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“Sei que esta campanha será a mais ocupada da minha vida e preciso de estar em forma. Portanto, por enquanto, nada de cerveja. Depois de quinta-feira [dia da votação para o Parlamento Europeu no Reino Unido], logo se verá.” O anúncio foi feito pelo próprio Nigel Farage numa ação de campanha em Dudley — local das Midlands onde quase 70% dos eleitores votou a favor da saída da União Europeia (UE) no referendo de 2016 — e é o primeiro quebrar da tradição de campanha do ex-líder do UKIP, o homem que, em tempos, afirmou que “cada pub é um Parlamento”.
Nas eleições Europeias de 2014, Farage e o seu UKIP surpreenderam tudo e todos ao terminarem em primeiro lugar, com 27% dos votos. Pouco depois, seguir-se-iam as eleições legislativas de 2015 e os eurocéticos apostaram tudo no ataque ao Parlamento britânico — um objetivo que acabaria por ficar aquém do que o partido desejava, muito por culpa do sistema eleitoral britânico. O UKIP reelegeu apenas um deputado (Douglas Carswell), eleito no ano anterior numa eleição extraordinária, e que acabaria por se tornar independente mais tarde. Nessa campanha eleitoral, o dia típico do antigo corretor da City de Londres começava por volta das seis da manhã e era pontuado por três momentos regados a cerveja: o almoço, o copo ao fim da tarde e o jantar, de acordo com o relato feito pelo antigo colaborador de campanha Rahim Kassar.
Aquilo que a equipa do UKIP não sabia é que Farage lutava contra fortes dores de costas, fruto de um acidente de aviação que tivera durante a campanha para as legislativas, cinco anos antes. Por isso, em 2015, tal como tinha acontecido em 2010, Farage aproveitou os últimos dias de campanha para fazer uma espécie de dieta-relâmpago, sem ninguém reparar: “Cortei na bebida, passei a comer de forma mais saudável, dormi mais e tentei caminhar um pouco.”
A mesma disciplina que fez com que Farage — fotografado habitualmente em campanha com um pint de cerveja na mão — fosse capaz de limitar a sua imagem de marca, foi a mesma disciplina que o antigo líder do UKIP aplicou agora ao seu novo projeto político, o Partido do Brexit. Um corte nas gorduras que são as figuras mais radicais da extrema-direita, uma afinação na estratégia de redes sociais e a capacidade de esperar pelo momento certo para atacar. Farage abandonou o UKIP no final de 2018, mas o Partido do Brexit não concorreu às eleições locais de 2019. Concentrou todos os seus esforços na votação para o Parlamento Europeu, para poder concorrer com uma única mensagem: aqui estão os britânicos nas Eleições Europeias, onde o Reino Unido não devia estar a participar, porque optou pela saída da UE. Só o Partido do Brexit, argumenta Farage, trará aos britânicos o Brexit prometido.
A estratégia parece estar a dar resultado. As sondagens mais recentes colocam o partido de Farage em primeiro lugar, com intenções de voto acima dos 30%. A confirmar-se, será um novo terramoto político, trazido pelo mesmo homem que forçou o referendo do Brexit. Ooops, he did it again, já dizia a canção. Qual é, afinal, a receita de Nigel Farage?
Primeiro passo: faça a base do refogado com um político carismático
John Curtice é especialista em Ciência Política e, nos últimos anos, tornou-se quase uma lenda na política britânica pelas suas sondagens praticamente certas nas eleições legislativas de 2005, 2010, 2015 e 2017, muitas vezes em contracorrente com a maioria. As previsões acertadas deram-lhe inclusivamente o título de Sir e uma conta humorística no Twitter, que sinaliza sempre que o académico aparece na televisão. Ao Observador, o professor da Universidade Strathclyde, na Escócia, não tem dúvidas ao afirmar que “é fácil” explicar o sucesso deste “partido novo que não é assim tão novo”.
