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A noite eleitoral do Porto foi de Rui Moreira, como era expectável que fosse. Depois de um período de campanha mais sensível, com algumas sondagens finais a apontarem para um empate entre o presidente da Câmara Municipal e Manuel Pizarro, a ida às urnas confirmou as expectativas da candidatura independente: Rui Moreira venceu e venceu com maioria absoluta.
Pizarro, que os analistas apontavam como politicamente moribundo depois da cisão com Moreira, conseguiu, ainda assim, um resultado que pode ser lido como positivo: mais votos, maior percentagem de votos do que em 2013 e mais um vereador. Mais: como líder da Distrital, consegue uma votação histórica na Área Metropolitana do Porto, resultado que tentou capitalizar como sendo também seu. Resta saber se será também esse o entendimento do aparelho socialista no Porto — nunca é demais lembrar que foi o mesmo Manuel Pizarro que lutou, ativamente, pelo apoio do PS a Rui Moreira, mesmo contra algumas vozes dissidentes no partido.
O CDS também conseguiu retirar desta noite o seu quinhão vitorioso. Depois de ter feito de parceiro silencioso (mas útil) de Rui Moreira, recebeu do autarca uma palavra de agradecimento no discurso de vitória — a mesma que faltou em 2013.
Entre os grandes derrotados da noite eleitoral portuense está o PSD, que se demitiu de disputar estas eleições autárquicas na cidade, apostando num candidato pouco reconhecido e pouco mobilizador. Aliás, Álvaro Almeida será mesmo o menos responsável pela derrota histórica dos sociais-democratas, já que fez toda a campanha praticamente sozinho na rua. E nem direito a sede de campanha teve.
Outro dos grandes perdedores da noite foi Rui Rio. Depois de apoiar tacitamente Rui Moreira contra Luís Filipe Menezes em 2013, o ex-presidente da Câmara do Porto cozinhou a frágil candidatura de Álvaro Almeida ao Porto e deu a cara pelo partido no Porto. Durante as duas semanas de campanha eleitoral, apareceu uma vez ao lado do candidato, na única demonstração de força do aparelho social-democrata. No discurso da vitória, Moreira fez questão de colocar Rio ao lado de Paulo Rangel na fotografia de família dos derrotados e culpados, acusando-o de ter feito da cidade o tubo de ensaio para as diretas do partido.
A CDU também não razões para celebrar. Os comunistas conseguiram reeleger um vereador, mas perderam quase 2 mil votos, a exata medida que cresceu o Bloco de Esquerda. A aposta numa candidata como Ilda Figueiredo, um nome reconhecido entre os militantes comunistas, com o objetivo claro de manter o eleitoral fiel à CDU, acabou por ser uma aposta errada. Mas o bloquista João Teixeira Lopes, que se candidatou ao Porto pela quarta vez, voltou a falhar a eleição e figura, também entre os que não ficaram com motivos para sorrir.
Rui Moreira: o candidato fez all-in e levou as fichas todas
“Conseguimos 28% em Campanhã? Isso é fantástico. É fantástico“, vai repetindo Rui Moreira, à medida que recebe as últimas atualizações sobre a contagem de votos nas freguesias do Porto. Parece nervoso, embora tente não o transparecer. Vai pedindo informações ao seu staff, enquanto fuma um cigarro Marlboro Gold, e troca umas palavras com o Observador. Está sem blazer — veste apenas camisa branca, gravata verde e calças de fato azul marinho, a mesma roupa com que chegou à sede da candidatura e que usou para se dirigir aos seus apoiantes, horas antes.
Lá ao fundo, no gabinete reservado onde se instalou o inner circle do presidente da Câmara do Porto, há Mateus Rosé, vinho, café, água, com e sem gás, e doces húngaros, que a equipa do autarca vai petiscando para enfrentar a noite que já vai longa. Miguel Pereira Leite, recém-reeleito presidente da Assembleia Municipal, é o rosto do cansaço acumulado. “Está-se a ir a adrenalina“, desabafa Pereira Leite, enquanto repousa os pés em cima da mesa envidraçada que serve de apoio ao sofá branco. Rui Moreira permanece de pé, ao lado de Nuno Santos, diretor de campanha. Queixa-se em voz alta da demora na atualização dos resultados. A vitória foi confirmada logo às oito horas da noite, com a abertura dos telejornais, e esvaziou grande parte da expectativa; mas faltava saber se conquistava ou não a maioria absoluta.
