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"Comecei a perceber que a figura paterna emergia como um lugar recorrente na literatura portuguesa, um pai normalmente autoritário, brutal mas, ao mesmo tempo, ausente, distante"
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"Comecei a perceber que a figura paterna emergia como um lugar recorrente na literatura portuguesa, um pai normalmente autoritário, brutal mas, ao mesmo tempo, ausente, distante"

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

"Comecei a perceber que a figura paterna emergia como um lugar recorrente na literatura portuguesa, um pai normalmente autoritário, brutal mas, ao mesmo tempo, ausente, distante"

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Phillip Rothwell, um professor inglês entre a literatura portuguesa: "Este é um país obcecado pela figura paterna"

Dirige a cátedra de Estudos Portugueses na Universidade de Oxford e no livro "Pais Vazios" viaja pela literatura que diz ter plasmado um país e a figura do pai autoritário. Entrevistámo-lo.

A história portuguesa é feita de homens: reis, navegadores, aventureiros, fantasmas, ditadores, padres. Poucas mulheres presidiram à nossa história e, quando assim foi, eram de índole duvidosa: milagreiras, amantes, adúlteras, loucas. Forjámos uma cultura onde, por uma lado abunda a figura paterna, normalmente assexuada, totalitária, ausente e esperada. Um pai que nunca é de facto pai, porque é tão só uma figura ausente, que o povo, visto como criança desorganizada e incapaz, imagina e espera. E, por outro, uma figura materna que é encarnada na virgem Maria, assexuada, cuidadora, mas muda. Uma estranha versão da sagrada família, onde nenhuma criança poderia crescer saudável, responsável, segura.

A infância difícil de um povo abandonado, obcecado com a figura paterna, está plasmada na nossa literatura, das crónicas de Fernão Lopes, passando por Almeida Garrett, Eça de Queirós, António Ferro, Cardoso Pires até António Lobo Antunes ou Helder Macedo. Phillip Rothwell olhou para as obras destes autores para traçar o quadro de um país cujo imaginário coletivo está marcado por uma sensação omnipresente de orfandade que o faz buscar incessantemente um pai messiânico, salvador, que educa com tirania mas não com responsabilidade. Pais Vazios é um ensaio que acaba de sair pelas edições Afrontamento, já foi publicado em Inglaterra e tem agora versão portuguesa, com tradução de Tomás Vallera, da Universidade Nova.

Nesta história, Phillip Rothwell encontra o núcleo da problemática de Portugal com a figura paterna. No pós-25 de Abril circulava uma anedota em que Salazar visita um orfanato e pergunta a um rapaz:

— O que queres ser quando fores grande?
— O que poderei fazer não tendo dinheiro nem pai?
— Então, se eu fosse teu pai, o que gostarias de ser?
— Órfão.

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É a história do pai vazio, um homem investido da identidade paterna, que pretende ser “o pai do povo”, mas que na verdade deixa o filho sozinho e cria nele uma sensação de orfandade, que o vai embalar num colo vazio, o deixa simultaneamente frágil, inseguro e incapaz de se desligar deste pai, que à imagem de D. Sebastião, é uma promessa nunca cumprida. É a alegoria de uma história forjada sobre paternidades vazias encarnadas em figuras como o infante D. Henrique, D. Sebastião, Sidónio País, Salazar e, depois do 25 de Abril, pelo consumo como o grande pai, que já não é autoritário mas que tudo permite, deixando o filho tão desamparado e perdido como antes.

A capa da edição portuguesa de "Pais Vazios", de Phillip Rothwell (Afrontamento)

Durante séculos, Portugal cria uma galeria de figuras paternas mitificadas potencialmente assexuadas, uma mistura de padre, fantasma, homem não corrompido pela carne. Ao mesmo tempo, forja outro mito, o do homem aventureiro, que vai abrir o novo mundo e aí fecundar uma nova raça de homens, é o “pai lusotropical”, que Rothwell vai encontrar bem retratado nas obras de um escritor injustamente esquecido, Francisco Gomes de Amorim, romancista e dramaturgo, discípulo de Almeida Garrett, e um dos primeiros escritores a criticar abertamente a escravatura.

