A bordo do avião papal entre Lisboa e Roma
O Papa Francisco considera que a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de Lisboa foi a “mais bem preparada” que já viu e reforçou a mensagem de que a Igreja tem de “saber acompanhar” os jovens, que “são o futuro” da humanidade.
Numa conferência de imprensa com os jornalistas que acompanharam a viagem de cinco dias de Francisco a Portugal, a bordo do avião da TAP que o levou de regresso a Roma, o Papa classificou como “belíssima” a JMJ de Lisboa, que terminou este domingo com a missa de envio celebrada no Parque Tejo-Trancão para cerca de 1,5 milhões de jovens.
Lembrando que esta foi a quarta JMJ em que participou (depois de Rio de Janeiro, Cracóvia e Panamá), o Papa Francisco mostrou-se especialmente impressionado pela noite de sábado, marcada pela vigília com os jovens. Foi “impressionante” a quantidade de jovens presentes, destacou Francisco.
“Diz-se: ‘Os jovens nem sempre fazem a vida segundo a moral.’ Quem nunca cometeu uma falha moral na vida? Todos! A vida é assim. Mas o Senhor espera-nos sempre”, salientou o Papa Francisco.
Abusos sexuais: Papa diz que Igreja em Portugal está no bom caminho
O Papa Francisco foi também questionado sobre a situação dos abusos sexuais de menores no contexto da Igreja em Portugal — nomeadamente sobre se acompanhou o trabalho da comissão independente, se conhece as conclusões do seu relatório e o que considera que deve acontecer aos bispos que, conhecendo casos de abusos, não os denunciaram às autoridades.
Francisco começou por recordar que recebeu, “de forma muito reservada”, um grupo de vítimas de abuso sexual — a que chamou uma “tremenda peste”. Classificando como “experiência muito dolorosa” ouvir os testemunhos das vítimas, o Papa Francisco destacou que isso o ajuda a ganhar uma noção melhor “deste drama”.
Sobre a situação concreta em Portugal, o Papa Francisco garantiu que foi sempre posto ao corrente do andamento do processo e garantiu que o processo “vai bem e com serenidade” — e que a Igreja em Portugal está à procura de tratar o assunto com “seriedade”. Isso, diz o Papa, dá-lhe “uma certa tranquilidade”. Mas o Papa também considerou que, nas notícias, a real dimensão dos abusos poderá ter sido empolada.
“Os pastores que, de alguma forma, não assumiram essa responsabilidade têm de assumir essa irresponsabilidade”, afirmou o Papa, embora sem elaborar de modo mais concreto sobre a pergunta que lhe foi feita.
De modo mais amplo, o Papa Francisco recordou que, antigamente, “na Igreja seguia-se mais ou menos a conduta que se segue atualmente nos bairros, nas família: encobre-se”. O pontífice lembrou também que uma percentagem muito significativa dos abusos acontece nesses contextos.
A partir do escândalo de Boston, em 2002, a Igreja tomou consciência de que tinha de enfrentar o problema, assinalou Francisco, antes de pedir a todos os jornalistas que o ajudassem a que “todos os tipos de abusos sejam resolvidos”. O Papa mencionou, por exemplo, o abuso do trabalho infantil, o abuso contra as mulheres e o abuso laboral.
Papa improvisou para chegar melhor aos jovens, que “não têm muito tempo de atenção”
O Papa Francisco foi também questionado sobre o facto de, durante a JMJ de Lisboa, ter largado os discursos escritos em praticamente todas as suas intervenções, preferindo improvisar. “Com os jovens, nos discursos longos, mantive o essencial da mensagem”, apontou Francisco, sublinhando que falou sempre “conforme sentia a multidão”.
“Os jovens não têm muito tempo de atenção”, afirmou Francisco, acrescentando que com “uma ideia” ou “uma imagem” é possível cativar mais eficazmente a atenção dos jovens.
A propósito dos seus muitos improvisos em Lisboa, que deixaram jornalistas e tradutores desorientados durante as intervenções, Francisco lembrou a Evangelii Gaudium, a sua primeira exortação apostólica, na qual dedica um longo capítulo ao tema da homilia, que por vezes é para os fiéis “uma tortura”.
Francisco defende uma “conversão” da Igreja no que toca às homilias, que devem ser “breves, claras, com uma mensagens boa e afetuosa”.
O Papa também garantiu que, em Fátima, rezou pela paz na Ucrânia. “Não fiz publicidade, mas rezei”, disse Francisco, em resposta a uma pergunta sobre porque é que os planos para a sua intervenção tinham sido muito encurtados: não só o discurso foi reduzido como uma oração que seria pela paz não foi lida.
“Temos de fazer sempre esta oração pela paz”, disse Francisco. “Ela [Nossa Senhora de Fátima] pediu isto na I Guerra, pediu isto e eu, desta vez, rezei.”