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DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Espinho TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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PSD. Os bastidores da campanha de Luís Montenegro. O enterrar do rioísmo, os fantasmas do futuro e a inspiração de Guterres

A confiança na vitória, o número mágico para sábado (60%), o papão do rioísmo, o mudar de chip do passismo, o desejo de repetir Guterres e a certeza de que, ganhando, vai ter quem o queira derrubar.

Luís Montenegro está a jogar em casa e não há espaço para grandes hesitações ou contemplações: arroz de robalo e vinho branco para todos. A casa, o restaurante “Marretas”, bem na marginal de Espinho, faz as honras e escolhe as entradas – jaquinzinhos, saladinha de polvo, pão e presunto. Os comensais que acompanham o candidato a líder do PSD fazem o resto e servem postas de Jorge Moreira da Silva para abrir o apetite. É tempo de celebrar mais um engasganço do adversário.

A entrevista de Moreira da Silva continua a fazer arregalar os olhos da entourage de Montenegro. Aos microfones da Antena 1, o antigo ministro do Ambiente assumiu que “não” queria “ser o sucessor de Pedro Passos Coelho”. Pormenor: o antigo líder parlamentar tinha dito exatamente o contrário à mesma Antena 1. Num partido que ainda incensa Pedro Passos Coelho, a crueza dos títulos e o contraste entre dois homens do passismo torna-se evidente.

Nos dias seguintes, Moreira da Silva ainda tentou contextualizar e explicar a ideia, mas a equipa do homem de Espinho não está nem aí para as justificações. Montenegro, de guardanapo enfiado na camisa, evita fazer comentários ou demonstrar grandes estados de alma. É um banquete em que não quer ter lugar. A estratégia de nunca responder às várias provocações de Moreira da Silva foi deliberada e cumprida quase à risca.

Desta vez, como resumiria um dos membros da comitiva que o acompanha, Montenegro partiu para eleições como grande favorito e não como challenger. E isso fez toda a diferença na forma como tudo foi pensado e nos investimentos que foram feitos: depois de reunidos os apoios no partido, o essencial era não cometer erros gritantes, não alimentar polémicas artificiais, nem a fogueira da campanha rival. Quanto menos se falasse no adversário, mais o adversário inexistia. Cumprido o guião, mais do que possível, a vitória é agora muito provável.

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DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Espinho TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Espinho TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Espinho TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Espinho TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Enterrar o rioísmo

Entre os que vão fazendo a estrada com Montenegro – e foram mais de 30 mil quilómetros de estrada, quase sempre numa carrinha Mercedes de oito lugares – ninguém ignora que existe uma pulsão anti-montenegrista no partido que pode condicionar o rumo dos acontecimentos. É o fator de impresivibilidade que, apesar de todos os telefonemas, almoços e jantares para agremiar apoios, ninguém consegue controlar.

Há quem culpe os homens de Rui Rio por terem armadilhado deliberadamente o PSD contra Montenegro; e há quem reconheça que a tentativa de o derrubar prematuramente pode ter alienado uma parte importante do partido durante muito tempo. Mas a pulsão existe e mesmo que quase todos evitem comentar diretamente o que aconteceu há dois anos, o peso dessa experiência não desapareceu da psique montenegrista.

E isso nota-se no ambiente de campanha. Os mesmos que contra Rui Rio e Miguel Pinto Luz faziam e refaziam contas para dizer sem hesitações que iam ganhar à primeira e por larga vantagem, preferem agora o conforto da cautela numa disputa teoricamente muito mais fácil contra Jorge Moreira da Silva. Depois de há dois anos a corrida contra Rio ter tido momentos de euforia desmedida, agora mais vale não agoirar.

Existe, todavia, um número mágico (60%). São essas as contas que se vão fazendo e que confortam os espíritos dos mais próximos de Montenegro. Mas ninguém se atravessa por scores eleitorais ou embandeira em arco antes de sábado. Depois da experiência traumática de 2020, depois do exemplo de Paulo Rangel, o papão do rioísmo, que vive através da candidatura de Moreira da Silva, ainda inspira reservas.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Espinho TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Essa prudência vê-se nas mais pequenas coisas. Na terça-feira, o “Palheiro Velho”, bar simpático na praia de Esmoriz (Ovar), ia despachando finos e sangria enquanto Luís Montenegro não chegava para o convívio com militantes. Aqui e acolá vão-se ouvindo conversas indistintas sobre Salvador Malheiro, homem da terra, figura muito influente no distrito de Aveiro, um dos grandes responsáveis pelas três vitórias internas de Rio e agora indesmentível operacional de Jorge Moreira da Silva.

