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Portugal tem estado a divergir da média comunitária na produtividade por hora trabalhada.
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Portugal tem estado a divergir da média comunitária na produtividade por hora trabalhada.

Portugal tem estado a divergir da média comunitária na produtividade por hora trabalhada.

Produtividade em Portugal vai crescer acima da média europeia. Mas estamos mesmo mais produtivos?

Depois do tombo de quase 7% em 2020 e o início da recuperação em 2021, a produtividade deverá crescer além de 3% este ano. PIB e pandemia ajudam a explicar. Mas fórmula matemática espelha a realidade?

Cada trabalhador em Portugal contribuiu, em média, em 2021, com 39,5 mil euros para a economia nacional, um valor ainda abaixo do pré-pandemia (41,2 mil euros, em 2019) e não muito longe do verificado há mais de 20 anos. Em 1999, por exemplo, ficava pelos 34,6 mil euros. Este ano, se as projeções do Executivo estiverem corretas, pode rondar os 40 mil euros, segundo cálculos do Observador com base nas estimativas do Governo para este ano e os números do INE de 2021. Porquê?

O Governo acredita mesmo que a chamada “produtividade aparente do trabalho” em Portugal vai subir bem acima do que várias instituições europeias e mundiais projetam para a UE e a zona euro. E ao maior ritmo desde, pelo menos, 2000. Esse efeito influencia a evolução melhor do que o esperado de um outro indicador: o Produto Interno Bruto (PIB). Quer isto dizer que perceber porque é que a produtividade vai crescer mais do que a média europeia implica olhar para o crescimento da economia.

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Nas contas públicas, a produtividade é medida através da “produtividade aparente do trabalho“, que se obtém dividindo o PIB real pelo número de empregos. Ou seja, é a riqueza que cada trabalhador obtém, em média, na produção de bens e serviços. A fórmula dita que se a queda no PIB for maior do que a queda no emprego, a produtividade desce. Da mesma forma, se a subida no PIB for superior à subida do emprego a produtividade sobe (é este segundo cenário que se deverá verificar este ano, tendo em conta que se espera uma evolução da economia melhor do que a esperada).

Por exemplo, em 2013, num dos piores anos da crise anterior, a produtividade subiu 2% não porque a economia tenha melhorado muito — o PIB até caiu —, mas porque o emprego recuou ainda mais (o número de empregados atingiu o valor mais baixo da crise nesse ano). À luz da fórmula, isso faz com que, sendo a variação do PIB superior à do emprego, a produtividade suba.

É o INE que calcula a produtividade aparente do trabalho. O Instituto estima que, em 2021, a variação da produtividade por trabalhador tenha ficado em 2,8%, depois de uma queda acentuada no primeiro ano da pandemia, 2020, em que a produtividade derrapou 6,7% decorrente das restrições que afetaram a economia e o mercado de trabalho. Os 2,8% estão muito longe do que o Governo projetava no Orçamento do Estado para 2021 — 4,3% — feito no final de 2020 ainda sem se antecipar aquela que foi uma das piores vagas da pandemia, que ditou o regresso ao confinamento e a restrições na economia, no início do ano passado.

Para este ano, as últimas projeções do Ministério das Finanças são de abril e podem, portanto, estar já desatualizadas tendo em conta o impacto da inflação e da guerra na Ucrânia sobre o PIB: 3,5%, uma previsão que, segundo explicou a tutela ao Observador, tem em conta a projeção de um avanço no PIB de 4,9% e no emprego de 1,3%.

As instituições nacionais e internacionais não são unânimes nos cálculos da produtividade. Um mês antes, o Conselho das Finanças Pública apontava para 3,6%, mas o organismo liderado por Nazaré da Costa Cabral já admitiu poder haver indicadores desatualizados, como a inflação. Já as projeções da OCDE, as mais recentes, remontam a junho: a organização estima que o indicador fique em 2,8%, muito acima dos 0,7% para a zona euro ou os 0,1% para o total dos países da OCDE. Porquê esta diferença?