A confirmação só chegaria depois da meia-noite, pela voz do próprio, quando Rui Moreira deixou a sede da candidatura em direção ao Teatro Rivoli, transformado em ícone do último mandato do autarca. Não falaria mais aos jornalistas — aliás, a curta declaração de vitória que fez, às 21h48, foi sem direito a perguntas. A altura, ali, era para falar aos simpatizantes, mas, e sobretudo, para fazer um ajustes de contas contra o adversário silencioso de toda a campanha: Rui Rio.
“Os grandes derrotados desta noite têm rostos, rostos como os de António Tavares, Rui Rio e Paulo Rangel, por terem utilizado a cidade do Porto como território para disputas de índole nacional. As eleições autárquicas no Porto não são as primárias secretas do PSD”, atirou Rui Moreira, para gáudio dos simpatizantes, que o escutavam em silêncio.
A frase do autarca atingiu em cheio Rui Rio, o homem que lhe deu o apoio tácito em 2013 contra Luís Filipe Menezes. O ex-presidente da Câmara entrara há muito na campanha eleitoral. Primeiro, por não apoiar a recandidatura de Rui Moreira, dando um claro sinal de afastamento entre os dois. Depois, por cozinhar uma candidatura — a de Álvaro Almeida — cujo o alvo principal era o autarca. E, por último, porque há muito que vinha crescendo a ideia, entre os simpatizantes de Rui Moreira, de que Rio era um dos responsáveis pela “campanha suja” de que tantas vezes o independente se queixou. Mais: há muito que, entre os apoiantes de Rui Moreira, crescia a convicção de que Rio se mudara para a trincheira socialista para ajudar a derrubar Moreira. E o presidente da Câmara verbalizou-o no discurso de vitória.
“Álvaro Almeida foi escolhido e convidado para ser abandonado à ultima hora pelos que tardiamente foram então apoiar a candidatura de Manuel Pizarro”, afirmou Moreira, que terminaria a sua intervenção com a mãe de todas as provocações para os sociais-democratas: uma citação de Francisco Sá Carneiro, fundador do PSD.
“’O Porto sempre mostrou que para nós a defesa da liberdade não é uma palavra vã. Há-de ser, portanto, o nosso partido. O partido do Porto’. Sabem quem escreveu? Francisco Sá Carneiro”, rematou Rui Moreira, com o quartel-general da candidatura, nos Aliados, a romper em aplausos.
@Ricardo Castelo / Observador
Manuel Pizarro não passaria sem uma referência, bastante mais moderada, ainda assim. Aliás, o socialista foi figura lembrada por um ou outro grupo de entusiastas de Rui Moreira, que gritavam, aqui e ali, de forma descompassada, estridente e sem grande certeza métrica, “Pizarro na rua, Moreira na candidatura“, impondo palavras de ordem que os restantes presentes preferiam não acompanhar. A verdade é que, quando Moreira referiu o nome de Pizarro pela primeira e única vez naquela noite, todos fizeram questão de aplaudir.
“Deixo um abraço ao meu amigo Manuel Pizarro”, começou por dizer Moreira, antes da pausa cénica. Logo depois, viriam as acusações: “Que tentou numa primeira fase condicionar o nosso movimento. O apoio que nos oferecia tinha um preço que o nosso movimento independente não podia, nem quais pagar”. Haveria ainda mais um golpe no queixo do socialista: “Depois tentou através da participação inusitada de membros do Governo na campanha, nacionalizar as eleições no Porto”. Por fim, o soundbite para apoteose: “E esse é um preço que a cidade não quis pagar“, afirmou Moreira.
