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Plebeias, conspiradores, reis sem teto e 10 primeiros-ministros: 9 livros sobre a realeza

Das reedições ao lançamentos novos em folha, da relação entre Carlos e Isabel II ao reinado da "Rainha Negra", sem esquecer um banqueiro em tempo de Inquisição, tome nota destes títulos.

Capa do livro 'Catarina de Médici' Crítica, fevereiro 2024

Catarina
de Médici Leonie FriedaCrítica

Contemporânea de Isabel I de Inglaterra, muitos consideravam-na uma intrusa, mas acabou por governar França com total determinação. Três dos filhos haveriam mesmo de reinar no país, incluindo o monarca que casaria com Mary, rainha da Escócia.

Se a biografada granjeou o título de “Rainha Negra”, Leonie Frieda ousou pintar a sua história de crueldade com outros tons. Nobre italiana que se tornou rainha consorte da França de 1547 até 1559, Catarina de Médici (1519-1589) reinventou-se depois de enviuvar do rei Henrique II, assumindo as rédeas do destino daquele país. Primeiro na qualidade de regente durante o curto reinado do filho mais velho, depois manobrando o poder atrás do monarca quando o segundo filho ascende ao trono. Órfã desde a sua infância, única herdeira legítima da fortuna da família italiana Médici, casada aos catorze anos, é com meticuloso detalhe que a autora descreve esse fatal acidente de duelo na capital francesa que custou a vida ao seu marido. O pormenor assistirá outros episódios e capítulos de uma jornada fascinante por ambições dinásticas, intrigas políticas e religiosas e ainda humilhações impostas pela influente amante de Henrique II, Diane de Poitiers.

Sueca de nascimento, educada na Grã-Bretanha, Alemanha e França, Leonie Frieda viajou por Paris, Florença e Roma, sem esquecer uma passagem pelos castelos do Vale do Loire, no encalço desta figura feminina — cujo “inabalável fascínio pela astrologia e pela magia negra (…) contribuiu em muito para lhe granjear a perversa reputação que a História e muitos dos seus contemporâneos lhe atribuíram”. Outras figuras da sua tribo ajudariam a adensar enigmas e mistérios. “À sua imagem não ajudou o seu parfumier, o italiano mestre René, que se tornou tremendamente temido pelas suas poções e poderes, pelas lendárias luvas envenenadas e pelo rouge com que supostamente executou algumas pessoas ao serviço de Catarina durante a sua viuvez”, escreve a a autora nesta edição com chancela da Planeta.

Capa do livro 'My Mother and I' Simon & Schuster, fevereiro 2024

My Mother
and I Ingrid SewardSimon & Schuster

Uma dinâmica intrincada determinou ao longo dos anos a relação entre Isabel II e o atual monarca Carlos III, muito para lá de uma simples relação mãe-filho. A estas duas figuras juntam-se nesta obra outros atores secundários relevantes.

De mãe para filho, de monarca para monarca. Se motivos faltassem para explorar esta relação que sempre gerou fascínio e curiosidade, a transição no trono britânico justifica esta inside story a cargo da biógrafa real Ingrid Seward. Carlos III era o filho mais velho de Isabel II mas também aquele que um dia viria a sucedê-la, cuja preparação desde o berço foi orientada pela certeza desse destino, com todas as luzes e zonas menos iluminadas que essa caminhada comporta. Foi aliás um tempo de preparação vastíssimo, com o até então príncipe de Gales a esperar longas décadas pela ascensão. “My Mother and I” permite aceder a esse processo, com Carlos a permanecer na sombra da sua mãe durante a maior parte da sua vida, sem esquecer detalhes do seu relacionamento dentro de portas do palácio, longe dos olhares dos súbditos. Seward aborda estas complexidades, celebra o poder da família, e recupera uma cronologia que arranca com o momento em que as armas saudaram o nascimento do primogénito até à sua aclamação enquanto Rei.

O xadrez real não se esgota nestas peças de maior relevo. A obra, editada pela Simon & Schuster, ainda sem versão portuguesa, contempla também revelações sobre Diana, o casal Harry e Meghan Markle, ou o príncipe William.

