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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pacheco Amorim: "Cotrim pode retirar-nos mais votos do que Bugalho"

O vice-presidente da AR diz que Chega devia abrir um procedimento criminal a Marcelo, mas que é Ventura quem decide. Pacheco Amorim garante que direita vai descer a Avenida no 25 de Novembro.

O vice-presidente da AR e deputado do Chega, Diogo Pacheco Amorim, considera que as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa a defender reparações às ex-colónias são “graves o suficiente” para que seja alvo de um procedimento criminal. Em entrevista ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, Pacheco Amorim diz que a escolha de Sebastião Bugalho pela AD foi “errada” e diz até que, entre ele e o candidato da IL, João Cotrim Figueiredo tem mais hipóteses de retirar votos ao Chega.

O dirigente do Chega diz que a “Avenida da Liberdade foi tomada pela esquerda”, mas promete que a “direita descerá a Avenida no dia 25 de Novembro”. Diz que prefere António Costa a Pedro Sánchez para a presidência do Conselho Europeu.

“Sou mais do 16 de março do que do 25 de Abril”

Esteve há pouco tempo na apresentação do livro “Abril às Direitas” e celebrámos recentemente 50 anos do 25 de Abril. Comemora o 25 de Abril?
Comemora o 25 de Abril como deveria comemorar o 25 de Novembro. Entendo que são duas datas que não se podem separar uma da outra. O 25 de Abril acabou com um regime autoritário, só que correu o risco de nos passar diretamente para um regime totalitário, o que é bem pior. Portanto, não consigo separar as duas datas, há muitos anos que se tenta esquecer o 25 de Novembro e isso reflete bastante o poder que nos últimos anos a esquerda e a extrema-esquerda têm tido.

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Mas consegue hierarquizá-los, dizer se o 25 de Abril é mais importante do que o 25 de Novembro?
Hierarquizá-los é complicado, porque não conseguimos ter um sem o outro. Ou seja, o 25 de Abril foi um primeiro passo e sem o 25 de Abril provavelmente tudo seguiria na mesma ou não sabemos como é que as coisas se teriam desenvolvido. A verdade é que, também sem o 25 de Novembro, nós tínhamos caído, inevitavelmente, num regime totalitário de esquerda. Eu talvez ache mais importante o 25 de Novembro porque eu vivi aquele período conturbado entre o 25 de Abril e o 25 de Novembro, não gostaria de eu viver outra vez, nem gostaria que os portugueses o vivessem. Assim sendo, o 25 de Novembro é pôr um ponto final a uma tentativa totalitária da esquerda e da extrema-esquerda de se apossar do Estado e da máquina do Estado. Portanto, se me pergunta, talvez o 25 de Novembro…

Vai dizer que é mais do 28 de setembro, é isso?
Também, se quer que lhe diga, do 16 de março porque de facto, é a Intentona das Caldas é uma iniciativa dos oficiais do MFA spinolistas para se adiantarem à área comunista dentro do MFA que estava a ganhar força. Infelizmente falhou porque esse tinha sido simultaneamente um 25 de Abril e o 25 de Novembro. O 16 de Março teria sido simultaneamente uma data e outra.

Por que é que o Chega não desce a Avenida da Liberdade no dia 25 de Abril?
A Avenida da Liberdade foi tomada pela esquerda e é simbolicamente da esquerda. E tem sido sempre, tirando a Iniciativa Liberal, que também tem as suas facetas de esquerda, faz parte dos símbolos… Grande parte dos símbolos do 25 de Abril foi apropriado pela esquerda.

A Avenida da Liberdade foi tomada pela esquerda e é simbolicamente da esquerda (...) Grande parte dos símbolos do 25 de Abril foi apropriado pela esquerda.

Mas não é um erro da direita deixar que isso aconteça ao optar, por exemplo, por não descer a Avenida da Liberdade?
A verdade é que a direita muito mais rapidamente, descerá a Avenida da Liberdade no dia 25 de Novembro do que no dia 25 de Abril. Isto é um facto.”