Terminado o discurso da vitória, os simpatizantes do autarca foram desmobilizando, na sua maioria jotinhas da Juventude Popular, senhoras impecavelmente vestidas e maquilhadas e homens com blazers e botões de punho. Assim como as bandeiras, técnicos de som, jornalistas, repórteres de imagem e restante parafernália. Rui Moreira seria um dos últimos a sair, já com a maioria no bolso.
O homem a quem Pedro Baganha, arquiteto e membro da candidatura de Moreira, chegou a referir-se como “Presidente do Norte”, e não raras vezes foi acusado pelos seus adversários de se comportar com o Rei Sol, saiu do seu quartel-general como autarca absoluto. O homem que quando apresentou o programa eleitoral assumiu que tinha apostado tudo, fez all-in e venceu todos os adversários diretos. Faltou-lhe conquistar a maioria absoluta na Assembleia Municipal — e será aí que a oposição se vai reorganizar para o combater.
Manuel Pizarro fez pelos dois: apareceu pouco como candidato derrotado e mais como líder Distrital vencedor
Apenas 100 metros separavam as sedes de Pizarro e Moreira, na Avenida dos Aliados. Quando saíram as primeiras projeções, esses 100 metros eram uma longa fronteira a separar a euforia da apreensão: No quartel-general de Moreira, festa rija perante a perspetiva de vir a alcançar a maioria absoluta que haveria de se confirmar, com a presença do candidato; mais acima, os militantes do PS assistiam em silêncio — e sem a presença de Manuel Pizarro –, ao que parecia ser uma derrota clara. Por um lado, o PS não conquistava a Câmara. Por outro, nem sequer tirava a maioria absoluta ao autarca recandidato.
Foram estes os dois objetivos mais mencionados na campanha de Manuel Pizarro. Mas tanto o candidato autárquico como Tiago Barbosa Ribeiro — o presidente da Concelhia do PS e membro nas listas do PS à Câmara — adotaram um discurso mais positivo do que a cara dos poucos militantes presentes transparecia.
Admitida a vitória de Moreira, Tiago Barbosa Ribeiro endereçou os “cumprimentos” ao presidente “por ter vencido“, mas destacou imediatamente a “recuperação notável desde a situação de maio“, referindo-se a uma sondagem feita aquando do rompimento do acordo de Rui Moreira com o PS. Porque teve “mais votos e mais mandatos nestas eleições”.
De facto, em relação a 2013 o PS sobe dos 22,68% para os 28,65%, conseguindo quatro vereadores, contra os três anteriores. Foi aí que se ouviram as primeiras palmas da noite. Fim de declaração sem direito a perguntas dos jornalistas, nem satisfações sobre quando é que Pizarro deixaria o Hotel Aliados e se iria mostrar aos apoiantes.
Às 20h30, os militantes socialistas receberam uma SMS que convocava “Tod@s aos Aliados!!” entre as 22h e as 22h30, porque Manuel Pizarro falaria, finalmente. Houve um cochicho sobre se o candidato iria apresentar a demissão da presidência da Distrital do PS. Nada disso. Manuel Pizarro surgiu às 22h15, já os militantes tinham respondido ao pedido e enchido a sede, e até o vencedor já tinha feito o seu discurso. “Não escolhi falar em último lugar. Fi-lo para ter resultados o mais próximos possíveis” da realidade, justificou.
O candidato socialista que não consegui tirar a presidência a Rui Moreira salientou que “a maior subida em relação ao resultado anterior é a do PS”, mesmo que Rui Moreira tenha quebrado o acordo “à 25.ª hora, cheio de truques”. O PS “travou esta batalha em condições terríveis. Não esquecemos o dia 6 de maio, quando alguém que não nós rompeu um acordo que estava estabelecido”, lembrou, reforçando: “Partimos sem nenhuma possibilidade”.