Capa do livro 'D. Sebastião' Temas & Debates, março 2024

D. Sebastião Maria Augusta Lima CruzTemas & Debates

Uma das mais idealizadas personagens da História nacional, décimo sexto monarca e o sétimo e penúltimo da dinastia de Avis. Originalmente lançada em abril de 2009, a biografia de “O Desejado” é agora reeditada.

Pintor português do Maneirismo, ativo entre 1551 e 1571 na corte portuguesa, Cristóvão de Morais imortalizou na tela, por duas vezes, a imagem do guerreiro feito mito, com essa expressão de desafio e a solidez da armadura. O primeiro trabalho, de 1565, representa o jovem soberano com 11 anos, e encontra-se em Madrid, no Mosteiro das Descalzas Reales. O segundo, mandado executar pela sua avó, a rainha viúva D. Catarina, faz parte do acervo do Museu de Arte Antiga, em Lisboa. A imagem icónica de D. Sebastião ilustra a primeira página desta biografia assinada por Maria Augusta Lima Cruz, publicada pela primeira vez em 2009.

Último sobrevivente dos nove filhos de D. João III e de D. Joana de Áustria, Sebastião ainda não completara quatro meses de vida quando sua mãe, chamada à regência de Castela, de onde era natural, se viu obrigada a deixá-lo ao cuidado dos avós paternos. Tinha apenas 3 anos quando foi aclamado rei, em 1557, após a morte de D. João III, mas só viria a governar efetivamente aos 14 anos. Viu o reinado interrompido de forma brutal em 4 de agosto de 1578 com a derrota em Alcácer Quibir, mas o mito em redor do defensor da Cristandade permanece até hoje. E há muito por descobrir entre as duas datas simbólicas, a do seu nascimento e a da sua morte, a começar pelas reformas políticas, administrativas e militares que “se constituíram num todo coerente em torno de um objetivo aglutinador”, escreve a autora.

Capa do livro 'De Plebeias a Princesas e Rainhas' Guerra e Paz, janeiro 2024

De Plebeias
a Princesas
e Rainhas Alberto MirandaGuerra e Paz

Jornalistas, atletas olímpicas, personal trainers. Estes nomes (hoje) bem conhecidos do grande público nem sempre trilharam os caminhos da realeza, seguindo vidas e profissões comuns até os seus destinos se unirem com os das principais casas europeias.

Nem tudo é simples quando as razões de Estado se cruzam com as do coração. O sofrimento rumo à desejada superação acompanhou o percurso de alguns destes nomes. Cruzando vida pública com esfera privada, Alberto Miranda, especialista nos temas da realeza, recorda a história de dez personagens, entre atuais soberanas europeias, princesas herdeiras e ainda um futuro príncipe consorte. As origens e rotas podem ser distintas mas em comum partilham uma certa condição: nenhum deles é oriundo do restrito universo dos reis e rainhas.

Sónia da Noruega desesperou dez anos para ser aceite como noiva real. A prudência foi aliada de peso de Sílvia da Suécia para se afirmar ao lado do ocupante do trono. Maria Teresa do Luxemburgo estreou-se numa corte que até então desconhecia princesas vindas do povo. A vida de Máxima dos Países Baixos mudou no dia em que conheceu Willem-Alexander. O mesmo se aplica a Letizia, antiga jornalista da TVE, e hoje no centro de um poderoso turbilhão mediático que se estende a todo o clã espanhol. Que dizer ainda de Charlene e de todas as suas intermitências no principado do Mónaco, ou ainda de Mette-Marit da Noruega, e de Mary da Dinamarca, com protagonismo redobrado desde o começo do ano, com a ascensão ao trono do polémico Frederik X.

Capa do livro 'O Banqueiro do Rei, do Diabo e das Rainhas' Casa das Letras, março 2024

O Banqueiro
do Rei,
do Diabo
e das Rainhas Filipe S. Fernandes Casa das Letras

É no Arquivo Nacional Torre do Tombo que se encontra guardado o processo de Duarte da Silva na Inquisição, figura do qual não se conhece rosto, cuja detenção e prisão ao longo de cinco anos se tornou um dos episódios mais debatidos do reinado de D. João IV.

