É já no próximo dia 13 de fevereiro que se realiza mais uma edição do Super Bowl, a final do futebol americano, um evento visto por milhões de pessoas, que faz mexer muitos (aqui é esta palavra é um eufemismo) dólares e um dos momentos do ano a nível desportivo, não só nos EUA, mas também no resto do mundo numa altura em que a NFL (liga norte-americana de futebol americano) está cada vez mais globalizada. Mas essa mesma globalização não vale só para a transmissão televisiva, por exemplo. A modalidade saltou também para outros campos, como por exemplo os europeus, e Portugal não é exceção. E de olhos postos no crescimento da modalidade, cuja liga já leva dez edições em relvados portugueses, que Rui Pedro Soares, presidente da Belenenses SAD, equipa que milita na Primeira Liga de futebol, assume a liderança do futebol americano no nosso país.
Ao Observador, o homem que se viu recentemente envolvido em alguma polémica devido ao episódio do jogo da sua equipa (assolada por um surto de Covid-19) frente ao Benfica, explicou o porquê de ter avançado para a Federação Portuguesa de Futebol Americano – FPFA (apesar de ser uma associação e não uma federação, mas já lá vamos). O dossier, explica, já vem de há uns anos, pois apesar de “ter amigos jogadores e que já tinham sido dirigentes e treinadores, apaixonados pela modalidade”, Rui Pedro Soares explica que a NFL é muito popular entre os seus “filhos adolescentes e os amigos”.
O dirigente fala de uma modalidade com “imenso potencial para crescer” e que foi ainda em 2015 que uma das equipas do Campeonato Nacional de futebol americano propôs “associar-se ao Belenenses”. “Então analisei o dossier com mais atenção e em 2020, provavelmente no início desse ano, alguns amigos voltaram a falar comigo para ajudarmos a organizar a modalidade e torná-la popular em Portugal”, explicou, acrescentando que se aconselhou junto de pessoas com “conhecimento da NFL, mas sobretudo na sua vertente comercial e de marketing“. Reuniões com portugueses, calls com norte-americanos, tudo para se perceber e sentir que a “modalidade tem futuro em Portugal”.
Desde 2007 que a NFL realiza jogos em Londres (2021 não foi exceção), sendo que apenas em 2020, devido à pandemia, não se realizou qualquer jogo na capital inglesa. A expansão do jogo e da modalidade é real (só a NBA, internacionalmente, certamente é maior a nível de desportos norte-americanos), pelo que apanhar essa onda é importante. Para Rui Pedro Soares, que destaca a “popularidade e atenção mediática dada ao jogo em países como a Alemanha, a Polónia ou a França”, há a “certeza” de que no “primeiro trimestre de 2022 existirão 500 atletas federados em Portugal”. Apesar destes “primeiros passos” e “mesmo depois do efeito da pandemia”, este meio milhar “não é o número a atingir, mas é um excelente ponto de partida”. Para referência, fonte da anterior direção falou ao Observador em cerca de 400 atletas federados, atualmente.
Depois do arranque, o objetivo é simples: “Fazer com que os portugueses conheçam um jogo que se joga aqui e bem”. Para tal, diz Rui Pedro Soares, é preciso criar as condições para que o futebol americano cresça nos “próximos dez anos”. E para isso, em primeiro lugar, “é preciso organizar a associação, porque não é federação nem tem as mínimas condições para ser reconhecida como federação”. Esta é, para o responsável, a “primeira fase”. A de “adequação à Lei”. Falta um “longuíssimo caminho” até porque é preciso o reconhecimento internacional da IFAF (Federação Internacional de Futebol Americano) para que a FPFA seja “reconhecida como quem gere a modalidade em Portugal”. Já foi apresentado requerimento mas falta a resposta do IFAF, visto o documento ser necessário para que seja constituída a federação.
