Rui Rio chegou a Helsínquia na terça-feira perto da meia-noite, via Porto, com escala em Frankfurt. É assim que é o líder do PSD: meio portuense, meio alemão, hábito que lhe vem dos tempos do colégio. Mais alemão que muitos alemães — o candidato Manfred Weber, por exemplo, falou sempre em inglês — Rio fez a sua intervenção em alemão e num registo que Berlim aplaude.  “Considero absolutamente necessário que os países tenham finanças públicas saudáveis. E quero aqui deixar claro que o PSD vai ser sempre o partido português que representa uma política financeira séria e equilibrada“, fez questão de garantir Rui Rio perante o congresso da direita-europeia. Isto claro, por oposição ao PS.

Sempre em alemão (o português não era opção, por não ser língua de trabalho do PPE), o presidente do PSD falou também da grande escolha do Congresso — a corrida do candidato a presidente da Comissão Europeia — e, mais uma vez, enalteceu Manfred Weber, com quem diz ter uma melhor “relação pessoal”. Isto sem descurar Alexander Stubb, confessando perante os congressistas: “Tínhamos de escolher alguém, só podíamos escolher um e escolhemos Weber”. Weber retribuiu mais tarde ao PSD que o apoia, ao PSD do rigor das contas, enaltecendo o nome de Passos Coelho e provocando o maior aplauso do primeiro dia de Congresso. Mas já lá vamos.

Sobre a política de migração, Rio defendeu respostas claras para combater o radicalismo. Para o presidente do PSD qualquer “solução deve passar pela estabilidade dos países de origem dos migrantes”, sendo também “importante garantir a capacidade de absorção da União Europeia”. Sobre esse assunto, o PSD defende que “os refugiados sejam repartidos de forma proporcional e solidária entre todos os países europeus”.

Rui Rio citou Durão Barroso, lembrando que foi presidente do PSD e da Comissão Europeia, numa altura em que disse: “Chegou o momento da verdade para a Europa, ou nadamos todos juntos ou nos afogamos todos juntos”. Ora Rio disse estar “absolutamente convencido” que todos os presentes na sala do Congresso do PPE “já tomaram uma decisão, que foi nadarmos juntos. Porque juntos, seremos muito mais fortes.”

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Ao início da tarde, Rio, que se estreia em Congressos do Partido Popular Europeu, não conseguiu disfarçar a irritação e o desconforto com o caso Silvano. Pelo meio, fez a apologia da política iogurte, das palavras que não têm prazo de validade. Só se alteram, claro, “quando se alteram as circunstâncias.”

Passos Coelho no maior aplauso do Congresso

Não é novidade os alemães gostarem de Portugal, como se voltou a provar neste Congresso. Se Passos foi aplaudido em Madrid — só com um vídeo, quando tentava evitar que a “geringonça” chegasse ao poder — agora voltou a estar num dos maiores aplausos do Congresso de Helsínquia, mesmo três anos depois de já ter saído do Governo.

Os dois candidatos à liderança do Partido Popular Europeu, Manfred Weber e Alexander Stubb, fizeram um debate de quarenta minutos ao final da tarde, perante os congressistas. Cúmplices, de microfone colado ao rosto e moderado pela irlandesa Mairead McGuiness, os dois foram concordando que estavam de acordo, num tom cordial. Apesar de Stubb ser o mais exuberante e carismático, foi o provável candidato e mais-do-que-apoiado pelo aparelho Manfred Weber a arrancar o maior aplauso do dia. Falava-se de austeridade durante o debate, quando o alemão disse: “A austeridade foi muito difícil, mas já conseguimos voltar a criar empregos e reduzimos os défices. Passámos essa fase difícil com Passos Coelho, em Portugal, Rajoy, em Espanha, Samaras, na Grécia, trouxeram o crescimento de volta, aplicaram programas de austeridade que nos permitiram entrar no caminho certo.”

A seguir, Weber disse que “o mais importante para um político é conquistar a confiança dos eleitores” e que isso foi o que fizeram estes Governos do PPE, permitindo à Europa ultrapassar a crise. Stubb ainda teve um aplauso, mas mais tímido, pouco depois quando atacou Emmanuel Macron devido às posições sobre a Europa.

Sem Orbán na sala (o primeiro-ministro húngaro só discursa na quinta-feira), os dois candidatos falaram dos principais valores da União Europeia, e destacaram que a garantia do Estado de Direito é fundamental. Alexander Stubb lembrou que Trump, a China e a Rússia não cumprem muitos dos valores defendidos pela UE, mas que a única forma de apontar o dedo a esses países é cumprir esses valores dentro da UE. O que, destaca, “não acontece em países como a Polónia ou a Itália”. Não falou na Hungria, para não melindrar os húngaros na sala.

Coube também a Weber o maior ataque ao segundo maior partido europeu, os S&D (Socialistas e Democratas). Falava-se de segurança e o alemão acusou: “Os socialistas não querem que se mandem os terroristas de volta para os seus países, nem querem que tenhamos acesso ao cadastro das pessoas que acolhemos no espaço europeu. Não podemos permitir isso”.

Os cachorros de Stubb e o pai Natal sem candidato

Toda a gente espera a vitória de Manfred Weber. Até um apoiante finlandês de Alexander Stubb junto a uma banca da candidatura o diz: “It’s done, it’s Weber” (“Está feito, é o Weber”). Mas não é por isso que o triatleta — que o Politico diz que gosta de mostrar o bícepe nas redes sociais — baixa os braços. Stubb montou uma banca de cachorros grátis dentro do recinto do Congresso que foi um sucesso todo o dia. Foram lá as maiores filas, os maiores ajuntamentos e por lá passaram muito mais pessoas do que pelos espaços de Weber. Em cachorros, Stubb ganhou, por alto, 900-0.

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Na banca podiam pedir-se dois tipos de cachorro com nomes de candidato: o STUBBQ e o KETSTUBB. O Observador provou ambos. Tinham ambos um picante, como o candidato, e estavam embrulhados num design moderno. Tal como Alexander Stubb. Não havia delegados a prometer mudar um voto por um cachorro, mas ficou a originalidade da campanha. Stubb também tinha um cartaz original, que dizia: “ALEX STUBB without EU, I’d be ALX STBB“.

Pai Natal tirou fotografias com congressistas e deu pequena entrevista ao Observador

No recinto do Congresso havia também um pai Natal que ninguém sabia ao certo o que fazia. A Lapónia fica na Finlândia. Ao contrário do líder do PSD, que não concedeu cinco minutos ao Observador por falta de agenda, o pai Natal mostrou-se mais disponível. E assim foi a pequena entrevista da “figura mais conhecida da Finlândia”:

Qual dos candidatos apoia, Weber ou Stubb?
Já não tenho idade para me meter nessas coisas.

Mas vai dar-lhes presentes na mesma no Natal?
Depende. Primeiro vou pedir relatórios aos meus duendes. Se os relatórios dos duendes forem positivos, então, sim, recebem as prendas.

É de esquerda ou de direita?
O pai Natal não tem ideologia política. Só tenho uma política: fazer crianças felizes. E, vá, políticos. Mas só hoje.

Assim que terminaram os trabalhos do primeiro dia, os delegados — apenas os que tinham fita dourada, laranja ou verde — participaram num jantar oferecido pelo presidente da Câmara de Helsínquia. Já os chefes de Governo e líderes da oposição reuniram-se numa cimeira do PPE realizada na sala 101 do edifício do Centro Congressos Messukeskus.

O jornalista do Observador viajou a Helsínquia a convite do Partido Popular Europeu