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Os eleitores franceses deram na noite de domingo uma vitória clara à esquerda, contrariando as sondagens e as ambições da União Nacional, de Marine Le Pen, que tinha saído vencedora da primeira volta das eleições legislativas

AFP via Getty Images

Os eleitores franceses deram na noite de domingo uma vitória clara à esquerda, contrariando as sondagens e as ambições da União Nacional, de Marine Le Pen, que tinha saído vencedora da primeira volta das eleições legislativas

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Quem pode ser o próximo primeiro-ministro francês?

Mélenchon exige governar, mas há quem sonhe com Hollande e quem admita "solução" da sociedade civil. Até Emmanuel Macron decidir, Attal fica como primeiro-ministro a bem da "estabilidade".

Contra todas as expectativas e sondagens, a Nova Frente Popular (NFP), coligação de esquerda que reúne a França Insubmissa, socialistas, ecologistas e comunistas, formada para fazer frente à extrema-direita da União Nacional de Marine Le Pen, venceu na segunda volta das eleições legislativas francesas deste domingo.

A partir desta segunda-feira, os franceses têm uma Assembleia Nacional fragmentada, onde nenhum partido tem maioria absoluta e onde o bloco com mais deputados não é o mesmo que até agora sustentava o Presidente. Com este resultado inesperado, a questão é se haverá espaço para um entendimento entre a esquerda e o campo presidencial que permita a formação de um governo estável. O primeiro desafio é encontrar um primeiro-ministro que seja aceite por toda a coligação de esquerda.

A escolha do futuro primeiro-ministro de França pertence formalmente ao Presidente do país, Emmanuel Macron, que não está legalmente vinculado aos resultados das eleições. Desde o anúncio-surpresa da dissolução da Assembleia Nacional, a 9 de junho, após uma dura derrota nas europeias, Macron tinha estado praticamente remetido ao silêncio. Na noite deste domingo, a reação surgiu através de fonte do Palácio do Eliseu, que informou que o Presidente francês não iria prestar declarações. Fonte do staff presidencial, citada pelo jornal Le Figaro, referia que Macron apelava à “prudência e análise dos resultados”. Esta segunda-feira, o Palácio do Eliseu indicou que Macron pediu a Gabriel Attal, primeiro-ministro macronista, para se manter no cargo “por enquanto” a fim de “garantir a estabilidade do país”.

“Castores” da esquerda e do centro fizeram barragem à extrema-direita. Conseguirão entender-se para governar?

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Neste interregno negocial, uma coisa é certa: qualquer acordo que seja firmado terá de durar um ano dado os prazos constitucionais franceses para convocar novas eleições. No limite, o novo governo dura até às eleições presidenciais de 2027, quando Emmanuel Macron abandona o Eliseu.

Unida pela batalha contra a extrema-direita, a esquerda francesa está dividida em quase tudo o resto, pelo que não há nomes óbvios. Aliás, durante a campanha, a Nova Frente Popular optou por não apresentar uma figura de proa. Mas agora será forçada a fazê-lo. Esta segunda-feira, o socialista Olivier Faure garantiu que a coligação deve “estar em condições de apresentar um candidato” ao cargo de primeiro-ministro dentro de uma semana. Quem poderá ser primeiro-ministro depois da vitória de uma “geringonça” à francesa?

Laurent Berger, o fora do sistema partidário

Uma forma de evitar divergências entre os partidos poderá passar pela escolha de alguém de fora da cena política. O eurodeputado Raphaël Glucksmann colocou esta opção em cima da mesa no mês passado, ao propor Laurent Berger, antigo dirigente de um dos maiores sindicatos franceses — a CFDT, Confederação Francesa Democrática do Trabalho.

Questionado sobre qual a figura que poderia encarnar o potencial primeiro-ministro caso a esquerda obtivesse a maioria na Assembleia Nacional, Glucksmann disse: “Tenho uma ideia e é evidente que não será Jean-Luc Mélenchon. Penso que há uma figura da sociedade civil que é capaz de trazer a calma (…). Estou a pensar em Laurent Berger, que encarnou a luta contra a reforma das pensões, que foi tão responsável como a irresponsabilidade do nosso atual Presidente”.

O antigo líder sindical é reconhecido, tanto à esquerda como à direita, pela sua abordagem moderada e capacidade de criar consensos. Berger, recorda o Le Monde, foi uma figura-chave nos protestos de 2023 contra a revisão do sistema de pensões que Macron implementou no início do seu segundo mandato.

De resto, a líder dos Verdes, Marine Tondelier, também se mostrou disponível para aceitar um primeiro-ministro nomeado a partir da sociedade civil, e não dos partidos que incorporam a Nova Frente Popular. Em entrevista ao France Inter, Tondelier deixou claro que a sociedade civil “faz parte da solução” e que a coligação vencedora “não vai passar meses e meses à espera sob instabilidade”, mas que “não vai ser fácil” conseguir um nome para liderar o governo francês.

Jean-Luc Mélenchon, o nome que mais divide

O líder da França Insubmissa (FI), principal partido da NFP, dirigiu-se diretamente a Macron poucos minutos após as primeiras projeções: “o Presidente deve deixar a Nova Frente Popular governar”. Jean-Luc Mélenchon deixou ainda um aviso para o campo dos macronistas: “Nenhum subterfúgio, nenhum arranjinho será aceitável”.

