Com o processo autárquico do Porto fechado e Manuel Pizarro escolhido como candidato, com Gaia praticamente entregue a João Paulo Correia, as atenções socialistas focam-se agora nas outras duas cidades mais populosas. Lisboa e Sintra têm tido vários nomes apontados, mas está tudo por fechar. A direção mantém como objetivo que isso aconteça até ao final do ano, mas, neste momento, ainda estão a ser testados nomes e alguns deles até nas duas autarquias ao mesmo tempo. “Ainda [estamos] a avaliar”, diz um dirigente ao Observador quando confrontado com a decisão nestes dois importantes bastiões autárquicos.
Mariana Vieira da Silva é a socialista mais falada para liderar uma candidatura à Câmara Municipal de Lisboa — a própria não nega interesse –, mas o seu nome tem sido também testado, em sondagens internas, para a Câmara de Sintra, segundo apurou o Observador junto de várias fontes conhecedoras dos processos autárquicos no distrito de Lisboa.
Em Sintra, já foi feito mais do que um estudo de opinião, tendo o mais recente sido pedido pelo Largo do Rato (que é como quem diz pela direção socialista), focando-se em quatro nomes: António Mendonça Mendes (o deputado socialista que mais tem sido falado para esta candidatura), Mariana Vieira da Silva, Ana Mendes Godinho e ainda Bruno Parreira, vice-presidente de Basílio Horta em Sintra.
Estes nomes estão a ser testados em confronto com dois dos que mais se falam do lado do PSD para a mesma autarquia: Marco Almeida (que já se candidatou em Sintra por duas vezes, em 2013 e em 2017) ou Pedro Santana Lopes, que vai alimentando o sonho de correr a Belém. Ainda não há resultados deste estudo, que terá sido realizado nos últimos 15 dias, mas a conclusão será importante para a tomada de decisão que a direção tenciona articular com Basílio Horta. O autarca independente eleito em listas do PS desde 2013 é tido como um ativo de peso para a futura campanha eleitoral, numa autarquia onde os socialistas têm muito em jogo — Basílio está obrigado a sair, pela lei de limitação de mandatos.
Mas, nesta altura, a concelhia liderada por Bruno Parreira já definiu o perfil desejado, com António Mendonça Mendes a surgir como o nome preferido. O deputado socialista até já iniciou algum trabalho local, com visitas a secções do partido no concelho e também ao presidente da Câmara de Sintra. Junto da estrutura defende-se que mais do que o peso eleitoral de um nome — medido a tanta distância do ato eleitoral — importa mais a abordagem que pode trazer para o território, nomeadamente propostas que vão ao encontro das preocupações locais — que também estão a ser pesadas nestes estudos de opinião.
Em Sintra, a gestão do processo autárquico pela direção nacional é descrito entre o “muito confuso” e o “atrasado”, ouviu o Observador junto de diversas fontes. Numa autarquia em mudança de ciclo, a regra era preparar um sucessor com tempo, mas perto do prazo para escolher o nome os socialistas continuam sem certezas sobre quem vão apoiar em Sintra. “É uma das últimas grandes [Câmaras] que o PS tem”, aponta um conhecedor do concelho, que considera que esta tem de ter “uma aposta forte e com peso significativo no partido”.
Entre os três municípios mais populosos, o PS só controla Sintra. Perdeu Lisboa nas últimas autárquicas, com Fernando Medina a perder a presidência para Carlos Moedas, e o Porto já não controla desde 2001 — nem mesmo em 2017, quando conquistou as nove maiores autarquias do distrito e recuperou a liderança da Área Metropolitana do Porto.
Vieira da Silva em espera. Cordeiro continua fora
Em Lisboa, o processo também ainda não está fechado, mas a shortlist está há muito definida e inclui como nomes mais prováveis o de Mariana Vieira da Silva e o da líder parlamentar Alexandra Leitão. O candidato mais desejado no partido para a CML era Duarte Cordeiro e na estrutura distrital ainda se acalenta a esperança de que o ex-ministro do Ambiente e vice da CML (de Fernando Medina) possa mudar de ideias, depois de ter decidido afastar-se da política por causa dos processos judiciais em que o seu nome foi envolvido, sem que tenha sido constituído arguido até aqui.
No entanto, apesar da manifesta esperança das estruturas do partido, o socialista tem feito saber junto dos seus mais próximos que não alterou essa sua posição de exclusão da vida política ativa — mantém-se na direção de Pedro Nuno Santos, mas a colaboração com o líder socialista tem sido muito recuada. “Não quer. Está fora de equação”, garante um socialista próximo de Duarte Cordeiro.
Mariana Vieira da Silva é um nome que se repete nos estudos de opinião que a direção está a levar a cabo entre Lisboa e Sintra. Contactada pelo Observador sobre a referência do seu nome também em Sintra, a deputada recusa falar nas autárquicas nesta fase. Um dirigente desdramatiza, no entanto, essa sobreposição e diz que “os nomes mais fortes do PS podem ser testados em vários sítios”, sem que a decisão do partido esteja necessariamente presa ao resultado destas sondagens. “Pesam sempre vários fatores”, garante a mesma fonte ao Observador, assegurando que nada será feito à revelia das estruturas locais.
A decisão sobre os candidatos é uma competência das concelhias, mas o secretário-geral do partido ou as federações distritais podem avocar o processo. Seja como for, no final, haverá sempre uma votação da concelhia e os nomes serão sempre escolhidos, segundo este mesmo dirigente, “em articulação com o secretário-geral”, tal como aconteceu no Porto.
A federação a que as duas concelhias pertence está, por sua vez, a votos, depois da demissão do líder que tinha sido eleito em setembro, Ricardo Leão. As eleições da Federação da Área Urbana de Lisboa — onde Miguel Prata Roque concorre com Carla Tavares pela liderança — estão marcadas para 10 de janeiro, mas o líder do partido não irá esperar pelo fecho desse processo para avançar com a decisão sobre os nomes de Sintra e Lisboa.
Carneiro diz que “teria sido adequado” uma “palavra prévia” sobre o Porto
No distrito de Lisboa, os socialistas mostram impaciência por não verem as escolhas fechadas e também alguma estranheza por, em alguns casos, a direção ainda não ter sequer falado com alguns dos nomes que vão sendo indiciados como candidatos.
E há também quem critique abertamente o silêncio a que a direção se tem remetido na gestão do processo autárquico, como foi o caso de José Luís Carneiro, que ainda esta semana, na CNN Portugal, lamentou ninguém ter falado com ele depois de se ter disponibilizado para uma candidatura ao Porto. Recado que repetiria esta quarta-feira, em declarações ao Observador, dias depois de ter visto a comissão política distrital da concelhia do Porto do PS a aprovar o nome de Manuel Pizarro . “Se tivesse havido diálogo e uma palavra prévia à escolha teria sido adequado“, sublinhou o socialista.
Na mesma entrevista ao Observador, questionado sobre se não foi contactado por Pedro Nuno Santos em alguma fase do processo, Carneiro respondeu que “ninguém com responsabilidade local ou com maior responsabilidade nacional teve qualquer conversa” nesse sentido. Sobre Manuel Pizarro, um velho rival seu no distrito, o adversário de Pedro Nuno nas últimas eleições internas limitou-se a dizer o mínimo: “Tem experiência política e de serviço à própria cidade. Nada mais tenho a dizer”.
Câmara do Porto? “Merecia palavra prévia”, queixa-se José Luís Carneiro