Esse pai “lusotropical” abandona a pátria, conotada com o velho mundo, e deixa mulheres e filhos na miséria e na saudade. Longe da pátria católica e assexuada, o português torna-se orgulhosamente carnal, vive aventuras, enriquece ou morre, mas deixa o país entregue ao saque, à miséria e a manipulações de todo o género. Nesse país do qual até o rei foge para o Brasil, não restava ao povo mais do fazer surgir a fantasmática figura de D. Sebastião, que resgata o filho de todas as aflições e que Almeida Garrett retrata na impiedosa figura de frei Luís de Sousa.

Rothwell vai encontrar ainda a imagem desta paternidade vazia, nas obras de Eça de Queirós, ele próprio filho de um destes país e que, depois, os irá questionar violentamente, nomeadamente, em obras como O Crime do Padre Amaro, o padre-pai, ou n’Os Maias, o pai-suicida. Dir-se-ia, que a psique portuguesa está eivada de homens messiânicos, aos quais, como um deus semita, incumbe impor a lei dentro do estado, da família e da sexualidade. É um pai que a teoria Lacaniana, de que Phillip Rothwell se socorre, seria o “grande Não”. Mais do que homens, “são construções discursivas” que servem para manipular o povo, para impor ideologias, formas de poder, de desejo, modelos de família e até de sexualidade”, explica o ensaísta.

"A cultura portuguesa é muito patriarcal, e nisso não é diferente da maiorias dos países ocidentais dominados pelo catolicismo. Mas o caso português é especial porque replica o mito do pai fundador, como um Ulisses. Um bom exemplo disso é a figura do Infante D. Henrique, um homem assexuado, dedicado a construir um império ultramarino e que Salazar vai tentar reencarnar, como o homem ao leme do império."

“Curiosamente, estas figuras paternas tendem a surgir com mais força sempre depois de uma revolução. Da revolução de 1383/85 surge a figura de D. João I, que, nas suas Crónicas, Fernão Lopes vai legitimar por ser “indubitavelmente filho do rei Pedro I”, ao passo que D. Beatriz, filha de D. Fernando e de uma mulher tida como adultera, Leonor Telles, poder-se ia duvidar se era ou não descendente de um rei.

Neste momento da história ressalta outra questão que tanto obceca os portugueses: “quem é o teu pai?”, a mesma que se desdobra na ideia de fusão entre Pai e Pátria, que Sídónio País, mas sobretudo Salazar, vão explorar abundantemente. Depois da revolução Liberal, da implantação da República, da revolução Militar de 1928 e do 25 de Abril, vão surgir sempre novas figuras de “pais do povo” e consequentemente escritores que vão perceber a força desse arquétipo e escrever sobre ele; seja como forma de propaganda — como António Ferro — seja como crítica feroz — casos de Cardoso Pires ou Lobo Antunes — seja como tentativa de superação — como Helder Macedo.

Pais Vazios, mais do que um ensaio sobre História da Literatura, abre uma janela para a cultura portuguesa e a sua psique, os seus arquétipos e as formas como a arte os interceta e representa. Por isso, esta obra constitui-se sobretudo como um ensaio sobre sociedade, a cultura e a política portuguesa, na melhor tradição de Eduardo Lourenço. O Observador falou com Phillip Rothwell, em Lisboa, a propósito deste livro e da vida que tem a literatura e a cultura portuguesas no Reino Unido.

É um inglês, nascido no Equador, formado em Matemáticas. Como é que “descobre” a Língua Portuguesa?
Comecei a estudar português na faculdade, enquanto estudava Matemática. Creio que devido à proximidade com o espanhol, foi para mim natural começar a estudar português. Depois apaixonei-me pela língua, pela sonoridade, pelos ditongos, a forma dos sons nasais. Mas também pela riqueza cultural da língua, as formas que ela adquiriu, em Angola, em Moçambique, no Brasil…

Quando terminei o curso, fui dar aulas de Matemática para Moçambique, onde descobri os livros de Mia Couto. Foi aí que decidi que queria estudar Literatura Portuguesa, voltei para Inglaterra, doutorei-me com uma tese sobre ele e fui dar aulas de Literatura Portuguesa para uma Universidade em Nova Jersey, onde estive treze anos, até ir para a Cátedra D.João II, em Oxford. Mas neste momento estou de licença sabática para escrever um livro sobre a Literatura Angolana.