Entre lágrimas de alguns militantes na audiência, Pizarro lamentou a “acrimónia e crispação” do vencedor, Rui Moreira, “mesmo se os ataques mais violentos não foram feitos ao PS”, mas sim ao Governo. “Não vale a pena diabolizar o sistema democrático, espalhar ódio contra os partidos, que são essenciais ao sistema democrático”, reforçou. Mesmo assim, saudou e desejou “as maiores felicidades” ao presidente eleito, em mais uma declaração curta e sem direito a perguntas. Derrota? Só por uma vez a palavra foi mencionada. Para dizer que “só é derrotado quem desiste”.
Havendo uma derrota e uma vitória neste domingo, Pizarro preferiu agarrar-se à vitória e tratou de ser mais presidente da Distrital do PS do que candidato derrotado. Talvez por isso tenha preferido aguardar pelos “resultados o mais próximos possíveis” da realidade. 15 minutos depois de ter entrado pela primeira vez na sua sede de campanha, voou imediatamente para a sede do PS Porto, na Boavista, como fez, para lá distribuir sorrisos e abraços por vitórias noutros concelhos da região.
“Hoje é um grande dia para o PS do Porto. Depois destas eleições autárquicas, o distrito do Porto fica pintado de cor de rosa”, disse no palanque, entre dois dos autores de algumas das “vitórias extraordinárias” de que se orgulha o presidente do PS Porto: Eduardo Vítor Rodrigues, com mais de 60% dos votos em Gaia e todas as 15 freguesias conquistadas, e Luísa Salgueiro, que reconquista Matosinhos para o PS, um município que, apesar de ser um bastião socialista, era independente.
Pela primeira vez na democracia portuguesa, o PS conquistou Paredes e Marco de Canaveses, venceu Felgueiras, Valongo, por pouco não venceu a Maia, com Francisco Vieira de Carvalho. Perdeu Vila do Conde. O resultado torna o PS no maior partido autárquico do distrito do Porto e, ao fim de 20 anos, recuperou a liderança da Área Metropolitana do Porto. Questionado sobre como será a relação com o município do Porto, que Rui Moreira conquistou com maioria absoluta, o presidente da distrital do PS — e candidato derrotado — Manuel Pizarro mostrou-se otimista. “Não devemos antecipar os problemas. Acho que essa convivência só pode ser boa.” E acrescentou: “Espero eu.”
O aumento da afluência dos eleitores às urnas “reflete um reencontro dos cidadãos com a política, que deve muito à governação PS de António Costa”. Mas o líder da Distrital destaca que as vitórias e as derrotas são, no essencial, responsabilidade dos candidatos que o partido apresentou. Como explicar então a não conquista da segunda Câmara do país? “Porque o adversário não era do PSD“, respondeu Pizarro, com ironia. Mais a sério, relembrou o que já tinha dito na sede de campanha, sobre as “circunstâncias muito difíceis com as quais o PS enfrentou as eleições”. Tudo somado, “fizemos um percurso de notável recuperação” face a 2013, com mais votos e mais eleitos”. Admitiu, no entanto, que o partido foi derrotado.
O PS não vence a Câmara do Porto desde 1997, quando Fernando Gomes foi eleito presidente. O Observador quis saber o que é que está a correr mal no PS Porto para tantos anos de jejum, mas a resposta faz lembrar o “otimismo crónico e às vezes ligeiramente irritante” que Marcelo Rebelo de Sousa atribuiu um dia a António Costa. “Desta vez ficamos um bocadinho mais próximos da maioria. Vamos continuar a trabalhar, a manter a mesma atitude em relação ao Porto”, disse simplesmente o candidato e líder do PS Porto. Os vereadores socialistas não vão ter funções executivas na autarquia, mas Pizarro, o otimista, sublinhou que “tanto se trabalha para a cidade em funções executivas como se trabalha para a cidade na oposição”.
