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“Uma ficção política”, “um projeto do seu patrão político, que é o PCP”, um partido que “perdeu a sua validade” e que desistiu “de ser partido”. O porta-voz do PAN, André Silva, não poupou nas acusações ao partido ecologista Os Verdes, um dia depois de o deputado da CDU José Luís Ferreira ter classificado, na primeira parte de um comício em Setúbal, o PAN como um partido populista, fundamentalista e proibicionista, e de ter argumentado que Os Verdes já ocupam a agenda ambientalista desde o século passado.
Durante uma visita ao canil da Associação dos Amigos dos Animais de Almada — num regresso às bases do partido e à defesa dos direitos dos animais —, o porta-voz do PAN reagiu às declarações do deputado da CDU considerando que representam “o ataque de quem não tem argumentos políticos para fazer o combate político e que se agarram a clichés”.
“No fundo, Os Verdes são uma ficção política, são um projeto do seu patrão político, que é o PCP. Poderiam ter sido um projeto muito interessante, poderiam ter ocupado um campo político, mas desistiram. Trata-se de um partido que, por exemplo, não votou a favor da lei que implementa a tara recuperável de garrafas de plástico. Trata-se de um partido que está coligado com o PCP, que foi o único partido em Portugal que não ratificou o acordo de Paris; de um partido que apoia um regime chinês, um regime tenebroso, de partido único, onde não há liberdade de imprensa, onde não há liberdade religiosa, onde as pessoas são perseguidas, presas e assassinadas”, enumerou André Silva
CDU “sem PANpulismos” no comício em Setúbal que deu protagonismo aos Verdes
O porta-voz do PAN não deixou de reconhecer que o partido Os Verdes “podia ter sido um projeto ecologista muito interessante e muito importante”, mas que “perdeu a sua validade e a sua oportunidade”. “A história dos Verdes fala por si. A história e as ações do PAN e o trabalho que temos a vindo a fazer falam por nós”, rematou.
No canil, PAN garante que nunca abandonou bandeira dos animais
Após duas semanas em que o tema dos animais, em tempos a principal bandeira do partido, esteve relativamente apagado, o PAN entrou na reta final da campanha com uma visita ao canil da Associação dos Amigos dos Animais de Almada. Ali estão, neste momento, cerca de 250 cães que o canil municipal, apenas com 40 vagas, não tem capacidade para receber. Instalado num terreno cedido por um particular, onde a associação não pode construir nenhuma instalação fixa, o canil funciona à base de construções precárias mantidas por voluntários, como explicou a André Silva a presidente da associação, Maria Helena Mascarenhas.
Da câmara, a associação diz receber poucos apoios. Em tempos tiveram acesso a esterilizações gratuitas para os animais, hoje pagam até 100 euros por cada operação. E se muitos cães chegam ao canil através da própria autarquia, outros são abandonados nas próprias instalações do canil — ou atirados por cima das vedações ou amarrados ao portão.
Depois de uma visita ao canil, André Silva assegurou aos jornalistas que a passagem por aquele local não representa um regresso à bandeira dos animais, sob a qual o partido foi fundado, antes de alargar essencialmente às questões das alterações climáticas e do ambiente. “Viemos a um canil na campanha, mas não voltámos a uma bandeira que sempre foi nossa, que nunca abandonámos e nunca iremos abandonar”, afirmou o porta-voz do PAN.
“Aliás, o PAN é o único partido que tem no seu programa a proteção e a defesa dos animais. Isto, para nós, é um aspeto fundamental e faz parte da defesa do nosso partido. É importante vermos estas situações, e isto é o paradigma do nosso país. Associações que se substituem ao Estado durante décadas, que não têm apoios das câmaras municipais, e que desenvolvem o seu trabalho. É importante passar a mensagem de que temos que apoiar estas associações, temos de sensibilizar os presidentes de câmara, aqueles que ainda não estão sensibilizados, para cumprir a lei. Há presidentes de câmara que ainda não cumprem a lei. E dizer-lhes que, muitas vezes, não precisam de ter um centro de recolha oficial, não precisam de fazer investimentos avultados em recursos humanos ou mesmo em infraestruturas. Basta, como tantos e tantos presidentes de câmara já o sabem fazer, protocolos com estas entidades”, considerou André Silva.