Bem depois da hora, Montenegro chega, faz a volta do noivo e abre caminho numa esplanada à pinha. Há muitos apoiantes, amigos de longa data, até a mulher e os dois filhos, novos e velhos cristãos do montenegrismo – Alberto Machado, líder da distrital do Porto, ex-apoiante de Rio e depois de Rangel, por exemplo, não deixou de marcar presença e de pedir uma “palavrinha” e uns minutos a sós com o candidato.

Mas nem Montenegro, entre os muitos abraços e beijinhos que dava e recebia, resiste em parar uns minutos para interpelar um militante local que reconheceu: “É desta que ganhamos Ovar?” Recebe de volta um encolher de ombros, linguagem universal para ‘vamos ver, vamos ver, está difícil’. Malheiro ainda mexe.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Aveiro, Esmoriz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Aveiro, Esmoriz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 Aveiro, Esmoriz TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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É o mesmo tipo de sinal de prudência que se sente em Braga, na noite de quinta-feira. Apesar de ter uma sala de hotel a abarrotar com mais de 200 apoiantes, a equipa de Montenegro quer saber se, quilómetros ao lado, também num hotel de Braga e à mesma hora, Jorge Moreira da Silva tem ou não casa composta.

Carlos Eduardo Reis, deputado do PSD, um dos homens mais influentes do aparelho social-democrata, figura incontornável do PSD/Barcelos e no distrito de Braga, instrumental na vitória de Rio contra Rangel, atravessou-se como diretor de campanha de Jorge Moreira da Silva e está a fazer prova de vida. Foi e vai ser seguido com atenção.

Porque mesmo numa campanha assumidamente mais distendida do que a anterior, feita em teórica vantagem e que teve como objetivo não deixar nunca transparecer a ideia de que a corrida poderia ser verdadeiramente disputada – mensagem que insuflaria Moreira da Silva –, nada foi deixado ao acaso.

Não existiram call centers para ligar a militantes – Montenegro não acredita no custo-benefício da estratégia que Rio usou e que Moreira da Silva agora replicou –, mas multiplicaram-se os grupos de WhatsApp, houve SMS para militantes, muita gente a mobilizar no terreno e uma equipa multimédia de três pessoas para alimentar as redes sociais, cujos conteúdos são vistos e revistos por Luís Montenegro — a vantagem de ter um largo avanço nas estruturas do partido permitiu alimentar a campanha dispensando hordas de voluntários.

Existiu também uma agenda paralela que não foi comunicada à comunicação social. Na quarta-feira, por exemplo, Montenegro jantou em Penafiel com a estrutura de campanha do distrito do Porto. Na quinta-feira, andou por Famalicão e Vila Verde, concelhos importantes para assegurar a eleição, e à noite, antes da sessão pública, jantou à porta fechada com a estrutura de campanha do distrito de Braga. Antes já tinha estado em Aveiro, passando por três das quatro regiões mais importantes do universo PSD mesmo na reta final da corrida interna.

A campanha fez-se, portanto, sem sobressaltos. Mas faltaram as televisões, espinha atravessada na garganta de Montenegro. Na reta final da corrida, sempre que discursou, o antigo líder parlamentar aproveitou para zurzir nos articulistas e opinion makers que andaram a dizer que o partido estava morto e que a campanha do PSD não mobilizava ninguém.

A frustração indisfarçável de Montenegro com a falta de cobertura mediática tem uma razão de ser: apesar de a vitória ser provável, não basta ganhar; é preciso fazer uma demonstração inequívoca de força. O PSD precisa disso. E Montenegro também.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Penafiel TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Braga TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Braga TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Penafiel TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Combater fantasmas futuros

Passam largos minutos das onze da noite, é quarta-feira, faltam três dias e uns pózinhos para as eleições, mas Luís Montenegro está particularmente enérgico. Tinha acabado de discursar durante 40 minutos — tempo médio de cada discurso — num pavilhão varrido por uma corrente de ar gelada em Penafiel. Já está na carrinha de oito lugares que o vai levar para Espinho pronto para arrancar – sempre que esteve na zona Norte do país fez questão de ir dormir a casa.