The UK election has been won by Professor John Curtice. https://t.co/lwYZ6wALMM
— James Cook (@BBCJamesCook) June 9, 2017
“O Partido do Brexit simplesmente tomou o lugar do UKIP. Assim que foi lançado, o UKIP colapsou e todos os votos a favor do Brexit foram para o Partido do Brexit. Farage é um tipo conhecido, portanto não é complicado para ele fazer isto”, começou por resumir ao telefone o académico especialista em estudos de opinião e comportamento eleitoral. “Muitos destes eleitores têm feito um cálculo simples: quem é que nos pode dar o Brexit? A partir do referendo, pensaram que seria Theresa May e os conservadores. Mas, dois anos depois, kaput. Isto é o bê-a-bá da política: se não se cumpre a principal promessa que se fez, é um desastre.”
O falhanço do Governo dos tories em conseguir avançar com o Brexit — que não aconteceu na data prevista (29 de março) e foi adiado para outubro — é o combustível que alimenta este Partido do Brexit. Mas não só de causas se faz um partido. O homem, Nigel Farage, é essencial, como provam as sondagens: é agora o político mais popular do Reino Unido, de acordo com o YouGov, à frente da primeira-ministra Theresa May e do líder da oposição, Jeremy Corbyn. Algo que não espanta o professor Curtice: “Um dos problemas que temos no Reino Unido é que há muito poucos políticos capazes de comunicar com as pessoas. May não sabe comunicar. Corbyn é capaz disso, mas é praticamente a única coisa que sabe fazer bem. Farage fica assim com o campo todo livre.”
Para isso muito ajuda o tal ar de “tipo normal lá do pub” que vários já apontaram a Farage — e que outros, como o antigo primeiro-ministro David Cameron, acusam de ser fabricado. O próprio gosta de alimentar essa ideia: “Sou famoso pelas minhas calças cor de mostarda. Em 2013, a imprensa apelidou depreciativamente as minhas viagens de campanha pelo país, num táxi roxo, de ‘Expresso das Calças Mostarda’. Os fotógrafos em todo o lado ainda gritam ‘Nigel, quando é que vamos ao pub?’ Eles querem aquela ‘foto com o pint’, claro, e sabem que há ali qualquer coisa quando se vê um vislumbre daquela barriga da perna amarelada e canelada”, escreveria ainda recentemente, num artigo publicado na Spectator.
Paragens em pubs, estilo próprio, linguagem desbragada. “É a voz do homem irascível no bar que não consegue entender como é que os políticos em Westminster fizeram tanta trapalhada de uma coisa que devia ser simples”, resumiu, em abril, o especialista no Partido Conservador Andrew Gimson.
“Farage é uma pessoa carismática e fala um inglês simples que capta a atenção das pessoas”, resume o professor Curtice ao Observador, em tom acelerado. “E é verdade que ele tem esta postura de ‘tipo comum’ e de pessoa que responde aos próprios erros com gargalhadas. Mas atenção: ele não é parvo nenhum, tem, sim, um cérebro politicamente muito perspicaz.” Resumindo: o “efeito Nigel” existe e o próprio sabe capitalizá-lo.
Segundo passo: não deixe que os escândalos com dinheiro estraguem o preparado
A prova de que esta postura de um antigo membro da City que se apresenta como “homem comum” resulta é que, por mais escândalos em que Farage esteja envolvido, eles parecem sempre deslizar-lhe pelas costas, nunca ficando agarrados ao seu fato — ao contrário do que aconteceu com o batido que um eleitor zangado lhe atirou esta semana.
Here is the moment a milkshake was thrown over Brexit Party leader Nigel Farage during a visit to Newcastle https://t.co/Iiv79umkWW pic.twitter.com/WirGbf9Vqr
— ITV News (@itvnews) May 20, 2019
Carole Cadwalladr é jornalista do Observer e, ao longo dos últimos anos, tem-se dedicado a investigar as ligações de Farage e outros membros da campanha pela saída da UE, como o milionário Arron Banks, a potências estrangeiras. Cadwalladr revelou os vários encontros entre membros da campanha Leave.EU com Stephen Bannon e os contactos com a Cambridge Analytica, bem como com responsáveis russos, incluindo o embaixador no Reino Unido. A jornalista tem, repetidamente, apelado a que seja aberta uma investigação à origem dos fundos utilizados na campanha do referendo, já que a lei britânica impede que sejam feitas contribuições estrangeiras para campanhas eleitorais. As suas tentativas de obter respostas do próprio Farage foram sempre infrutíferas e Cadwalladr chegou a ser alvo de insultos por parte de Banks.