Ao Observador, Manuel Pizarro disse ainda ser impossível saber se o resultado do PS poderia ter sido melhor caso o partido tivesse decidido apresentar desde o início um candidato à segunda Câmara do país, em vez de ter decidido apoiar Rui Moreira. “Na política temos de analisar os acontecimentos de acordo com a realidade. E a realidade foi esta: o PS fez bem em cumprir com lealdade o acordo que tinha estabelecido. No curto prazo pode ter sido pior ou melhor para nós. Não sabemos. No longo prazo, a lealdade é um valor que o Porto sempre reconhecerá.” Resta saber se o aparelho socialista está tão otimista com o jejum de 20 anos na cadeira de presidente do Porto.
Um jogo quase empatado entre CDU e BE, mas um vereador separou-os
Parecia um intervalo fácil entre os comunistas e os bloquistas, mas os minutos passavam e a luta fica renhida. Ilda Figueiredo será vereadora, João Teixeira Lopes não.
Nada podia estar confirmado até Rui Moreira conseguir, ou não, a maioria absoluta à Câmara Municipal do Porto. Colocavam-se cenários em cima da mesa: apoio do PS ou da CDU? Mas as horas e o fecho das urnas em cada freguesia provavam ser indicadores de uma noite longa no Porto. Nas primeiras projeções, a CDU destacava-se em os 7% e os 8% na sondagem da RTP/Universidade Católica, para logo depois ficar muito próxima do BE e dos 5% de votos. Tal como em 2013 – com Pedro Carvalho, então candidato comunista à Câmara Municipal do Porto a ser eleito vereador – também Ilda Figueiredo seguirá o mesmo caminho.
No entanto, a eleição foi puxada a muito custo. Na sede de campanha, na Avenida da Boavista, os números não deixavam margem para muitas euforias, fosse no Porto ou no país inteiro. Militantes e simpatizantes comunistas ouviam Jerónimo de Sousa na televisão afirmar que a perda de câmaras da CDU era uma “perda para o poder local”. Eram momentos silenciosos e contidos face ao panorama nacional do partido. Momento esses, apenas interrompidos com os olhares surpreendidos à eleição de Isaltino Morais em Oeiras ou com as conversas de circunstância acerca de futebol.
Belmiro Magalhães, um dos candidatos comunistas à Assembleia Municipal do Porto, dizia no início da noite, pouco depois das 20h, ter-se confirmado a presença da CDU na autarquia no Porto como “uma forma com representação”, “um objetivo que nos parece fundamental”, acrescentava. Mais tarde, às 23h, era Jaime Toga, membro do comité central do partido, a dar a viragem ao rumo: “Os resultados eleitorais não nos permitiram cumprir todos os nossos objetivos”, referindo-se também ao desempenho da CDU no distrito do Porto.
A Coligação Democrática Unitária, constituída pelo Partido Comunista e o Partido Ecológico Os Verdes, atingiu 5,89% nestas eleições autárquicas no Porto. Em 2013, o cenário era mais animador: CDU tinha 7,38% na Invicta. Ilda Figueiredo garantiu ao final da noite, e já depois de números confirmados, que todos os eleitos da CDU no Porto, entre deputados da Assembleia Municipal e membros de juntas de freguesia, “vão empenhar-se na concretização do projeto da CDU”. A candidata reagiu com “naturalidade” à escolha de Rui Moreira como presidente da Câmara Municipal do Porto.
PSD justifica o pior resultado de sempre na cidade com “desvio de votos” anti PS
No Hotel Crowne Plaza, na Boavista, o candidato da coligação Porto Autêntico, Álvaro Almeida, assumiu não ter tido “os resultados que pretendia”, justificando que “houve um desvio de votos” para a candidatura de Rui Moreira para que PS não ganhasse.
“Claramente houve um desvio de votos do eleitorado tradicional do PSD para a candidatura de Rui Moreira, em parte motivada pela preocupação do voto útil, para que o PS não ganhasse as eleições e o PSD foi penalizado por esse efeito”, afirmou Álvaro Almeida sobre aquele que foi o pior resultado de sempre do partido na cidade do Porto.