Não falou uma única vez sobre Moreira da Silva. Atirou ao primeiro-ministro (“Venho para não dar um centímetro de folga a António Costa”), falou da questão da inflação e criticou a receita do PS (“O estado socialista só cria pobreza”), reconheceu as dificuldades que o partido atravessa (“Vai ser duro, mas vamos conseguir”) e acabou a elogiar a mobilização e vitalidade  do partido (“Isto é só começo! Não estamos aqui para fazer cócegas a ninguém”). Zero sobre Moreira da Silva.

Mesmo os líderes regionais que foram fazendo as primeiras partes do show Montenegro evitaram entrar na troca de galhardetes. O que mais se ouviu nestes últimos dias de campanha foram apelos a que o partido se pudesse pacificar. Exceção feita a Pedro Duarte, o antigo secretário de Estado que sucedeu a Jorge Moreira da Silva na liderança da JSD numa das páginas mais duras da história da jota. 

Não precisamos de uma liderança que esteja com falinhas mansas, com moleza, inventando divisões artificiais para ter mais tempo de antena. Que se deslumbra com umas alegadas elites, com soberba e até arrogância. Não precisamos de um líder que queira transformar o PSD num clube de ideias”, foi mimando Pedro Duarte, no pavilhão de Penafiel. Há passados que nunca se esquecem.

Mas a sessão já tinha ficado para trás. Na Mercedes preta, além de Montenegro, estão também Ana Cristina Gaspar, assessora que o ajudou como líder parlamentar e que acabou dispensada por Rui Rio; João Pedro, jota de 20 anos que o ainda líder escolheu como cabeça de lista a Portalegre e que agora é mandatário da Juventude de Montenegro; e Carlos Coelho, notável do partido, ex-líder da JSD, dispensado de Bruxelas nas últimas eleições europeias e transformado em diretor de campanha nestas diretas. Falta apenas Hugo Soares, ex-deputado, sucessor de Montenegro na liderança da bancada e braço direito desde há muito, que seguira entretanto para Braga.

Foi esta a companhia mais próxima de Montenegro nos últimos dias de campanha – e o grupo que se sentou à mesa do “Marretas”, em Espinho. Existem ainda Paulo Cavaleiro, o operacional de serviço, responsável pela equipa avançada cuja função é garantir que tudo está pronto antes de o candidato chegar, e, claro, Pedro Alves, homem de Viseu, ex-deputado e diretor de campanha nas diretas de 2019, uma das figuras mais influentes do montenegrismo. Por todo o país, os responsáveis distritais e concelhios da candidatura vão-se juntando à festa quando se impõe.

Na carrinha, Montenegro vai bebendo água para se recompor. É a quinta garrafa de meio litro que bebe no espaço de uma hora. À tarde, numa curta incursão por uma estação de serviço, tinha-se queixado de sentir a garganta muito seca sempre que discursava. Mas parece vitaminado pela receção dos mais de 300 militantes – não se cansa de dizer que ficou verdadeiramente impressionado com a mobilização do partido num momento tão delicado da vida interna do PSD, ainda a aprender a lidar com a surpreendente maioria absoluta de António Costa.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Só muda de expressão corporal quando o assunto é o seu futuro depois de sábado. Ao longo do dia, nas viagens entre Espinho e Trofa e depois Trofa-Penafiel, seguiu encostado ao banco, entretido com o telemóvel ou a olhar pela janela, quase sempre indiferente às conversas e provocações trocadas entre Hugo Soares e Carlos Coelho, intervindo apenas aqui e ali. Agora, é diferente: Montenegro pode ganhar o partido? Pode. Mas por quanto tempo?

Ninguém ignora, nem mesmo os indefetíveis, que o antigo líder parlamentar terá a cabeça a prémio se e assim que ganhar as eleições de sábado. No PSD corre a tese de que Montenegro se vai estampar já depois das europeias (maio de 2024) e a ausência de maior concorrência nesta campanha (Paulo Rangel, Miguel Pinto Luz, Carlos Moedas, Miguel Poiares Maduro) também se justifica em parte com a existência de um entendimento tácito de que era útil deixar que o poder caísse nas mãos do antigo líder parlamentar para o cozer lentamente durante dois anos e ceifar mais à frente.