Este livro, Pais Vazios, também está muito ligado à sua própria experiência como pai.
Sim, tenho um filho adotivo, o Kyrell, que mudou tudo na minha vida e é a ele que dedico este livro. Ele é meu filho e o meu companheiro, somos uma família que não corresponde ao modelo imposto pelo cristianismo, mas sobretudo ajudou-me a compreender que ser pai não se trata de impor uma lei, mas de dar responsabilidade. É preciso educar sabendo colocar limites, não de forma aleatória mas justa, sabendo que também eu posso estar errado.

"Vejo exemplo da superação deste modelo na escrita em lígua portuguesa de Djaimilia Pereira de Almeida ou de Ana Paula Tavares"

Filipa Bernardo/ Global Imagens

Isso é o contrário da figura do “pai vazio” do seu livro, que, à semelhança do deus semita vem impor a lei, serve como figura de autoridade inquestionável, mas que deixa o filho totalmente impreparado para viver, o pai que persiste no imaginário coletivo português.
Na verdade, a história deste livro começa com o romance Partes d’ África do Helder Macedo, que é o livro que funda a chamada literatura pós-colonial em Portugal. Esse livro, que é um diálogo com o pai, mas para onde convergem todas as tradições e movimentos da história da literatura portuguesa, foi o que me pôs a pensar nos pais representados por essa mesma literatura. Comecei a perceber que a figura paterna emergia como um lugar recorrente na literatura portuguesa, um pai normalmente autoritário, brutal mas, ao mesmo tempo, ausente, distante.

Portugal, diz, “tem uma obsessão com a figura paterna” que vai ressurgir sempre em alturas de crise.
A cultura portuguesa é muito patriarcal, e nisso não é diferente da maiorias dos países ocidentais dominados pelo catolicismo. Mesmo em Inglaterra, onde houve muitas rainhas, havia sempre lugares que lhes eram vetados pelos simples facto de serem mulheres. Mas o caso português é especial porque replica o mito do pai fundador, como um Ulisses. Um bom exemplo disso é a figura do Infante D. Henrique, um homem assexuado, dedicado a construir um império ultramarino e que Salazar vai tentar reencarnar, como o homem ao leme do império. Não é por acaso que ele manda construir aquele padrão dos Descobrimentos para fazer sobressair o Infante, como se fora uma encarnação anterior do próprio Salazar. Cada época faz ressurgir, de dentro da história, uma figura masculina, paterna, que serve como estratégia de poder sobre um povo que se quer disciplinar, adestrar.

Neste livro desenvolve o conceito de “paternidades vazias”, onde faz cruzar literatura, história, psicanálise. Como explica este conceito?
A paternidade vazia é definida como uma projeção da imagem do pai que forçosamente encarna o padre-messias-lei, mas se vê desprovida da sua componente biológica, quase todas estas figuras que encarnam o pai, são assexuadas, como o Infante D.Henrique, D.Sebastião, Salazar ou Sidónio Pais, que tinha muitos filhos mas que fez a família desaparecer estrategicamente para vestir a imagem de “pai do povo”. Na literatura assistimos também a um conjunto de figuras patriarcais destrutivas ou ausentes, como o “pai lusotropical” que vai para o novo mundo criar novas raças deixando na velha pátria os filhos e as mulheres entregues à mais absoluta miséria. Esses pais geram um povo infantilizado. O mantra paternalista de Salazar — “não discutimos a pátria” — mais não é do que uma forma de dizer “não discutimos o pai”.