Ainda o efeito da pandemia

Uma produtividade aparente do trabalho a crescer 3,5%, como estimado pelo Governo, significa que cada trabalhador produz 3,5% a mais de valor do que produzia o ano passado, uma percentagem que já inclui o recurso a meios tecnológicos, capital público e privado, etc. É assim que sintetiza Pedro Brinca, economista, professor na Nova SBE e autor do estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos “Como Trabalham os Portugueses”, em conversa com o Observador.

Mas o que explica que a produtividade em Portugal vá crescer acima da média da zona euro? O economista responde que, atendendo à fórmula matemática, e uma vez que deverá ser o numerador (o PIB) a puxar pela produtividade, “as razões são as mesmas pelas quais o PIB vai subir” acima da média. “Da mesma maneira que o PIB português cresceu mais do que o resto da UE, também é óbvio que se não houver variações significativas de emprego entre os países da UE, em Portugal obviamente a produtividade cresceria mais do que o resto”, explica.

O PIB cresce, por um lado, pelo “efeito base”. Portugal está a recuperar de dois anos castigados pela pandemia, ou seja, sai de um ponto de partida mais baixo. A economia portuguesa caiu mais do que as restantes em 2020 e não recuperou tanto em 2021: no primeiro ano da pandemia, o PIB teve um tombo histórico de 8,4% (a produtividade recuou 6,7%), enquanto a média da UE caiu 5,9%. Em 2021, Portugal cresceu 4,9% (e a produtividade 2,8%) e a UE 5,4%.

A adoção de tecnologias de trabalho remoto, o investimento em máquinas durante a pandemia porque as máquinas não apanham Covid, a digitalização e automação... tudo isso tende a aumentar a produtividade do trabalho.
Pedro Brinca, economista

“Tipicamente, Portugal tem um ciclo económico com maior amplitude, ou seja, quando cai, cai mais”, refere Pedro Brinca. Mas quando subir também subirá mais, acrescenta. “Este crescimento é para repor a economia na trajetória anterior“, avança, por sua vez, João Cerejeira, economista e professor da Universidade do Minho. Cerejeira não tem, aliás, dúvidas na hora de apontar explicações para a evolução da produtividade aparente do trabalho: “Esse crescimento tem essencialmente a ver com a recuperação da atividade turística“, de que a economia portuguesa é muito dependente.

Durante a pandemia, os países mais dependentes do turismo, como Portugal, Espanha, Itália ou Grécia, tiveram quedas mais substanciais do PIB devido às quebras de um dos setores mais afetados pela Covid-19, nota. Se o turismo caiu, agora está a recuperar a todo o gás e a voltar aos valores pré-pandemia (ou mesmo a ultrapassá-los). Com o levantamento das restrições, “os hotéis tiveram mais dias em funcionamento, os restaurantes viram os horários mais alargados, tudo volta um pouco à normalidade anterior”.

Será o turismo um dos fatores a alavancar o crescimento este ano, que tem sido revisto em alta por algumas instituições internacionais. Por exemplo, nas previsões económicas de verão, a Comissão Europeia reviu em alta o crescimento do PIB para este ano, de 5,8% para 6,5%. Nessas previsões, Portugal é mesmo o país que mais cresce em 2022, muito acima da média da UE, que crescerá 2,7%.

Bruxelas antecipa que as exportações de serviços sejam o principal contributo para o crescimento anual, tendo em conta o “aumento excecional” no primeiro trimestre (segundo os dados do INE cresceram 67% nos primeiros três meses), “claramente apoiado pela recuperação do setor do turismo”, onde as dormidas de não residentes aumentaram 846% face ao mesmo período do ano anterior (embora estejam ainda abaixo do pré-pandemia). Mesmo para o resto do ano, os dados “sugerem uma forte performance do turismo com os voos e visitas de turistas estrangeiros quase a atingir o nível pré-pandemia no segundo trimestre” do ano.