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Além disto, para ser federação, acrescentou ainda o atual líder do futebol americano em Portugal, são precisos “estatutos compatíveis, algo que não existe”. E no caminho entre os quarterbacks e os wide receivers, os snaps e os fumbles está também a sensível questão dos Relatórios e Contas, que a FPFA “nunca apresentou”: “Temos de ter os últimos cinco Relatórios e Contas aprovados. Eu tomei posse no início de outubro e, no fundo, estou a preparar os relatórios de direções anteriores. Espero no final de fevereiro ter esses relatórios aprovados”. A partir daí, garantiu, o “processo” ganha logo outros contornos, até porque “nem pode ser iniciado”.
“Há muito trabalho que já foi feito e há muito a fazer. Mas os primeiros seis meses no fundo são de organização básica da associação”, explicou sobre a modalidade que em Portugal tem dez equipas: Porto Mutts, Paredes Lumberjacks, Braga Warriors, Salgueiros Renegades, Algarve Sharks, Évora Eagles, Cascais Crusaders, Lisboa Devils, Lisboa Lions, Lisboa Navigators. Assim, pode dizer-se que são quatro equipas a Norte, o mesmo número a Sul, uma em Évora e outra no Algarve. Algumas destas equipas, refere, “nem estão constituídas como associações”, pelo que chegar a este ponto também é um “objetivo para o primeiro trimestre de 2022”.
Já aconteceu uma competição, de seu nome Taça Fundadores, no final de 2021, mas, segundo fontes próximas de alguns clubes, sem qualquer divulgação. Foi esta, aliás, uma das principais queixas ouvidas pelo Observador junto de fontes próximas das equipas: “Falta de comunicação”. “Inicialmente julgávamos ser alguém com potencial, com bastantes ideias e projetos de futuro”, referiu uma das pessoas ouvidas, que se mostrou bastante insatisfeita com o que era desconhecido. Admitindo, no entanto, que “esta Direção” já fez trabalho, nomeadamente o já supra citado por Rui Pedro Soares, mas também junto do IPDJ (Instituto Português da Juventude), diz que com a chegada do presidente da Belenenses SAD ficou uma ideia de algum imediatismo: “Com ele dedicado ao projeto, a visão que tínhamos a dez anos podia chegar em dois ou três”.
Fonte de outro clube disse que a profissionalização, defendida por todos, seria “importante para a modalidade e existe noção disso”. “Por isso é que os clubes de certa forma aceitaram entrar nesta jornada e neste projeto”, acrescentou. Mas mantém-se a principal queixa entre os responsáveis ouvidos: falta de comunicação, entre FPFA e clubes, mas também para fora, para as pessoas, para os adeptos.
Uma reunião no passado domingo deu no entanto ,e segundo uma das fontes, um “voto de confiança” à Direção atual, visto ter apresentado um “relatório do que está a fazer, explicando o porquês de algumas demoras”.
Sobre isso, Rui Pedro Soares diz não ter a “expetativa que os dez clubes estejam sempre de acordo com o que a associação está a fazer”. “Tenho noção de que estamos a fazer coisas que algumas delas já deviam estar feitas há 14 anos”, refere, acrescentando que “nem todos se calhar compreendem a importância” do trabalho que tem sido feito, “necessário e prévio a todo o projeto”. “A avaliação positiva que faço sei que merece o apoio da maioria das equipas”, garantiu ainda.
“Mas é uma crítica que terei em conta [falta de comunicação] e melhoraremos a nossa comunicação com as equipas numa base mais regular. Se as equipas se queixam então provavelmente têm razão e se é essa a parte que falta, sendo importante, vamos corrigi-la certamente“, disse.
Mas, então, visto que a organização da FPFA “surpreendeu pela negativa”, como estamos em termos de jogo? Segundo Rui Pedro Soares, que frisou ser espectador do Super Bowl, a qualidade do mesmo “surpreendeu”. “Quando vi o nível de competição, há quanto tempo existia, visto que o campeonato já tem dez edições, e o número de pessoas que envolvia, fiquei surpreendido porque é bastante superior ao que esperava”, lançou, recebendo depois a bola novamente na questão da comunicação e o porquê da falta dela. É que Rui Pedro Soares quer apresentar um produto “mais apelativo”. E, para isso, só depois das instalações, “existindo processos negociais em curso para que existam estádios dedicados exclusivamente ao futebol americano na zona de Lisboa e do Porto”, é que vem a “mediatização da modalidade”.
