Não se pode falar de Pintarolas sem falar da Imperial, empresa que as produz há quatro décadas. Fundada em 1932, no centro da cidade de Vila do Conde, a Imperial foi a primeira fábrica a trabalhar o chocolate na região, mas em 1963 atravessou o Rio Ave e instalou-se num espaço maior, um antigo convento, na Azurara. Dez anos depois, foi adquirida pelo grupo RAR, um dos maiores grupos económicos portugueses, que definiu uma estratégia de pura expansão, apostando no investimento de novos meios tecnológicos, o que permitiu desenvolver novos produtos.
Entre o final da década de 70 e início dos anos 80, a Imperial lança um leque de marcas, que continuam a pertencer à memória coletiva nacional. Bombocas, os caramelos Allegro, o chocolate de culinária Pantagruel ou a Jubileu são apenas alguns exemplos. Em 2000, a empresa adquire a Regina, afastada do mercado há vários anos. “Por ser a marca com mais referências, sabores e formatos, representa cerca de 40% das vendas em Portugal”, garante Manuela Tavares de Sousa, gestora da Imperial desde 2001.
Com uma família ligada à indústria têxtil, em Guimarães, Manuela pensava que o seu percurso profissional provavelmente também passaria por aí, mas o destino trocou-lhe as voltas. Formou-se em engenharia química na Universidade do Porto e foi graças a um professor que conheceu a Imperial. “Ele era administrador da empresa, como tive a melhor nota do projeto, acabou por me convidar para uma entrevista. Fiquei e aqui fiz todo o meu”, conta ao Observador. Aprendeu tudo o que sabe sobre chocolate num curso na Alemanha e, de regresso a Vila do Conde, começou por ser responsável pelo desenvolvimento de novos produtos, passou pela direção de qualidade e pelo departamento dos mercados externos, até chegar a gestora geral.
Com três unidades fabris e pouco mais de 200 trabalhadores, a Imperial é a principal fabricante nacional de chocolates, faz cerca de 20 toneladas de chocolate por dia e exporta 25% da sua produção para 50 mercados, entre Europa, Brasil, Japão ou Austrália. Em 2015, o grupo Vallis Sustainable Investments compra a empresa de Vila do Conde e dinamiza a sua vertente exportadora, além de inaugurar uma unidade fabril exclusivamente dedicada à Pintarolas, um produto vendido maioritariamente em Espanha e no Brasil.
Quando os mais novos tiveram direito a um chocolate colorido e feito à sua medida
A Pintarolas nasceu há 40 anos e foi a primeira marca do grupo Imperial direcionada para o setor infantil, explorando um novo formato: mini drageias com chocolate de leite. “Tínhamos umas moedas de chocolate, mas não era para um público tão específico”, sublinha a responsável Manuela Tavares de Sousa, acrescentando que o nome surge de umas das expressões mais proferidas pelos mais novos naquela época: “Que pintarola”.
É líder de mercado “desde sempre” e rainha nas festas de aniversário, mostrou-se ao mundo nos tubos clássicos de cartão e quando começou a ser distribuída nas grandes superfícies fez nascer um pack de três cartuchos. Mais tarde, vieram as embalagens industriais em forma de saco e as pequenas saquetas para levar na mochila. Além das embalagens, o próprio produto também evoluiu. “Hoje temos Pintarolas recheadas de cereais e com fruta. Como nos preocupamos com a saúde e o bem estar, há 10 anos deixamos de utilizar corantes artificiais no nosso produto”, sustenta a responsável.
Comprar Pintarolas é, para Manuela Tavares de Sousa, “comprar também uma experiência”, prova disso são os jogos e as atividades lúdicas e didáticas que acompanham os chocolates, como o bingo, o jogo da colher na boca ou o mais recente Mini Chef Pintarolas onde, graças a uma parceria com a marca portuguesa de estacionário Ambar, as Pintarolas são vendidas acompanhadas com utensílios de cozinha e um livro de receitas.