Por outro lado, a curto prazo, a falta de trabalhadores na aviação pode, diz Bruxelas, ter consequências nas visitas de turistas. Há, também, indicadores que “sugerem uma desaceleração no consumo do setor privado, produção industrial e construção devido às crescentes pressões de custo dos preços da energia e restrições globais de oferta”, além da “procura mais fraca de parceiros comerciais”.

Também o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em maior o crescimento da economia portuguesa em alta, para 4,5% em 2022 face ao que previa em abril (4%).

FMI também revê crescimento de 2022 em alta (mas para 4,5%) e vê inflação a chegar aos 6%

A OCDE, por sua vez fez uma revisão em baixa, no início de junho, face às estimativas de dezembro de 2021 e acredita que a economia vai subir 5,4% em vez de 5,8%. A organização vê um investimento público “robusto”, por via dos fundos europeus, e a retoma no turismo, mas também aponta alguns riscos, nomeadamente atrasos no PRR. A guerra também poderá confundir as contas, com uma redução da confiança e do poder de compra. Aliás, a subida dos preços está a generalizar-se a mais setores, lembra. As preocupações estendem-se também aos efeitos da subida das taxas de juro diretoras pelo BCE.

São os altos e baixos da atividade produtiva da economia que ajudam a explicar a evolução de curto prazo da produtividade. No livro “Mudam-se os tempos, mantêm-se os desafios”, o ex-ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos também explica que as flutuações na atividade económica traduzem-se em flutuações na produtividade, que é maior quando a atividade económica é maior, e desce quando é menor.

A razão está ligada ao “desfasamento existente entre o andamento da atividade económica e o do emprego“. Ou seja, quando a atividade aumenta, o emprego não responde de imediato — só tende a subir “a partir do momento em que os empregadores formam a expectativa de que a expansão será sustentada e prolongada”. Enquanto isso não acontece, “a produção aumenta sem o emprego aumentar ao mesmo ritmo”, como acontecerá se as previsões do Governo para este ano estiverem corretas, “o que faz subir a produtividade”. Já nos períodos de desaceleração passa-se o contrário.

Maior dependência em setores que pesam pouco na produtividade

Quer um aumento da produtividade aparente do trabalho dizer que cada trabalhador está mais produtivo? “De alguma maneira podemos dizer que estão mais produtivos porque as paragens que tivemos no ano passado também se refletiram numa menor produtividade das pessoas, porque tiveram menos horas de trabalho, nomeadamente nestas áreas da restauração e do turismo com os confinamentos, as restrições etc. Também houve aí menos produção por trabalhador”, refere João Cerejeira. “Não é uma questão de fazer as coisas melhor face à situação da pandemia, mas o trabalho ser usado de forma mais intensiva“, explica.

O economista acrescenta que o layoff simplificado impediu que o desemprego subisse tanto quanto se esperava, mas também teve efeitos na produção, o que influencia a tal fórmula matemática: “As pessoas não perderam o emprego, mas deixaram de produzir“, de contribuir tanto para o PIB.

A inflação é boa ou má para as contas públicas?

Pedro Brinca, por sua vez, lembra que se chama produtividade “aparente” porque “não depende só do trabalhador, “mas dos fatores produtivos que são relevantes para a produção”, como o capital usado, a tecnologia, maquinaria, recursos, grau de inovação. E quanto mais tecnologia maior será a produtividade. Só que os setores de que Portugal mais depende são aqueles em que a introdução da tecnologia e da automação é mais difícil e onde a produtividade, e a criação de valor acrescentado, é inferior. E isso limitará o crescimento futuro.

“Nós para termos crescimentos maiores, passado este efeito de ajustamento de conjuntura, precisamos de uma alteração também substancial do perfil produtivo da economia portuguesa. A questão de estarmos bastante dependentes do turismo é que é uma atividade que gera pouco valor acrescentado por trabalhador comparado com os exemplos de alguma indústria transformadora ou de alguns serviços de natureza tecnológica”, diz João Cerejeira.