Arron Banks. A história do “bad boy” que pagou o Brexit (e que pode ter tido ajuda dos russos)
Esta podia ser apenas uma pedra pequena no sapato do político eurocético, mas, esta semana, a pedrinha cresceu de dimensão. Tudo começou com a divulgação, na passada sexta-feira, pelo Channel 4, de que Farage terá sido sustentado no ano seguinte ao referendo do Brexit pelo milionário Banks — atualmente sob investigação da Agência Nacional de Crime devido à origem da sua fortuna aplicada na política. Os gastos terão incluído o pagamento da renda de uma casa no luxuoso bairro londrino de Chelsea, no valor de quase 15 mil euros mensais. Questionado incessantemente por um jornalista do canal durante uma ação de campanha, Farage acabaria por responder à pergunta “quem está a pagar tudo isto?” em tom irónico: “São os russos”, disse. O próprio Banks, contudo, não negou ter financiado o amigo no passado, com um porta-voz a afirmar que “foi uma honra poder ajudar”. A suspeita de que Farage terá recebido cerca de meio milhão de euros em apoios dados por Banks levou a que o Parlamento Europeu abrisse uma investigação ao caso.
Our @MattFrei doorsteps Nigel Farage “about the money you were paid by Arron Banks between 2016 and 2017, funding your lifestyle and political operation to the tune of almost half a million pounds” #FundingFarage pic.twitter.com/ZeP3jlvNO4
— Hayley Barlow (@Hayley_Barlow) May 16, 2019
Oficialmente, Farage nega que Banks esteja, atualmente, a financiar o seu Partido do Brexit, garantindo que todo o dinheiro da operação política vem do apoio de eleitores comuns, que podem contribuir através de uma simples conta PayPal. Mas eis que, esta semana, a Comissão Eleitoral britânica anunciou que irá fazer uma investigação ao financiamento do Partido do Brexit, depois de o antigo primeiro-ministro Gordon Brown ter deixado um apelo a que as contas do partido de Farage fossem revistas: “A democracia ficará fatalmente erodida se o financiamento de campanhas não declarado — e talvez feito debaixo da mesa, por pessoas que não sabemos quem são nem de onde vêm — estiver a ser usado para influenciar eleições”, declarou o ex-líder trabalhista.À investigação da Comissão Eleitoral, Farage responde laconicamente: “Não aceitamos moedas estrangeiras [nos donativos]. Fim de conversa.”
O caso, contudo, não deverá sequer beliscar o Partido do Brexit nas sondagens. Da mesma forma que a explosão de Farage perante o apresentador da BBC Andrew Marr, ao ser confrontado com declarações polémicas do seu passado (e, de acordo com o fact check do Daily Mirror, na maioria verdadeiras), joga mais a seu favor do que contra. Para um eleitorado zangado, revoltado com o facto de a elite política de Westminster não lhe dar aquilo que prometeu — o Brexit —, o que quer que Nigel faça soa a desafio ao establishment. Os escândalos não se agarram ao seu casaco de mais de 500€ porque não chocam muitos britânicos. A maioria está disposta a apostar num homem aparentemente diferente dos políticos que os trouxeram até ali e irá segui-lo até ao fim. Ou, pelo menos, até Estrasburgo.
Terceiro passo: junte uma pitada de mão de ferro e de conteúdos “à rock star“
Mas não só da figura vive o Partido do Brexit. Farage esculpiu um partido à sua medida, cortando fora os elementos mais radicais que cada vez mais se infiltravam no UKIP e inspirando-se no Movimento 5 Estrelas — a que pertence atualmente o primeiro-ministro italiano, Luigi Di Maio — para criar uma força movida por uma estratégia inteligente nas redes e baseada num sistema totalmente controlado por Farage.
O próprio Farage reconheceu a influência do 5 Estrelas numa entrevista recente dada ao Telegraph, explicitada ao pormenor num artigo posterior do The Guardian, que revela um encontro entre o nacionalista britânico e um dos fundadores do partido italiano em 2015 que terá inspirado definitivamente Farage.