“Declarações de Marcelo são suficientemente graves para processo-crime”

O Presidente da República defendeu recentemente a reparação das ex-colónias. Isto foi uma traição à pátria, como disse André Ventura?
Estou de acordo com o que disse André Ventura, é uma traição e a razão é simples: as nações têm interesses permanentes e é ao Estado que compete salvaguardar esses interesses permanentes. O Presidente da República é a figura primeira do Estado e o Presidente de todos os portugueses e é a quem compete salvaguardar e tutelar a salvaguarda dos interesses permanentes. Quando vem dizer que é preciso dar isto e dar aquilo, nós somos rigorosamente contra. A história é a história. Nós não podemos estar a medir a história do século XVI, de há 500 anos, com a representação e com o mundividência que existe hoje.

Acha que o Presidente da República é woke ou segue o wokismo?
Não é woke. Basicamente, vai seguindo os ventos e as brisas que vão soprando. E se sopra de um lado, segue isso, se sopra do outro… Todos nós conhecemos o nosso Presidente da República.

Mas no entender do Chega, as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre este tema são suficientemente graves para se avançar com um processo criminal contra o Presidente da República?
São suficientemente graves.

Mas o Chega pretende vai fazê-lo?
Imagino que não vá ser feito, mas que nós achamos que poderia ser feito, poderia. É suficientemente grave para isso.

Então por que é que não o fazem?
A André Ventura que caberá tomar a decisão.

“Sebastião Bugalho foi uma escolha errada”

Sebastião Bugalho, a aposta da Aliança Democrática às eleições europeias, é um bom candidato?
Tenho o máximo apreço pessoal por ele, é um ótimo comentador, corajoso, só que claramente não será a pessoa mais adequada e eu, se estivesse na AD, se liderasse a AD, nunca faria essa escolha.

E como dirigente do Chega, a escolha de Sebastião Bugalho foi uma má notícia para o partido?
Não foi uma má notícia para o partido. Achamos que, independentemente das qualidades pessoais e políticas de Sebastião Bugalho, há qualquer coisa que não bate certo entre o que é a AD estruturalmente, a história da AD e a figura de Sebastião Bugalho. Eu sei que pretenderam fazer um apelo à juventude e particularmente à juventude que tem votado no Chega e acho que isso não vai funcionar. Não acredito que um jovem de 18, 19, 20 ou 25 anos se reveja no Sebastião Bugalho.

Foi uma escolha errada para captar o eleitorado jovem que o Chega conseguiu nas últimas eleições legislativas?
Foi uma escolha errada, a intuição diz-me que foi uma escolha errada. O Parlamento Europeu cada vez é mais importante, cada vez mais as diretivas europeias se sobrepõem e invadem o Parlamento nacional. Ou seja, hoje em dia, um voto nas legislativas caminha para ter menos valor que um voto nas europeias. Ao contrário do que tradicionalmente se diz do Chega [que não tem quadros], os quatro primeiros candidatos têm um currículo e têm um historial, quer do ponto de vista académico, quer do ponto de vista da sua própria vida, adequado para a próxima legislatura do Parlamento Europeu, que vai ser crucial [para se perceber] e o pendor federalista avança ou recua. Os partidos devem ter todo o cuidado em escolher pessoas que sejam capazes de acompanhar a atualidade internacional.

O André Ventura disse que parecia que o Tânger Corrêa era o único adulto na sala. Isso significa que o Sebastião Bugalho é uma garoto, é isso?
Julgo que quererá dizer que a experiência do embaixador Tânger Corrêa, que esteve em postos complicadíssimos, onde teve negociações muito difíceis. Portanto, tem uma experiência de terreno, que lhe dá, de facto, o estatuto de adulto. Essa experiência, com todas as qualidades que o Sebastião Bugalho possa ter, ele não a tem, não é mundividência dele.

Nessa lógica de alguém com experiência, para o Chega o cabeça de lista da IL, João Cotrim Figueiredo, é uma ameaça maior do que Sebastião Bugalho?
Não considerando uma ameaça, entre um e outro, com a experiência que ele tem da vida ativa, com a postura que tem, julgo que poderá conquistar mais votos do que Sebastião Bugalho.

Também é um adulto, é isso?
Também é um adulto.