O turismo é um setor “bipolar”. Por um lado, é importante na criação de emprego e gera rendimentos a muitos agentes. Por outro lado, a capacidade de acrescentar valor “é muito mais difícil” do que, por exemplo, no caso da indústria ou nas novas tecnologias, pela dificuldade em introduzir tecnologia, dada a natureza interpessoal do setor.

“O que acontece é que na Continental ou na Bosch, duas multinacionais, o valor que a empresa gerou dividido pelo número de trabalhadores é n vezes maior do que o valor gerado por um trabalhador num restaurante, por exemplo, mesmo que aí o esforço físico e de horário de trabalho seja mais exigente. Aqui não se está a contar as unidades produzidas, mas o valor do que é produzido. É preciso olhar para o acesso à tecnologia e para a valorização dos produtos”, explica. Ou seja, o contributo desses trabalhadores para o PIB é maior “porque estão numa empresa em que as condições tecnológicas, a inovação, também é maior”.

Turismo em Praia de Lagos durante a pandemia causada pelo vírus Sars-Cov2

O turismo é um setor "bipolar". Por um lado, é importante na criação de emprego e gera rendimentos a muitos agentes. Por outro lado, a capacidade de acrescentar valor "é muito mais difícil"

Getty Images

Pedro Brinca acrescenta que o trabalho remoto também pode ter contribuído para a produtividade, uma vez que os trabalhadores deixam de ‘perder tempo’ nas deslocações para o trabalho — um período que podem estar a usar para trabalhar mais. “A adoção de tecnologias de trabalho remoto, o investimento em máquinas durante a pandemia porque as máquinas não apanham Covid, a digitalização e automação… tudo isso tende a aumentar a produtividade do trabalho.”

Na indústria, lembra João Cerejeira, também há quem esteja a bater recordes de exportação. É o caso da metalurgia e da metalomecânica, cujas exportações atingiram em maio um “recorde absoluto” mensal, ou “o melhor registo de todos os tempos por larga distância”, de 2.135 milhões de euros, mais 25% face ao período homólogo. O setor ultrapassou pela primeira vez os 2.000 milhões e “continua a superar todas as previsões e expectativas”, segundo a associação do setor, a AIMMAP.

Exportações portuguesas de metalurgia batem recorde mensal absoluto em maio

Ao Observador, a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) reconhece que o primeiro trimestre trouxe boas notícias “em termos de produção e provavelmente de produtividade“, mas também salienta que a justificação pode estar na recuperação do pós-pandemia. E alerta que os próximos tempos serão muito incertos, este ano e em 2023, um “ano extremamente complexo e com níveis de risco elevados”, antecipa Armindo Monteiro, vice-presidente da CIP.

“As empresas portuguesas estão sujeitas a um elevado grau de pressão. Além da inflação e da escalada dos custos operacionais, a subida das taxas de referência do BCE vai diluir ainda mais os resultados. As dificuldades estão aqui, estão entre nós, embora ainda disfarçadas pela atividade, mas é indesejável assumir compromissos que se revelem excessivos já a curto prazo”, defende.

A CIP pede, por isso, um equilíbrio cauteloso entre salários e emprego. Esta referência tem uma razão de ser: o acordo de rendimentos e competitividade que o Governo já disse querer fechar até ao outono, para incentivar as empresas a subir salários. Só que a confederação não concorda com os dados tidos como referência pelo Governo.

No entendimento da CIP, que consta num documento já entregue ao Executivo, os dados do Governo que estão a servir de base ao acordo não refletem a realidade da evolução dos salários reais nem da produtividade. No que toca a este último ponto, critica que seja tido em conta o período entre 1999 e 2019, em que a produtividade subiu muito, mas ignorando os anos da pandemia, para os quais já há dados — que “conduzem a uma conclusão bem diferente” sobre a evolução destes indicadores.

