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Os detalhes do atentado são escassos, ainda que o governo já tenha admitido o atentado teve "motivações políticas"

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Os detalhes do atentado são escassos, ainda que o governo já tenha admitido o atentado teve "motivações políticas"

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Porque foi Fico atacado? "O pior dia da democracia" da Eslováquia, um país polarizado que pode estar "à beira da guerra civil"

Um país polarizado, "muito dividido" e que pode estar à beira de uma "guerra civil". Eslováquia vive "momento mais triste" após atentado contra o primeiro-ministro eslovaco, o controverso Robert Fico.

“É o momento mais triste” da nação eslovaca, que sofreu “um ataque”. O governo da Eslováquia está em estado de choque após o atentado contra o primeiro-ministro, Robert Fico. O experiente político de 59 anos, reconduzido no cargo de chefe do executivo após as eleições de setembro de 2023, foi baleado esta quarta-feira após uma reunião do governo, na cidade de Handlová. “O que aconteceu hoje é algo que nos vai atormentar durante muitos anos”, lamentou o ministro da Defesa, Robert Kaliňák, em conferência de imprensa.

Falhas de segurança e um lobo solitário. Até ao momento, tudo parece indicar que foi apenas isto que esteve na origem do maior atentado contra um chefe do governo europeu nos últimos anos, pelo menos desde a morte do ex-primeiro-ministro sueco, Olof Palme, assassinado nas ruas de Estocolmo em 1986. O caso está a ser investigado pelas autoridades eslovacas. Os detalhes são escassos, ainda que o governo já tenha admitido que o atentado teve “motivações políticas”.

A identidade do autor do ataque já foi conhecida: Juraj Cintula. O homem, reformado de 71 anos, é poeta e estará ligado a movimentos políticos de esquerda. Num vídeo publicado nas redes sociais, o escritor, que também trabalhou como segurança num centro comercial, indignava-se com as últimas decisões tomadas por Robert Fico: “Não concordo com a política do governo. Por que razão estão os media a ser liquidados, porque está a RTVS [Rádio e Televisão da Eslováquia] sob ataque?”.

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“O que aconteceu hoje é algo que nos vai atormentar durante muitos anos”
Ministro da Defesa eslovaco, Robert Kaliňák

O que torna Robert Fico num alvo, o político amado por uns e detestado por outros

O primeiro-ministro da Eslováquia é um político amado por uns, odiado por outros. Governou o país desde 2006 a 2010 e de 2012 a 2018 (com uma maioria absoluta pelo meio) e que entretanto voltou ao poder. Ao longo destes anos, foi acumulando polémicas. Aliás, há seis anos, chegou a demitir-se por um escândalo relacionado com a morte do jornalista de 27 anos que estava a investigar os contornos de alegadas fraudes fiscais praticadas por altos dirigentes políticos, que estariam ligadas à máfia italiana, e que em que estariam envolvidos membros do governo de Robert Fico.

Este episódio não levou o governante eslovaco a abandonar a política. E, no ano passado, Robert Fico voltou a ganhar eleições e ocupou novamente o cargo de primeiro-ministro, mas num contexto bastante distinto no continente europeu, principalmente pela guerra na Ucrânia. Numa União Europeia e numa NATO unidas em solidariedade com as autoridades ucranianas, o chefe do executivo decidiu terminar com o apoio militar entregue a Kiev, contrariando os anteriores governos. Mas cumprindo uma promessa eleitoral — Robert Fico nunca escondera a sua proximidade a Vladimir Putin, o Presidente russo.

[Já saiu o primeiro episódio de “Matar o Papa”, o novo podcast Plus do Observador que recua a 1982 para contar a história da tentativa de assassinato de João Paulo II em Fátima por um padre conservador espanhol. Ouça aqui.]

Esta orientação da política externa do primeiro-ministro eslovaco é muito idêntica à do primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. Aliás, os dois governantes são amigos e sempre tiveram uma relação de cooperação. E não são só as prioridades geopolíticas as únicas semelhanças entre os dois líderes. Ambos são acusados de colocarem em causa vários princípios do Estado de direito.

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Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, e Robert Fico, primeiro-ministro da Eslováquia

AFP via Getty Images

Casos de corrupção, assédio a jornalistas, pressão ao poder judicial. São vários os casos que ensombram a política eslovaca e que geram uma enorme polarização. “Não é um episódio isolado. É um dos países mais polarizados da Europa com ameaças frequentes contra a vida de políticos”, explica ao Financial Times Milan Nič, analista do think tank Council on Foreign Relations.

“Podemos definitivamente dizer que a Eslováquia é atualmente um país muito dividido”, corrobora o jornalista eslovaco, Tomáš Verníček, em declarações à Sky News. Durante uma conferência de imprensa para fazer um ponto de situação sobre o estado de saúde de Robert Fico, o ministro da Administração Interna, Šutaj Eštok, apelou ao “público, aos jornalistas e todos políticos” que parem de “espalhar ódio”. “Estamos perto da guerra civil”, avisou.

A Presidente eslovaca, Zuzana Čaputová, denunciou o “discurso e a retórica cheia de ódio” que está a contaminar o discurso público do país. “A violência é absolutamente inaceitável. O discurso de ódio e a retórica, que testemunhamos na sociedade, origina atos odiosos. Vamos parar isto, por favor”, escreveu na sua conta pessoal do X.