Questionado sobre os motivos pelos quais o PAN não se debruça sobre outros assuntos além do ambiente, André Silva recusou a ideia de apenas falar das alterações climáticas e dos animais. “Penso que fomos o partido que mais falou sobre propostas para combater a corrupção, somos o único partido que têm uma proposta concreta, quantificada, para reforçar a cultura, aumentar o IVA do setor hoteleiro de 6% para 13%, com uma receita adicional de 235 milhões de euros que pode reforçar este setor, propostas concretas para inclusão e defesa das pessoas em determinadas áreas, fizemos várias propostas”, destacou.
André Silva acrescentou ainda que o partido tem propostas direcionadas à proteção dos direitos das mulheres, como “uma licença para mulheres que são vítimas de violação ou de abuso sexual ou de violência doméstica, uma licença de dez dias que permite que as pessoas recuperem, reorientem a sua vida e encontrem novas estratégias para o fazer” e ainda a “redução do horário de trabalho, possibilidade de as mulheres poderem ficar em casa a partir da 32.ª semana para poderem preparar o seu parto”.
“Dê-me uma canetinha”. “Não temos brindes”, diz André Silva
Antes da visita ao canil no concelho de Almada, André Silva passou pelo concelho do Seixal, com ações de rua na estação de comboios do Fogueteiro e no mercado da Cruz de Pau. Se a passagem pela estação de comboios aconteceu sem grande história — porque o porta-voz do PAN se cruzou essencialmente com quem corria apressado para o comboio em hora de ponta —, a visita ao mercado foi bem diferente. André Silva foi recebido e reconhecido por todos os feirantes, parou nas bancas (excepto as da carne e do peixe, embora o partido recuse qualquer leitura política da escolha do percurso) à conversa com os feirantes e levou alguns votos para casa.
“Gosto de você porque não diz mal de ninguém”, ouviu André Silva da boca de um homem que o recebeu logo à entrada do mercado. O candidato agradeceu, mas lembrou que “às vezes também temos de apontar os erros dos outros”. Mais à frente, noutra banca, Orlanda Fonseca esperava-o atrás dos brinquedos que ali vende. “Isto é um iôiô”, disse a André Silva, perante o espanto do candidato. “Os iôiôs no meu tempo eram diferentes!”, comentou André Silva. “Mas isto é o século XXI. Olhe, dê-me também uma canetinha”, pediu a mulher, ao aceitar o panfleto em papel reciclado que o candidato do PAN lhe oferecia. “Não temos brindes”, lamentou André Silva — a campanha do PAN não oferece nenhum tipo de merchandising, por uma questão de impacto ambiental.
André Silva, porta-voz do PAN, esta manhã no mercado de Cruz de Pau, Seixal. Na reta final da campanha eleitoral, o partido concentra os esforços na área metropolitana de Lisboa #legislativas2019 pic.twitter.com/llLkawzCev
— Observador (Eleições) (@OBSEleicoes) October 3, 2019
O momento da manhã seria, porém, também o momento mais literal. A iniciativa do PAN nas ruas tem um nome: “Pergunta-me o que quiseres”. Um dos feirantes levou à letra e aproximou-se de André Silva para um quizz. “Posso fazer-lhe uma pergunta?” “Pode”, assentiu André Silva. “Qual é a fronteira das duas Coreias?” “Qual é o nome do rio que fica no norte de Moçambique?” “Como se chama agora o aeroporto internacional do Rio de Janeiro?” “Qual é o nome da capital do Sri Lanka?” “Qual é o nome do rio que fica a norte de Goa?” André Silva falhou praticamente todas, mas não fugiu ao desafio. No fim, lamentou não ter jeito para ir ao “Quem Quer Ser Milionário”. Mas conseguiu deixar um panfleto e um apelo ao voto antes de seguir.