Portugal tem vindo a perder terreno

O economista da Nova SBE Pedro Brinca aponta falhas à métrica da produtividade aparente do trabalho. É que não mostra como os portugueses, embora trabalhem mais horas, são dos menos produtivos. Por isso, considera que uma métrica melhor para avaliar a produtividade é a produtividade por hora trabalhada, ou seja, “quanto acrescenta de valor cada hora trabalhada”. Calcula-se dividindo o PIB em euros a preços correntes pelo número de horas trabalhadas no ano civil, mas não é tida em conta nas contas públicas.

Na produtividade por hora trabalhada, segundo Pedro Brinca, Portugal tem estado a divergir da média comunitária. Em 2019, por exemplo, foi mesmo ultrapassado pela República Checa. Segundo dados agregados pela Pordata, com base no Eurostat, em 2021 um trabalhador acrescentava, por hora, 23,7 euros à economia (25,5 euros na República Checa). O primeiro lugar é ocupado pelo Luxemburgo (109 euros por hora), o que pode ser explicado pelo facto de o país receber diariamente muitos trabalhadores transfronteiriços, que contam para o PIB mas não para o volume de emprego (neste indicador, são contabilizados no seu país de residência). Já a média da UE a 27 (dados de 2020) era de 42,1. A produtividade por hora também não é infalível, acrescenta o economista, uma vez que é difícil aferir com exatidão quantas horas são efetivamente trabalhadas em Portugal.

Num estudo para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, Pedro Brinca debruçou-se sobre o trabalho dos portugueses e um dos indicadores estudados foi, precisamente, a produtividade. O economista elencou fatores inerentes à economia portuguesa que têm afetado negativamente a produtividade.

Por um lado, Portugal é uma “economia relativamente fechada”, mesmo apesar de ter aumentado o peso das exportações no PIB nos últimos anos; a “maioria” do investimento direto estrangeiro é canalizado para o setor dos bens e serviços não transacionáveis, como a construção e o imobiliário; e o facto de a administração pública “absorver a maioria dos talentos da nova geração, com níveis de educação mais elevados”. Um dos problemas que pode advir de uma produtividade estagnada é “necessariamente” um “maior esforço da carga fiscal”.

Mas também têm sido feitas alterações que, na análise de Pedro Brinca, contribuíram positivamente para a produtividade e os salários em Portugal: o aumento do setor dos serviços na economia, que permitiu aos trabalhadores saltarem do setor primário para “setores mais produtivos”, ou o aumento da escolaridade da população ativa.

Só que essas melhorias na escolaridade não foram acompanhadas por avanços semelhantes na produtividade. Um estudo da Fundação José Neves divulgado em junho revelou que o aumento das qualificações em Portugal não tem sido seguido por ganhos na produtividade. Em 2019, por exemplo, cada trabalhador no país ainda produzia o equivalente a 66% da média dos trabalhadores da UE. Um avanço na produtividade “não advirá de um aumento de horas trabalhadas, mas sim da eficiência desse trabalho e do valor do produto”.

Portugal é o país da UE com patrões menos qualificados. E isso prejudica a produtividade

O mesmo estudo da Fundação José Neves traçou outras condicionantes à produtividade: Portugal continua a ser o país da UE com maior percentagem de patrões e gestores que não terminaram o ensino secundário; e contratar funcionários jovens qualificados contribui positivamente, mas apenas se estes trabalhadores representarem mais de 40% da força de trabalho.

Para Pedro Brinca também a “pouca flexibilidade do mercado de trabalho”, como por exemplo “os elevados custos de contratação e despedimento”, tem efeitos na produtividade geral porque “acaba por contribuir para uma elevada percentagem de maus emparcelamentos entre trabalhadores e empresas”. Ou seja, há uma “desadequação entre a produtividade do trabalhador e da empresa”.

