a possibilidade do atual autarca não cumprir o seu mandato até ao fim, devido ao julgamento do Caso Selminho, há quem sugira uma frase chavão: “Eu vou ficar no debate até ao fim, você vai ser substituído?” Todos se riem, mas Vladimiro responde: “É boa, mas tem de me dar esse clique, tenho de ter um contexto”.  “Não é preciso contexto, pode se ser logo na primeira pergunta”, argumentam.

O candidato garante não sentir nervosismo antes deste tipo de encontros, apenas acusa “alguma tensão”, ainda que os debates no Porto tenham sido mornos, longe dos diálogos acesos na capital “Penso que em Lisboa há um confronto de baixo nível que não esclarece ninguém. O Porto tem tido uma grande elevação nos debates, todos os candidatos têm tido uma boa postura. Há confronto, mas é um confronto político e nunca pessoal”, sublinha.

Dias de debates são “dias diferentes” e por isso Vladimiro gosta de ter um dia mais tranquilo, sem compromissos na agenda. “Peço para estar mais recatado e concentrado. Gosto de estar em família e de estar sozinho, de rever as minhas notas, de reorganizar documentação e depois, sim, ir a jogo.”

Depois de cada debate há lições a tirar e no fim a equipa de conselheiros reúne-se para um balanço. Um dos calcanhares de Aquiles de Feliz parece já ser conhecido por todos. “Sou muito apertado por toda a minha equipa porque interrompo pouco. Respeito muito o espaço dos outros, parto do princípio que quem controla os tempos o faz de forma equilibrada e tendo a não interromper, mas percebo que muitas vezes sou prejudicado por isso. Tenho tentando corrigir isso sem perder aquilo que sou.”

Vladimiro rejeita ter “ódios de estimação” e garante ter uma boa relação com todos os seus adversários. “No fim do debate conversamos, mas há quem saia depressa e chateado. Sinto que o Dr. Rui Moreira vem muito falar comigo quando chega, talvez se sinta mais confortável comigo. Eu falo bem com todos.

O ovo cozido, o medo de chegar atrasado e a máscara emprestada

No fim da pequena reunião, todos se levantam e atacam uma mesa recheada de tábuas de queijos, enchidos, biscoitos e uma taça com ovos cozidos. Vladimiro Feliz é fã de salgados, mas come um ovo cozido, conhecida fonte de proteína, rejeita o vinho branco e fica-se pela água natural. Durante o jantar improvisado, recorda o último debate onde ficou “preso no trânsito” e tiveram que o ir buscar de mota a meio do caminho para chegar a tempo ao local. “Hoje temos o mesmo plano B, mas gosto mais de andar de carro do que de mota. Não me sinto seguro e se não for eu a conduzir faz-me confusão. Tudo o que não for eu a controlar tenho muito mais receio de fazer, confesso.

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Avisam-no que tem de sair de casa em dez minutos. O candidato sobe as escadas até ao quarto para ir buscar uma gravata, usa a janela da sala como espelho e pede que a mulher, Margarida, lhe tire um café, mas também que ligue para o seu telemóvel para saber onde ele está. Bebe-o rapidamente e procura por uma máscara descartável. “Até logo e não comam tudo”, é com esta frase que o candidato se despede da mulher e da sobrinha que ficam em casa. “O meu filho está a jogar futebol, só termina o treino às 21h. Eu já pratiquei muito desporto, de futebol ao râguebi, mas agora não faço nada e até precisava. Agora pratico mais o arroz de cabidela ou o cabritinho assado”, diz, a sorrir.

A viagem de carro faz-se em poucos minutos até ao Palácio da Bolsa, local do debate, Vladimiro até chega mais cedo do que era previsto. “Vou só ali cumprimentar umas pessoas da campanha”, diz, atravessando a rua até ao Mercado Ferreira Borges. No meio dos vários cumprimentos, chega Diogo Araújo Dantas, candidato do PPM que também marcará presença no debate, e pergunta à comitiva do PSD se lhe emprestam uma máscara porque se esqueceu.

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“Temos de subir para a caracterização”, alerta um elemento da equipa. Vladimiro Feliz responde dizendo que não precisa de muita, porque não tem cabelo. “Quem costuma demorar mais na caracterização são as mulheres e é normal que assim seja.” O candidato do PSD não desgosta da azáfama natural dos diretos televisivos, mas tem criticado bastante o facto de Rui Moreira ter um comentário televisivo semanal. Caso seja eleito presidente da câmara municipal do Porto e o convidem para tal, garante que rejeitará o convite. “Só se não tivesse mais do que fazer”, diz.

Ao subir as escadas do Palácio da Bolsa, Vladimiro Feliz ouve vários aplausos do pequeno grupo de apoiantes, acena-lhes com uma mão, pois na outra segura a pasta de cartão com o guião para o debate.

 
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