910kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

Orlando Almeida / Global Imagens

Orlando Almeida / Global Imagens

Pedro Duarte: PSD com Chega ou deixar Costa governar? "PS, sem dúvida alguma"

Na Vichyssoise, programa da Rádio Observador, Pedro Duarte recusa qualquer aliança com o Chega e defende que o PSD devia deixar o PS governar se tivesse que depender de Ventura para ser poder.

Pedro Duarte, antigo secretário de Estado, ex-líder da JSD, diretor de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa nas últimas presidenciais e eterno ex-futuro candidato à liderança do PSD, não tem dúvidas: mesmo o que o PSD tenha possibilidade de liderar uma maioria de direita com o Chega não o deve fazer; é preferível deixar os socialistas formarem Governo.

Em entrevista ao Observador, no programa “Vichyssoise”, o social-democrata rejeita qualquer pretensão à liderança do PSD e defende que este não é o momento de pedir a cabeça de Rui Rio. “ei que isto não é muito natural porque entramos, infelizmente, na vida política há uma fulanização excessiva. De repente, só conseguimos discutir perfis pessoais”, lamenta.

Sobre Marcelo Rebelo de Sousa, Pedro Duarte não esconde a admiração pelo atual Presidente da República e espera que o chefe de Estado venha a reinventar-se num segundo mandato. “Tem capacidade pessoal, tem uma legitimidade enorme (e as urnas, espero, vão comprovar isso), e tem uma relação de cumplicidade com o povo português que lhe permite ser a tal fonte inspiracional que nos guie para desígnios”, diz.

Bolos, Marcelo Superstar e turbulência no Governo

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ficou desiludido por não ter recebido novamente o convite para ser diretor de campanha de Marcelo Rebelo de Sousa?
Não, manifestamente não. Fui feliz nessa função há cinco anos, não fazia muito sentido estar a repeti-la sob pena de poder quebrar essas boas memórias que tenho.

Poderia ficar desiludido?
Não necessariamente. Mas acho que cinco anos é muito tempo. Nós evoluímos, nós mudamos. Terei ganhado algumas qualidades e outros tantos defeitos. Nesta fase, talvez não fosse a pessoa com o perfil certo e indicado para exercer uma função dessa natureza. Para além de me parecer que Marcelo Rebelo de Sousa tomou uma opção legítima e válida de ter um estrutura minimalista para a sua campanha, que como sabemos vai decorrer em circunstâncias difíceis.

Mas consegue apontar algum erro ao Presidente da República ou é um fã indefetível e só vê qualidades?
Sou fã indefetível, mas isso evidentemente não me tira o sentido crítico. Apesar de tudo, tenho noção de que não há pessoas perfeitas, não há líderes perfeitos, nem políticos perfeitos. Acho que o mandato foi quase irrepreensível.

Consegue dar um exemplo de um momento que não tenha sido positivo?
Marcelo Rebelo de Sousa tentou sempre encontrar o break even, encontrar o ponto de equilíbrio na sociedade portuguesa. E quando isso acontece é difícil percebermos exatamente qual é o ponto de equilíbrio. É natural que por vezes tenha ido umas vezes mais para a esquerda e outras vezes mais para a direita.

A não recondução de Joana Marques Vidal foi um erro de Marcelo Rebelo de Sousa?
É muito difícil fazermos um julgamento objetivo sobre isso.

Mas tem uma opinião, certamente.
Na altura confesso que não fiquei muito satisfeito com as justificações que foram dadas. Mas o Presidente da República foi coerente com os seus princípios, tentando não renovar mandatos em funções desta natureza. Não creio que tenha sido um erro grave do seu mandato. Talvez a falha mais crassa foi de facto ter obstaculizado qualquer hipótese de discussão pública em torno da regionalização no nosso país. O país tem problemas estruturais, somos o mais centralista da Europa.

Marcelo corre o risco de se isolar em Belém? Esta ideia de que é um homem só, a fazer uma campanha presidencial.
Não. Do ponto de vista pessoal, fez um esforço muito grande para estar na rua, próximo das pessoas. Até foi criticado por muita gente por fazer questão de aparecer nos locais tanto nos momentos gloriosos e nos momentos mais trágicos, mais difíceis. E quem conhece e acompanha, longe do que está à vista das câmaras, o que é o seu dia a dia, sabe que Marcelo Rebelo de Sousa faz um esforço gigante por estar muito próximo da realidade concreta do país.

Marcelo vai resistir à tentação, no segundo mandato, de ser um Presidente mais interventivo? Essa tem sido a prática dos Presidentes nos segundos mandatos.
Sinceramente acho que não.