Padre António Vieira, que o conhecera na Bahia, recorreu ao seu apoio financeiro para as atividades diplomáticas e militares pela Restauração. Com a morte de D. João IV, em 1655, D Luísa de Gusmão tornou-se regente e agraciou-o com o hábito de cristo, fazendo-o Fidalgo da casa real de Portugal, já ele fora um dos grandes financiadores do marido. Falamos de Duarte da Silva, “O Banqueiro do Rei, do Diabo e das Rainhas”, figura decisiva num puzzle social, económico e político marcado por autos de fé.

Dele se dizia ser o homem de negócios mais relevante do império, e não por acaso ficou conhecido como o banqueiro do monarca. Cristão-novo, preso pela Inquisição durante cinco anos, Duarte da Silva (1596-1688) contribuiu para o financiamento de embaixadas, a compra de armas, pólvora e navios, nessas guerras que a Coroa travava para recuperar Angola e o nordeste brasileiro. Contribuiu também para um momento decisivo do Portugal restaurado, o casamento entre Catarina de Bragança e Carlos II de Inglaterra, uma negociação de sucesso que assinalava “a primeira grande vitória diplomática de Portugal, pois o casamento significou o primeiro reconhecimento por parte de uma monarquia europeia, da legitimidade da monarquia brigantina, com a Casa de Bragança a ganhar o estatuto de Casa Real Europeia”, escreve Filipe S. Fernandes.

Capa do livro 'O Rei sem Abrigo' Oficina do Livro, janeiro 2024

O Rei
sem Abrigo José de Bouza Serrano Oficina do Livro

Depois de dedicar 600 páginas a Isabel II, o antigo embaixador José de Bouza Serrano retomou um projeto que ficara pelo caminho, apesar de admitir a dúvida: “Como é que eu o salvo?”, interrogou-se sobre Juan Carlos e os seus altos e baixos.

Neto de avô espanhol, uma das paragens da longa carreira diplomática do autor foi na embaixada em Madrid. Por várias vezes, de ambos os lados da fronteira, cruzou-se com o agora Rei emérito, a começar por esse encontro fundador, ainda jovem, no golf do Estoril, quando o protagonista desta saga era ainda um príncipe a léguas de distância de um desfecho pautado pela máxima “sex and rock n roll”, lembraria o autor em entrevista a este jornal.

Depois de ter escrito uma biografia de Isabel II, A viúva de Windsor, decidiu responder a um desafio antigo: contar a história de Juan Carlos I, dos primeiros tempos à fase mais tardia, tingida pela divisão e controvérsia. Provocador, o título remete para o trajeto de quem nasceu, cresceu e se arrisca a morrer no exílio, sem um último teto digno do seu papel unificador no país vizinho. Entre a portuguesa costa do sol e os Emirados Árabes Unidos, de “joguete nas mãos de Franco e de Dom Juan” a presença indesejada na Zarzuela, o pai de Felipe VI vai ensaiando regressos episódicos a uma Espanha em turbulência que faz contas ao seu passado, presente e futuro. Eis a história de “O Rei sem Abrigo”, o mesmo que garantia: “Me voy a la cama con la corona puesta”.

Capa do livro 'Queen Victoria and her Prime Ministers: A Personal History' William Collins, janeiro 2024

Queen Victoria and her Prime Ministers:
A Personal History Anne Somerset William Collins

Para a “avó da Europa” nem tudo se resumiu a um papel decorativo. Ao longo do seu extenso reinado de 63 anos e 216 dias, Vitória privou com 10 primeiros-ministros — nem sempre nutrindo o mesmo grau de empatia por todos, bem entendido.

Da adolescência até ao seu período octogenário, poucos monarcas se poderão gabar de um tão longo reinado e, por inerência, do convívio com uma mão cheia de primeiros-ministros — ou duas, neste caso. Veterana absoluta neste campeonato, Anne Somerset desfaz o mito de que a Rainha Vitória terá reinado (longamente como é sabido), mas governado pouco. “Queen Victoria and Her Prime Ministers” (na sua versão original, sem tradução em português, pelo menos até aqui) é uma viagem por essa relação com diferentes figuras, do encanto jovial que a monarca nutria por Lord Melbourne, ao favorito Benjamin Disraeli, sem esquecer a antipatia por William Gladstone. E o que passa para a História é que mesmo com aqueles que mais a apaparicaram, caso de Disraeli, também houve momentos de colisão e fricções, que a certa altura valeram à soberana o rótulo de “criança mimada”. Não se pense, contudo, que faltou no alinhamento a devida sensibilidade e bom senso na gestão de muitos dos assuntos que pautaram o seu consulado.