Destaca como facto menos agradável a questão das “transmissões” dos jogos, que “não são apelativas para as novas gerações”, até pelas “marcações das linhas nem serem muito visíveis”, visto os jogos disputarem-se maioritariamente em campos de futebol com as suas próprias marcações. Destacando que “o próprio Super Bowl já foi objeto de transmissão em sinal aberto” e que as transmissões dos jogos da NFL em Portugal estão em crescimento, refere que “não há duas oportunidades de causar uma boa impressão”. Ou seja, se os “jovens” assistem a determinado “nível de realização”, sendo os jogos em Portugal “bem jogados”, a qualidade das transmissões nacionais iria dar uma “noção errada do Campeonato e do nível de jogo que se pratica cá”.
“Com as instalações vamos crescer no número de jogadores e com as transmissões no número de adeptos. Só se cresce numa modalidade se esta interessar a pessoas que não a conheciam”, frisou o homem, agora responsável pela modalidade em território nacional, que admite passar o “pequeno almoço a ver jogos”, apaixonando-se pelo lado “estratégico da modalidade”. “Fiquei um grande fã, de facto”, revela, sem ter medo de referir que sim, tem como objetivo “disputar a atenção com o râguebi”.
E quanto ao próximo Super Bowl, o tal de 13 de fevereiro, “se a pandemia o permitir”, a FPFA realizará um evento, naquele que poderá ser o primeiro “grande momento de comunicação para fora”, concluiu.
Rui Pedro Soares, o homem que chega agora à liderança do futebol americano em Portugal, é provavelmente mais reconhecido atualmente como presidente da Belenenses SAD, mas o seu percurso não tem sido avesso a polémicas nos últimos anos, quer dentro, quer fora do âmbito desportivo. Mas começando pelo futebol, é no final de 2014 que a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) anuncia a validação do negócio de aquisição da maioria do capital da SAD do Belenenses por parte da Codecity Players Investment, fundo de investimento liderado por Rui Pedro Soares.
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O negócio tinha o sim dos sócios do Belenenses desde novembro de 2012, mas foi então, só dois anos depois que se compôs uma situação que apenas viria a complicar. Isto porque o clube e a SAD dos azuis, neste momento dois clubes diferentes (um na I Liga, outro no Campeonato de Portugal) estão afastados desde o início da temporada 2018/19, quando o protocolo de utilização do Restelo pela SAD terminou e esta mudou a equipa profissional para o Estádio Nacional, no Jamor.
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Nada, no entanto, ficou por aqui, como seria de esperar, com o DN a noticiar inclusivamente no final do ano passado que a sociedade de Rui Pedro Soares resolveu questionar a constitucionalidade de normas relativas às compensações aos clubes que formam jogadores. Isto, após se ter visto obrigado a pagar pela formação de Nilton Varela ao clube Os Belenenses. Mais um caso na novela dos, e provavelmente poucos adeptos gostarão do termo, dois Belenenses.
Na Justiça, o ex-candidato a líder da Juventude Socialista (JS) viu-se envolvido na investigação “Face Oculta”, depois de ter sido registado em escutas telefónicas com Paulo Penedos a combinar alegadamente os detalhes da compra da TVI pela PT (empresa onde chegou no virar do milénio). E foi mesmo acusado pelo Ministério Público (MP) de corrupção passiva no caso Taguspark por alegadamente ter corrompido Luís Figo para apoiar José Sócrates na campanha eleitoral das legislativas de 2009 — uma acusação que não foi dada como provada em julgamento no Tribunal de Oeiras, o que levou à absolvição de Soares, que ainda viu algumas movimentações bancárias suas serem analisadas pelo MP, no âmbito da Operação Marquês. Nesta, nem ele, nem a mulher, Diana Barroso Soares, foram constituídos arguidos.