Daí que no núcleo duro de Montenegro se reconheça a importância de esmagar Jorge Moreira da Silva este sábado. Não que haja um particular gosto em derrotar por números redondos o adversário – embora a campanha surpreendentemente agressiva de Moreira da Silva tenha irritado os adversários, com as notícias sobre os contratos entre o Banco de Fomento e o escritório de advogados de Montenegro ou as considerações pouco simpáticas que o ex-ministro foi fazendo. Mas é importante esmagar porque existe a consciência de que um resultado expressivo daria um sinal para os que, no PSD, já sonham com 2024: Luís Montenegro está blindando e veio para ficar.

Tudo o que não seja um resultado na casa dos 60% (mais coisa, menos coisa) contra um candidato sem grande notoriedade, que apareceu tarde na corrida, despido de apoios relevantes e numa campanha pouco mediática pode ser percecionado pelos adversários internos de Montenegro como um sinal de fragilidade. Ficaria sempre com o anátema de líder deslegitimado. Num partido que se habituou a triturar líderes, a mensagem seria clara: há sangue na água.

Isso não me preocupa nada”, atira Montenegro, tronco inclinado para a frente, antebraços empurrados contra as pernas. “Sei que existe isso tudo, ando aqui há muitos anos, já vi isso sob as mais variadas formas. Mas há uma coisa que tenho a certeza: se fizer bem as coisas, daqui a dois anos esse problema não existe; se fizer mal as coisas, daqui a dois anos esse problema existe. Só depende de mim, da equipa que está comigo e dos nossos desempenhos”, despacha.

Dobrar o cabo das europeias

No entanto, por muita confiança que demonstre, Montenegro sabe uma coisa: os líderes são avaliados pelos resultados. Logo ele que ainda antes de Rio ter disputado qualquer eleição já pedia a cabeça do ex-presidente da Câmara do Porto. Montenegro não desconhece que será um alvo fácil caso tenha um resultado negativo nas próximas eleições europeias, o grande desafio eleitoral do próximo ciclo de dois anos.

Na carrinha Mercedes, já perto de Espinho, Montenegro resiste em dar respostas demasiado fechadas ou fazer leituras muito determinísticas sobre o que vai acontecer até e depois das europeias de 2024. Reconhece que o risco de dispersão de votos, um certo sentimento anti-União Europeia e a elevada taxa de abstenção tornam tudo mais imprevisível. E é cauteloso ao ponto de não se comprometer com nenhum cenário. “Ganhar é o objetivo e é viável e atingível. Não vou é dizer que é o tudo ou nada. Claro que não é. Ainda ficámos a uma diferença muito significativa nas últimas eleições. Vamos ver.”

A esta distância, existem duas teses concorrentes no PSD. Uma, a dos mais próximos de Montenegro, é a de que as europeias servirão para mostrar um cartão amarelo a António Costa, o que tenderá a favorecer o líder do PSD em funções; outra, a dos adversários de Montenegro, é a de que, numas eleições tradicionalmente mais livres e com grande dispersão de votos, Iniciativa Liberal e Chega tenderão a crescer à custa do PSD, o que seriam más notícias para Montenegro se de facto for ele o líder nessa altura. O candidato reconhece que sim, que há riscos nessas eleições, embora repita insistentemente que está única e exclusivamente com o seu próprio trabalho se e quando for eleito líder do líder.

“Daqui a dois anos”, insiste Montenegro, “o partido vai fazer uma avaliação e pode acontecer uma de três coisas: pode acontecer que avaliação seja muito positiva e o partido não tenha dúvidas de liderança; pode acontecer que o partido tenha uma deceção muito grande e tenha uma grande vontade de mudança; ou pode acontecer uma coisa mais híbrida e teremos mais um momento eleitoral abrilhantado por mais do que um candidato”, vai explicando, ao mesmo tempo que sacode qualquer centelha que se assemelhe a preocupação com adversários imaginários. “Isso tem de ser visto com a maior das naturalidades.” Logo se verá.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022 TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Preservar Passos e seguir inspiração de Guterres

Entre todos os cálculos que se vão fazendo no PSD – quem ganha este sábado, por quanto e durante quanto tempo – há um dado que ninguém ignora, nem mesmo os que ficaram de fora desta corrida por acreditarem que seria um presente envenenado: se o próximo líder social-democrata vencer as eleições europeias de 2024, ganhará muito provavelmente o bilhete dourado para as legislativas de 2026.