Além da típica bola de Natal decorativa recheada de mini drageias ou das embalagens em forma de bonecos de neve, a propósito do seu aniversário redondo, a Pintarolas prepara-se para lançar uma campanha anti-bullying, cujo vídeo será lançado em breve. Para isso, atribuiu a cada uma das sete cores que compõem o sortido uma personagem diferente, do ecologista ao desportista. “Queremos promover a inclusão”, salienta a gestora do grupo.
Das luvas brancas para detetar defeitos ao túnel cheio de cor
Na fábrica Imperial reina o cheiro a chocolate, mas quase nenhum trabalhador, do segurança ao embalador, o sente. “Trabalho aqui há 10 anos e já não sinto o cheiro, só me apercebo dele quando chego a casa e os meus filhos me querem cheirar a roupa”, conta Pedro Fernandes responsável pela unidade de fabrico da Pintarolas.
Licor de cacau, manteiga de cacau, açúcar e leite em pó. São estes os ingredientes base que compõem os chocolates da Imperial. A principal matéria-prima chega do Gana e da Costa do Marfim, mas todo o processo de mistura é feito dentro destas portas. Depois de derreter e misturar os ingredientes, dá-se a refinação, onde se pretende reduzir o tamanho dos grãos de açúcar e tornar o preparado mais homogéneo para que o chocolate fique macio e derreta facilmente na boca.
A massa é batida mecanicamente para não arear e armazenada em tanques de 50 toneladas pré aquecidos para depois ser requisitada para as várias linhas de modelação, dando, assim, a origem a diferentes chocolates. Na área onde se fazem as Pintarolas, o processo é praticamente todo mecânico e por isso comandando às distância, através de um computador. Tudo começa quando a massa de chocolate líquida, temperada a 30 graus, é conduzida para uma máquina com dois cilindros arrefecidos, entre os 16 e os 20 graus negativos. Lá dentro, graças à rotação dos dois cilindros, o chocolate é gravado com o molde das Pintarolas e o preparado solidifica rapidamente.
As pequenas drageias de chocolate saem desta máquina diretamente para um tabuleiro grande onde Augusto Silva faz uma “inspeção visual”. Trabalha na Imperial há 39 anos, já não se lembra de como veio cá parar, mas garante que foi na zona de drageamento que aprendeu “tudo o que sabe”. De pé, com uma touca na cabeça e umas luvas brancas macias nas mãos, apalpa cada drageia de chocolate e verifica de estão secas, rugosas ou contêm bordas. “Separamos as sobras para as derretermos novamente. Nada se desperdiça”, explica ao Observador.
A coordenar o serviço através de um vidro está Fernanda Avezedo, supervisora daquela secção desde 2007. Trabalhar na Imperial parece ser um desígnio familiar, já que a sua mãe trabalhou ali durante 43 anos e uma tia também passou por lá. Se antigamente trabalhava na indústria têxtil, e até gostava, agora ocupa-se do funcionamento das máquinas, dos horários dos trabalhadores ou da receção das encomendas.
Os tabuleiros empilhados com as pequenas bolas de chocolate de leite seguem para uma outra área destinada ao branqueamento com açúcar, coloração e polimento. As drageias são transportadas em lotes de 1.300 quilos para um túnel onde, durante oito horas, são cobertas com uma solução de água com açúcar, graças a um processo de rotação. Após este primeiro passo, ganham cor através de uma espécie de chuva com um spray que liberta corante. Azul, amarelo, vermelho, verde, laranja, rosa e castanho são as sete cores que compõe os sortidos Pintarolas e cada uma é produzida em doses de duas toneladas de cada vez. O som das máquinas confunde-se com o ruído dos chocolates a viajarem entre os tabuleiros e por isso são vários os trabalhadores que optam por usar auscultadores.
Separadas por cores, as drageias coloridas são misturadas mecanicamente para formarem sortidos e, ao contrário da maioria dos chocolates, este processo acontece de forma horizontal, “para não as partir ou rachar”, descreve o responsável Pedro Fernandes. Depois de misturadas, as Pintarolas são pesadas num carrossel formado por 14 balanças, seguindo para uma outra máquina onde é feito o embalamento. Já seladas e com o código de barras, as embalagens da marca são embrulhadas e organizadas por uma equipa de quatro elementos para depois seguirem viagem.