Mas quando diz conquistar mais votos quer dizer que pode conseguir conquistar mais votos também ao Chega, ir buscar o vosso eleitorado?
Não vem. Aliás, está aprovado e comprovado, pelo evoluir das legislativas, que o João Cotrim Figueiredo não nos tirou [votos] e depois, mesmo mantendo-se no Parlamento, não conseguiu dar à IL aquele boost de que precisaria. Aliás, comparando, nestas últimas legislativas, a IL mantém o mesmo número de deputados e nós quadruplicamos. Não consideramos que nos possa fazer mossa do ponto de vista eleitoral. A comparação era com o Sebastião Bugalho e, entre um e outro, teoricamente, poderá o João Cotrim Figueiredo retirar-nos mais votos do que o Sebastião Bugalho poderá fazer.

“Prefiro Costa a Sánchez, mas prefiro Abascal a Costa. Sou nacionalista, não sou cego”

O Chega deve apoiar uma candidatura de António Costa à presidência do Conselho Europeu?
Por um lado, como português, eu só poderia… mas eu não vejo só como português esta questão, vejo também como político, e com o jogo político no Parlamento Europeu. Se me pergunta se prefiro o António Costa ao Pedro Sánchez, prefiro. Quer politicamente, quer pessoalmente. Não sabemos ainda quem poderá mais estar na corrida, portanto não lhe posso adiantar, porque podem estar na corrida mais quatro ou cinco Pedro Sánchez…

A questão é se, por ser um português, isso é um argumento suficiente para o Chega. Entre Santiago Abascal e António Costa, por exemplo.
Entre Abascal e Costa, Abascal.

Era um espanhol em vez de um português. Isso não é muito nacionalista.
O meu nacionalismo não é cego, eu não sou nacionalista cego. Do ponto de vista ideológico e com os combates ideológicos que se vão travar no Parlamento Europeu e nos corredores de Bruxelas, eu preferiria um correligionário meu, ainda que espanhol, a António Costa. Não tendo nada contra António Costa.

Mas o Chega não apoiará uma eventual candidatura, ficará contra se isto acontecer?
Há muito percurso pela frente, há posições das famílias políticas, não decidimos sozinhos. Estamos integrados numa família política europeia, ainda não sabemos quais os resultados, aí é que poderemos tomar uma decisão, não o poderemos fazer agora praticamente sem dados nenhuns.

“Claro que não vamos governar com o PS a partir da Assembleia da República”

Luís Montenegro tem acusado o Chega e o PS de se juntarem e estarem quase a criar uma governação alternativa a partir do Parlamento. Foi assim no IRS, nas portagens que houve aqui uma nova coligação PS-Chega, vão governar com o PS a partir da Assembleia da República?
Claro que não vamos governar com o PS a partir da Assembleia da República. O Governo está-se a vitimizar e está no seu papel político, que é vitimizar-se, é chorar, é choramingar, é lamentar-se, mas o nosso papel não é levar o lenço para o Governo limpar as lágrimas, o nosso papel é: concorremos a estas legislativas com o programa, dissemos desde o princípio que considerávamos um erro crasso as linhas vermelhas e o não é não. Era fundamental e o eleitorado demonstrou uma sólida maioria direita para nos próximos quatro e provavelmente oito anos conseguir fazer as reformas estruturais de que o país precisa. Há vinte anos que ouço falar na necessidade de reformas estruturais e continua a não haver reformas estruturais. Isto era uma oportunidade de ouro para o PSD, para o CDS, para nós, que tanto falámos em reformas estruturais, levá-las a cabo.