Montenegro não é exceção, naturalmente. O assunto das próximas legislativas torna-se tema dominante de conversa. Nessa altura, o PS deve completar dez anos no poder, o ciclo de António Costa chega ao fim, o PSD vai estar em condições muito mais favoráveis para regressar ao poder. O caminho está mais aberto agora do que nunca.

O candidato à liderança do PSD dá a resposta chapa cinco (“É impossível antecipar isso. Mas acredito que a possibilidade de ganhar eleições depende exclusivamente de nós”), recusa entrar em grandes cenarizações mas acaba por reconhecer que 2026 “será uma altura mais favorável para que uma oposição estruturada” consiga tomar o poder. Nas entrelinhas: este é o ciclo que lhe dá mais condições de chegar a primeiro-ministro.

Também por isso é tão importante ganhar sábado por números redondos. O núcleo duro de Montenegro sabe que se a vitória contra Moreira da Silva for de pirro, a guerra civil no PSD vai estender-se indefinidamente e continuar a minar as hipóteses do partido. Na opinião pública, o partido continuará a ser visto como um saco de gatos que não tem estabilidade para liderar o país e isso, mesmo depois da reforma de António Costa, pode hipotecar as hipóteses de derrotar os socialistas.

Montenegro garante que quer arrumar a casa. Depois, segue-se a limpeza da imagem do partido. Mesmo assumindo sem pudor a herança governativa de Passos, o antigo líder parlamentar percebeu que o ciclo político exige outra coisa: nem o seu PSD, feito por homens e mulheres do passismo, poderá continuar a discutir apenas e só quem teve a responsabilidade de chamar a troika e de quem é a paternidade das medidas que foram tomadas na altura. Montenegro quer combater um estigma que reconhece existir, mas falar sobretudo sobre o futuro do país, sobre como se pode ser alternativa ao PS.

Nos discursos que foi fazendo nos últimos dias de campamha, em Esmoriz, em Penafiel, em Braga, ao lado de Miguel Macedo, símbolo do passismo afastado da vida política depois de ter sido envolvido no processo dos Vistos Gold (absolvido), Montenegro fez sempre questão de insistir: o PSD não pode ser o partido só das contas certas, da dívida e do défice; precisa de ser outra vez o partido das pessoas, de falar sobre salários, pensões, saúde e educação. “Precisamos de nos reencontrar com o cidadão comum, com as nossas famílias e os nossos amigos. Precisamos de falar para eles”, chegou a resumir em Esmoriz.

É o passismo, por um dos seus capitães, a mudar de chip. Se o conseguir fazer, Montenegro sabe que estará numa posição privilegiada para chegar a primeiro-ministro. Historicamente, pelo menos, tem sido assim: sempre que existiram mudanças de ciclo político elas foram motivadas por eventos cataclísmicos (Pedro Santana Lopes em 2005; José Sócrates em 2011) ou aconteceram por desgaste de quem se encontrava no poder (PSD cai em 95, PS em 2002).

Em condições normais, quando chegar a 2026, o PS estará numa posição semelhante àquela em que o PSD se encontrava em 1995, no fim do cavaquismo – dez anos de poder, órfãos de um líder com carisma idêntico, penalizados pelo desgaste natural. No banco da Mercedes preta, trocam-se argumentos sobre cenários difíceis de antecipar. E embora tenda a concordar com a leitura, Montenegro corta a eito quando confrontado com o lema que guiou grande parte do período rioísta (“As eleições não se ganham, perdem-se”).

