Cerca de 200 gramas de carne fresca, batatas frescas, um prato aquecido é a receita para o melhor hambúrguer do mundo. E se lhe dissesse que é português? Talvez ainda não seja, mas a ideia é essa. Nasceu no seio de uma família com três pais e neste momento está já à conquista do mundo. A cadeia de lojas H3 mudou o paradigma da comida rápida e veio para dizer que os hambúrgueres não são assim tão fast food.
“Tínhamos o Café 3 e um dos itens que tinha mais procura era o hambúrguer. A certa altura a pergunta foi: porque não ter um hambúrguer feito como deve ser, com todos os cuidados, com carne fresca, grelhado com sal marinho, no ponto, e servido num prato aquecido?”. Nascia a “nova hamburgologia”. Pequenas grandes inovações, pioneiras em Portugal e “a nível mundial, porque essa oferta não havia”, recorda Albano Homem de Melo, um dos pais fundadores do H3.
Há oito anos, Albano Homem de Melo era publicitário, António Araújo era advogado e Miguel Van Uden trabalhava na área do imobiliário. Juntos tiveram uma ideia, juntos acreditaram nela, juntos puseram-na em prática. Empreenderam e arriscaram.
Quatrocentos mil euros foi o valor inicial do investimento. “As duas primeiras lojas foram feitas com capitais próprios. No meu caso com todo o capital que tinha. Arrisquei tudo. Foi um ato de fé de que conseguia ter uma segunda vida com os meus sócios e com o know-how que eles traziam para o negócio”.
Revolucionaram o conceito e a forma como se comem hambúrgueres. Agora o H3 oferece uma experiência de comida rápida refinada. “Nós achávamos que o hambúrguer tinha um estigma. Primeiro, tínhamos que vencer esse estigma de que o hambúrguer era carne de segunda, onde se misturavam outras ciosas. O nosso hambúrguer é 100% carne. Depois é um hambúrguer feito com carne fresca, porque achamos que ia ter mais qualidade”, explica ao Observador.
E a qualidade é a alma do negócio: “Parte daquilo que fazemos vem de ideias simples: fazer limonadas com limões, achamos que as batatas eram melhores frescas do que congeladas, um arroz soltinho e bem feito era melhor, que um chá gelado era melhor com chá, o molho de chocolate com tablets de chocolate.”
Além dos produtos frescos, a nacionalidade dos produtores também é importante. “A carne é de um produtor português em que 80% da carne utilizada nos hambúrgueres vem dos Açores. Privilegiamos muito os produtores e fornecedores portugueses. Digamos que 90% da nossa ementa é feita com produtos portugueses e isso por duas razões: achámos que há qualidade e também porque há um nacionalismo envolvido. Somos uma empresa portuguesa e queremos dar emprego a empresas portuguesas”.
Criado para exportar
Neste momento a cadeia tem 64 lojas, 40 em Portugal e 18 no Brasil, dá trabalho a mais de mil pessoas e faz, por dia, mais de 12 mil hambúrgueres. O volume de negócios já se fica pelos 30 milhões de euros. A cadeia H3 tem na sua genética a internacionalização. Este foi um conceito criado para exportar. “Desde a quarta loja que a nossa obsessão é desenvolver um sistema de gestão em restaurantes em cadeia muito sofisticado. E aí, embora sejamos muito humildes em assumir que podia não ter dado certo, mas nesta fórmula de restaurantes em cadeia achámos que somos os melhores do mundo. Temos um sistema muito bem pensado e oleado. Temos um sistema desenhado que é um dos melhores do mundo”, confessa.
Ou seja, o que esta “troika dos hambúrgueres” fez foi identificar uma falha de mercado existente a nível mundial. “Este conceito tal como está desenhado não existe em lado nenhum. Desenhámo-lo para praças de restauração. As praças de restauração não são iguais no mundo inteiro e estamos a fazer adaptações para que o conceito possa viajar melhor”, revela ao Observador o empresário.
E o conceito tem viajado bem. Na próxima semana abrem um espaço em Angola e o Brasil representa a porta de entrada para um mercado gigante: o americano. “Com este sistema de gestão gostaríamos de abrir nos Estados Unidos. Vender hambúrgueres aos americanos seria assim a cereja no topo do bolo”, confessa Albano Homem de Melo.
Olhando para um futuro próximo, o empresário vê o H3 presente em “muitos países”. “Além da marca H3 vejo outras marcas, que já estamos a desenvolver. Espero que haja capacidade e energia para podermos projetar os cinco anos seguintes.”
Estão juntos há oito anos, “casados uns com os outros”, e Albano Homem de Melo diz que não faria sentido se fosse de outra forma. O sucesso deste negócio a três derruba a ideia feita de que “amigos, amigos, negócios à parte”.