Mas a escolha de Mélenchon para primeiro-ministro está longe de ser consensual. Nas fileiras socialistas, há a noção de que Mélenchon é “um ativo tóxico”. “Prejudica a esquerda com a sua cultura de confrontação”, admitia há uns dias ao Observador um antigo governante socialista. A 24 de junho, Mélenchon precavia-se, dizendo que a FI tinha outras figuras “capazes de serem primeiro-ministro” que não ele próprio, mas por si “preparadas para isso”, destacando Manuel Bompard (que participou no primeiro debate destas legislativas) e Clémence Guetté, sua conhecida discípula.

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Pouco depois de conhecidas as primeiras projeções, várias figuras da esquerda sucederam-se nas televisões para reagir e reclamar para si a vitória. Jean-Luc Mélenchon foi o primeiro a falar

AFP via Getty Images

Durante a campanha, a rejeição da figura de Mélenchon dentro da Nova Frente Popular foi sendo tornada pública por figuras como François Hollande, o ex-Presidente regressado à política como deputado eleito: “Ele [Mélenchon] já não está dentro do jogo, está só a tentar não ficar de fora. Mas foi acordado que ele não pode ser o homem escolhido para governar o país”, garantiu na passada quarta-feira.

Outras consideram que “Jean-Luc Mélenchon não está desqualificado”. As palavras são de Mathilde Panot, deputada da FI, entrevistada pela RTL. “Foi ele que ensinou à esquerda que pode voltar a ganhar”, disse. “Está longe de ser odiado, basta ir às cidades operárias. Ele defende os seus habitantes”.

François Ruffin, o crítico de Macron

A força contra o nome de Mélenchon vem também de quem, em tempos, lutou ao seu lado. François Ruffin, deputado eleito pela França Insubmissa que rompeu com o partido e chamou ao seu líder um “obstáculo”, é um nome possível e que pode ser visto como “menos divisivo” do que Mélenchon, escreve o Politico esta segunda-feira.

Pese embora seja um crítico de Emmanuel Macron, Ruffin colheu a simpatia da candidata do campo macronista, que não só desistiu a seu favor como apelou a um voto nele. E Françoys Bayrou, líder do MoDem (um dos partidos que apoiam a maioria macronista no Parlamento) chegou mesmo a dizer: “Não tenho qualquer problema com François Ruffin”.

Macron pede a Attal que se mantenha como primeiro-ministro “por enquanto” para garantir estabilidade em França

Boris Vallaud,  o socialista que já passou pelo Eliseu

Olivier Faubre, secretário-geral do Partido Socialista francês, é peremptório: a Nova Frente Popular terá de ser governo, nem outro cenário será aceite por estas forças de esquerda para quem, qualquer alternativa seria “trair o voto dos franceses e prolongar as políticas macronistas”. Matematicamente, os socialistas conseguiram este domingo eleger menos deputados do que a França Insubmissa, mas reforçaram a sua presença no Parlamento. Na hipótese de França ter um primeiro-ministro socialista, um possível candidato pode ser o deputado Boris Vallaud.

Vallaud, 48 anos, foi eleito pela primeira vez para o Parlamento em 2017. Estudou ao lado de Macron e, tal como o atual Presidente, foi secretário-geral adjunto do Eliseu.

François Hollande, o ex-Presidente que não quer o lugar

Ausente da política desde 2017, quando decidiu não se recandidatar à presidência, o ex-Presidente François Hollande regressou como deputado eleito pelo círculo de Corrèze, no centro de França. O socialista foi eleito com 43,3% dos votos e volta a ter lugar na Assembleia Nacional, numa candidatura que foi encarada com surpresa até entre as hostes do Partido Socialista, mas que Hollande justificou com o carácter “excecional” da situação política francesa.

Perfilando-se como uma voz moderada e apelando à “responsabilidade” da esquerda nas discussões sobre governabilidade, há quem agora sonhe com a possibilidade de Hollande como primeiro-ministro. Mas sobre as especulações que o apontam como um bom nome para ser primeiro-ministro, Hollande garante não ser candidato ao cargo.

Ainda assim, as fileiras da FI agitaram-se com a possibilidade de Hollande poder estar a posicionar-se para tal. Durante esta noite eleitoral, a deputada reeleita Clémentine Autain apelou no Canal 2 a um plenário da Nova Frente Popular para decidir que nome propor a Emmanuel Macron para primeiro-ministro e deixou claro: “que não seja nem François Hollande, nem Jean-Luc Mélenchon”.

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Perfilando-se como uma voz moderada e apelando à “responsabilidade” da esquerda nas discussões sobre governabilidade, há quem sonhe com a possibilidade de François Hollande como primeiro-ministro

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Clémentine Autain, a deputada que já se posicionou para o cargo

Clémentine Autain, que fez parte da França Insubmissa nas duas últimas legislaturas e tem vindo a tornar-se uma voz cada vez mais crítica em relação a Mélenchon, é outra das candidatas possíveis. Aliás, foi a própria que disse, no mês passado, que estava “consciente” de que era “uma das pessoas que pode reivindicar ser primeira-ministra em caso de vitória”.

“Esta noite ganhámos e agora é tempo de governar”, reconheceu este domingo, após os resultados eleitorais, com uma ressalva de que não era uma noite de “marcar território” e que era demasiado cedo para “propor um primeiro-ministro”.

 
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