Com detalhe e humor, a historiadora baseia-se largamente em fontes inéditas, como material dos Arquivos Reais e documentos nunca antes vistos dos políticos que serviram Vitória no governo. Para recordar outros retratos impressivos de outras personagens sonantes, basta vasculhar os títulos produzidos por Somerset. Dos Tudors à aclamada biografia de Isabel I, sem esquecer uma trama de homicídio, infanticídio e satanismo na corte de Luís XIV, não faltam opções para fãs do género.

Capa do livro 'A Very Private School, A Memoir' Gallery Books, março 2024

A Very Private School,
A Memoir Charles Spencer Gallery Books

Do The New York Times à Air Mail, louvam-lhe a “honestidade redentora” e o “detalhe forense” de um registo que muitos outros seus contemporâneos partilharão. John Le Carré chamou-lhe o nosso “vergonhoso” sistema de colégios internos, contado na primeira pessoa por Charles Spencer.

A notícia dos abusos sofridos aos 11 anos pelo irmão de Diana, durante a sua passagem pelo colégio interno, rivalizou com os títulos recentes sobre Kate Middleton. Pelo menos no top da Amazon afirma-se como um best seller. Não é para menos. Não só pelo parentesco com a malograda princesa mas também pelo conteúdo choque do seu livro de memórias. Charles Spencer recorda a violência verbal e a agressão física e sexual que terá experienciado em Maidwell Hall, Northhampton. Do sinistro enredo fazem parte figuras como Jack Porch, que mantinha duas bengalas no seu escritório, e que patrulhava os dormitórios da escola à noite na esperança de apanhar os alunos a conversar e aplicar respetiva punição. Ou Maude, a mulher que obrigava os meninos a nadar mesmo que não o soubessem fazer — o que resultou na quase morta de uma das vítimas, ressuscitada com respiração boca-a-boca — e que batia em Charles com uma bota de críquete e os seus perfuradores picos de metal.

Se dúvidas restassem, o conjunto de memórias extrapola um rol de lamúrias pessoais. A recuperação das cartas do autor, e os seus diários da época, refletem a desesperança e abandono, as saudades de casa e outras recordações viscerais que Spencer, bem como muitos outros da sua geração, terão sentido. “A Very Private School” afirma-se como um retrato íntimo mas também uma janela mais ampla para os traumas e horrores impostos por um rigoroso e caduco sistema de internato, e em simultâneo um pedaço de resiliência na História moderna.

Capa do livro 'O Homem que Mandou Matar o Rei D. Carlos
– Os bastidores de um crime' Gradiva, fevereiro 2024

O Homem que Mandou Matar o Rei D. Carlos
– Os bastidores de um crime José António Saraiva Gradiva

O contexto do regicídio é pretexto para enquadrar a biografia do próprio D. Carlos, filho de D. Luiz e D. Maria Pia, da sua educação e reinado ao casamento com D. Amélia e aos fios que desencadearam na sua morte.

Por um lado, os bastidores da vida dos membros da Corte, por outro os principais traços do curso da história. Os caminhos confluem rumo ao acontecimento que marcaria o começo do século XX. D. Carlos (r. 1889-1908) e o príncipe herdeiro Luís Filipe (1887-1908) morreram assassinados na Rua do Arsenal, em Lisboa, no dia 1 de fevereiro de 1908, pouco depois das 17h, mas o regicídio está longe de resultar de um impulso e impaciência do momento. O plano foi urdido laboriosamente durante nove meses e extravasa os disparos de Manuel Buíça, saídos das pistolas e as carabinas adquiridas na Espingardaria Central, ao Rossio. José António Saraiva segue a ação metódica da Coruja, o nome do trio que planeou o assassínio do Rei, formado por dois monárquicos, José d’Alpoim e visconde d’A Ribeira Brava, e por um terceiro indivíduo cuja identidade nunca foi revelada. Motivado pela descoberta de quem ordenou o regicídio, regressa a uma investigação ao atentado que começou logo após o crime, mas que se deparou com inúmeras dificuldades e entraves políticos — chegando mesmo a desaparecer depois da revolução de 5 de Outubro no ministério da Justiça.

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