"Não é um episódio isolado. É um dos países mais polarizados da Europa com ameaças frequentes contra a vida de políticos"
Milan Nič, analista do think tank Council on Foreign Relations

Um clima político tão polarizado pode funcionar como um terreno fértil para atentados deste género. Mais: a Eslováquia atravessava uma verdadeira maratona eleitoral, que causava ainda mais polarização. Em setembro do ano passado, houve eleições parlamentares que levaram à formação de um governo liderado por Robert Fico; há mês e meio, eleições presidenciais deram a vitória a Peter Pellegrini, aliado do primeiro-ministro; e, no início de junho, há eleições europeias.

Além disso, como conta o Politico, as divisões sociais na Eslováquia são muitas — novos contra velhos, população urbana contra rural e saudosistas do regime comunista contra pró-ocidentais. E já vêm desde a independência do país e da separação da Checoslováquia, em 1991.

Por exemplo, Robert Fico juntou-se ao Partido Comunista da Checoslováquia. Quando a União Soviética colapsou e o país adotou um caminho pró-ocidente, o jovem de 25 anos continuou a acreditar nos ideais daqueles tempos, confessando-se como um saudosista do comunismo. Como refere o Politico, o atual primeiro-ministro sabia que isso era uma ideia que não era popular entre a generalidade da população e que poderia liquidar o seu futuro político; de forma pragmática, decidiu assim formar um partido próximo do centro-esquerda, o Smer-SD, no qual se mantém até hoje.

O poeta de 71 anos que causou o atentado

“Robo, anda cá.” Terão sido estas palavras que o poeta Juraj Cintula pronunciou antes de disparar pelo menos cinco vezes contra Robert Fico. O homem de 71 anos, natural da cidade de Levice, será fundador de um clube literário na cidade de Handlova e escreveu três coletâneas de poesia. É, desde 2015, membro da Associação Eslovaca de Escritores.

https://twitter.com/nexta_tv/status/1790793026815611113?ref_src=twsrc%5Etfw%7Ctwcamp%5Etweetembed%7Ctwterm%5E1790793026815611113%7Ctwgr%5E4bc4656b9d598097c8c271c7e925144310f22d75%7Ctwcon%5Es1_&ref_url=https%3A%2F%2Fobservador.pt%2F2024%2F05%2F15%2Feslovaquia-num-video-pos-detencao-atirador-critica-liquidacao-dos-media-e-a-interferencia-do-governo-na-justica%2F

Havendo investigações ainda em curso, sabe-se já que Juraj Cintula estava incomodado, como confessou num vídeo partilhado nas redes sociais, com o encerramento do canal estatal, um tema que começou esta quarta-feira a ser discutido no Parlamento da Eslováquia. Robert Fico deseja fundar uma nova televisão do Estado, sendo que os opositores temem que este seja um meio para que o Estado controle o fluxo de informação — colocando em risco a liberdade de expressão.

Para além disso, Juraj Cintula indignava-se com o estado da Justiça na Eslováquia. “Por que razão Mazák foi retirado do seu cargo?”, questionou o atirador. Segundo o jornal eslovaco Spectator, Ján Mazák foi destituído do cargo de presidente do Conselho Judicial da Eslováquia em abril por indicação do governo. O responsável jurídico ligou a sua destituição ao facto de ter liderado uma investigação sobre corrupção que envolvia o próprio Robert Fico e membros do governo, como o ministro da Defesa.

Ainda sobre Juraj Cintula, de acordo com a Euronews, há publicações no Facebook de 2016 que mostram que era um simpatizante de um grupo paramilitar eslovaco pró-russo, chamado Slovenskí Branci. Esta milícia foi acusada de tentar recrutar jovens eslovacos, mas não é claro o envolvimento atual do atirador contra o primeiro-ministro eslovaco.

O atirador Juraj Cintula

REUTERS

As tentativas de assassinato de líderes do executivo

Um primeiro-ministro baleado é uma situação inédita na Eslováquia e na história recente da Europa. Há que regressar a 2003 para recordar a morte de um primeiro-ministro europeu em funções. O chefe do executivo da Sérvia e Montenegro, Zoran Đinđić, foi assassinado em 2003, quando estava a sair do carro para entrar no edifício que acolhia a sede do governo, em Belgrado. Foi a máfia sérvia que organizou o assassínio.

Nos anos 80, Olof Palme, ex-primeiro-ministro da Suécia, foi assassinado nas ruas de Estocolmo. Este caso esteve envolto em mistério durante décadas. Em 2020, a procuradoria-geral sueca revelou que o atirador tinha sido o designer gráfico Stig Engstrom — com problemas financeiros e que não apreciava as políticas de Olof Palme — acabaria por se suicidar em 2000. Nunca ficou claro, porém, os motivos que levaram aquele homem a matar o chefe do executivo.

Fora da Europa, em 2022, um homem tentou alvejar a antiga Presidente argentina, Cristina Kirchner, mas falhou. Também naquele ano, o antigo primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, foi alvejado nas pernas, sobrevivendo ao atentado. Final distinto, também em 2022, teve o ex-chefe do executivo japonês, Shinzo Abe, que foi alvejado no pescoço. Acabou por morrer na sequência dos ferimentos.

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