A estratégia do fundador Gianroberto Casaleggio incluía a condução de todos os donativos dados ao 5 Estrelas para uma associação privada gerida pelo seu filho. Da mesma forma, qualquer doação feita através do tal sistema de PayPal ao Partido do Brexit é enviada para uma empresa privada. “O Partido do Brexit é uma cópia chapada do Movimento 5 Estrelas”, diria ao mesmo jornal nada mais nada menos do que o próprio Arron Banks. “O que o 5 Estrelas fez e aquilo que o Partido do Brexit está a fazer é ter uma estrutura central altamente controlada, quase como uma ditadura. Quando se tem uma ditadura controlada, os malucos não podem tomar o controlo daquilo.”
A frase parece ser uma referência ao UKIP, já que Farage alegou o “extremismo” do partido (que se aproximou do líder da extrema-direita Tommy Robbins) e a sua “fixação anti-Islão” como motivos para a saída. Mas outros reforçam que aquilo que poderá ter cansado mais Farage foram as lutas e os mecanismos de controlo internos.“Em 2015 percebi que o UKIP estava, na verdade, a atrasar-me. O processo de decisão e, com toda a honestidade, a falta de qualidade de muitas das pessoas que lá estavam”, admitiu o próprio ao Telegraph. Agora, tudo é diferente: “Estamos a gerir uma empresa, não um partido político”, assegura Farage.
Algo que, para John Curtice, indica que o que o eurocético procura com o Partido do Brexit é manter controlo total: “Parece-me que aquilo está montado de tal forma que ele gere tudo como quer e não tem de aturar outros a dizerem-lhe o que fazer. Isso era uma das coisas que ele não gostava no UKIP”, resume ao Observador. “Ele acha que consegue fazer um trabalho melhor sozinho.”
O Partido-que-afinal-é-uma-empresa é, por isso, mais “ágil”, diria um dos seus membros, que preferiu não se identificar ao Politico. “Somos uma startup e as startups têm de se movimentar depressa para sobreviver”, acrescentaria outra fonte do Partido do Brexit ao mesmo site. Por um lado, o Partido não tem sequer programa eleitoral, porque, para Farage, essa é uma expressão que as pessoas associam à palavra “mentira”. Por outro, essa cultura de startup está bem patente na estratégia utilizada pelo Partido nas redes sociais. Os seus vídeos, como um que pede aos britânicos para retirarem os sorrisos dos rostos de políticos como Jean-Claude Juncker e Donald Tusk, são eficazes e dominam a linguagem das redes. Os anúncios do partido no Facebook, de acordo com a Bloomberg, já terão sido vistos mais de sete milhões de vezes desde abril. “São conteúdos à rock star”, diria Craig Dillon, consultor do partido, à agência de notícias. “Eles são mais como uma banda em tour do que um partido político.”
Wipe the smiles from their faces on May 23rd. pic.twitter.com/TLEnsO42GQ
— Nigel Farage (@Nigel_Farage) May 18, 2019
A par de tudo isto, segue o foco da mensagem. Para trás ficou um Nigel Farage que martelava em temas como a necessidade de controlar a imigração e entrou um Nigel Farage monotemático, que se só ocupa com “conseguir o Brexit”. Pelo meio, há a inclusão no partido de membros considerados moderados, como a ex-candidata dos tories (e irmã do deputado Jacob Rees-Mogg) Annunziata Rees-Mogg, e de gente de todos os quadrantes políticos, como Claire Fox, ex-membro do trotskista Partido Comunista Revolucionário. Ao contrário do UKIP, plantado firmemente à direita no espectro político, o Partido do Brexit quer ir para lá da velha divisão: “Isto não é sobre esquerda ou direita, é sobre o que está certo ou errado”, diz agora Farage, numa tentativa de piscar o olho aos eleitores trabalhistas que gostariam de ver o Reino Unido fora da UE.
A tentativa de moderação é tanta que já levou o líder a afastar um dos seus membros, Catherine Blaiklock, depois de serem conhecidos tweets anti-Islão que fez no passado. Para o professor John Curtice, tudo isto é uma tentativa de “evitar a controvérsia”. “Farage, em 2016, tirou fotografias em frente a um cartaz que tinha refugiados do Médio Oriente a entrarem na Croácia com a legenda ‘ponto de rutura’. Ele agora não faz isso”, resume. “É certo que tem uma visão muito clara de quem acha que deve ter ou não a cidadania britânica, mas tem muito cuidado quando caminha sobre este arame que é a imigração.”