"O meu objetivo era desconstruir a figura do pai vazio, porque é uma figura que em todas as épocas e ideologias é facilmente manipulável, ou seja, capta um certo sentimento de orfandade que existe na cultura portuguesa e vai explorar isso para manipular."

Podemos afirmar que este seu estudo está muito ancorado nas teorias do psicanalista francês Jacques Lacan?
Para Lacan, o mundo está sempre ancorado na linguagem que opera no nosso inconsciente. Ela existe antes de existir o sujeito. No fundo, temos um sujeito que, pela aquisição da linguagem, vai formar a sua identidade, ela é exterior mas é, ao mesmo tempo, onde reside a nossa maior intimidade. Essa exterioridade, que é a linguagem, vai ser imposta pela lei do pai. Uma lei externa com consequências internas, como o corte na relação fusional entre a criança e a mãe. Parto então da figura paterna lacaniana como aquela que impõe à criança as proibições. Porém, nos momentos de crise, essa lei tende a não funcionar dando origem a pais ditatoriais.

Na obra de António Lobo Antunes isso está muito marcado, pois a figura do pai que impõe o “Não” transforma-se na figura do Mercado, que impõe o “Sim” a tudo. Portugal passa de um pai ditatorial que tudo proíbe a um pai que aceita tudo, porque as relações são meras trocas mercantis. Este pai que emerge depois da revolução de Abril de 1974, substitui a lei pelo consumo desenfreado e é um pai igualmente vazio e ditatorial.

Se a estes pais, assexuados e ditatoriais, juntarmos uma mãe mítica que é uma santa, a virgem Maria, uma figura feminina muda e assexuada, temos uma família estéril como modelo de um inconsciente coletivo. Só fugindo da pátria os portugueses se poderiam tornar homens carnais?
É o mito do pai “Lusotropical” que vai ser muito bem representado nas obras de Francisco Gomes Amorim, um escritor muito interessante, mas que a história preferiu guardar como o cachorrinho de Almeida Garrett. Mas, nas suas obras, que analiso neste livro, vai dar conta desse pai que emergiu com o mito de que que os portugueses iam criar um novo mundo, uma nova raça. Muitos morriam nessas aventuras como o pai do próprio Gomes Amorim, deixando-o ainda criança a viver numa tal miséria que ele foi vendido como escravo branco no Brasil. Isso fará dele o primeiro escritor a escrever abertamente sobre a terrível condição dos escravos. Curiosamente, esse mito persiste ainda hoje nas nostalgias do colonialismo que povoam a cultura portuguesa.

No momento em que nasce no “novo mundo” a figura do pai “lusotropical”, fecundador, aventureiro, destemido, há uma pátria recém abandonada pelo próprio rei, e deixada à mercê das invasões francesas e depois da espoliação dos ingleses. Nsce a maior figura de pai messiânico, o D. Sebastião?
Quando a própria corte parte para o Brasil deixando implícito que o mundo que interessa é lá fora, que o mundo a fundar é outro, quando Portugal perde o seu pai de carne e osso, o rei, o povo cria um pai fantasmático para o substituir, mas que não impede que aconteçam outras tragédias, mais subtis, como a colonização subterrânea que os ingleses fazem e que perdurou por décadas, nem a guerra civil a parou. Tudo isto vai ser exemplarmente retratado por Almeida Garrett na figura do Frei Luís de Sousa.

Também Eça de Queirós, ele mesmo filho de um pai que nunca o aceitou, vai representar este sentimento atávico de orfandade que produz pais na figura do padre (outro pai assexuado), como no romance O Crime do Padre Amaro e depois no pai suicida de Os Maias.

"A paternidade vazia é definida como uma projeção da imagem do pai que forçosamente encarna o padre-messias-lei, mas se vê desprovida da sua componente biológica"

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Qual é o grande objetivo deste ensaio?
O meu objetivo era desconstruir a figura do pai vazio, porque é uma figura que em todas as épocas e ideologias é facilmente manipulável, ou seja, capta um certo sentimento de orfandade que existe na cultura portuguesa e vai explorar isso para manipular. Um dos que melhor usa isso como forma de propaganda é António Ferro, na forma como eleva, nas suas obras, as figuras de Sidónio Pais e Salazar como os “pais do povo”.