Os salários também têm uma quota-parte. E se são consequência da baixa produtividade, também são uma causa. “As empresas, ao terem mão de obra barata e custos com o fator de produção trabalho relativamente baixos, têm poucos incentivos para investir em novas tecnologias que possam substituir trabalhadores e que poderiam levar a um aumento de produtividade”, explica, no estudo. Aliás, Portugal não compara bem nos rankings de investimento em investigação e desenvolvimento. Mas, por outro lado, o salário mínimo nos últimos anos tem aumentado acima da produtividade, refere, o que funciona como um incentivo às empresas para investirem na automação.

"Nós para termos crescimentos maiores, passado este efeito de ajustamento de conjuntura, precisamos de uma alteração também substancial do perfil produtivo da economia portuguesa."
João Cerejeira, economista

Em Portugal há, por isso, ainda um grande “potencial de automação”. Isto porque há muitas tarefas “repetitivas” que na visão do economista “facilmente” poderiam ser substituídas por tecnologia. Essa automação, frisa, só terá ganhos efetivos na produtividade se for acompanhada por um esforço de “requalificação” dos trabalhadores, de transferência de ocupações de baixo valor acrescentando mais setores mais produtivos.

O ex-ministro das Finanças Fernando Teixeira dos Santos, no livro sobre a economia portuguesa, estima que, entre 1960 e 2019, o nível de produtividade do trabalho em Portugal era, juntamente com o da Grécia, o mais baixo num conjunto de 12 países da zona euro analisados. Apesar disso, foi o país com o segundo maior aumento da produtividade, a seguir à Irlanda, no mesmo período.

Essa evolução não foi, contudo, suficiente para colocar o país em bom porto no que a este indicador diz respeito: apesar dos avanços na produtividade em Portugal, o economista calcula que sejam precisos 45 anos para o país atingir 60% da produtividade média dos parceiros europeus; 154 anos para chegar aos 75% e mais de 290 anos para os igualar, se se mantiverem as taxas de crescimento médio em Portugal e na zona Euro. Por outro lado, se a produtividade portuguesa crescer, em média, 2% ao ano atingiremos 60% da média europeia no final da década e demoraremos meio século a igualá-la.

Produtividade vai abrandar na zona Euro

Da mesma forma que uma aceleração da produtividade aparente do trabalho era expectável, também o será uma desaceleração. Num relatório de junho de 2022, o Banco Central Europeu (BCE) antecipava um abrandamento da produtividade do trabalho em 2022, “em linha com o abrandamento temporário na atividade económica e nos mercados de trabalho muito resilientes antes de aumentar outra vez em 2023”.

A desaceleração da produtividade por trabalhador “também reflete os efeitos de composição uma vez que o crescimento no setor dos serviços (que tipicamente tem menor produtividade do que a média da economia como um todo) aumentou, enquanto o crescimento no setor industrial (que tipicamente tem maior produtividade) diminuiu”.

No médio prazo, espera-se que o crescimento da produtividade do trabalho “recupere o seu dinamismo como resultado de um crescimento económico mais forte e dos efeitos positivos da digitalização da economia”, para uma média de cerca de 1,6% em 2023-24, que “está consideravelmente acima da média de longo prazo do pré-pandemia de 0,6%”.

O BCE não faz previsões por país. Especificamente para o caso português, a OCDE, por exemplo, prevê em 2023 um abrandamento da produtividade para 1,2% e, na zona euro, para 1,1%. Assim como o CFP, que se para este ano estima 3,6% (nas projeções de março) para o ano já fala em 2,4%, valor que desce uma décima em 2024 e chega a 2,1% no ano seguinte. Já para 2026 antevê que a produtividade aparente do trabalho se fixe em 1,6%.

Fazer previsões é um exercício de grande complexidade em particular no cenário atual, destaca João Cerejeira: “Ainda é tudo muito incerto relativamente ao efeito que a inflação pode ter em termos do PIB real, que importa no fim do dia. Este ano é muito difícil fazer previsões”. As que há têm sido repetidamente revistas, em alta ou em baixa.

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