“Não concordo. Não concordo mesmo”, despacha, abanando com cabeça. “Acho que também se tem de dar mérito a quem vence eleições. Seja socialista, seja social-democrata. Não se pode ignorar que António Guterres, quando ganhou ao PSD, tinha feito um trabalho na oposição que foi bem-sucedido. Ele vendeu ao país uma ideia de um novo ciclo, de uma nova maioria, de novas políticas. Fez esse trabalho”, elogia. “Tudo depende das circunstâncias. A política não é ciência exata.”

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Braga TOMÁS SILVA/OBSERVADOR DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Braga TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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Recomeçar onde tudo começou

A política não é ciência exata. E, ainda que ninguém na campanha do antigo líder parlamentar considere sequer a hipótese de um desaire, Montenegro fala sem grandes complexos sobre a remota possibilidade. “Se correr mal, ninguém vai morrer. Eu também não vou. Pelo menos disto. Não ponho essa hipótese, as coisas estão manifestamente bem encaminhadas, mas, se isso acontecer, regressarei à minha vida. Sem stress nenhum”, relativiza no caminho Penafiel-Espinho.

O “regressar à minha vida” é um eufemismo para dizer que, se perder estas diretas depois de partir como super favorito, será o fim do percurso político na primeira linha do PSD. Acabou, finito, the end. Apesar de ter sofrido a sua boa dose de derrotas e de ter voltado sempre – perdeu autárquicas, perdeu eleições para órgãos distritais do partido, esteve ao lado de perdedores (Santana contra Ferreira Leite e Passos, Santana contra Rio), e de ter perdido de forma dura contra Rui Rio — seria altamente improvável conseguir recuperar de uma derrota contra Moreira da Silva.

Não que Montenegro não tenha o seu capital de vitórias políticas. Ainda muito jovem tornou-se líder da JSD/Espinho. Habituou-se a condicionar internamente o partido com Durão Barroso e Marques Mendes, de quem se tornou muito próximo apesar de ter apoiado Menezes nessas diretas fratricidas. Foi vereador e presidente da Assembleia Municipal na sua terra de origem, recuperada para o PSD também graças ao seu trabalho. Chegou a líder parlamentar do partido com uma votação expressiva e numa altura particularmente delicada da vida do PSD e do país. Montenegro conseguiu tudo isso. Mas agora é a sério: ou vai, ou racha.

Daí o valor simbólico da escolha de Espinho como quartel-general da noite eleitoral de sábado. À mesa do “Marretas”, durante o almoço de quarta-feira, Montenegro recusa qualquer carga emocional ou saudosismo na decisão. Ainda que o próprio o seja. Enquanto se entretém com o arroz de robalo, com dose extra de picante, diverte-se a contar histórias da quinta do avô, no Douro, e das dores de cabeça que lhe deu ainda miúdo.

Ou então ri-se a recordar como tramou os concessionários de Espinho e arredores quando conseguiu que todos os nadadores salvadores da região fossem aumentados; ou, por exemplo, como, ainda jovem relativamente desconhecido do PSD/Espinho, se divertiu em 2002 a fazer campanha ao lado de Luís Marques Mendes, então um paraquedista em Aveiro que ninguém no PSD regional via com bons olhos.

Montenegro recusa leituras emocionais, mas os seus não o deixam mentir. “Espinho foi onde tudo começou”, atalha Hugo Soares, o apoiante mais próximo do antigo líder parlamentar e de quem se espera que venha desempenhar um papel importante no partido se Montenegro ganhar efetivamente as eleições. É o fim de um ciclo de derrotas e vitórias para arrancar um novo, com outros horizontes que não apenas o PSD.

A convicção que se instalou na campanha é essa mesma: este sábado, Montenegro tem um encontro com um destino adiado por duas vezes (em 2017, quando não avançou para a corrida, e em 2020, quando a perdeu), no mesmo sítio que lhe deu derrotas difíceis de digerir (autárquicas 2001 e 2005, eleições para a distrital de Aveiro, em 2006), para começar a partir daí a tentar escrever uma nova história e a conquistar país. Por outras palavras: é mesmo o tudo ou nada.

DIRETAS PSD: Eleições internas do Partido Social Democrata (PSD). Os bastidores da campanha do candidato, Luís Montenegro, que vai a eleições contra Jorge Moreira da Silva, pela líderança do PSD. As eleições decorrem já no próximo sábado, dia 28 de Maio. 27 de Maio de 2022, Penafiel TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

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