Não?
Admito que, neste novo mandato, o Presidente da República tem, em certo sentido, de se reinventar um pouco. Repito: ele fez um mandato excecional em circunstâncias muito difíceis nestes primeiros cinco anos, nomeadamente naquilo que chamamos de política dos afetos, de bombeiro que ia apagando fogos. Mas, num segundo mandato, tem todas as condições de ser uma fonte de inspiração patriótica para o país, de encontrar novos desígnios, uma ideia mobilizadora para a sociedade portuguesa. Marcelo Rebelo de Sousa tem todas as condições para isso. Tem capacidade pessoal, tem uma legitimidade enorme (e as urnas, espero, vão comprovar isso), e tem uma relação de cumplicidade com o povo português que lhe permite ser a tal fonte inspiracional que nos guie para desígnios novos e ambições novas para o país. E não para continuarmos naquilo que têm sido as últimas décadas, a marcar passo e a viver o dia a dia sem objetivos de vida a longo prazo.

"O Presidente da República tem de se reinventar um pouco. Tem todas as condições de ser uma fonte de inspiração patriótica para o país, de encontrar novos desígnios, uma ideia mobilizadora para a sociedade portuguesa, que nos guie para desígnios novos e ambições novas para o país"

“O PSD não deve fazer qualquer espécie de acordo com o Chega”

Falemos do PSD. Em janeiro deste ano disse que Rui Rio não tinha condições para continuar. Em fevereiro, no rescaldo do congresso assinalava o clima de “pacificação e unidade” que se vivia no partido. E em agosto voltou a dizer que Rui Rio tinha de sair. É a política que muda muito rápido, ou é o Pedro que está com muita pressa?
Nem uma coisa nem outra. Tenho sido coerente. Em agosto, não disse que Rui Rio tinha de sair. Acho que a partir do momento em que houve eleições no PSD a sua legitimidade é total e absoluta. Isso não quer dizer que não possa expressar a minha opinião, de ser mais crítico em determinado momento, de ser mais apoiante noutros momentos. Não vou nunca prescindir de expressar as minhas convicções. As minhas críticas são chamadas de atenção para que se possam retificar caminhos que não são os mais adequados.

Em agosto, dizia que a situação era “demasiado grave”. Se Rui Rio é tão mau como diz, admite ser candidato nas próximas eleições internas do partido?
Não, não acho que seja tão mau assim, não é isso. As minhas críticas são objetivas em relação a alguma estratégia que tem sido seguida. Aliás, do ponto de vista pessoal tenho ótima relação com Rui Rio, conheço-o há 30 anos.

Repare: nesse momento, disse que Rui Rio faz do PSD “um partido unipessoal, inócuo, tático, até autocrático e perigosamente populista”. Isto são críticas duras à liderança do PSD. Insistimos: se Rui Rio é tão mau, vai ser candidato nas próximas eleições internas do partido?
É uma crítica ao estilo de liderança que é empreendido num partido como o PSD, não há nada pessoal na crítica.

E portanto este líder não é o melhor líder para o PSD. É isso?
Quanto à liderança, tenho sido crítico.

Daí a pergunta: será ou não um desafiador da liderança num próximo congresso?
Não. Fiz uma opção há quase 10 anos de sair da vida política ativa, e optei por uma carreira profissional completamente diferente. Não tenho razões para alterar esse meu posicionamento. Ao longo dos últimos 10 anos tenho sido convidado para muitas funções, para diferentes órgãos de soberania, em diferentes tarefas públicas, tenho sido desafiado para muitas coisas, mas tenho sido muito coerente com esse princípio. Mas o facto de não andar atrás de qualquer lugar político não me inibe de expressar a minha opinião e o meu contributo enquanto cidadão e enquanto militante do PSD. É nesse sentido que tenho esta intervenção

Só para esclarecer: o PSD deve ter outro líder antes das próximas legislativas?
Não é altura para se discutir nomes. Aliás, tem sido esse um dos grandes problemas do PSD. Em 2017, quando Pedro Passos Coelho estava a abandonar a liderança do PSD, eu disse que o PSD devia fazer um Congresso para discussão pragmática e estratégica onde não se discutissem nomes de liderança. Porque o problema é esse: quando começamos a discutir nomes, de repente estamos a fulanizar, a dividir, a criar pequenas tribos.