Por outro lado, é preciso criar uma narrativa fora desse contexto, uma narrativa onde, por exemplo, a mulher, a mãe, tenha voz. Ao desconstruir a figura do pai vazio, queria também analisar a cultura que lhe insuflou poder e caneta. São homens que escrevem sobre homens. É preciso questionar esse modelo de família judaico-cristã e a figura do pai-messias-lei, que passa dentro dos discursos e continua a impor um certa ideia de pai, uma certa ideia de família. Uma imagem em que um é senhor e os outros são servos. Ora uma família é uma construção absolutamente plural, com as suas formas de felicidade e de caos, mas não há uma “família certa” e uma “família errada”, a família dispensa qualquer ideologia.

Na literatura mais recente já se encontram novos modelos de figura paterna?
Começo por encontrar a primeira superação desse pai vazio no livro Partes D’África de Helder Macedo, que, no conjunto das obras que analisei, é aquela onde há uma superação da figura do pai conotado com o patriarca, o ditador, e a abertura a novas formas de paternidade. Atualmente vejo-a nos livros de Djaimilia Pereira de Almeida, crescida em Portugal, com uma família dividida entre África e Portugal, onde o modelo de pai e de mãe são completamente diferentes. O melhor que poderia acontecer à literatura portuguesa era superar essa ideia de pai, esse modelo de família. Dar voz à mulheres, aliás o surgimento de cada vez mais mulheres como escritoras ou protagonistas literárias é, na minha opinião, uma das coisas mais interessantes que está a acontecer na nova literatura portuguesa.

Agora está a escrever sobre a literatura angolana. Até que ponto as ex-colónias portuguesas herdaram essa figura do “pai vazio”?
Nestes países não se trata tanto do mito do “pai messiânico” mas do mito do “homem novo”, que nasce com as revoluções pós-independência. O que acontece é que esse homem novo degenera em ditaduras que vão imitar o que os regimes fascista e estalinistas tiveram de pior, ela impõe uma elite que rapidamente come os seus filhos e é sobre isso que escritores como Pepetela vão trabalhar. Mas também aqui as mulheres são quem mais tem produzido literatura fora desse modelo de família e, em Angola, temos por exemplo Ana Paula Tavares, que criou um universo tão fora das estruturas de poder dominantes que foi considerada “obscena”.

"Além de Fernando Pessoa e Saramago, temos [a circulação nas edições anglo-saxónicas] o Agualusa e o Mia Couto que já são muito lidos, o Lobo Antunes e o Eça de Queirós também vão conseguindo fazer um caminho. Entrar no mercado literário em Inglaterra não é fácil e é preciso ter bons tradutores."

Sendo o mundo anglo-saxónico tão fechado, e o mercado quase impermeável a tudo o que não venha de países de língua inglesa, ou dos nichos exóticos das modas, quem é que quer estudar literatura portuguesa em Oxford?
Somos a única cátedra de Estudos Portugueses autónoma do espanhol do mundo. Todos os anos temos entre 16 e 20 alunos a entrarem para a licenciatura e temos mais nas pós-graduações, em especial nos doutoramentos. O nosso curso cobre toda a história da literatura portuguesa, desde a lírica medieval às literaturas pós-coloniais.

E o que contribui para isso?
Sobretudo o trabalho dos nossos professores, que é excelente, e criou-se uma fama construida um pouco boca a boca. O nosso único apoio é o Instituto Camões.

Então não é propriamente a circulação de autores portugueses na cultura anglo-saxónica?
Não. Embora isso esteja a mudar um pouco. Além de Fernando Pessoa e Saramago, temos o Agualusa e o Mia Couto que já são muito lidos, o Lobo Antunes e o Eça de Queirós também vão conseguindo fazer um caminho. Entrar no mercado literário em Inglaterra não é fácil e é preciso ter bons tradutores.

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