“Somos amigos e isso é a linha que nunca ultrapassamos. Somos três e quando discordamos há sempre a maioria”, revela, a rir. “A coisa que mais preservamos é a nossa amizade. É um bom barómetro, porque uma das coisas que nunca vamos querer perder é essa amizade”.
Tech district na baixa pombalina
Há três anos, os lisboetas assinalaram no orçamento participativo que gostaria de ver a cidade de Lisboa, nomeadamente a zona do “velho centrinho”, ser um pólo empresarial. A ideia foi ganhando forma e, em 2012, a Startup Lisboa era uma realidade. Os edifícios devolutos ganharam novos inquilinos e os jovens regressaram à baixa. Volvidos três anos, já foram apoiadas mais de 200 empresas.
“Para a cidade de Lisboa isto tem uma componente de reabilitação urbana muito grande. Ocupamos edifícios devolutos, trazemos a baixa todos os dias centenas de jovens que comem, fazem compras, moram por perto. Tem um impacto muito grande em termos de reabilitação urbana”, diz João Vasconcelos, diretor da Startup Lisboa.
As ideias nascem aqui, ganham corpo e quando têm asas começam a voar. O projeto começou apenas com um edifício e já conta com três. “Começámos vocacionados na economia digital, indústrias compatíveis com o estarmos num edifício histórico pombalino. Estas empresas não precisam de armazéns, de laboratórios, de estacionamento, tudo é feito digitalmente. É uma indústria de mão-de-obra qualificada, bem paga, competitiva, global. Temos gente aqui que não tem nenhum cliente aqui em Portugal”, conta ao Observador.
Para entrar na incubadora é preciso ter acima de tudo uma boa ideia. Depois é essencial que essa ideia seja escalável, vocacionada para o negócio global. O júri que avalia as candidaturas de entrada é composto por empresas da área e investidores do setor que “não estão a escolher se a ideia é gira, se tem patente, se é muito inovadora ou não. Eles estão a escolher simplesmente se é um bom negócio ou não. O maior critério é se vai faturar, se vai criar postos de trabalho”. Para isso, explica João Vasconcelos, “o maior critério do júri é a equipa”. “A equipa provar que tem capacidade de executar, que tem conhecimento do setor, a equipa tem de provar que tem capacidade de se adaptar aos obstáculos nos primeiros anos.”
A taxa de mortalidade das startups no setor da economia digital é grande, mas o ritmo a que um empreendedor tem ideias também é elevado. “É engraçado ver que a maior parte dos empreendedores para quem não funcionou um negócio, voltam para cá com outro negócio e isso prova que o que falha são as ideias de negócio e não o empreendedor”.“Quem é empreendedor é empreendedor para sempre. Se ele puder abrir e fechar rápido sem dramas ou burocracia melhor”, sublinha o diretor da incubadora de empresas.
E tal como os negócios são globais, também os investidores não têm nacionalidade. João Vasconcelos explica que “no setor tecnológico nenhuma das empresas recorre ao crédito para se financiar. Na fase em que estão recorrem a investidores ou capitais de risco em troca de percentagem da empresa”. E, revela, “os maiores investidores do prédio são estrangeiros”.
Ambiente internacional e projetos com ambição global
Na Rua da Prata, escondida em três prédios centenários vive uma comunidade muito especial. São jovens, empreendedores, motivados, falam inglês e para eles a Europa e o mundo são os vizinhos do lado. Um ambiente internacional que ajuda a dar e a evoluir ideias de negócio.
A maior vantagem mesmo para quem passa pela Startup, explica o seu diretor, é fazer parte de “uma comunidade, estar em conjunto com dezenas de pessoas que estão a fazer o mesmo. Quando um comete um erro todos aprende, quando um descobre uma oportunidade todos aprendem. A comunidade é muito mais importante na fase inicial do que noutra qualquer”.
Além da comunidade que se gera na partilha do mesmo espaço físico por várias empresas tecnológicas, a heterogeneidade de nacionalidades é uma grande mais-valia para o desenvolvimento e crescimento das jovens empresas. “Já tivemos pessoas de 34 nacionalidades no prédio. Temos entre 25 a 30% do prédio ocupado com startups estrangeiras e isso é muito importante”, sublinha João Vasconcelos.
O diretor da Startup Lisboa dá como exemplo uma das empresas que habita a Rua da Prata, que tem trabalhadores de seis nacionalidades, organiza conferências em 10 países e está baseada em Lisboa. Empresários que “diariamente apanham um avião para irem a reuniões de trabalho e escolheram Lisboa para criar a sua empresa e para a desenvolver”.
Essa nova realidade só é possível, acredita João Vasconcelos, devido às companhias aéreas mais baratas. “Muita gente acha que as low-cost só trazem turistas mas também viabiliza a existência destas empresas em Lisboa. É possível agora, graças a existência das low-cost, ter o escritório aqui e ter os clientes em Londres perfeitamente e sem drama nenhum”.