É difícil perceber a sua posição: diz que a liderança não é adequada, diz que está fora, mas que também não é o momento de discutir nomes. Então o que pretende para o PSD? Só pensar sobre o que é o PSD?
Temos de discutir as opções estratégicas que o PSD tem tomado e que na minha opinião são erradas. Se discutirmos que opções estratégicas devemos seguir, será muito mais fácil no dia a seguir encontrarmos nomes que possam concretizar essa política. Sei que isto não é muito natural porque entramos, infelizmente, na vida política há uma fulanização excessiva. De repente, só conseguimos discutir perfis pessoais.

O PSD deve fazer uma reflexão é isso?
É importante manter essa reflexão não pondo em causa quem foi legitimamente eleito e que está a exercer o seu mandato, porque isso seria criar instabilidade interna que não deve existir. A estratégia do PSD deve ser permanentemente discutida e debatida. Até porque o país enfrenta um momento-chave: é uma oportunidade gigantesca para repensarmos todo o nosso modelo de competitividade e de futuro para o país. O PSD pode dar um contributo gigantesco, diferenciando-se dos políticos do costume. Estamos a ser governados pela mesma geração de políticos quase há 30 anos…

Mas a sua geração não quer avançar.
… com as mesmas medidas, as mesmas receitas que não têm resultado. Era importante que o PSD se estivesse a preparar para o momento em que vai ter de assumir o poder.

Criticou e tem criticado as cedências do PSD ao Chega. Portanto, se nas futuras eleições legislativas, existir uma maioria parlamentar de direita com o Chega o PSD não deve formar Governo e deve dar a vez ao PS, é isso?
Discordo de qualquer aproximação, seja de que natureza for, ao Chega.

No plano pragmático: se o PSD tiver hipótese de liderar uma maioria de direita com o Chega, não o deve fazer? Deve permitir ao PS governar?
Sim, sem dúvida alguma. Aí não tenho qualquer hesitação: o PSD não deve fazer qualquer espécie de acordo ou entendimento com o Chega, muito menos por razões oportunistas de alcançar o poder. É uma questão de princípio.

Alcançar o poder é um instrumento para mudar o país, para resolver aquilo que identificava com problemas estruturais. Se o PSD abdicar de uma oportunidade de chegar ao poder, não tem hipótese de transformar o país.
Com certeza, mas se o fizer atrelado ou condicionado ou dependente de um partido como o Chega transformará o país para pior.

Mais vale depender de um partido como o PS?
Depende das circunstâncias. Discordo da competência política do PS tem demonstrado. Agora, do ponto de vista dos princípios elementares de humanidade, de respeito pelos direitos humanos, de convivência cívica e democrática, o PS não é comparável ao Chega.

Qualquer aproximação ao Chega deveria ser discutida em Congresso?
Sim. Há matérias de princípio que deviam ser muito claras.

E devia fazê-lo já, como pediu Jorge Moreira da Silva?
Esta matéria deveria ter sido discutida no último congresso, tal como devia ter ficado definido o apoio a Marcelo Rebelo de Sousa, precisamente para não dar espaço a outras candidaturas, nomeadamente a de André Ventura, que têm vindo a engrossar o seu posicionamento muito por via de algumas posições menos claras, algumas ambiguidades por parte do PSD. A clareza beneficia o PSD, até do ponto de vista eleitoral — seria muito mais inteligente que o PSD dissesse à partida que não vai coligar-se com o Chega; porque isso ia resultar num voto útil, que poderia beneficiar o PSD.

"Não tenho qualquer hesitação: o PSD não deve fazer qualquer espécie de acordo ou entendimento com o Chega, muito menos por razões oportunistas de alcançar o poder. É uma questão de princípio"

O Chega deveria ser ilegalizado?
Não. Temos e devemos tolerar todos, principalmente aqueles de quem discordamos. O Chega deve ser combatido dentro das regras democráticas.

Chegamos agora à fase final da nossa refeição, o segmento “Carne ou Peixe”, e terá agora de escolher uma e só uma opção. Preferia ser ministro num Governo liderado por Passos Coelho ou por Luís Montenegro?
Montenegro, porque esse é futuro.

Numa segunda volta presidencial votaria em André Ventura ou Ana Gomes?
Ana Gomes.

A quem confidenciava a password do seu computador: a Marcelo ou a Cavaco Silva?
A ter que optar por um seria por Marcelo Rebelo de Sousa.

Aproveitando o seu jeito para jogar futebol,  quem é mais urgente driblar: Rui Rio ou António Costa?
António Costa, claramente. Rui Rio é boavisteiro, gosto muito do Boavista. Jogamos na mesma equipa.

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça até artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.