“Sabíamos que ia ser difícil, fizemos o que pudemos, trabalhámos sempre durante estes meses para vencer, não conseguimos. E, por isso, temos de aceitar, são os resultados das eleições, o povo decidiu e está bem decidido, certamente”, disse. Álvaro Almeida garantiu ainda que a candidatura irá “cumprir os mandatos que o povo do Porto decidiu entregar”, motivados por “defender os interesses dos portuenses, defender o futuro da cidade do Porto”. Ao todo, o PSD conseguiu eleger apenas um vereador.
“Nos próximos quatro anos vamos trabalhar de acordo com a vontade dos portuenses para que o Porto seja um Porto com melhor qualidade de vida, um Porto para as famílias e onde todos gostamos de viver”, sublinhou. A única boa notícia da noite foi a vitória da candidatura na junta de freguesia de Paranhos.
Questionado sobre o apoio do PSD a nível nacional, respondeu ter tido o “apoio necessário e pedido”, admitindo, porém, que “suficiente não foi“, porque os resultados não foram os pretendidos. A mais recente contagem dava apenas 10,39% para a coligação PSD/PPM.
Em 2013 o PSD, em coligação com o PPM e o MPT, conseguiu 21,06% dos votos, elegendo três vereadores. Derrotado saiu então o ex-presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia e candidato ao Porto Luís Filipe Menezes que, durante a campanha, viu os históricos do partido dirigirem o seu apoio para o independente Rui Moreira, que viria a vencer.
*com Lusa
Bloco de Esquerda consegue melhor resultado de sempre no Porto. Mas não chegou para eleger
O candidato do BE à Câmara do Porto, João Teixeira Lopes, admitiu que falhou “o objetivo de eleger um vereador e de tirar maioria a Rui Moreira”, apesar de ter atingido o melhor resultado de sempre na cidade. A noite foi longa na sede bloquista, pairando no ar a possibilidade de ser eleito o primeiro vereador para a câmara portuense. Apesar da positividade entre os apoiantes, as primeiras projeções apontavam que não era desta que o BE atingia esse objetivo histórico.
Os 5,34% dos votos, face aos 5,02% de 2009, não serviram para que o discurso fosse de vitória: João Teixeira Lopes não fugiu ao desapontamento de não ter conseguido cumprir os maiores objetivos. “Vamos ter um acréscimo significativo de 30% ou 40% para a Câmara Municipal [relativamente a 2013, cujo candidato era José Soeiro e teve a percentagem de 3,60%], mas é seguro que falhamos no objetivo de eleger um vereador. Isso tem de ser claramente assumido e falhamos também o objetivo de retirar a maioria absoluta a Rui Moreira“, assumiu.
Para a Assembleia Municipal, o BE conseguiu eleger três deputados, retirando assim a maioria a Rui Moreira nesse órgão. “Tudo indica que Moreira vai ter maioria no executivo, por isso acresce a nossa responsabilidade de sermos agentes fiscalizadores, atentos e também com propostas. Mas posso garantir que estaremos sempre presentes, atentos e críticos. A nossa voz é insubmissa”, afirmou.
Sobre os deputados municipais e nas freguesias, garantiu que o partido vai “formar uma boa rede”, e daqui a quatro anos vão “prestar contas com clareza e certas, como é costume o BE fazer sempre. As responsabilidades do BE vão estar na contínua “fiscalização” e na “luta pela transparência na câmara do Porto” e pelos “direitos sociais da cidade”, segundo o candidato.
Dirigindo-se aos apoiantes de uma “campanha entusiasmante”, o cabeça de lista pediu para não olharem para os momentos como “memórias”, mas sim como “um estímulo para o futuro”.
“Não há lugar para desânimo, há lugar para força acrescida, acima de tudo para que nos mantenhamos atentos e que saibamos dar à cidade o que ela nos dá a nós. É uma cidade generosa, temos de ser generosos também com ela”, apelou.
Sobre a possibilidade de propor o cabeça de lista do BE para Assembleia Municipal, João Semedo, para presidente desse órgão, João Teixeira Lopes foi assertivo em recusar essa possibilidade, adiantando ainda que os bloquistas apoiarão “o candidato que o PS apresentar, porque isso é o que faz sentido”.
*com Lusa