Quarto e último passo: sirva numa travessa com um Partido Conservador fragmentado a acompanhar
Farage sabe que, assim, consegue capitalizar ainda mais e não só morder os calcanhares ao Partido Conservador, como ultrapassá-lo. Os rumores de que Theresa May terá desvalorizado a ameaça que Farage representa, dizendo-se “mais preocupada com os Liberais Democratas” (que aparecem em terceiro nas sondagens, atrás de Farage e dos trabalhistas e à frente dos conservadores), revelam a surpresa que o Partido do Brexit está a ser nesta eleição para os tories — e o seu nível de alheamento.
Daqui para a frente, há dois caminhos possíveis, cuja escolha será fortemente influenciada pelo futuro líder conservador que se seguir a May. “Um é dizer ‘estamos a perder todos os nossos eleitores porque queremos um Brexit soft e temos de ir para um hard Brexit’ [saída sem acordo]”, ilustra Curtice. “O outro é dizer ‘Ó meu Deus, se não engolirmos o orgulho e não aprovarmos este acordo de May, vai ser um desastre’. Se me perguntar, acho que eles vão optar pela primeira hipótese”, aponta o professor, não ignorando que o eurocético Boris Johnson está na corrida à liderança e tem boas hipóteses de vencer.
Para já, as eleições Europeias parecem completamente perdidas para o Partido Conservador, muito por culpa do “tipo normal lá do pub”. E daqui para a frente? Pode o Partido do Brexit agitar a política britânica o suficiente para conseguir ultrapassar um sistema eleitoral que prejudica os pequenos partidos e eleger assim deputados para a Câmara dos Comuns? Para John Curtice, o homem que previu com certeza os resultados das últimas legislativas, ainda é cedo para dizer.
É possível, porém, traçar cenários: “No mínimo, o Partido do Brexit irá manter-se em alta nas sondagens até às próximas eleições, como aconteceu com o UKIP no passado. Tudo o que vá para lá disso é especulação. Como exemplo, porém, se os conservadores continuarem a ter problemas, talvez alguns deputados considerem mudar de partido se perceberem que arriscam não ser eleitos”, exemplifica. A somar-se a tudo isto estão os prováveis resultados históricos nas Europeias para outros partidos como os Verdes ou os Nacionalistas Escoceses do SNP. “Não é só o Partido do Brexit. Os partidos do centro estão a ser comidos pelos dois lados”, avisa o analista, podendo ser este o início de uma tendência de transformação do sistema partidário do Reino Unido.
Aconteça o que acontecer, para já o que é certo é que Nigel Farage regressará a Estrasburgo, onde esteve nos últimos 20 anos, mas continuará com os olhos postos em Westminster. “Ganhámos o referendo e, no dia seguinte, entregámos o poder de volta às mesmas pessoas que combati ao longo dos últimos 25 anos”, lamentou-se o político no ano passado. “Essa é a maior ironia disto tudo.”
Farage faz parte da política britânica há anos, mas nunca exerceu um cargo público no seu próprio país. Será que parte do encanto que tem sobre os seus eleitores se desvaneceria da noite para o dia a partir do momento em que passasse a fazer parte da mobília da Câmara dos Comuns? “Isso é atirar completamente ao lado”, rejeita John Curtice. “Farage é muito mais do que um simples eurodeputado. Ele é o homem que forçou os conservadores a levarem a cabo um referendo”, sublinha, destacando “influência” como a palavra-chave.
“Olhe para França: a Frente Nacional perdeu toda a sua influência na segunda ronda das presidenciais [contra Emmanuel Macron] por causa do tipo de sistema eleitoral. Com Farage, não acontece o mesmo. Ele tem essa influência, mesmo que não ganhe.” Com um partido dominado e as calças de mostarda habituais, já nem é preciso o pint de cerveja: “Nigel Farage é o político mais influente do século XXI na política britânica. Este é o homem sem o qual o Brexit nunca teria acontecido.” Talvez Farage também venha a ser o homem que o consegue levar até ao fim.
(Artigo atualizado a 23 de maio para corrigir a informação de que o UKIP não teria conseguido eleger nenhum deputado nas eleições de 2015. Elegeu um, Douglas Carswell.)