Disse aqui na Vichyssoise, em junho de 2022, que com Luís Montenegro, o PSD e o Chega podiam estar mais perto de criar uma aliança. Já acredita que a linha vermelha que Luís Montenegro estabeleceu relativamente ao Chega é mesmo para manter ou ainda está crente?
Não, não estou. A altura politicamente ideal para Luís Montenegro ter afastado essa linha vermelha foi na noite das eleições. Olhava e dizia-me que linhas vermelhas punham-se a um partido que tinha 12 deputados. Julgo que o PSD contava que nós tivéssemos entre 10% e 12%, e então as linhas vermelhas fariam-se sem sentido. Agora, com 50 deputados, no lugar do Luís Montenegro dizia-me que não era possível, era evidente que não era possível e tudo o que se passou até agora tem demonstrado que foi uma aposta erradíssima de Luís Montenegro. Julgo que ele não entendeu que não estamos no Portugal de 1985, as coisas na Europa mudaram, no mundo mudaram, em Portugal mudaram, as perspetivas são diferentes, as pessoas cresceram, outros morreram, outros vão votar, é completamente diferente. O voto útil funcionou enquanto não havia um partido estruturado à direita do PSD. Aliás, provavelmente todos nós sabemos o que se dizia do PSD: que os militantes estavam à direita dos dirigentes e os eleitores à direita dos militantes. Portanto, havia uma massa de militantes que, e daí chamar-se voto útil, que votava útil por não ter uma alternativa. Era o normal. A partir do momento em que aparece um partido estruturado à direita, é óbvio que o voto útil poderia reduzir em 10% em relação a eleições anteriores. Agora, o voto útil ia acabar como acabou e está provado que acabou. Mas mais: parece-me que Luís Montenegro está a contar ou está a apostar em rapidamente ir para eleiçõe considerando que consegue dizer que o Chega está a dinamitar o Governo e que, portanto, os eleitores do Chega, os 18% de eleitores, grande parte vai regressar ao PSD e lhe vai dar uma maioria absoluta. Isto é um sonho perfeitamente irrealizável. Não percebo como é que alguém que tem a experiência política de Luís Montenegro não consegue perceber isto.

Mas acha que o Chega vai crescer mais se houver eleições?
Estou convencido que cresce.

Não dependerá muito dessa conjuntura e da ideia que o eleitorado possa ter se o Chega está ou não a bloquear a governação, se mandou ou não abaixo um Orçamento que, por exemplo, podia ter mais apoio para os polícias e para os médicos. Não teme que a leitura nesse momento seja essa, lembra-se bem do tempo do PRD e do que aconteceu.
Para mim, um dos erros crassos que se tem cometido é equiparar o Chega ao PRD. Completamente diferente. O PRD estava dependente de uma pessoa específica que era…

Não acha que André Ventura tem o mesmo ascendente sobre o partido que tinha o Ramalho Eanes?
É diferente, havia o general Ramalho Eanes e depois não havia nada, depois havia uma massa de eleitores.

Hermínio Martinho.
Quer dizer, era um alter ego do general Ramalho Eanes. No Chega, por muito que se diga, há toda uma estrutura entre a liderança e há também uma estrutura… Do ponto de vista ideológico, o que é que o PRD era? Não era nada. Aqui também pode dizer, André Ventura promete tudo o seu contrário, o que também não é verdade, mas pronto. Agora, de facto, tem uma posição clara que toda a gente reconhece e, portanto, tem uma estrutura ideológica, se quiser, e mesmo funcional, que o PRD nunca teve.

Se Pedro Passos Coelho for candidato presidencial, mais dificilmente o Chega terá uma candidatura própria, sim ou não?
Sim, claramente.

Carne ou Peixe. “Preferia fazer renascer Rodrigues dos Santos a Rio”

Vamos  agora passar ao Carne ou Peixe. Vai fazer uma visita guiada à Universidade de Coimbra e pode levar apenas uma pessoa. Sebastião Bugalho ou João Cotrim Figueiredo?Levava qualquer um deles. Tinha todo gosto.

Em 2026 tem de ir a Belém para uma audiência. Que socialista preferia encontrar no lugar de Presidente da República? Tem de ser um socialista. Não há aqui outra opção. Augusto Santos Silva ou António Costa?
António Costa.

Estamos perante uma nova campanha eleitoral e um novo candidato do PSD. Prefere que este candidato seja Passos Coelho ou Carlos Moedas?
Passos Coelho.

Tem capacidade de fazer renascer politicamente uma destas pessoas e trazê-la para o Chega. Escolheria Francisco Rodrigues dos Santos ou Rui Rio?
Francisco Rodrigues dos Santos.

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